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Jean-Claude Passeron
Os herdeiros
os estudantes e a cultura
0 oitenta para os filhos de membros das profissões liberais. Essa estatística mostra
esridentementeque o sistema escolar opera, objetivamente: uma eliminação Se se sabe qt
ainda mais total quando se vai em direção às classes mais desfavorecidas. sobe na hierarqu
ê Mas raramente se percebem certas formas ocultas de desigualdade diante homogêneas, vê
tende a ser, para
16 da escola como a relegação dos alhos das classes baixas e médias a algumas
objetivas.
disciplinas e o atraso ou a repetência nos estudos. Nessa distri
social, rapazes e
Lê-se nas chances de acesso ao ensino superior o resultado'de uma
desvantagem da
seleçãoque, ao longo de todo o percurso escolar, exerce-secom um rigor
globalmente, as
muito desigualsegundo a origem social dos sujeitos;na verdade,para
ao ensino super
as classes mais desfavorecidas, trata-se puramente e simplesmente de
parte baixa da €
eliminação.' Um alho de quadro: superior tem oitenta vezes mais chances
superiores e nos
de entrar na universidade do que um filho de operário; suas chances A desvanta
dos estudos qu
categoria. Assim
muito próximas
deve esconder c
a origem social e o sexo. de não fazerem
2 Do original, ladre, abrange o pessoal com funções de comando ou de controle, que possui da origem socio
os níveis salariais mais elevados numa empresa ou no serviço público francês, distinguindo-
se segundo o nível do diploma. (N.T.)
também são o dobro das de um filho de quadro médio. Essas estatísticas
permitem distinguir quatro níveis de utilização do ensino superior: as
categoriasmais desfavorecidastêm hoje apenas chances simbólicasde
enviar seus filhos para a faculdade (menos de cinco chances em cem);
algumas categorias médias (empregados, artesãos, comerciantes), cuja
proporção cresceu nos últimos anos, têm entre dez e quinze chances
em cem; observa-se na sequência a duplicação das chances dos quadros
médios (quase trinta chancesem cem) e uma outra duplicaçãodos
quadros superiores e das profissões liberais, cujas chances aproximam-
se de sessenta em cem. Ailtdaque-nãojejam estimadas conscientemente
pelos interessados, variações muito fortes nas.chances escolares objetivas 0
exprimem-se de mil maneiras no campo das percepções cotidianas
e determinam, segundo os meios sociais, uma imagem dos estudos 0
superiores como futuro I'impossível': "possível" ou "normal': tornando-se N
0
futuro escolar não pode ser a mesma para um alho de quadro superior
que, tendo mais de uma chalzceem d as de ir para uma faculdade,vê <
faculdades de letras e d
CATEGORIA SOCIO-
PROFISSIONAL DOS as filhas de assalariad(
PAIS 92,2% de chances de
rapazes de mesma ong(
respectivamente, de 81
Homem 74,4% e 63,6% para as
Mulher as filhas e alhos de qua
Assalariados agrícolas
Total de quadros superiores.
Homem
Agricultores m Mulher REPRESENTAÇÃO GRÁFICA OA
Total Gráfico l
Homem
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Profissões liberais
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Outras categorias
(Proprietáriosindustriais)
Assalariadosagrícolas
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antes (probabilidade de acesso ao ensino superior)
[JEstudantes por 1.000 pessoas ativas
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Pessoal de serviço
Agricultores
Empregados
Proprietários(industriais.artesãos. comerciantesl
Quadros médios
Profissões liberais
Quadros superiores
Sem profissão
Outrascategorias
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E (Proprietáriosindustriais)
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agrícolas
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A escolha
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Pessoal de serviço
estudantes pertenc
no caso das olhas
Agricultores
uma ilustração dess
às escolhas segund
Empregados
verdade no nível d(
igualam-se às dos
Proprietários(industriais,artesãos. de letras (61,9% da
comerciantes)
D Ciências sociais (com exce(
D Letras
Quadros médios originárias da cama
[] Direito
iguais às dos rapaze
Profissões biberais D Medicina
às faculdades de let
Quadros superiores B Farmácia
A classiõcação dos cursos Éoifeita em função do número de estudantes
inscritos em cada um deles e a classificação das categorias socioproâssionais
segundo a taxa de probabilidade de acesso ao ensino superior.
