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Universidade de Taubaté - UNITAU

Mestrado Profissional em Educação - Linha 3: Práticas Pedagógicas para Equidade


Cursista: Josimary de Oliveira Pinto
Professoras: Profa. Dra. Maria Cristina P. V. Cunha e Profa. Dra. Cleusa Vieira da Costa

Entrega Final – Plano de Gestão e Organização da Sala de Aula -


11/11/23

INTRODUÇÃO - Visão da gestão da sala de aula

O papel da educação, em sentido amplo, conforme o art. 205 da Constituição


Federal do Brasil de 1988, é dividido entre Estado e família “visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.” Assim, mais do que ensinar a ler, escrever, calcular,
conhecer e interpretar dados históricos, científicos e filosóficos, entre outros, o ensino
promovido pelas escolas e que deve ser apoiado e reforçado em casa, a meu ver,
cumpre um papel de educação como “um ato político, que liberta os indivíduos por
meio da consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação
como uma prática de liberdade”(Freire, 1974). Deste modo, meu papel como
professora é conforme, Vygotsky (1998), ser uma mediadora, uma parceira do
estudante no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, alguém que motiva o
aluno para a construção de seu próprio aprendizado e de seu ser.
Minha formação inicial foi no antigo magistério, de nível médio, no qual tive o
primeiro contato com os teóricos da Educação e da Psicologia da Educação e onde pela
primeira vez o modelo de ensino/aprendizagem e de gestão de sala de aula que eu
conhecia até ali como aluna começou a ser questionado. Fiquei muito interessada e
surpresa com tantas teorias mais “humanizadas e amplas” que sugeriam um ensino, a
meu ver, bem diferente e mais interessante e com sentido do que aquele na qual eu
fui formada até ali. Conheci a trajetória da Educação no mundo e como chegamos ao
modelo que usamos atualmente e a mais de um século sem grandes revoluções.
Compreendi a necessidade do ensino de massa para atingir o maior número possível
de estudantes e as concepções comportamentalistas que embasam até hoje a didática
de o professor ser a figura que detém o conhecimento e que os alunos devem ser
receptores atentos, silenciosas e se manterem praticamente inertes por várias horas a
fio durante os cinco dias da semana, durante praticamente o ano todo, por sua
infância toda. Mas ali no magistério, com minha pouca idade e pouca experiência,
ainda não tinha a dimensão dos desafios reais que iria enfrentar em sala de aula.
Iludida com todas aquelas lindas teorias e com a arrogância inocente de um professor
recém-formado que pensa que poderá fazer totalmente diferente que seus antigos
mestres, iniciei minha carreira docente lecionando para uma turma de 1ª série do
Ensino Fundamental, com 32 aluninhos de 7 anos de idade e toda minha expectativa
de ser uma professora competente e revolucionária se foi por terra. Minha gestão de
sala de aula não era eficaz, meus planejamentos eram incipientes, minhas
metodologias não atingiam a todos e não tinha noção nenhumas de como fazer para
que os alunos com necessidades especiais ou só com defasagem de aprendizagem
mesmo pudessem avançar. Não conseguia buscar apoio nas teorias que havia acabado
de estudar, Piaget, Vygotsky, Wallon, Montessori e Emilia Ferrero eram agora apenas
nomes que não me faziam muito sentido na prática da minha sala de aula. Busquei
apoio com minha coordenadora pedagógica e com minhas colegas professoras da
mesma escola e estas me deram alguns conselhos, fizeram alguns apontamentos,
dividiram materiais e isso ajudou temporariamente, mas não resolveu meu problema
de gestão de sala de aula.
Sempre tive uma perspectiva mais voltada para a democracia e para uma
relação entre professor e alunos mais horizontal, porém, inserida como professora em
sistemas de ensino tradicionais (o municipal nos anos iniciais e o estadual nos anos
finais e ensino médio) vivi e vivo até hoje no paradoxo entre minha visão com os
embasamentos teóricos que fui obtendo na licenciatura em Matemática e em
Pedagogia e nos cursos de especialização e nas formações em serviço depois e a
necessidade de uma postura mais enérgica, autoritária e coercitiva na prática das salas
de aula de escolas públicas de periferia nas quais os pais de alunos nos cobram essa
visão de professor dos anos 1970/80.
Hoje consigo vislumbrar algo diferente para a gestão de sala de aula, com mais
aprofundamento nas teorias de ensino, com o convívio com diferentes modelos de
professor que tenho no dia a dia da coordenação pedagógica e com autores que estou
descobrindo na formação oferecida pelo mestrado baseado na metodologia PED,
consigo ter uma visão mais ampla. E a partir disso, tentarei explanar nas próximas
seções o que foi aprendido durante a disciplina de Gestão e Organização da Sala de
Aula.

