Você está na página 1de 19

Residência Pedagógica - Núcleo Matemática

Universidade Federal do Delta do Parnaı́ba - UFDPar

Francisca Mafiza Machado de Araujo Silva


2022-2024

Educação. Ensino. Alunos. Professores. Aula. Ambiente escolar. Quadro. Cadernos,


canetas e pincéis. Horários estabelecidos. Regras a serem cumpridas. Calendário escolar.
Provas. Notas. Boletim. Ano letivo. O que esses termos carregam dentro de si? A ligação de
sentido entre eles é meramente educacional? Quais os pontos positivos que merecem destaque
ao lermos cada palavra citada anteriormente? Quais os pontos “negativos” que precisam ser
postos em reflexão e que há a necessidade de mudá - los? Tantas perguntas são emanadas de
mim quando me deparo com a educação e tudo do que dela emerge, assim como surgem em meu
ı́ntimo o desejo de modificar o cenário “caótico” em que nosso ensino hodierno está mergulhado
com suas metodologias intrı́nsecas, marcadas de modos arcaicos que nada acrescentam aos
alunos, não estimulam a criatividade, o senso crı́tico, a imaginação, a autonomia. Porém, é
observável que há o incentivo para a perpetuação do automatismos educacionais, fazendo com
que o panorama da nossa educação permaneça como se mostra.
Dessa forma, é compreensı́vel que o problema encontrado em minhas vivências “o modo
de ensinar matemática em nossas escolas”, como Residente do PRP - Programa de
Residência Pedagógica - na Escola - Campo em que fui lotada, é de suma importância para ser
colocado em pauta e ser debatido, com o fito de levantar reflexões indispensáveis para o meu e
o amadurecimento de todos os envolvidos no processo educacional.
Ademais, o problema se agrava de forma mais emergencial quando me defronto com o ensino
matemático, o qual é qualificado como “algorı́tmico, robotizado, mecânico”, justamente pelo
seu aspecto meramente acrı́tico, desinteressante, desconstrutor. Esse fato caminha contra o
objetivo do ensino da matemática, segundo a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, que
define do seguinte modo:

1
“as competências e habilidades de raciocinar, representar, comunicar e argu-
mentar matematicamente, de modo a favorecer o estabelecimento de conjec-
turas, a formulação e a resolução de problemas em uma variedade de contex-
tos, utilizando conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas.”
(BNCC, 2017)

Entretanto, é verdade observada cotidianamente em nossas salas de aula que esse objetivo
não está entrando em vigor, no que concerne ao conhecimento pleno da disciplina de matemática
pelos nossos alunos, devido ao fato de que a aprendizagem está cada vez mais insatisfatória.
Pode - se confirmar tal afirmação com a pesquisa feita pela Agência Brasil, a qual externa
que o percentual de estudantes que apresenta nı́veis adequados em matemática aumentou,
porém continua ainda o imenso flagelo no que diz respeito ao conhecimento apropriado; a
porcentagem é de 7, 3%. Aliado a isso, a situação piora se olharmos para o ambiente escolar
público brasileiro que apresenta porcentagem de 3, 6% apenas. Aqui se percebe a gigantesca
lacuna que o modo de ensinar provoca em nossos alunos, não só nas notas da disciplina, mas
sobretudo no entendimento completo da matemática, para a compreensão do mundo em que
vive, bem como das situações que o circunda, tomando as decisões necessárias para viver em
sociedade.
Em continuidade, essa realidade é reiterada por mim, por meio do contato como residente na
escola - campo em que fui lotada, ao constatar o “espaço” no conhecimento da ampla maioria
dos nossos alunos do ano final do ensino fundamental, especialmente na matemática alcunhada
de “básica”, com suas operações de soma, subtração, multiplicação e divisão. Nesse ı́nterim,
perguntas vêm à tona como “onde está o erro?”, “foi o método usado que era inapropriado?”,
“será que dá tempo para atenuar tais dificuldades, de forma que não continue o prejuı́zo na
aprendizagem de cada estudante?”. Porém, o que se sabe é que os métodos utilizados na
sala de aula estão inadequados à realidade de nosso século XXI, marcado pela hiperconexão
tecnológica, rapidez de informações, aceleração da modernização, inserção de robôs nas esferas
sociais, dentre outros. Ou seja, os modos usados no âmbito escolar deveriam acompanhar a
célere mudança em nossa sociedade, com maneiras mais eficientes, customizadas, atraentes,
inovadoras, fazendo com que acarretasse na aproximação do alunado ao conhecimento.
Além disso, é interessante pontuar que, desde os primeiros contatos que cada ser humano
tem com a escola, fomos “treinados” a nos habituar aos moldes de como o professor ensina
e como o aluno aprende dentro da sala de aula. Temos, pois, a imagem imediata em nossas
mentes ao pensarmos nisso: professor próximo ao quadro (seja com pincel acrı́lico ou com giz)
colocando os tópicos ou textos ou fórmulas (quando se tratam das disciplinas de matemática,
de fı́sica e de quı́mica) e discorrendo - com tonalidade de voz alta, para que a turma inteira
escute - acerca do tema/ assunto da aula do dia. Em relação aos alunos, por sua vez, temos
todos sentados em suas carteiras dispostas em fileiras, copiando o que foi exposto no quadro e

2
prestando a devida atenção ao que o educador está a dizer. É claro que existem os estudantes
que estão imersos em tudo, menos naquele momento de exposição do conteúdo daquela matéria,
usando os smartphones, conversando com seus colegas próximos ou apenas olhando ao seu redor.
Esse simples flash daquilo que sabemos e conhecemos é uma amostra do método que está em
execução até esse segundo em nossas instituições escolares. Ainda é de ciência de cada ser
humano que - no que toca à matemática - a situação se reverbera de modo mais assustador,
porque o “aprendizado” é irrefletido, pela assimilação das fórmulas/ teoremas/ lemas somente
para a aplicação dos testes e provas, com posterior esquecimento por parte dos alunos, sem a
devida criticidade, internalização plena do conteúdo, bem como a sua importância em apreendê
- lo.
Todas essas contextualizações põem em evidência a urgência de refletirmos e alterarmos
as metodologias empregadas nas escolas ou, ao menos, de fazer com que continue com esse
modo de ensino, porém de um jeito novo, com melhorias. Em outras palavras, o que se quer
dizer é que há 2 opções, para mim, nesse exato momento, OU altera o formato/ o jeito de
como estamos a ensinar a matemática para nossos alunos OU permenece com a maneira que
é aplicada, porém adicionando novidades/ ‘itens’ educacionais (não encontro um nome que eu
consiga definir) que agregue mais, que desperte o interesse e a aproximação do estudante com
o querer aprender.
Assim, Almeida e Valente externam que

Os métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de informações pelos


professores, faziam sentido quando o acesso à informação era difı́cil. Com a
Internet e a divulgação aberta de muitos cursos e materiais, podemos apren-
der em qualquer lugar, a qualquer hora e com muitas pessoas diferentes. Isso
é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos
prévios bem sucedidos para aprender de forma flexı́vel numa sociedade alta-
mente conectada. (ALMEIDA e VALENTE, 2012).