Gráâco4 Mulheres
Assalariados
ágríéolas
Operários
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Pessoalde sewiço
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Agricultores ..a
Empregados <
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Proprietários(industriais,artesãos, 3
comerciantes)
[JCiê ncias N'
[] Letras
Quadros médios
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Profissões liberais
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Quadros superiores H Farmácia
21
Se for verdade
de letras é uma mani
sujeitos das classes i]
viver seu destinoc(
ciências parecem mei
é no ensino literário
claramente, parece le
excelência para estud
da escola, cuja estatí:
o resultado: elimina(
0 verdade é que os que
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tanto a sua desvantag
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desvantagens.
0
Os obstáculos
4 Cf. tabela 2
última manifestação da desigualdade diante da escola, o af?mo e a repefê?zcia
dos estudantesdas classesmais desfavorecidaspodem ser apreendidosem
todos os níveis do curso: assim, a parcela de estudantesque têm a idade modal
(isto é, a idade mais frequente para esse nível) decresce à medida que se vai
em direção às classes mais desfavorecidas, a parcela relativa de estudantes de
origem baixa tendendo a aumentar nas faixas etárias mais elevadas.:
0
excelência para estudar a ação dos fatores culturais da desigualdade diante
da escola, cuja estatística, operando um corte sincrânico, revela somente <
0 Escola superior
comércio (12) /'''\ ..--...
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t n Gíria para caracteriz
De todos os fatores de diferenciação, a origem social é sem dúvida
aquele cuja influência exerce-semais fortemente sobre o meio estudantil,
mais fortemente em todo caso que o sexo e a idade e sobretudo mais do
que um ou outro fator claramente percebido, como a afinação religiosa por
exemplo.
0
Círculos': "lares" ou "associações': que substituem o meio familiar; sem
dúvida os estudantescatólicosrealizaramem sua maioria seus estudos <
secundáriosnos estabelecimentos
privados(51% contra7% dos não
0
católicos); sem dúvida os engqamentos ideológicosou filosóficos estão 3
significativamenteligados à conâssão e à taxa de prática: 43% dos católicos 9
que se reconhecem numa escola de pensamento nomeiam o personalismo,
somente 9% o marxismo e 48% invocam o existencialismo, enquanto 53%
dos não católicos nomeiam o marxismo, somente7% o personalismo e 40%
o existencialismo; sem dúvida os estudantes católicos parecem aplicar nos
ê
seus estudos e na representação que fazem de sua futura carreira uma ética 27
': Cf. Apêndice 2, tabelas 2.21 a 2.28. '; Cf. Apêndice 2, tab
para multiplicar as oportunidades de participar da condição estudantil, é
com uma imagem fascinantemais que com uma condição real, com suas
necessidades satisfeitas, que eles se identificam com essa escolha, sempre
revogável.Ora, oscilando (segundo a disciplina) entre 10% e 20% para os
filhos de camponeses e de operários, a taxa de estudantes que vivem com
suas famílias se eleva para 50% e às vezes 60%'' no caso dos estudantes
(e sobretudo das estudantes) oriundos das classes altas.
ensino." Seja porque elesaderem mais fortemente à ideologia do dom, seja d'
porque creem mais fortemente no seu próprio dom (ou nos dois juntos), os
estudantes de origem burguesa, reconhecendo tão unanimemente quanto
os outros a existência de técnicas do trabalho intelectual, testemunham um ê
maior desdém àquelas que são comumente tidas como incompatíveis com a 31
imagem romântica da aventura intelectual, como a posse de um âchário ou
de uma agenda. Não há modalidades sutis da vocação ou da condução dos
estudos que não revelem o caráter mais gratuito do engajamento intelectual
nos estudantesdas classesaltas. Enquanto, mais seguros de sua vocação
ou de suas aptidões, estes exprimem seu ecletismo real ou pretendido e
seu diletantismo mais ou menos frutuoso pela grande diversidade de
seus interesses culturais, os outros revelam uma maior dependência em
relação à universidade. Quando se pergunta aos estudantes de sociologia
se prefeririam dedicar-se ao estudo de sua própria sociedade, dos países do
terceiro mundo ou à etnologia, percebe-se que a escolha dos temas e dos
terrenos "exóticos" torna-se mais frequente à medida que a origem social
ISExames nacionais realizados no anal dos estudos do liceu(ou do ensino médio) visando
conferir o grau de bacharel.(N.T.)