SEÇÃO 1 - Como criar um ambiente eficaz de ensino e construir uma comunidade de


aprendizagem
A partir dos estudos de Weinstein e Novodvorsky (2015), para que o professor
possa criar um ambiente eficaz de ensino e construir um ambiente de aprendizagem é
necessário ter atenção a um conjunto de itens que não dizem respeito apenas à sua
competência como conhecedor da disciplina/componente curricular que vai lecionar
nem à sua didática, mas também a diversos fatores como conhecer e alinhar seu
trabalho às normas e regras da instituição escolar, cuidar do ambiente das aulas, de
um planejamento que leve em consideração o tempo total disponível e o tempo
efetivo de aprendizagem, considerar o conhecimento sobre as histórias de vida e as
necessidades e potencialidades de seus alunos e ter um contato positivo com suas
famílias bem como desenvolver seu autoconhecimento enquanto pessoa e
profissional.
A fim de estabelecer uma comunidade de aprendizagem com os alunos e
também com os professores, será preciso pensar cuidadosamente no ambiente e no
tipo de atividades a serem propostas. Nossos espaços disponíveis, sala de aula e
laboratórios, acomodam o tamanho tanto das turmas de alunos quanto da equipe de
professores de forma limitada e devido ao clima na nossa região, que é bem quente,
certos tipos de atividades ficam prejudicadas em determinados horários, como após o
almoço. Assim, atividades que exijam concentração em leituras ou explanações devem
ser planejadas para o tempo das primeiras aulas da manhã e as que são mais
dinâmicas e envolvem discussão entre os pares podem ser planejadas para os horários
mais ao final do período. Infelizmente, com o grupo de professores não temos essa
opção, pois as reuniões coletivas ocorrem nesse horário após o almoço, no ápice das
temperaturas altas e do período de digestão alimentar, no qual os organismos estão
dedicando grande parte da energia vital do corpo nesse processo biológico e qualquer
outra atividade que exija atenção dedicada fica prejudicada. Desse modo, para engajar
tanto professores quanto alunos em atividades de aprendizado o planejamento deve
ser minuciosamente pensado para que leituras sejam realizadas previamente e que no
momento coletivo os participantes sejam envolvidos em atividades práticas. Para essas
atividades, o trabalho em grupo para discussão e realização de construções práticas se
apresenta como uma estratégia eficaz. Por outro lado, no momento das socializações,
tal disposição dificulta o acompanhamento de todos os participantes e a disposição em
círculo promove uma visão e audição adequada por todos, além de concentrar o foco
da atenção (para auxiliar aqueles com déficit de atenção).
Em resumo, não existe uma forma única de organização do ambiente para
melhor atender todas as estratégias de ensino, portanto, é importante conhecer
diversas disposições para escolher aquela que atenda adequadamente cada proposta.
Figura 1 – Diversos ambientes e diversas disposições para o trabalho com alunos. Fonte: arquivos da autora

Como exemplo, na E.E. Prof. Rubens Zamith, na qual atuo, utilizamos para as
aulas os diferentes espaços para execução das aulas dos vários componentes
curriculares, além de na própria sala utilizamos duplas produtivas também trabalho em
grupo. E o mesmo ocorre nas formações com os professores, como mostrado nas duas
últimas fotos da Figura 3 que mostram atividades no horário pedagógico coletivo.