Isto faz com que paremos e pensemos que precisamos mudar o que está sendo efetuado,
seja por uma das opções que (a meu ver) possui ou por outro caminho. Entretanto, o que
devemos ter conosco é que PRECISAMOS MUDAR! Esses métodos englobam - tanto o aspecto
da “transferência” do conteúdo em questão, quanto do aspecto de “avaliar”, “quantificar” o
grau de conhecimento adquirido pelo aluno com respeito àquele item -. Note que até esses
termos que internalizamos consigo mesmos também devem ser mudados, porque a educação
é feita/realizada com pessoas, seres mutáveis e únicos, logo não podemos “numerizá-los” ou
“transferir uma determinada coisa de um cérebro humano para um outro cérebro”, da forma
como conhecemos e fazemos hoje.
No que se relaciona ao método de “avaliação” (aqui faz essa ressalva entre aspas, porque é
notório que não há essa avaliação da forma que deveria ser. Para colocar esse adendo de forma
resumida, existem 3 tipos de avaliação: diagnóstica, formativa e somativa) nossa educação só

3
paira na somativa, que se refere à ponderação mediante notas. Esse ponto acarreta no “en-
gessamento” de nosso alunado ao que engloba todo o contexto do aprender, pois se rotula à
proporção dos números que aparecem em seus boletins. O que pretendo dizer é o seguinte: o
método arcaico de avaliação em nossas salas de aula configura, no estudante, um estágio de hi-
erarquização na escola e, mais especificamente, na sala de aula, quando criam as caracterizações
para cada colega de turma, como “o mais nerd/ inteligente”, “o estudante mediano”, “o menos
inteligente/ o que não sabe”. Ainda mais que definir o aluno “por nota” também o incentiva ou
o desestimula. No primeiro caso, quando o aluno é o que obtém os melhores resultados e almeja
à manutenção de suas notas e de seu nome no “ranking” dos melhores alunos; por outro lado,
o último acontece quando os alunos são taxados como “os menos inteligentes, os que não estu-
dam, os que não querem nada com o futuro” e não sentem vontade de aprender, permanecendo
na situação em que estão. Tudo isso gerado pela insistência em manter a aplicação de métodos
antigos e que só atrasam os nossos alunos e provocam grandes espaços em seus conhecimentos.
Este modelo de avaliação somativa não somente causa uma diferenciação entre os alunos
“inteligentes” e alunos “não inteligentes”, como causa uma diferenciação no ponto de vista do
professor, torna-se fácil ensinar somente aos alunos “inteligentes”; em alguns casos há uma veri-
ficação se a “turma” está acompanhando o conteúdo dado, mas esse passo de verificação volta-se
somente aos alunos denominados de “inteligentes”, pois o educador julga através das notas que
somente esses são capazes de aprender. Fato este que -nesse ponto- começa uma exclusão dos
alunos “não inteligentes”, pelo fato da falta de um olhar empático, uma vontade de trazê-los
para dentro da aula também. Aqui cabe pensar o motivo pelo qual não paramos e insistimos
em aproximar (ou mesmo inserir) os alunos dispersos da turma para o campo do aprender.
Alguns questionamentos vêm na mesma proporção que justificativas aparecem, como, por ex-
emplo, “temos um cronograma a cumprir”, “somos quase que ‘obrigados’ a entregar resultados
numa determinada quantidade de tempo referente aos assuntos pedidos pelos documentos ofi-
ciais que regem a educação brasileira”, “parar a continuação do conteúdo para os alunos que
não estudam ou não estão entendendo ou não acompanham na aula é perda de tempo, pois
precisamos prosseguir; além de que os estudantes que já sabem ficarão enfadados por ouvirem
inúmeras vezes aquilo que já tem conhecimento”, dentre tantas outras explicações. E diante
disso, percebemos que há a continuidade do ciclo vicioso de ensinar para poucos e aumentar a
marginalização educacional da ampla maioria. E a pergunta que se faz é a seguinte: ‘quando
haverá a ruptura desse triste gargalo no processo de aprendizagem?’. Até o momento,
notam - se que as práticas retrógradas permanecem em nossas salas de aulas, por intermédio
de nossas práticas docentes, e com isso intensifica - se a imensa lacuna no entendimento real
do alunado, ficando à deriva, sem conseguir meios para modificar esse cenário.
E em minha prática na Escola - Campo em que estava lotada, pude sentir a diferenciação
no semblante dos meninos e meninas que obtinham notas maiores ou iguais a 6 e dos meninos
e meninas que recebiam notas abaixo disso. Eu ficava me perguntando (quando a supervisora

4
entregava cada prova contendo a pontuação tirada por cada aluno e a resposta no rosto de
cada um): Até quando essa diferença vai permanecer? Não faremos nada?. Entretanto, o que
percebo é que aceitamos o que vemos ou recebemos. Sim, nós, como professores, recebemos
mensalmente aquele resultado e aceitamos sem questionar ou procurar efetivamente maneiras
para diminuir essa tristeza educacional. É fácil, da forma como fazemos, culpabilizar nossos
alunos e nossas alunas como responsáveis por esse resultado. “São esses meninos que não
querem estudar, são esses meninos que não se interessam.” Não é assim que escutamos e
proferimos? Pode ser que uma parcelinha desses alunos não possuam interesse em abrir os seus
livros, os seus cadernos, ler e revisar o conteúdo, refazer os cálculos de fı́sica e de matemática,
porém esse desinteresse não está pairando (dentre tantos motivos) no modo como estamos a
influenciá - los negativamente? (pois se fosse positivamente, era provável que o cenário era
diferente!)
Além disso, minhas regências na Escola - Campo ocorriam em dupla, com minha amiga de
Univerisdade. Aliás, é perceptı́vel (todos os dias) que os nossos estudantes estão exaustos de
sala de aula e de como as próprias aulas estão ocorrendo. Porém, irei elucidar uma experiência
própria em sala de aula com minha companheira de Regência. Esse dia é 17/03/23, dia em
que me inundaram trezentas mil perguntas e não possuı́a –sequer- nenhuma resposta, pois foi
exatamente nesse dia que o que venho a refletir (modo de ensinar a matemática nos dias de
hoje) estava entrando em execução e ali pude perceber e me deixou (incrı́vel e absolutamente)
sentir o furacão de emoções e “porquês” que estava vivenciando. Primeiro, levamos à nossa sala
de residência de matemática os nossos alunos, para que a aula se desenvolvesse lá e mudasse
também o espaço que eles já estão habituados cotidianamente. Primeira pergunta que foi
dirigida a uma de nós ao chegar no local: “hoje tem jogo, não é, tia?!”. E eu falei: “não,
hoje não!”. E o que eu recebi como resposta: “esperei a semana toda por sua aula, porque
passo a semana inteira sofrendo com aulas chatas e na sexta sei que vai ter jogo e vou ter (pelo
menos) 2 aulas que serão divertidas e que eu gosto das professoras! A senhora não fez isso
comigo, né?”. Nesse momento, quebrou – me por inteiro, desconcertou – me toda, nunca um
sentimento daquele tinha me inundado antes, mas sabia que aquelas 2 horas que viriam seriam
bem difı́ceis; o motivo pelo qual digo isso é que para aquela residência tı́nhamos apenas uma
lista relativamente extensa de exercı́cios mecânicos para passar, justamente para poder treinar
para a atividade avaliativa que viria na semana seguinte. É aquela frase do senso comum e que
emanamos cotidianamente “nem só de rosas vive o homem, tem que aguentar os espinhos!”, ou
seja, o espinho a que me refiro aqui e é de percepção geral dos alunos é a aula “robotizada”,
“acrı́tica e desinteressante” que naquele momento estávamos proporcionando a eles.
E desse dia em diante, esteve comigo de forma mais fervorosa a gritante vontade de modificar
a forma costumeira das aulas de matemática na escola em que atuei, pois (naquela circunstância,
naquele molde) estava em absoluto desgastante para mim e para cada aluno. Agora, uma
pergunta: Por que eu não modifiquei, mesmo que um pouco, esse modo de ensinar?. A vontade