'' Cf. página 33, tabela 3 e também Apêndice 2, tabelas 2.6 a 2.13.
eleva-se. Da mesma maneira, se os estudantes mais favorecidos voltam-se
C
,., 'E
com mais naturalidade às ideias em moda (vendo, por exemplo, nos estudos =
8 .S
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5
representam o meio simbólico, isto é, ostentatório e sem consequências, D
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g
0
burgueses em relação às disciplinas escolares uma desvantagem que g Z
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proveito das possibilidades oferecidas pelo ensino. Nada impede que uma 0 =
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parte (em torno de um terço) dos estudantes privilegiados transforme em
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Z E
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8
n Convidados a exprimir sua opinião sobre seu próprio valor escolar classificando-se numa ã
escala, os estudantes de origem burguesa recusam mais que os estudantes originários das g
classes baixas as categorias médias (75% contra 88%) e situam-se com mais naturalidade
nas categoriasdos "bons" e dos "muito bons" (18% contra 10%), enquanto os estudantes
das classes médias apresentam em todos os casos atitudes intermediárias. Ora, nesse mesmo
grupo, os estudantesdas classes baixas apresentam resultados escolares regularmente
melhores que os estudantesdas classes altas: 58% dentre eles tiveram ao menos uma menção
nos exames anteriores contra 39% dos estudantes das classes altas e a diferença é ainda maior
no grupo dos estudantesque tiveram ao menos duas menções,no qual os estudantesdas
classes baixas são proporcionalmente duas vezes mais numerosos, 33,5% contra 18%
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privilégio escolar o que pode constituir uma desvantagem para os outros, <
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Em qualquer domínio cultural medido, teatro, música, pintura, Jazz > m
0
0 ou cinema, os estudantes têm conhecimentos ainda mais ricos e mais amplos
0
quando sua origem social é mais elevada. Se a grande variação da prática 0
Z
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de um instrumento musical, do conhecimento das peças pelo espetáculo
E E:
ou da música clássica pelo concerto não tem nada que possa espantar, pois
34
os hábitos culturais de classe e os fatores económicos acumulam aqui seus Z
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efeitos,causa surpresa que os estudantesse distingam muito claramente, <
segundo sua origem social, no que concerne à frequentação dos museus e «D
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da cultura, mas u
orgmnjzado, os comportamentos culturais obedecem aos determinismos compõem não tên
sociais mais do que à lógica dos gostos e dos entusiasmos individuais.:P escola não exalta ni
Os estudantesdos diferentesmeios não se distinguem apenaspela
prática escolar da
orientação de seus interessesartísticos. Sem dúvida, os fatores sociais somente aquela cul
de diferenciaçãopodem muitas vezes anular seus efeitos mais aparentes
ser percebido ao n
e o pequeno-burguês sério pode compensar a vantagem que oferece aos como um momen'
estudantes das classes altas a familiaridade com a cultura erudita. Mas os da curva fechando
valores diferenciados que orientam comportamentos semelhantespodem
ates culturais que l
se revelar indiretamente através de diferenças mais sutis. Isso se vê muito desenvoltura irâni.