SEÇÃO 2 – Expectativas, regras e rotinas e procedimentos em sala de aula


Para um ensino de qualidade, onde seja potencializada a aprendizagem e sejam
minimizados os distratores e os conflitos, as autoras Weinstein e Novodvorsky (2015)
indicam que é preciso manter altas expectativas em relação à aprendizagem,
garantidas por normas claras e regras coerentes, que sejam seguidas de forma
assertiva por todos. Além disso, o professor precisa estabelecer rotinas que indiquem
claramente aos alunos quais comportamentos são esperados e quais não são
admitidos, explicitando assim os limites e as possibilidades de atuação de cada
estudante naquelas aulas e ainda quais as consequências virão com o descumprimento
das normas e regras. E nesta questão, é importante ressaltar, de acordo com Rogers
(2015), que as regras e normas sejam claras, justas e adequadas. Isso garante a
funcionalidade delas bem como seu cumprimento. Ao início de cada aula, procuro
chegar demonstrando interesse por aquele momento com os alunos, solicitando a
organização do ambiente, como organização das carteiras e cadeiras de acordo com a
disposição para aquele dia, solicito que os alunos se acomodem corretamente em seus
lugares e se coloquem em posição de atenção para compreender as comandas iniciais
da aula. Ao término das aulas, sempre solicito que antes de saírem, os alunos
organizem as carteiras, recolham os resíduos que tenham caído no chão, olhem
embaixo da mesa para certificar que não se esqueceram de nada e que encostem as
cadeiras nas mesas para que a sala tenha livre acesso para que todos possam sair de
forma organizada e segura.
Na minha sala de aula, as palavras-chave são respeito e responsabilidade.
Desde o primeiro momento, os estudantes são avisados de que serão tratados com
respeito e assim deverão tratar-se uns aos outros e a mim ou outrem que esteja no
ambiente, dessa mesma forma. Assim como são avisados da responsabilidade que
tenho perante a turma em realizar o planejamento das aulas de acordo com o
currículo e materiais vigentes no sistema de ensino, de ser pontual e assídua em meu
trabalho e de estar sempre engajada com a aprendizagem deles durante as aulas. E
essa mesma responsabilidade será cobrada deles, de serem frequentes e pontuais nas
aulas, nas entregas solicitadas e no engajamento no acompanhamento das aulas, no
estudo em casa e na realização das tarefas e trabalhos.
No primeiro dia de aula, sempre faço um contrato pedagógico com a turma,
trazendo os principais pontos sobre os assuntos acima citados, apontando que essas
regras de aula estão de acordo com as normas do Regimento Escolar da nossa
instituição. Exponho alguns pontos que considero importantes para nossa boa
convivência e peço a colaboração dos estudantes indicando itens para compor nosso
contrato. Surgem sempre questões como saída para ir ao banheiro ou beber água, que
sempre são permitidas desde que não interfiram na atenção a alguma comanda ou
explicação de aula e ficam condicionadas às regras da escola como não sair na 1ª ou
última aula, não sair mais de um aluno por vez. Uso de celular é permitido para
atividades pedagógicas como uso de algum aplicativo para aula, calculadora,
cronômetro, filmar ou fotografar algum trabalho, realizar pesquisas, participar de
atividades síncronas como quizzes ou da plataforma institucional. Alguns acessórios e
vestimentas também são abordados no início para que não gerem conflitos
desnecessários e roubem tempo de aula depois, como boné ou chapéu pode ser usado
desde que não cubra os olhos, evitar uso de correntes sobre a camiseta ou brincos de
argolas grandes de modo a evitar acidentes. A postura e a guarda dos materiais
também são contemplados, como sentar-se adequadamente mantendo a coluna ereta
e apoiada na cadeira, deixar as pernas e pés sob sua carteira e não nos corredores para
evitar tropeços de colegas, manter a mochila pendurada na sua cadeira e não sobre a
mesa ou jogada no chão. Todos esses comportamentos esperados são explicados e
contextualizados com exemplos do cotidiano escolar e até mesmo da minha própria
pessoa, como o desvio na coluna vertebral adquirido por má postura durante anos na
infância e adolescência.
A participação nas aulas é sempre incentivada, bem como a manutenção da
ordem e disciplina, de modo que a aprendizagem flua e sejam evitados conflitos.
Quando faço questionamentos à turma, procuro incentivar a participação do maior
número possível dentro do tempo adequado da aula. Quando há muita iniciativa de
participações, aviso que escolherei alguns para falarem naquele momento e que os
outros poderão participar depois e, quando há pouca ou nenhuma participação,
incentivo alunos que geralmente são mais tímidos ou que raramente participam a
darem suas opiniões. Procuro considerar e validar as participações adequadas dos
alunos e ampliar questionamentos para que cheguem a conclusões mais adequadas
quando deram respostas incipientes ou fora do esperado.
As expectativas de aprendizagem, além de serem validadas pela equipe escolar
durante as discussões no período de planejamento no início do ano e serem
complementadas com os alunos no primeiro dia de aula, onde essas regras e
combinados são colocados no caderno de cada aluno e uma cópia é afixada no mural
da sala, também são informadas aos responsáveis na primeira reunião do ano para