5
não faltava, mas tı́nhamos um imenso empecilho e que não possuı́mos qualquer oportunidade de
retirada ‘dessa pedra no nosso caminho’, para inserirmos algo mais atraente. Mas por quê? Pelo
motivo de estarmos à mercê do que os Programas Educacionais + Programação Anual de Ensino
do Governo (especialmente no que tange às escolas públicas) estão a ‘pedir’ aos professores para
aplicarem em sala. E, com isso, minhas regências (juntamente com minha companheira de RP)
resumiram - se a execução disto. Ou seja, o querer, que vinha com intensidade quadrática, de
utilizar os métodos inovadores para aplicar e mudar a enfadonha/ exaustiva maneira de ensinar
- aprender, na contramão e com intensidade exponencial, vinham o Governo e seus projetos
para lutar para a permanência de usar os mesmos mecanismos defasados. E aı́?! Como então
prosseguir em meio a essa divergência?
O que nos restou foi perpetuar essas práticas que estávamos fazendo uso. Nossas regências
semanais giraram exclusivamente em torno de aplicar os módulos de Recomposição da Apren-
dizagem, que nada mais, nada menos, são uma maneira encontrada por eles para ‘diminuir’ as
lacunas dos anos anteriores potencializadas pelo perı́odo de pandemia e pelo ensino online, re-
visitando assuntos matemáticos (no caso dessa disciplina) de anos letivos passados. Daı́, a sala
de aula tradicional - com nós, regentes, explicando o conteúdo na lousa ou usando slide, e os
alunos prestando atenção (ou tentando prestar, porque convenhamos que não é nada atraente!)
no que dizı́amos e respondendo às perguntas formuladas e que estavam no papel impresso - era
a imagem mais fidedigna que posso descrever. Não possuı́amos espaços (proporcionados pela
escola, pelo cronograma a cumprir ou pela supervisora) para sair desse ciclo eterno e vicioso e
ir por outros caminhos!
Toda semana era a mesma coisa! Eu já sabia o que darı́amos, como farı́amos e como
externarı́amos aos alunos. Exatamente, já era um algoritmo fixado em minha mente e em
meu corpo (porque eu me encontrava parecendo um robô, que reproduzia, reproduzia e apenas
reproduzia!). Como era o algoritmo? Entregar as folhas da Recomposição à turma, pegar o
pincel, explicar os conteúdos que estão sendo revisitados, refazer (sim, refazer) o exemplo que
já estava feito na folha impressa, para que os estudantes relembrem e, por fim, pedir para que
eles fizessem as 25 questões (a média era essa) que estavam expressas na folha. Era estipulado
um tempo, e eu e minha amiga de RP ı́amos alternando entre uma e outra questão no quesito
de explicar como é a resolução passo a passo para cada uma delas. Podem me perguntar -
sem medo - : Os alunos aprendiam? Eles revisaram o conteúdo, os quais já eram para saber?
Uma risada vem em meu ı́ntimo agora, porque a resposta vem com a fala de alguns alunos no
momento em que terminávamos a aplicação desse projeto do Governo: “Tia, não entendi. Vou
só decorar para a prova. Não vai interferir na minha vida isso. Não sei para que isso!”
A propósito, nem eu mesma (até hoje) não sei e não entendi para qual fim isso foi feito,
porque a lacuna está lá, só aumentando. Não, sob minha visão (durante 4 meses na Escola),
não cumpriu com os objetivos traçados por esse projeto governamental.
Assim, o que venho a refletir com todo o meu ser, acerca das práticas antiquadas e a

6
insistência em se continuar com elas, acaba por ser a minha própria prática rotineira em sala
de aula. Isto é, meu objeto de questionamento foi meu próprio fazer pedagógico no PRP em
sala de aula. Outra pergunta que ecoa de mim é: Como desviar desse caminho que permanece
sendo seguido por todos os profissionais educadores e sendo estimulado, através dos projetos
educacionais do Governo, todos os dias? Em outras palavras, qual o meio que usamos e quem
vai nos apoiar a tentar mudar esse paradigma de aula?
Da minha prática, 90% foi alicerçada em ensinar - da forma como conhecemos - justamente
pela ausência (isso mesmo!) de uma oportunidade, pois já recebı́amos pelo WhatsApp, através
de nossa supervisora, os arquivos dos módulos e quantos deveriam ser dados em uma determi-
nada quantidade de tempo. Como ir contra isso? Como pensar em uma aula diferente dessa
se nos foi entregue esse dever? Como dizer NÃO ao que nos foi proposto? Como repensar
maneiras mais diversas para integrar e alicerçar de forma mais efetiva o aprendizado de nossos
alunos, se eles têm que ter contato com esse material disponibilizado? Como mudar? Como
fazer isso?
Sim, essas perguntas vibram no nosso cérebro e no nosso coração por clamarem por mu-
danças, pois EU não aguentava mais aulas tradicionais e que só convergem para o mesmo ponto:
desinteresse e não criticidade dos alunos. EU não aguentava mais perceber que os educadores
não enxergam que aquela aula não funcionava mais. EU estava cansada de pensar em métodos
mais lúdicos, divertidos, promissores e aplicáveis, e horas depois receber um esquema de aula
pronto e que resulta apenas em exploração de conteúdo matemático da forma arcaica como
é. EU estava exausta de rotulagem de alunos por notas. EU estava exausta por não ter pos-
sibilidades de modificação na minha prática como residente (isto é, a escola/ o currı́culo/ o
cronograma não dar abertura para aplicar algo novo). E com tudo isso, EU estava me sentindo
uma robô, que está tão somente reproduzindo o que estava gritantemente me adoecendo - e
adoecendo também os alunos -: ministrar aula daquela forma, daquele jeito, daquela maneira.
Além de todo esse questionamento e toda o paradigma em que estamos imersos, o celular
é um adversário (pequeno, mas prestigioso) da aula de matemática desestimulante que está
acontecendo em simultâneo. Foi notório para mim (em muitos momentos) estudantes que es-
tavam vidrados nos seus aparelhos tecnológicos, por serem mais agradáveis e que possibilitavam
estar em vários lugares e com várias pessoas, que compartilham dos seus interesses, ao mesmo
tempo, apenas teclando. E a pergunta que despertava em mim, toda vez que eu percebia isso,
era: Como que eu vou pedir para desligarem o celular e prestarem atenção no que estávamos a
explicar, se aquela aula de matemática nem a mim agradava, e que (se formos comparar) não
é nem 1% estimulador da concentração e relevância dos alunos? É essencial que paremos para
refletir que eu estava sim muito incomodada e inquieta com aquele jeito de ministrar aula, de
continuar com um ensino nada agregador.
O site Pedagogia contemporânea, em seu texto intitulado “Por que a escola tradicional
não funciona mais?”, afirma que “[...] nossa educação não pode ser resumida em repassar