bem a propósito do teatro que, diferentementeda pintura ou da música permite a naturali(
participa ao mesmo tempo da cultura ensinada na escola e da cultura livre próprias aos estud:
e livremente adquirida. Os filhos de camponeses ou de quadros médios, de
exercem o papel d(
operários ou de quadros superiores podem manifestar um conhecimento
equivalentedo teatro clássico sem ter a mesma cultura, mesmo nesse A açãodoprl
domínio, porque não têm o mesmo passado cultural. Os mesmos saberes formas mais brutai
0 não experimentam necessariamente as mesmas atitudes e não produzem os ou ensino suplemet
''a
mesmos valores: enquanto atestam em alguns o poder exclusivo da regra e da fato, o essencialda
.a
aprendizagem escolar (pois foram em grande parte adquiridos pela leitura e mais indireta e F
0 livre ou escolarmente obrigatória mais do que pelo espetáculo), exprimem ação manifesta. No
noutros, ao menos tanto quanto a obediência aos imperativos escolares, a devoção à cultura c
Assim,
ê posse de uma cultura devida primeiramente ao seu meio familiar. cultural. Em oposiç
36 enquanto por um teste ou por um exame se estabeleceuma constatação dos transmitir outra co
gostos e dos conhecimentos num dado momento do tempo, dividem-se as classes cultas arri
suscitar, por uma e:
Além disso,um bom conhecimentodo teatroclássiconão tem o
mesmo significado para os filhos dos quadros superiores parisienses, que É por iss
o associam a um bom conhecimento do teatro de vanguarda e mesmo do vasta cultura,
teatro de bulevar, e para os filhos de operários de Lille ou de Clermont- momento em
Ferrand, que, conhecendobem o teatro clássico,ignoram tudo do teatro seus pais:
'Você vai
de vanguarda ou do teatro de bulevar. Vê-se com clareza que uma cultura aos museus (
ramenteescolarnão é somenteuma cultura parcial ou uma parte
Meus pais mi
. "Quais são
9 Uma origem social elevada não favorece automaticamente e igualmente todos os que dela Monet, Gaug
se bene6ciam. No caso da frequentaçãodo teatroou dos concertos,a repartiçãodos filhos livros, é em ci
sobretudo de
de quadros superiores é bimodal: uma parcela da população (um terço apmximadamente)
daramente se distingue por suas pei:áormarzcesdo resto da categoria e também do resto da Mozart, Schul
população estudantil. Cf. Apêndice 2, tabelas2.14 e 2.19
d!..cultura.mas uma cultura inferior pois os mesmoselementosque a
compõem não têm o sentido que teriam num conjunto mais amplo. A
escolanão exalta na "cultura geral" todo o oposto do que ela denuncia como
prática escolar da cultura daqueles cuja origem social condena a terem
somente aquela cultura devida à escola? Cada conhecimento deve portanto
ser percebido ao mesmo tempo como um elemento de uma constelação e
como um momento do itinerário cultural na sua totalidade, cada ponto
da curva fechando toda a curva. Enfim, é a maneira pessoal de realizar os
atosculturais que lhes confere a qualidade propriamente cultural: assim a
desenvolturairónica, a elegância preciosa ou a segurança estatutária que Q
permite a naturalidade ou a atribuição da naturalidade são quase sempre
próprias aos estudantes oriundos das classes altas, nas quais essas maneiras Ó
A açãodo privilégio épercebida, na maioria das vezes, somente sob suas <
ê em favor da cultura herdada que não leva a marca reles do esforço e tem, por o sentimentoda irrealid
isso, todas as aparências da facilidade e da graça. e
estudantes dos diferente:
38
Crer que são da.
Divergindo de todo um conjunto de predisposiçõese de pré-saberes ensino mais elevado e à
devidos ao seu meio, os estudantes são apenaslormalmenfe iguais na aquisição meios econõniicos aos (
da cultura erudita. Na verdade, eles estão separados, não por divergências que do caminho na análise (
distinguiriam cada vez categoriasestatísticasdiferenciadassob uma relação pelo critério escolar tên
diferentee por razões diferentes, mas por sistemasde traços culturais que hipotéticos tanto que se
partilham, ainda que não reconheçam, com sua classede origem. No conteúdo escolares), uma maior c
e na modalidade do prometoprofissional como no tipo de conduta universitária
uma classe e as exigência
posta a serviço dessa vocação ou nas orientações mais livres da prática artística,
definem o sucesso. Enqt
enfim, em tudo o que define a relação que um grupo de estudantes estabelece que contribuem com um
com seus estudos, exprime-se a relação filndamental que sua classe social as chances de fazer estud
mantém com a sociedade global com o sucesso social e com a cultura.:'
:' A enquete empírica apreende essas totalidades signiâcativas somente por perfis sucessivos,
École nacional dbdministrati
pois deve recorrer a indicadores que esmiúçam o objeto da análise.