poderem ser acompanhadas por eles também durante o período letivo.
Para obter uma dinâmica de aulas que permitam a aprendizagem efetiva e a
participação efetiva de todos os estudantes de modo equitativo, é preciso, segundo
Cohen e Lotan (2017), que seja dedicado um planejamento cuidadoso sobre o
ambiente e sobre as rotinas e atividades propostas. Nas salas de aula da rede estadual
de ensino, na etapa dos anos finais do ensino fundamental, as turmas têm, em média,
35 alunos, dispostos em carteiras enfileiradas, numa média de 6 fileiras em cada sala.
Na maioria dessas salas há alguns armários ou prateleiras para guarda dos livros de
todos os componentes/disciplinas, uma lousa à frente e às vezes uma na lateral e, após
o período pandêmico, uma TV de modelo smart que pode ser conectada ao
computador ou ligada via bluetooth ao aparelho do professor. Em relação a materiais e
equipamentos específicos para as aulas de Matemática, as escolas recebem algumas
verbas anuais para aquisição de materiais, que podem ser calculadoras, papel
quadriculado, jogos e conjuntos matemáticos como sólidos geométricos, kits de
robótica como arduíno e há à disposição também um ou mais conjuntos de tablets ou
notebooks para uso das turmas em sala de aula ou na sala de informática. Essa é a
realidade das escolas da diretoria de ensino da região de Pindamonhangaba, na qual
trabalho, podendo haver algumas diferenças em outras localidades. Atualmente não
estou atuando em sala de aula, mas se retornar, certamente irei utilizar os
conhecimentos obtidos no mestrado usando a metodologia PED nas aulas, utilizando
metodologias de ensino centradas no estudante e trabalho em grupos como forma de
promover uma participação equitativa dos alunos nas aulas. Como coordenadora
pedagógica já utilizei em algumas formações de ATPCG algumas das atividades
aprendidas, como o construtor de habilidades dos pontinhos, para ensinar aos
professores a importância de dar comandas claras e atividade em grupos com papeis
definidos para cada um, garantindo uma participação mais ativa de todos na atividade
e alguns professores já estão incluindo essas técnicas em suas aulas.
Tendo a oportunidade de voltar a lecionar para o público dos anos finais do
ensino fundamental ou mesmo do ensino médio, irei adotar essas práticas discutidas
em aula, deixando claras as regras que já usava e adotando outras que tive contato por
meio das leituras prévias e nas discussões entre os pares nas aulas do nosso curso.
Continuarei deixando a questão das idas ao banheiro e abastecimento das garrafinhas
de água de forma tranquila e organizada, sendo solicitada pelos alunos quando
precisarem e anotando no canto da lousa quando houver mais de um pedido e
solicitando uma espera em caso de estar no meio de uma comanda ou explanação.
Algo que também pontuo como muito interessante e eficaz é a forma do combinado
de erguer as mãos em silêncio para obter a atenção da turma toda, é bem funcional e
evita o desgaste da voz precisando chamar a atenção dos alunos. Aliás, erguer a mão e
aguardar a sua vez de falar também é uma prática que aprendi nos primeiros anos de
carreira e que permitem a participação dos alunos de modo ordenado nas discussões.
Sobre a questão do envio de lições de casa, hoje há na rede estadual mais uma
ferramenta que não havia há quatro anos quando assumi a coordenação, que é a
plataforma CMSP (Centro de Mídias de São Paulo) pela qual é possível enviar
materiais, tarefas e atividades para os alunos com dados patrocinados pelo governo
estadual, assim, praticamente todos os alunos conseguem ter acesso em casa por seus
aparelhos de celular ou de seus pais. Usarei certamente o envio de tarefas por ali mas,
como a Matemática é uma disciplina que demanda, além de uma boa compreensão
dos conceitos em aula, uma dedicação a exercícios e situações-problema de aplicação
para assimilação de cada objeto de estudo, continuarei disponibilizando listas de
atividades e solicitando trabalhos de pesquisa para os alunos como lição de casa, assim
como trabalhos em grupo nos quais os alunos deverão realizar apresentações para a
turma do resultado de sua pesquisa e conclusão. Ainda como possibilidade de
estratégia de aula, foi realizado convênio com a plataforma de aprendizagem
personalizada Khan Academy, a qual fornece roteiros coletivos ou individualizados de
acordo com o desempenho dos alunos e isto integrará a rotina das aulas certamente
dando outras possibilidades de ensino equitativo. Os prazos das entregas fazem parte
de uma das palavras-chave das aulas, responsabilidade, assim, entregas atrasadas
serão aceitas desde que devidamente justificadas, porém com descontos na pontuação
para valorizar aqueles que se empenharam no cumprimento do que foi combinado.
Como professora, sempre utilizei o trabalho em grupo nas aulas como uma
metodologia frequente, porém, não sabia como instigar a participação de todos os
integrantes do grupo e por vezes, percebia uma diferença muito grande na
participação de uns e de outros alunos. Buscava integrar os alunos com maiores
defasagens e os de neurodesenvolvimento atípico, mas muitas vezes sem grande
sucesso em sua participação e aprendizagem em grupo, ou seja, não alcançava a
equidade nas minhas aulas. Hoje, com os conhecimentos adquiridos, tenho a
perspectiva de conseguir mudar essa realidade e promover uma aprendizagem efetiva