7
conteúdos, quando podemos pensar em dinâmicas que explorem as habilidades dos educandos,
possibilitando os mesmos de produzirem conhecimento dentro da sala de aula”. Justamente no
ponto em que estou a falar e que paira nossa indagação e fonte de reflexão encontrada durante
minha vivência como residente: as práticas educacionais aplicadas cotidianamente não surtem
efeito positivo, a não ser de perpetuação de maus resultados, maior evasão escolar, menos
aprendizado, maior hierarquização entre os alunos, menos interesse em aprender (de fato!),
dentre tantas outras consequências assustadoras que vão se consolidando e permanecendo dia
após dia em nosso ensino brasileiro. Dessa forma, aliar o atual contexto ao mundo da educação
é imprescindı́vel. Por isso, “Como fazer com que possamos inserir os estudantes no caminho do
saber de forma que todos se sintam motivados e com o ı́mpeto de aprender diante desse mundo
assustadoramente conectado?”, “Sabemos que todas as respostas das disciplinas estão à frente
de todo ser humano, nas telas dos aparelhos tecnológicos, e por este fato não há vontade de
aprender, pois posso (simplesmente) copiar as observações e os estudos de pessoas que fizeram
isso antes de nós. Diante disso, como aliar a tecnologia em favor do ensino? Devemos continuar
mesmo retirando os celulares, os notebooks da sala de aula, perpetuando esses métodos?” são
os questionamentos que estão completamente realçados.
Primeiramente, é preciso ter em mente que a educação deve se adequar aos moldes sociais
e às mudanças ocorridas nas esferas populacionais. Assim, a hiperconexão tecnológica e a su-
per robotização devem (SIM!) estar incluı́das na sala de aula, em nossas aulas. Fato este que
muitas escolas que incluı́ram esses aspectos ao mundo do aprender perceberam a imensa difer-
enciação na compreensão dos alunos no que diz respeito - não só nos conteúdos programáticos
- como também em sua visão de mundo, no raciocı́nio lógico, na criatividade, na autonomia
e no repertório sociocultural (perceba que tudo isso é retirado na sala de aula tradicional!).
Além disso, vê - se que cada vez mais há a criação de sites ou Inteligências Artificiais que obje-
tivam permitir acesso (quase) instantâneo de respostas às perguntas das disciplinas escolares,
como Wikis, Brainly, Yahoo, e o mais famoso e recente Chat GPT. Disso, os professores estão
completamente desesperados (como eu observei na sala dos professores na escola - campo e que
conversavam entre si), porque os alunos possuem a resposta à sua disposição SEM precisar fazer
nenhum esforço ou sem precisar ter algum tipo de conhecimento para aquela questão e afins,
intensificando, dessa maneira, o quadro desordenado em que estamos imersos, já que possuem
os melhores resultados nos trabalhos e nas tarefas, contudo - nas avaliações - o resultado é
absolutamente o contrário, em virtude de não ter os dispositivos digitais à disposição para a
pesquisa. Porém, cabe a pergunta; “Por que não usamos isso a nosso favor? Sabemos que a IA
e seus congêneres são limitados e apresentam falhas, portanto. Por que não ensinar os nossos
conteúdos aos nossos alunos a partir destes erros?”. Ou seja, não é retirá - los do contexto do
aprendizado (convenhamos que nem é possı́vel, pelo fato de que faz parte de nossa era e de
nossas gerações atuais!), mas ‘trabalhar’/ensinar/aprender se apropriando dos fatores que são
ofertados por eles. Percebem que TUDO que gira em torno da sala de aula, da maneira como

8
está, retira a possibilidade de incrementar ou favorecer a capacidade intelectual e tecnológica
dos nossos alunos, sendo de grande importância para aprenderem significativamente?
Até aqui, os sentimentos que me nortearam durante os 4 meses como residente na Escola
- Campo foram postos em evidência. Falta colocar aqui que, mesmo com todos essas minhas
lamúrias, eu amava ir à escola, encontrar com meus alunos e passar -tentar, melhor dizendo- um
pouco do que conheço e sei do que a matemática apresenta. Criar vı́nculos, relações afetuosas
são essenciais nesse processo. Além disso, para ser bem sincera, foi justamente a reciprocidade
linda e leve que tinha entre eu e os meus xodós que fizeram com que eu não enlouquecesse,
que não me fez desistir, que não me estressasse tanto. Eu, que comecei a ensinar aos 13 anos
de idade, sempre carreguei isso em mim (muitos podem dizer que é adjetivo ou qualidade,
enquanto outros podem dizer que é um defeito) que um caminho de professor e aluno tem que
passar pela construção de um elo afetivo, porque somos pessoas, afetamos e somos afetados,
influenciamos e somos influenciados, logo (ao termos contato com seres humanos) nutrimos -
mesmo inconscientemente - elos e sentimentos. É isso que me move e me moveu na minha
experiência nessa escola.
Urge em mim pontuar uma situação a qual me marcou. E queiram acreditar ou não, mas foi
no último dia de Residência do 1° semestre letivo do ano de 2023 na Escola - Campo, para ser
mais especı́fica: dia 07/07/23. Para modificar o cenário, ou melhor, as atividades que cercam
aquela realidade com que estávamos acostumados rotineiramente, fizemos uma ‘despedida’ ou
melhor um “até logo” diferente. Toda a energia, toda a disposição, toda a vontade de fazer
algo atraente, estimulador, que estavam aprisionados em mim, coloquei nesse dia. Fui com uma
felicidade sem limites nesse dia para a Escola. Acredito que sentimento ou situações que estão
reprimidos geram uma vontade imensurável de fazer algo diferente ou, apenas, de colocar para
fora o que -entre sete chaves- guardamos em si. E sim, no fim dessa atividade na escola, eu
apenas chorei em casa, chorei. Sabe a justificativa de eu ter chegado (como queiram definir)
ao extremo ou ao extrapolamento de meus sentimentos, culminando em choro? Pela razão de
que, depois de muito tempo, pude presenciar (desde o adentrar na Escola até a saı́da) uma
enxurrada de alegrias, diversão e agradecimentos de uma só vez e que nunca irei esquecer.
Pela razão de que não recebi ‘nãos’ pelas ideias e propostas que querı́amos colocar em prática
naquele momento. Pela razão de que a escola inteira estava disponı́vel (tanto me refiro aos
alunos quanto ao espaço fı́sico da instituição) para realizarmos o que planejamos. Pela razão
de que o meu espı́rito de criança estava a todo o vapor.
Brincadeiras com dardo, competição do pega varetas, cruzada dos números, torre de hanoi,
brincadeiras na quadra sobre o par e o ı́mpar foram as atividades de entretenimento (e que
contêm a matemática) que ofertamos a todos os estudantes que se encontravam na Escola
naquele exato dia. Euforia, desejo de ganhar as premiações (que foram guloseimas) e o espı́rito
competitivo são algumas das sensações vivenciadas por mim e observadas em cada aluno e
aluna que passavam por nós. É incrı́vel o quanto me impactou essa atividade, pelo fato de que

