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0 E N S I N O D A M A T E M Á T I C A 'ENTRE N Ó S
ALUNOS DESPREPARADOS
Moema Sa Carvalho
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tas corretas "?
0 objetivo primeiro estará sendo o cunprimento do programa, com
o aluno ou "apesar" dele? ,
À Universidade chegam alunos selecionados através de incontáveis
-provas e exames, aos quais se submeteram ao longo de sua vida escolar até o
vestibular, inclusive. E ainda chegam "despreparados"?
Como se explica?
0 treinamento específico a que o estudante se submete, para for
necer respostas corretas, quando solicitadas ern questões padronizadas, a "co
la" mesmo, a própria falibilidade natural dos sistemas de seleção podem expli
car situações assim anômalas no topo do sistema, mas isso não basta. 0 mal que
está feito não se restringe aos que chegam "despreparados" ao 3 2 grau e, ainda
assim, por vezes se diplomam. Os que ficam pelo meio do caminho também serão
. adultos que passarão a desafiar o seu próprio equilíbrio ao tentar exercer algu
ma função sem o lastro indispensável para tal desempenho.
Pois bem, mesmo entre os que ingressam "despreparados" n o 3 2 grau,
mesmo entre esses, e oportuno, além de justo, que se lhes ofereça um atendimen
to, visando à sua recuperação. Esse atendimento, quando bem orientado, escoima-
do das distorções iniciais, tem grande probabilidade do sucesso.
Seja em que nível de escolaridade for, e quanto mais cedo melhor,
evidentemente, se receberem atendimento de acordo com o nível de desenvolvimen
to cognitivo que estejam revelando, esses estudantes "despreparados" consegui
rão vencer o seu atraso, num reencontro com a sua inteligência e a sua. potência
lidade ate então sufocadas, 'mais depressa do que se possa às vezes esperar.
Talvez soe estranho uma afirmativa que poderia dizer-se cusada.
Como pode um dia ser vencida tanta dificuldade acumulada e tanto bloqueio forma
do ante una disciplina "tão difícil e hermética" como é a Matemática?
Porém, o que, realmente, deve-se considerar estranho, é que se
acumule tanta dificuldade em una disciplina que, afinal de cor,tas, nasceu no
dia-a-dia do homem. Pior ainda e ver a Matematica elementar tomar-se inacessí
vel a tantos alunos, de inteligência normal, e que só conseguem vencer os obsta
cuios das provas quando sustentados por um batalhão de professores particula
res, logopedistas etc. É ver una suposta "discalculia" quase v i r a r tm mal endê
mico.
Numa primeira avaliação do que se passa em nossos meios escola
res, chegamos a fatores que podem ser apontados como co-responsáveis por essa
situação e servir como indicadores para encaminhamento de soluções. A saber:
-— 0 fator historico.
°
— Os fatores de alienação do ensino da Matemática face:
à Pedagogia;
à Psicologia;
à qualidade do livro didático.
— 0 domínio insuficiente do conteúdo matemático.
0 Fator Histórico
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seu nome ,'11101ta calamidade tem-se cometido.
Recebemos no ensino os reflexos de toda uma revolução formalista
que se imprimiu à Matemática do final do século passado para cá.
0 processo pelo qual os matemáticos esquematízaram, formalmente,
a sua ciência, nas "estruturas-mães" (algébricas, de ordem e topológicas), pas
sou a influenciar a didática da Matemática, desde o primeiro nível escolar, na
interpretação de que esse formalismo já deveria aí estar presente.
Muita polêmica tem havido; tentativas de conciliações, acertos,
desacertos. Vo ■ *arn— « HíaVig^pe; rln emrrv~i mio rH TV>rrv-ig rvar-irooori^-oHn nnr> rPVi<-\m
com o dos bourbakistas1. Vejam-se também as denúncias sobre os exageros de for
malizc-ções levados aos colégios, feitos por Morris Kline2..
0 que se tem observado é que a formalização açodada, p
não tem produzido bens frutos no ensino da Matemática. Pretendeu-se induzir o
aluno a alcançar um nível de abstração totalmente em desacordo com o seu amadu
recimento; dejrivou-se para a transmissão de informações e de códigos, com uma
exigência de uso dos sinnbolos é de definições, totalmente descabidos,porque des_
ligados do processo de vivênciajreal_do_aluno.
'Conseguiu-se com isso um divorcio entre o ensino_da._Matemática__e
a realidade, pior ainda, entre a Matemática e a inteligência; sem se atingir o
objetivoTde abrir perspectivas e iluminar caminhos para generalizações e redes-
cobertas; o que deveria ter sido o ponto de partida d e s s a escalada. Estimulou-
Sg~õ~desenvplvlmento de uma cognição~Tigurativa,"em~detrimento da cognição ope
rativa.
Distinguimos uma da outra, como o faz Furth3 , chamando cognição
figurativa" a que permite a repetição !'ipsis litteris"de informações recebidas,
sem no entanto incorporá-las aos esquemas de ação; e chamando "cognição operati
va" a que 'incorpora aos esquemas‘ de ação a conquista do objeto da informaçao.
. A repetição continuada desse procedimento chega ao ponte de le
var a criança, numa defesa natural, a considerar a Matematica como algo hermetl
co, ccci o qual a sua inteligência, a sua ação, a sua cccpreensão nada teriam a
ver.
Acontece que, na caracterização de ura. estrutura matematica, na
passagem de una estrutura a outra, da mais geral para ura particular, ou vice-
f *
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A l i e n a ç ã o do E n s i n o F a c e à Pedagogia'
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tém o aluno- em condição de dependência do professor.