e equitativa. Pretendo acrescentar nas minhas anotações de aula, as características de
potencial e de dificuldades dos alunos para montar grupos heterogêneos e com o
registro dos grupos montados a cada semana, realizar um revezamento, com troca de
integrantes e uso de papeis para cada um, algo que nunca havia utilizado. Também
pretendo utilizar a prática de registro sobre o que foi aprendido em cada aula, mas não
somente sobre o conteúdo, pois isso eu já solicitava antes, mas também sobre como
os alunos perceberam as interações, aprendizagens e convivência nas aulas. Sei que
não será possível ter aulas em grupo todos os dias, ainda sendo utilizada muitas vezes
a disposição tradicional de fileiras, mas procurarei modificar o ambiente, conforme as
orientações de Steele apud Weinsten e Novodvorsky (2015) sobre as funções do
ambiente na sala de aula e pretendo modificar a disposição das carteiras mais vezes,
usando disposição das carteiras em formato de U para aulas demonstrativas (como
usava com os alunos dos anos iniciais nas demonstrações de experiências nas aulas de
Ciências), em dois grupos de fileiras um frente ao outro para debates sobre formas de
resolução de situações problema, o trabalho em duplas ou grupos pequenos de até 5
integrantes e também explorar mais outros ambientes da escola e do entorno, como
em uma vez que levei os alunos de 9º ano para medirem as sombras de árvores,
postes e brinquedos do playground da praça ao lado da escola para estimar suas
alturas utilizando os conhecimentos sobre os teoremas de Tales e o de Pitágoras que
estávamos estudando. Dedicarei também mais tempo no planejamento das atividades
de aula para propor mais atividades que sejam exploratórias e que sejam conduzidas
por roteiros de passo a passo o de questões norteadoras, que vejo hoje como uma
falha nas minhas práticas anteriores. O planejamento que eu fazia contemplava
atividades que consumiam um grande tempo de explanação da minha parte e na etapa
de realização pelos alunos, além do tempo ser curto, não havia uma boa condução por
minha parte, no sentido de instigar a participação dos alunos de forma engajada,
percebia que eles se sentiam cansados ou desinteressados, ou que as perguntas que
eu fazia não geravam boas reflexões, mas não sabia como fazer diferente. Penso,
atualmente, que minha prática de andar constantemente pela sala de aula,
acompanhando e verificando o desenvolvimento das atividades pelos alunos era algo
positivo que devo manter, porém, o que a tornava vulnerável era uma falta de
sistematização, de instigar mais os alunos a apresentarem seus modos de pensar na
lousa (fazia apenas na correção de tarefas de casa, não em outros momentos de aula)
e também realizar um registro mais detalhado do desenvolvimento dos alunos ao final
do dia de trabalho, para não perder pontos importantes na trajetória de cada turma
que podem e devem ser usados para correção de rumos no planejamento inicial. A
prática de ter um verdadeiro diário de bordo e não apenas pequenas anotações nas
bordas das páginas dos livros, apostilas ou no meu caderno de planejamento de aulas,
irá impactar positivamente minha prática docente permitindo uma reflexão mais
embasada sobre as aulas, conforme indicam Charréu e Oliveira (2015) no texto sobre
diários de aula e portfólios. Além disso, hoje, trabalhando no Programa de Ensino
Integral da nossa rede, tenho a perspectiva de elaborar portfólios das ações realizadas,
com registros visuais e escritos das atividades e das impressões e impacto na
aprendizagem dos alunos. E ainda há um ganho maior em relação à difusão e
replicabilidade desse trabalho pois temos várias ferramentas de tecnologia que
permitem que façamos gravação das aulas, compartilhamento desses materiais em
redes sociais diversas e no site da escola e por meio de padlets que são murais
eletrônicos interativos.
Como somos muitos professores de Matemática, com muitas turmas e sem a
possibilidade da criação de sala ambiente, penso que podemos organizar os materiais
e recursos que temos disponíveis na escola para as aulas num só local, ao lado dos
materiais de Ciências no laboratório, em prateleiras ou armários, classificados e
etiquetados, para uso itinerante nas aulas. A visualização dos materiais juntos acaba
funcionando como um incentivo à criatividade e ao uso pelos professores que, “se
lembram” o que há na escola, além de fomentar a troca de experiência entre os pares,
pois quando um professor vê o outro levando ou trazendo algum material, sempre
surge um diálogo sobre como será a proposta ou como foi a aplicação daquela aula.
Além do que, quantos mais diversificadas são as aulas de um professor maior a
possibilidade de ativar as múltiplas competências dos estudantes e os faz solicitar aos
demais professores que diversifiquem suas aulas também, sendo um efeito em cadeia
bem positivo.
Hoje percebo que, para alcançar o desenvolvimento da autonomia dos
estudantes, outro ponto importante, sempre sonhado por mim enquanto educadora, é
preciso permitir que eles tenham diversificadas experiências, bem planejadas e
organizadas, que convivam com as diferenças pessoais de aparência, de crenças,
cultura, desenvolvimento cognitivo, nível econômico, que sejam instigados a sair de
suas zonas de conforto, que sejam cobrados por seu engajamento e responsabilidade
frente a seu próprio aprendizado. Como nos diz Freire (1996):