9
(quando estou agora a escrever) flashs consecutivos surgem em minha mente e me fazem sentir
as mesmas emoções que senti naquele dia, além de poder revisitar a alegria imensurável que
estava a me cobrir nessa experiência. As imagens e os vı́deos que temos são um meio amoroso de
guardar essas lembranças e as melhores sensações que pude deixar fluir em meio a um semestre
conturbado e lotado de inquietações.
Além de tudo o que foi relatado, mais um porquê de eu cair em choro foi (na finalização
da atividade) olhar para o rostinho de cada aluno meu e ver os olhinhos cheios de emoção, de
lágrimas, de gratidão por este momento divertido e prazeroso e pelos 4 meses que CON-Vivemos
com eles, mesmo com os percalços ou dificuldades no caminhar. E uma frase de um pequeno
aluno meu - é pequeno em estatura, porém grande como ser humano! -, ao se despedir de mim e
que as gravei em meu coração, foram: “Obrigada, tia, por ter sido nossa professora. A senhora
é responsa! Vou sentir saudades suas e pedir para que não tire a senhora daqui. Agora, não
olhe para mim não, pois vou chorar!”. Ah, se as pessoas soubessem o bem incalculável que
elos provocam no ser de quem os compartilham, saberiam valorizá -los. Ademais, mal sabem
cada um dos meninos e meninas da sala em que atuei como residente - professora, que são eles
que não poderiam olhar para mim, pois eu estava a um trizz de me desmanchar em choros.
Mal sabem eles que sou eu que sou grata por tudo, desde os maiores imbróglios (que fizeram
e me fazem ser mais madura e decidida!) até as maiores alegrias (que me fazem acreditar e
querer persistir nesse caminho tão árduo, entretanto tão lindo!). Mal sabem eles que sou eu
que estou sentindo saudades de cada segundo construı́do por nós. Mal sabem eles que são uma
peça fundamental no erguimento de meu ser profissional e meu ser humano.
Para pôr um fim no relato do meu primeiro semestre letivo de 2023 como regente nessa Escola
- Campo, umas perguntas serão (não são o ponto final de todo o texto) as reticências necessárias
para prosseguirmos: Por que que momentos transbordantes de emoções não são vividos com
mais frequência na escola? Por que que a escola como um todo - a incluir o espaço fı́sico e as
pessoas contidas nela - não dão mais abertura a experiências engrandecedoras e enriquecedoras
como esta na escola? Por que não insistir em abrir mais espaços no calendário escolar para
promover interações sociais entre alunos e professores? Por que não oferecer um ensino mais
leve e menos robusto? Por que não vale a pena pensar em afetar positivamente nossos alunos?
Será que é tão difı́cil para os professores que já estão há muito tempo no magistério repensar
suas práticas e tentar (um pouquinho) colocar algo diferenciado ou um modo diferenciado de
se explicar o conteúdo? Pensar ou agir fora do padrão com que estamos acostumados é tão
ruim ou difı́cil de ser levado em consideração por todos? Eu consegui criar elos com meus
alunos, por que então não pensar em criar elos agradáveis e que gerem gosto pela matemática
ou, pelo menos, que gerem um pouquinho a mais de interesse e prazer em querer aprender um
pouco mais? Muitas perguntas, não é?! Não estou tão interessada nas respostas ou como
posso encontrá - las, porém estou totalmente interessada em fazer com que sirvam de profunda
reflexão e internalização por parte de todos que leem esse texto, porque elas representam uma

10
parcela de muitas indagações que brotaram em mim durante toda minha experiência e que
ainda estão aqui comigo.
Agora, a jornada de relatos segui - se - á no segundo semestre de 2023, que, por sua vez, é o
último semestre da Residência Pedagógica da edição em que estamos inseridos. As reticências
que pus no primeiro semestre, estão nesse caminho agora, pois o NOVO, com experiências
NOVAS, com lugar NOVO, com pessoas NOVAS estão sendo inseridas em meu NOVO caminho.
Sim, uma nova escola com, obviamente, uma nova turma! Agora, turma do Ensino Médio!!!
Primeiras palavras para descrever? Medo, angústia e nervosismo. Esses 3 termos representaram
o que senti ao saber da mudança de cenário que estavam me propondo. Parar? Nunca! Desistir?
Jamais! Aventurar - se? Sempre! Esses 3 termos representaram também o que pensei ao saber
da mudança de cenário que estavam me propondo.
De inı́cio, as 3 primeiras palavras que me fizeram ficar apreensivas vieram do simples fato de
que, por 10 segundos, parei e me dei conta de que os meninos e meninas do ensino fundamental
abriram alas para que os adolescentes do ensino médio adentrassem na avenida da minha nova
experiência. Adolescentes! Eu já fui uma adolescente e sei que não é nada fácil, que tudo
tira o foco, que tudo atrai ou repulsa, que ou agrada ou cria uma inimizade eterna. O que se
quer dizer, enfim, é que adolescência é a manifestação explosiva de dois antônimos: exagero e
modéstia. Ensinar matemática para eles? Um desafio! Será que as inquietações e os incômodos
que tive no primeiro semestre iriam retornar ou iriam aumentar? ou estava me precipitando
em minhas emoções e iria ser mais tranquilo?
Eu estava numa indecisão primária: ‘não sei se choro ou se sorrio’. O que eu, simplesmente
tinha ciência, é que eu queria saber se eu virei uma idosa precoce, a qual (por tudo o que já
vivenciei) é precavida e não quer se aventurar e assim tem medo de se frustar, ou se eu retornei
à infância, a qual (por está ainda no inı́cio da vida) quer se arriscar e conhecer coisas novas e
realidades diferentes.
Primeiro passo, rumo a decifrar esse impasse, foi dado por mim: conheci a nova Escola
- Campo, os cronogramas, alguns professores e a coordenadora. Bem, primeira alegria veio
nesse dia (dia da minha Imersão): a coordenadora nada mais é do que uma grande amiga de
meus pais e que me viu crescer em virtudes e em estatura. Não vou negar que esse simples
fato me forneceu um gás importante para que eu quisesse me inserir naquela realidade, naquele
meio. Podem estar se questionando o porquê que gerou um impacto positivo em mim, e,
prontamente, responderei a essa dúvida com uma situação - exemplo. Imaginem - se em um
lugar exclusivamente novo para cada um de vocês, nunca antes visto ou visitado, com pessoas
absolutamente desconhecidas para você. Primeira coisa que vem à mente não é que está se
sentindo deslocado (a)? Timidez vem à tona, mesmo sem você querer e mesmo (assim como
eu) você não seja tı́mido? Ainda assim, vocês - mesmo com todo o acanhamento - continuam
naquele lugar. De repente, aparece um conhecido seu de muito tempo e vocês se reencontram.
(Parece que um filme passa dentro de mim ao relembrar da mudança radical do sentimento

