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empregada na resolução de situações-problema e no trabalho com projetos,
envolvendo uma ou mais disciplinas. No entanto, apesar dessa substancial
diferença de inserção, os resultados do ponto de vista da disseminação desse uso
das TIC nas instituições escolares, ou de sua contribuição para que a escola
avance, são igualmente pífios.
Ora, é preciso refletir sobre como as diversas tecnologias vêm sendo incorporadas
à escola que conhecemos. Quantos de nós, professores, ao prepararmos nossas
aulas pensamos em nos valer de recursos como fotos, jornais, filmes, retro
projetores, se para tal não tivermos sido profundamente sensibilizados e
convencidos? Com isso, o que queremos dizer é que para a maioria daqueles que
atuam nas escolas, ser professor está profundamente associado ao papel de
alguém que se dirige ao quadro-negro e valendo-se de um giz, de gestual próprio
e de sua capacidade de comunicação, procura desenvolver raciocínios, elucidar
conceitos, propor atividades e assim por diante, da forma que supõe seja a mais
adequada, bem planejada para que seus alunos aprendam. Esse modelo,
profundamente arraigado na escola e na sociedade, acaba sendo o viés, em torno
do qual a escola se orienta e se organiza - elabora sua “grade curricular”, atribui
aulas aos professores, organiza horários, sinaliza início e final das aulas, e assim
por diante. É por isso que, geralmente, a sociedade atribui os “louros” e os
fracassos pela aprendizagem dos alunos aos professores. Por isso, algumas
questões pedagógicas acabam sendo vistas como de caráter quase que privativo
do professor responsável por uma turma ou disciplina, apesar de elas serem
quase que uma característica comum: a da seqüência de conteúdos, conceitos,
idéias, atividades, do uso de um livro didático como se fora uma Bíblia, a ser
seguida página a página ou a da organização das carteiras na sala de aula. Elas
decorrem da concepção fordista, herdada da forma de organização do trabalho
industrial.
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Apesar disso, quando perguntamos a qualquer professor, independentemente de
sua concepção pedagógica, qual o objetivo atual da educação escolar e, portanto,
qual o seu papel como agente central desse processo, normalmente obtemos
respostas muito parecidas. Sem titubearem, eles costumam dizer que é o de
desenvolver a capacidade de o aluno raciocinar, criar, trabalhar em grupo, de ser
solidário, de caminhar em busca de sua própria autonomia intelectual e assim por
diante. Por outro lado, nossas salas de aula continuam a funcionar como nos
velhos tempos, a partir da imagem internalizada até “nossos poros”, por
educadores e pela sociedade, como se os objetivos fossem os mesmos do início
do século XX: o de disseminar a disciplina - vista apenas como capacidade de
fixar a atenção naquilo que o professor transmite, de concentrar-se nos conteúdos
e de executar tarefas, de modo geral bastante fechadas.
Quer dizer, há uma contradição quase que inerente ao sistema escolar: é a que
transparece na distância entre o papel que qualquer educador atribui à escola
quando fala dela, na forma de “discurso” e o que ocorre “de fato” na sala de aula.
Por tudo o que dissemos, vivemos um dilema: há um modelo interiorizado por toda
a sociedade e pelos educadores do que é ser professor e há necessidades que
demandam uma mudança no perfil e na ação profissional.
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diversas disciplinas que fazem parte do conteúdo escolar e, portanto, exatamente
de acordo com a representação de escola e de professor, anteriormente
abordadas.
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Como apontam os estudiosos da cultura escolar, há aspectos que explicam a
interiorização de crenças e modelos de atuação que fazem parte da cultura
escolar, de modo que se torna difícil para quem faz parte dela, analisá-la e
questioná-la com certa isenção.
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que cada um dos que atuam na escola trabalhe de forma isolada e alienada com
relação a um projeto coletivo de educação. Para todos os profissionais, há uma
aparente vantagem: a de evitar o confronto de opiniões com seus colegas, de ter
que abrir mão de algumas certezas, de ter que refletir sobre a própria prática.
Tudo isso, apesar de muito cômodo, resulta em imobilismo, apatia, alienação e
muita frustração.
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de professores que trocam experiências e aprendizagens, que compartilham
crenças, entre os responsáveis pela direção e coordenação e assim por diante.
Quer dizer, há necessidade de envolvimento da comunidade em projetos de
caráter mais amplo, desenvolvidos em torno de objetivos comuns, dos quais
participem vários educadores. Somente quando o diretor e aqueles que exercem
papéis de liderança na instituição conseguem entender o papel do computador
como recurso de aprendizagem pessoal de educadores, funcionários e alunos, é
que a escola de fato incorpora as TIC, inserindo-a em seu Projeto Político-
Pedagógico.
Os desafios que temos pela frente são amplos, mas as TIC representam uma
efetiva oportunidade tanto para refletir a respeito da gestão e da estrutura escolar,
quanto para desencadear mudanças conseqüentes na instituição, avançando na
direção dos objetivos que freqüentam apenas os “discursos” da maioria dos
educadores.
Bibliografia:
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HARGREAVES, Andy et al. Aprender a Cambiar – La enseñanza más allá de las
materias y los niveles. 1 ed. Barcelona: Ediciones Octaedro, 2001.
VALENTE, José Armando & ALMEIDA, Fernando José de. Visão Analítica da
Informática na Educação no Brasil. Disponível em: <http://www.inf.ufsc.br/sbc-
ie/revista/nr1/valente.htm>. Acessado em janeiro de 2005.
NOVAIS, V. As TIC chegam à escola: como entrar pela porta da frente? PUC-SP,
2004.