Todo ensino, e mais particularmenteo ensino de cultura (mesmo
científica), pressupõe implicitamente um corpo de saberes, de saber
fazer e sobretudo de saber-dizer, que constitui o património das classes
cultas.Educação ad usura deZphíní,o ensino secundário clássicoveicula
significaçõesde segundo grau, dando-se por adquirido todo um tesouro
de experiênciasde primeiro grau, leituras suscitadastanto quanto
autorizadas pela biblioteca paterna, espetáculos de escolhas que não se
pode escolher, viagens em forma de peregrinação cultural, conversações
alusivas que esclarecem apenas as pessoas já esclarecidas. Disso não
resulta uma desigualdade fundamental diante desse jogo de privilégios 0
no qual todos devem entrar pois apresenta-se a eles munido dos valores
da universalidade? Se os alhos das classes desfavorecidas percebem 0
N
.a
0
discurso-de-uso-dos-professores, não é precisamente porque para eles a
reflexãoerudita deve preceder a experiência direta? É preciso ensinar-lhe <
em detalhe o plano do Parthénon sem nunca ter saído de sua província e 0
discorrer ao longo de seus estudos, com a mesma insinceridade obrigatória, 3
seja tão forte nas classes inferiores quanto nas classes médias, permanece com a cultura
onírico e abstrato tanto quanto as chances objetivas de satisíazê-lo são nascimento. In
ínõmas. Os operários podem ignorar tudo da estatística que estabelece e a mobilizare
2 que um filho de operário tem duas chances em cem de acessoao ensino meio (por exer
©
superior, mas seu comportamento parece regular-se objetivamente a partir diâculdade), o
.a de uma estimativa empírica dessas esperanças objetivas, comuns a todos da elite culta, (
0 os indivíduos de sua categoria. E.&pequena burguesia, classe de transição, conta própria,
que adere mais fortemente aos valores escolares,pois a escola promete de sua ascensão
trabalho intele(
ê preencher todas as expectativas confundindo os valores do sucesso social
comum da cult
com os do prestígio cultural. Os membros das classes médias distinguem-
40
se (e entendem distinguir-se) das classes inferiores atribuindo à cultura suspeitos de co]
da elite, da qual frequentementetêm um conhecimento.longínquo, um da reivindicaçã
reconhecimento decisório que revela sua boa vontade culturall sua intenção A reconx
vazia de acesso à cultura. É portanto sob a dupla relação da facilidade transforma a se
em assimilar a cultura e da propensão em adquiri-la que os estudantes em mesquinhe
oriundos das classes camponesas e operárias estão em desvantagem: dons, opera-se
até recentemente,eles nem sequer conseguiam encontrar, em seu meio vista do efhos d
familiar, a incitação ao esforço escolar que permite às camadas médias Eülto e bem-na
compensar o desapossamentopela aspiração à posse e seria necessária que, seguro de
uma série contínua de sucessos(assim como os conselhosreiteradosdo do desinteresse
professor primário) para que uma criança fosse encaminhada para o liceu, é tão próxima
e assim por diante. .c,la/vÚ o.d,oÜ' pequeno-burgo
s..,ÉnW ""'b" laboriosamente
espírito, enfim;
zz Do original "agregafíon': concurso para atuar como professor de liceu ou de faculdade e
que confere aos aprovados o título de professor agregado ("agrége"'). (N.T )
Se é preciso lembrar semelhantes evidências, é porque o sucesso de
alguns faz com frequência esquecer que eles devem unicamente a aptidões
particularese a certas particularidades de seu meio familiar o fato de
superar suas desvantagens culturais. Já que o acesso ao ensino superior é
considerado por alguns como uma sequência interrompida de milagres
e esforços, a igualdade relativa entre sujeitos selecionados com um rigor
muito desigual pode dissimular as desigualdades que o fundam.
O sucesso escolar atingiria amplamente tanto os estudantes originários
das classes médias quanto os estudantes originários das classes cultas, uns e
outros permaneceriam separados por diferenças sutis na maneira de abordar Q
a cultura. Não se ignora que o professor que opõe o aluno "brilhante" ou
"dotado" ao aluno "sério" não julga, em muitos casos, nada além da relação 0
h Á 'b..«'"'n
património cultura
classe,porque são a cultura dessa classe.2'Para uns, a aprendizagemda recebem. Na verda
cultura da elite é uma conquista, pela qual se paga caro; para outros, uma
em relação ao priv
herança que compreende ao mesmo tempo a facilidade e as tentações da delapidação está vi
facilidade.