11
imerso em meu ser!) Aquela vergonha ou timidez abre espaço para a alegria do reencontro e a
leveza de se estar começando a se integrar naquele espaço.
Na outra semana, fui observar a turma. Tudo parte de uma observação, a priori. Até
nos estágios do método cientı́fico, a observação vem em primeiro lugar, por que seria diferente
aqui? Na outra escola - campo, também comecei observando, por que nessa atual instituição
eu iria fazer distintamente? Não dianta colocar o carro antes dos bois!, já diz o ditado popular.
Chegar em um local e de imediato fazer algo com a turma? Não. Para o meu eu, com 8 anos
de experiência ministrando aulas em escolas e de reforço escolar, o ensinamento que aprendi
foi justamente que ‘o novo assusta’. Sim, assusta! E o que eu menos queria naquele momento
era provocar uma distância absurda entre eu e meus novos alunos, por causa de um susto ou
de um estranhamento.
1 hora e mais uma longa conversa com meu atual supervisor foram essenciais para que, na
semana posterior, (agora sim!) eu aplicasse alguma atividade com aquela sala do 2° ano do
ensino médio turma C. Eu pensei, baseado em minha vivência no primeiro semestre, em tudo,
MENOS AULA. Sim, eu NECESSITAVA de uma pausa de aula e de dar aula do jeito que
eu estava dando! Eu precisava de um tempo, não havia me recuperado ainda daquele baque.
Eu ainda estava em estado de inércia, por causa de frustações não acabadas. Eu ainda estava
anestesiada com aqueles módulos de Recomposição da Aprendizagem. Não é à toa que quando
me falavam em “Residência Pedagógica”, de imediato meu cérebro e meu corpo associavam
àquele plano do governo semanal que eu já era doutora nisso, pois eu só fazia isso. Não, eu
queria (pelo menos por um dia) permitir a mim e aos meus sentimentos e emoções que podia
ser diferente, poderia aplicar algo que não fosse uma aula, sim, não fosse uma aula. O termo
aula (para mim) já traz consigo o fardo e a bagagem que todo mundo já conhece, sem precisar
de caracterizações ou complementos. Percebam que a palavra ‘aula’, sozinha, já ecoa toda
a significação em si mesma. Então, pensamentos vibravam a mil por hora em minha mente
querendo algo diferenciado e que gerasse um momento de aprendizado, contudo de leveza, de
suavidez.
No dia 17/08/2023 foi a execução da atividade que planejei. A primeira meta que queria
com a atividade era trazer uma matemática mais engajativa, mais sorridente, mais calma, mais
festiva e que gerasse interesse nos estudantes a partir do que eu queria propor. Assim, com
muito estudo e com muito planejamento de forma minunciosa e cuidadosa, objetivei trazer,
ou melhor, trabalhar em cima do que a minha observação mais a conversa com o supervisor
me chamaram a atenção por estar voltada para a maior dificuldade encontrada na turma em
questão: MATEMÁTICA BÁSICA. Sim, parece que voltamos para o inı́cio do meu relato na
antiga escola em que estava a atuar, não é mesmo? Eu disse bem no inı́cio do meu texto que
também encontrava esse entrave na turma do 9° ano do ensino fundamental naquela escola.
O que nos leva a concluir? Que os obstáculos, as dificuldades, as não - compreensões estão
em todo lugar, podem estar presente em qualquer pessoa/ aluno, podem aparecer de diversas

12
formas, seja explı́cita ou não, podem ser pequena ou de grande dimensão, pode ser resolvida
com uma simples interferência ou não. Será que viveria uma reiteração daquilo que estava
a viver antes? Será que eu conseguirei, agora sozinha, sem dupla? Será que eu conseguirei
ajudá -los? É ensino médio, como trabalhar os assuntos que precisam ser dados aliado ao que
é primordialmente básico? Essas são algumas indagações que se apossaram de mim. Mais uma
vez, encontrava - me à deriva em um imenso mar de perguntas.
Além disso tudo, eu queria (como era minha primeira regência) quebrar o padrão de como
os alunos conhecem os professores, somente com uma simples apresentação e depois é o que?
a aula. Com isso, apliquei um jogo que todo ser humano já teve contato: BINGO. Sim, um
bingo numa aula de matemática!! Sim, com as mesmas regras de um clássico bingo: ganha
quem preencher a cartela com as “pedras” que foram sorteadas!! Sim, a matemática também
é lúdica!! Sim, precisamos investir em mais aulas dinâmicas e que gerem sorrisos ao invés de
lamentos e frustações, tanto em nossos alunos, quanto em nós, professores. E eu precisava sim
fazer essas transformações do que eu estava a sentir por experiências passadas. Eu precisava
fazer com que eu e os meus alunos nos sentissemos bem. Por qual razão tive que investir em
um encontro simples, mas gratificante de se viver? pela razão de toda a conjuntura que me
e os cerca: cheia de compromissos, de responsabilidades, de tarefas a cumprir, de trabalhos
a fazer, de feedbacks a entregar. Pelo menos, em 1 hora, queria que eu e eles tivéssemos um
momento que nos unisse, um momento que eles seriam gratos em uma aula de matemática,
um momento que eles se divertiriam e disputariam (de forma salutar) tendo como base e norte
o conhecimento. Enfim, minha segunda meta era que aprendessem brincando ou brincando
pudessem aprender, como queiram definir melhor.
Tracei, somente, 2 metas. O restante era deixado no livre arbı́trio do momento, na livre
entrega do destino. Mas qual a justificativa para isso? a resposta já devem imaginar, contudo
irei dizer: deixei livre, pois já fiz tantos planos e metas (na antiga escola e na antiga turma) e o
que recebi como resultado foi decepção, tristeza e descontentamento, pelo fato de me engessarem
sem ter a possibilidade de sair/ fugir daquela condição. Agora, de posse de tudo o que presenciei,
deixei que o engessamento que me forneceram virasse exclusivamente a liberdade de se viver
algo simples, mas novo, algo totalmente agradável. Desse modo, cabe aqui a descrição da
atividade e do momento com eles. O diferencial desse bingo é que era bingo MATEMÁTICO
e as pedras eram compostas de expressões matemáticas, que envolviam as 4 operações básicas
(desde soma à divisão) - justamente para trabalhar em cima da dificuldade da turma-.
O que não esquecerei é o rosto de cada aluno (numa turma lotada) de espanto por ver uma
jovem estudante de 21 anos, porém naquele momento, professora deles, entrar com uma sacola
cheia de pirulitos e uma caixa de chocolate mais dois envelopes, sendo um com as cartelas e o
outro com as expressões. O espanto de ver algo nunca visto por eles em uma sala de matemática
era alucinógeno. O impacto gerado foi positivo e a energia de contentamento emanada pelos
alunos diante de uma aula diferenciada e que envolve um ponto em que todos são apaixonados

13
“a arte de jogar” foi o maior presente que poderia ganhar como residente e como resultado de
todo um planejamento. Além de frases como “Tia, gostamos muito. Muito diferente. Faça mais
vezes isso!” foram um bálsamo e um descanso para a minha alma conturbada pelo semestre
anterior, como também uma memória reativada em mim que fazem associação ao último dia
na antiga escola.
Vamos para uma outra experiência significativa nessa instituição escolar e em minha cam-
inhada como residente. Pasmem, sim, sei que estão ficando pasmos, já é a segunda vivência
surpreendente e que me possibilitou gratidão e alegria na atual escola em que atuo e, além
do mais, faz apenas 2 semanas que comecei nela. É indı́cio de que será menos labutoso nesse
semestre? É indı́cio que poderei abrilhantar esses alunos com meios mais vivos para aprender
a matemática? É indı́cio de que emoções mais contagiantes e mais confortáveis estão por vir?
Calma, é o que eu falei para as minhas expectativas: calma!
E quando ocorreu essa atividade? Um dia depois da minha 1° regência. No dia 18/08/2023.
E o que a tornou mais impressionamente mais impactante? Porque (da mesma forma que
para muitos alunos) foi a primeira vez que eu tive contato com uma atividade que envolvesse
o material usado na aplicação. E que material é esse? Nada mais, nada menos do que o
TANGRAM. E a essa atividade, foi criado o projeto Tangram construı́do por 2 estagiários
de observação do curso de matemática na UFDPar e aplicado por mim e por eles dois. Por
conseguinte, dissertarei agora sobre minhas concepções acerca desse dia e de como esse projeto
influenciou sobremaneira a minha vivência.
O projeto TANGRAM foi executado nas 3 turmas de 1° ano do Ensino Médio da Escola -
Campo. Dentre tantos objetivos traçados, os mais pertinentes e que mais nortearam nosso pro-
jeto foram dar leveza à disciplina de matemática, tão alçada como desinteressante e enfadonha;
bem como, mostrar que tudo o que temos e conhecemos tem matemática envolvida. Correlato
a isso, propomos essa atividade como um meio propı́cio de aprimorar o raciocı́nio lógico na
construção de figuras com as formas geométricas, de rever o conteúdo de formas geométricas e
assuntos importantes, como sobreposição, rotação, etc;, a partir da utilização do Tangram. E
é inimaginável a profundidade e a dimensão que o Tangram proporciona àqueles que o usam
para a exploração de conteúdos geométricos dentro de sala de aula.
Esse projeto também foi pensado justamente para que os estudantes se sintam motivados e
entusiasmados a desenvolverem habilidades matemáticas essenciais, enquanto se envolvem em
atividades práticas e criativas. Através do Tangram, eles foram convidados a investigar como
cada movimento transforma as peças e afeta a figura como um todo. Além disso, ao observar a
relação entre as diferentes transformações, os alunos poderão adquirir uma compreensão mais
profunda das propriedades geométricas e das relações espaciais. Ao incorporar o Tangram como
ferramenta de ensino, espera-se despertar o interesse dos alunos pela matemática e promover
o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como raciocı́nio lógico e resolução de problemas.
Este projeto visou contribuir para um aprendizado significativo, incentivando a curiosidade e a