0 que é fornecido pronto, num "a priori" que não se justifica,pa
ra que o aluno fixe num exercício de memorização:
18) nem sempre tem utilidade para uso futuro;
~ 2 B) nunca contribui para uma descoberta por parte do aluno, para
o "estalo” tão importante em todo processo de aprendizagem.
Outra deformação comum no ensino da Matemática constitui séria fa
lha didática: a de acreditar-se que conceito matemático se "ensina" através de
transmissão de sua definição. Pelo contrário^ conceito matemático se forma no
intelecto de cada um, através da própria vivência, experiência e observação in
dividual. —Cabe
—
ao professor
— n ■ — » ■•"'■■■ " ■ ■ -
propor
— —— n r —
atividades,
1
proporcionar
- y —— — — ■ I
JT "
oportunidades
.......................................—
que
-..1 ■ ■■-. — —
orientem essa vivência. A definição podera ou devera aparecer como um coroamen-
to futuro, quando o próprio aluno for capaz de formalizá-la, ao explicitar o con
ceito com o qual já estará certamente familiarizado, pelo muito que com ele
já terá convivido, durante sua caminhada escolar. A precisão, o rigor de tais
definições, poderá ser uma das metas a serem alcançadas, no refinamento natural
que se conquista, e aparecera a seu tempo.
Afinal i como frisa Dieudonné1, "o fim último do ensino da Matemá
tica, em qualquer nível, é sem dúvida dar ao estudante uma intuição firme dos ob
jetivos que jnaneja".
A l i e n a ç ã o do E n s i n o Face à P s i c o l o g i a
# •
*
Supérfluo informar que esse aluno nao soube dizer por que.
• 0 que terá se passado na cabeça de quem escreveu essa "joia" no
quadro? ,
Parece-nos que o "fio da meada" era a ordem alfabética a qual,
sem ter sido explicitada na questão proposta, deverá estar figurando por detrás
desse "menor", indevidamente substituindo o "precede"; E tudo isso provavelmen-
(í) PIAG ET et alii. La ens enanza de las aatená tic as m o d e r n a s . Sei. í Prol. de Jesus H e r n a n d e z . s .
1., Alian za Univ er sid ad, s.d. . ,
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te, porque o s í m b o l o " " * ^ " será o mesmo para simbolizar tanto uma expressão
quanto a outra, tratando-se em ambas de uma relação de ordem. Isso é o que nos
parece. 0 que terá parecido à criança?
É comum encontrar professores que não atentam para as etapas do
desenvolvimento cognitivo do educando: não orientam nem sugerem atividades que’
possam enriquecer não so a etapa cognitiva em que o estudante se encontre, como
a passagem natural de uma fase cognitiva a outra; ignoram, nas suas propostas,a
fase do desenvolvimento cognitivo em que se encontra o seu aluno. É comum o ape
lo feito ao raciocínio operatorio formal, quando o aluno ainda se encontra na
fase do raciocínio concreto. Sao propostos problemas que, embora aparentemente
não requeiram grandes abstrações, exigem que o aluno seja capaz de formular o
"se...então"para organizar e vencer as etapas necessárias a sua resolução.
Como tais problemas estão acima da capacidade de abstração da cri
ança, quando propostos prematuramente, acabam sendo "ensinados" para que, mais
una vez, os alunos sejam treinados nessa solução padronizada que deverá servira
outros problemas que repetem os anteriores. .
Os exemplos são vários e facilmente encontraveis.
Ilustramos com exercício, copiado também "ipsis litteris" de um
caderno de 5*. série, e que também não constitui fato isolado. Observamos, no en
tanto, que este exerrplo, particularmente, retrata um momento infeliz do curso,
que acreditamos não ser freqüente, tanto pelo enunciado, quanto pela solução que
o aluno copiou. Citamo-lo, porém, para que sirva ainda como un alerta quanto ao
cuidado extremo que devemos ter com a precisão dos enunciados e com as razões
apresentadas para as suas soluções.
"Complete:
"1 - Usaremos ..... algarismos para escrever todos os núrreros
0) de 1 algarismo:"
"Solução:
de 1 até 9 há (9-1) + 1 = 9 números.
Total de algarismos:
9nas x lalg"
* ,
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D o m í n i o do Conteúdo M a t e mático
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— domine operações com conjuntos, de modo a poder com
' operações nada simples;
A l i e n a ç ã o do L i v r o D i d á t i c o
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Seria utópico esperar o livro perfeito, mas já não é utópico espe
rá-lo dentro de certos limites toleráveis, E s s e s limites é que deverão ser nos”
sos parâmetros na escolha.
Convém observar que, principalmente nas primeiras séries, o que
realmente importa é ter em mente que o livro didático de Matemática, para o alu
no, deve apenas ser um dos elementos auxiliares do professor e, com certeza, o
de menor peso.
0 recurso do livro didático não deve substituir as ações infan-
Hw *ew »
0 seu papel é o de cooperar na afirmação da criança, naquilo que
ela descobriu e percebeu através de suas explicações.
Os exercícios que o livro propõe podem ser úteis após as experiên
cias vivenciadas pelo educando, porem não o são quando as precedem ou substitu
em.
0 espírito do professor, quando alerta e vigilante, pode evitar
prejuízos provenientes de falhas do livro adotado ou a adotar.
Apenas para chamar atenção sobre a necessidade desse "alerta" ,ci
taremos um exemplo, encontrado em um livro de I a serie (ou de classe de alfabe-
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.nento sirrplificador a quem nao tinha o que dimplificar ou sintetizar. Eis o pa
radoxo. •
Como se não bastasse, quantas vezes já encontramos, em livros e
cadernos escolares, pedidos do gênero;'*