se trata de cultura,
é constitutiva daql
Se as vantagens ou as desvantagens sociais pesam tão fortemente sobre
as carreiras escolares e, geralmente, sobre toda a vida cultural, é porque, de superâcial dos jog(
Por proporção e nos di
forma percebida ou despercebidamente, elas são sempre'etimulativas.
aos sujeitos origina
exemplo, a posição do pai na hierarquia social está fortemente ligada a uma
ela não é às posições mais s(
posição semelhantedos outros membros da família, ou, ainda, cultural favorece o
independente das chances de fazer seus estudos secundários numa gmnde
menos estreitos, d(
ou numa pequena cidade pois sabe-se que estão significativamenteligadas informado das ver
a graus desiguais de conhecimento e de prática artística. Essa é apenas relativizar as influ
uma das manifestações mais longínquas da influência do fator geográfico
autoridade ou pre
que determina primeiramente desigualdadesdistintas nas chances de das classes desfavc
2
acesso ao ensino secundário e ao ensino superior: a taxa de escolarização
varia de menos de 20% a mais de 60% segundoos departamentospara a força do destino s(
E no excesso de sua
faixa etária de ll a 17 anos e de menos de 2% a 10% para a faixa etária
soreliana24 e a aml
.a
24 A expressão erzergie
Pode-se apreender as contradições que implica.a conquista laboriosa do "dom" nos revolucionário, Georgi
dramas psicológicos e intelectuais aos quais esse milagre condena os que são suas vítimas; ;' A expressão ambífíc
Péguy não é alguém que somente conseguiu superar a consciência infeliz de sua eleição aa obra do escritor france
transâgurá-la em sua obra, solução mítica de seu drama social?
""""L-Ó .ó,..Ó«l«hü«
estudantesoriginários das classesbaixas e os alhos de quadros superiores.:' sua categoria soda
Assim, os estudantes originários das camadas desfavorecidasque têm seja ainda mais ir
acesso ao ensino superior diferem profundamente, ao menos nessa relação, eâciência.
dos outros indivíduos de sua categoria.A presença no círculo familiar de E por isso
um parente que fez ou faz estudos superiores mostra que essas famílias acreditando como
apresentam uma situação cultural original, ainda que apenas por proporem económicas ou a l
uma esperança subjetiva maior de acesso à universidade. Sob reserva de escola. O sistema
verificações, pode-se supor que é a ignorância relativa de sua desvantagem
(fundada numa estatística intuitiva de suas chances escolares) que preserva do privilégiounic
esses sujeitos de uma das desvantagensmais reais de sua categoria,a saber: forma, ele pode se
o reconhecimento resignado para perseguir estudos "impossíveis': É talvez se servir dele: em s
porque os estudantesoriginários das classesbaixas são de fato oriundos aspecto do sistema
da fiação menos desfavorecidadas camadasmais desfavorecidasque a sua totalidade, ou,
representação das classes baixas no ensino tenda a se estabilizar quando esta do ensino superior
categoriamarginal se reduz: por exemplo,após ter aumentado regularmente sistema, pois basta
a proporção de filhos de operários que fazem estudos secundários, essa superior, para asseÊ
proporção não passa atualmente de15%. mecanismos que as
:
0 iguais diante da es
atitude em relação à escola e à cultura, é porque, ligados nos fatos, eles
portanto, com mal
favorecem a adesão a valores cuja raiz comum não é outra senão o próprio
ê fato do privilégio. O peso da hereditariedade cultural é tão grande que nele
dos dons ou à asp
diferentes camadas
44 se pode encerrar-se de maneira exclusiva sem ter necessidade de excluir, Enfim, a eâc
pois tudo se passa como se somente fossem excluídos os que se excluem. A igualização dos me
relação que os sujeitos mantêm com sua condição e com os determinismos universitário deixa:
sociais que a deânem faz parte da deânição completade sua condição e
privilégio social en
dos condicionamentosque ela lhes impõe. Esses determinismos não têm
igualdade formal d
necessidade de ser conscientemente percebidos para forçarem os sujeitos a
legitimidade a será
se determinarem em relação a eles, isto é, em relação aojafuro oQeffl'o de
superior, para assegurar a perpetuação do privilégio social. É por isso que os <