14
criatividade dos alunos na exploração das transformações geométricas. Dessa forma, buscamos
proporcionar uma experiência educacional enriquecedora e estimulante, que valorize o potencial
didático do Tangram como um recurso valioso para o estudo das transformações geométricas.
Lembra que um dos meus primeiros questionamentos era do por que que não incentivamos
atividades mais criativas e mais engajadoras? Pois bem, este foi um dos objetivos traçados por
nós na aplicação desse projeto.
Além de ser divertido trabalhar com materiais concretos e manipuláveis, foi uma experiência
tocante e renovadora, por ver meninos e meninas juntos no fazer a matemática de modo mais
livre e não robotizado. E foi perceptı́vel que a atividade tornou também os alunos mais partic-
ipativos no momento em si, curiosos em desvendar “os mistérios das construções”. Outrossim,
as 3 horas de duração do projeto, externou risos e comemorações (tanto de nós ao vê - los felizes
e principalmente deles, alunos) ao descobrirem que são capazes de pensarem matematicamente
e de construı́rem infinitas possibilidades com apenas 7 peças. Somos gratos por esse momento e
esperamos que a matemática se torne mais afável aos olhos e para este fim é preciso que novas
ou modificadas práticas sejam executadas!
Depois dessa experiência ı́mpar, as minhas regências semanais entraram em vigor. Planeja-
mentos tomaram de conta de minha rotina, mensagens trocadas com meu surpervisor viraram
costume, pensar em como definir o conteúdo e quais exemplos usar a fim de facilitar a com-
preensão dos alunos tornaram - se rotineiras. Será que darei conta? Será que meu modo de
explanar a matemática irá beneficiar os meus estudantes? Em que pontos devo puxar mais em
melhorias? E os desafios presentes na sala de aula, que já conhecemos, será que vou encontrar?
E se encontrar, será que estou pronta para interferir nessas situações? De todas essas dúvidas,
uma que eu não tinha, em hipótese alguma, era que eu estava totalmente nervosa, ansiosa e
com o coração e os pensamentos a mil para assumir as turmas do Ensino Médio, que são 1°
Ano A e B e 2° Ano C.
As primeiras recordações que possuo sobre essas 3 turmas são os risos que trocávamos
mutuamente entre eu e cada turma por (nesses primeiros momentos) eles terem gostado de
mim, terem aberto o coração e a mente e permitido que eu entrasse, a partir de então, como
a nova residente - professora/ professora - residente (eu nunca sei como chamar) deles. Eu
sempre me pego me indagando sobre o porquê que é mais fácil para os adolescentes terem uma
abertura e aceitação maiores e mais rápidas quando o(a) professor(a) é jovem também. Vocês
me entendem? Será que é pela idade que são próximas e por isso aproxima mais rapidamente?
Será que é por que também sou estudante como eles e isso traz (no pensamento deles) uma
equidade? (aqui quero deixar o adendo de que com o professor já atuante há anos, com uma
idade já avançada, os alunos se sentem ‘inferiores’, que provoca uma lacuna entre esses dois
sujeitos do conhecimento - falo isso, pois eu muitas vezes me senti e me sinto assim em relação
aos meus educadores!) ou será por que eu converso, vou para o meio, o fim da sala e interajo com
os alunos que (por vezes) nem são vistos? Será que o simples ato de eu me mover, durante toda

15
aula minha, do inı́cio ao fim, passando pelo meio de cada sala e ali explicando ou questionando
ou instigando os meus alunos ou (como faço de vez em quando) conto uma história ou uma
piada que tiram gargalhadas da turma foi fundamental para essa diferença?
Além disso, vou iniciar essa página dizendo a minha IMENSA satisfação/ alegria/ con-
tentamento que possuo toda terça e toda quinta para ir à escola ministrar as minhas aulas,
justamente pelo fato de que sei que haverá feedback favorável, além de que sei que posso criar a
minha regência sob meus moldes, de que sei que meu supervisor está (agora!) aberto para me
ouvir e me aconselhar. Ademais, essa alegria aumenta quando toda terça e toda quinta, um
grupo de alunos está a me esperar no portão de entrada, estão a me esperar para me darem um
abraço apertado e caloroso de “boa tarde”, estão a me aguardar para me contarem as fofocas
e os desafios do dia e da semana deles. Sem falar nos professores!, super amigáveis, gentis,
simpáticos, que quando nos reunimos, rimos, falamos de coisas diárias, conversamos sobre nos-
sas rotinas...Enfim, eu queria iniciar esse parágrafo para dizer que eu estou feliz por estar nessa
instituição, naquelas turmas, convivendo com pessoas distintas, mas incrı́veis. Recebendo ex-
periências que amadurecem, por modificarem concepções que obtı́nhamos ou por reafirmarem o
que já possuı́mos. Essa pessoa aqui, mesmo com pouca idade, está sendo transformada por esse
espaço que me inseriram. É aquela frase “eu me abri para o novo e eu o deixei me seduzir!”.
Para mim, NÃO há um norte/ um pontapé inicial/ um motivo MELHOR, MAIOR e MAIS
ENCORAJADOR para um profissional do que ir exercer seu cargo no local em que ele se sente
maravilhosamente bem, pois mesmo que venham as intempéries, elas não serão maiores do que
as razões que as motivam cotidianamente para estar ali e fazendo o que ama.
Passar um conteúdo, revisar, passar questões, saber ouvir os questionamentos/ as dúvidas/
as respostas dos meus alunos são alguns dos itens que mais resumem a minha atuação como
residente na Escola - Campo. Outra coisa que me marca muito (creio que também marque
os estudantes) é o fato de eu pedir a colaboração em minhas aulas, seja só o simples fato de
perguntar algo e esperar uma resposta ou até o ato de escutá - los durante minha explicação, dos
alunos que estão nas localizações marginais da sala de aula, isto é, nas laterais e no fundo, que
possuem a denominação de “alunos que não querem aprender”. Eu, digo aqui, sem medo e que
para quem ler esse texto saiba, que TODOS os alunos querem aprender, o que falta é algo que
motive, que impulsione, que (primeiramente) note sua presença e o chame para o aprendizado!!
Eu resolvi ser esse algo impulsionador! Sabe por que? Porque eu cansei de entrar e sair da sala
sem interferir na vida do meu aluno! Eu quero mexer, cutucar na autoestima, na disposição do
meu estudante. Se crescer 1% da vontade de estudar, de se motivar para alguma atividade ou
ramo de que gostam nos meus educandos, então terei cumprido meu papel satisfatoriamente. É
tão surreal essa parte de minha experiência que estou falando agora, que os meninos e meninas
que não prestavam atenção nas aulas do meu supervisor ou ficavam simplesmente desatentos,
NAS MINHAS AULAS, perguntam, dizem que não entendem, dizem suas contribuições, vão
para a frente para copiarem e/ou ouvirem as minhas loucuras da vida e depois a explicação

16
do conteúdo que programei para aquele dia, enfim... na minha aula, eu sei que o 1% que falei
anteriormente, acontece dia após dia. E sabem... eu quero SIM que eu interfira, enquanto eu
estiver viva, 1% a cada encontro na vida de cada pessoa que comigo se relacionar; quer seja
1% de forma negativa, quer seja de forma positiva, o que eu quero é interferir! Porque eu não
quero mais ser aquela regente que entrava, robotizava o que me instruı́am, saı́a daquele local
e nada interferia. Eu prefiro (agora!) fazer pouco e interferir a fazer muito e nada ativar na
vida de outra pessoa. Experenciações negativas amadurecem, viu? Ô, como amadurece! Hoje
sou grata por todo engessamento, toda aula pronta que me proporcionaram na escola passada,
pois foram dessas situações que me deram um chacoalhamento intenso para eu ser quem estou
a me tornar no presente momento.
E as regências foram passando, o tempo correndo e o ano letivo chegando ao fim. E quanto
mais a finalização do ano letivo se aproximava, mais eu pensava em terminar de formas diversas
da tradicional. E assim fiz nas minhas duas últimas residências nas 3 turmas em que atuava.
Brincadeira referente ao assunto, como forma de revisão do conteúdo para a última prova, e
umas brincadeiras que findassem todo esse encontro que tivemos. O termo “encontro” aqui que
exponho se refere à união entre almas (não do lado amoroso entre duas pessoas), mas do lado
afetuoso, de troca entre profesora e alunos, assim como da troca de risos, de piadas, de fofocas
entre nós. Primeiramente, será externada sobre as revisões lúdicas.
A primeira brincadeira foi na turma do 1° ano A: uma roda (com todos os alunos sentados)
e com músicas tocando; à medida que a música ecoava, uma bola passava. Quando a música
era pausada, o aluno que estava com a bola tinha que responder perguntas sorteadas pela
minha dupla de RP acerca do assunto da prova “Progressões Aritmética e Geométrica”. Foi
um momento muito divertido, porque os estudantes passavam a bola rapidamente para não
pararem neles. Houve momentos em que alunos foram ao quadro para mostrar à turma a
resposta da pergunta a que foi dirigida. Também eu fiz uma revisão geral dos dois conteúdos,
pois havia, sim, estudantes que não se recordavam de alguns pontos. Em resumo, foi um meio
divertido e caloroso de revisar tais conceitos e (não podemos deixar de pontuar) que é um
método de abarcar todos os alunos, já que há alunos que não são afeitos ou não apreciam
a matemática. E, como também, a revisão - na proposta como é realizada - não gera tanta
atenção e participação dos alunos.
A segunda brincadeira foi na turma do 2° ano: a turma se dividiu em 6 grupos de 4 pessoas.
Cada grupo recebeu 6 questões (ao todo, 36 perguntas foram entregues e todas distintas entre
si). Em cada rodada, era sorteada, por grupo, uma questão da lista que recebeu, e o sorteio
era feito com o uso de um dado. Cada rodada tinha um tempo de 5 minutos. O tempo foi
cronometrado e, enquanto faziam a questão selecionada, músicas eram tocadas. A questão
de cada grupo era corrigida por mim na frente de toda a turma, para que cada aluno tivesse
acesso às outras questões. Se o grupo acertasse então eram atribuı́dos pontos a ele. Se o grupo
errasse então era retirado 1 ponto dos pontos que o grupo já possuı́a. A disputa se tornava

17
mais acirrada por esse fato. 2 grupos empataram e foram os campeões. Todas as brincadeiras
tiveram como premiações 1 ou 2 pontos na última avaliação de matemática do ano letivo de
2023. Foi pensada essa premiação, pois é sabido que, no meio e no final de cada perı́odo letivo,
os estudantes se interessam mais por pontos que os ajudem na aprovação a guloseimas em
alguns momentos. E posso relatar que esse prêmio foi de gosto de todos e por isso gerou tanto
engajamento nas atividades que propomos às turmas.
No último dia de aula na Escola - Campo, dia 05/12/23, brincadeiras que atravessam
gerações foram colocadas em execução na turma do 1° Ano B. Fizemos “dança da cadeira”
e a outra brincadeira foi uma grande roda com todos os alunos e a bola passava à medida
que a música tocava. (Muito se assemelha àquela brincadeira relatada anteriormente!) O que
diferencia é que as perguntas que eram feitas nada tinham haver com nenhuma disciplina;
eram, pois, prendas, como imitar uma galinha pondo, um gato miando desesperadamente no
teto, escolher alguém da sala, imitá - la e todo mundo tinha que descobrir de quem se tratava,
como cantar uma música que tivesse uma determinada palavra. Assim como tinham trava -
lı́nguas, adivinhas, falar algo para alguém, enfim, o intuito foi um momento de descontração
e que possibilitasse resgatar essas descontrações tão presentes no passado e tão esquecidas
no presente e incertas de estarem no futuro. Escutar de alguns estudantes “Nossa, nunca
brinquei de dança da cadeira, só ouvi falar ” é algo que nos deixa pensativos, porque deveria
ser um dever/direito de estarem na infância de toda criança, justamente por se tratar de serem
crianças, fases de descobertas, da inserção no mundo real. Agora me respondam de como se
faz isso se não for por meio de atividades interativas e brincadeiras?
O mundo tecnológico está, de forma assustadora, distanciando nossas crianças do contato
com o outro e do contato com o estado brincante. Cada vez mais esse mundo tecnológico atrai e
prende nossas crianças no cenário virtual, fazendo com que a hiperconectividade/ hiperuso das
ferramentas digitais seja cenas corriqueiras no dia a dia delas. Além disso, esse mesmo mundo
tecnológico retira a oportunidade dessas crianças de terem contato com a cultura repassada ao
longo dos tempos, favorecendo, tão somente, a convivência com as telas dos dispositivos. O uso
excessivo do celular faz com que impacte negativamente no desenvolvimento fı́sico, cognitivo
e emocional, e essa discussão é muito ampla e extremamente importante na nossa sociedade
hodierna.
No mais, a PRP -com tudo o que ela me abarcou, me proporcionou, me fez viver- foi a junção
de alegrias e tristezas, de stress e calmarias, de vivências e experiências riquı́ssimas. A PRP me
mostrou um lado contı́nuo, que descobri quando adentrei no PIBID e que só reavivou: meu amor
incondicional pela docência, pelo ato de ensinar e aprender, de trocas de vidas e maturidade
ao recebê - las. As dificuldades mostram que, por meio delas, experiências extraordinárias
acontecem e quanto maiores forem elas, maior será a satisfação em vencê - las. Para mim, todo
licenciando deveria vivenciar o PIBID e/ou a PRP, por serem uma prova indizı́vel de que tudo
que é feito com amor, por amor e no amor terá frutos explêndidos, porque os alunos são as luzes

18
em meio à escuridão, a sabedoria é a tocha que dissipa as trevas do mundo da ignorância e os
professores são os guias diante das incertezas e inseguranças. Sou grata por todas as pessoas
que convivi nesse perı́odo e sou grata por todos os momentos vividos! Viva a Educação!

19

Você também pode gostar