A autonomia, enquanto amadurecimento para si, é processo, é vir a


ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma
pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências
estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em
experiências respeitosas da liberdade.

Não posso, enquanto educadora, esperar que os alunos do 6º ano tenham


autonomia no primeiro mês de aula de cumprir à risca as comandas de aula e do
trabalho em grupo, compreendendo e respeitando os papeis de cada um, respeitando a
vez e a voz do colega, nem ter a rotina de estudos e responsabilidade em realizar e
entregar as lições nas datas combinadas. Entretanto, tenho consciência de que, se eu não
trabalhar firme e insistentemente, de modo planejado e organizado, retomando as
normas e regras e sempre contextualizando os porquês que justificam cada regra,
certamente no final do ano letivo terei a mesma turma caótica, dependente da voz do
adulto e com defasagens do início. Agora, trabalhando do modo mais assertivo, dentro
do período de um ano já é possível perceber os avanços da turma como um todo e os
individuais de cada aluno, garantindo a equidade. Percebo isso no trabalho de alguns
colegas professores de diversas áreas, como o trabalho sistemático e bem planejado,
levando em consideração esses pontos é efetivo para aprendizagem e como as turmas se
moldam aos professores e seus estilos de aula, obtendo grandes avanços na autonomia,
no cumprimento das regras e na aprendizagem. E pensando, como Freire, numa
educação processual, ao final do ciclo, os alunos terão atingido a autonomia,
competência e a solidariedade almejados no Projeto Político Pedagógico da Escola,
embasado no Currículo da Rede e na Base Nacional Comum Curricular e dispostos no
Guia de Aprendizagem (Plano de Ensino bimestral do professor).
Outro ponto que me chamou muita atenção no curso e que vai me ajudar na sala
de aula foram as estratégias para gerir comportamentos desafiadores, o que é uma
constante na profissão docente. Aprendi nas aulas do mestrado, por meio da
metodologia PED de leituras e trabalhos em grupo, além dos riquíssimos momentos de
socialização dos colegas e sistematização pelas professoras, que a melhor estratégia é a
prevenção, ou seja, estabelecer rotinas de aula que sejam atraentes e envolventes aos
alunos e um planejamento que contemple os tempos de cada parte da aula de modo que
não sobre tempo ocioso em que possam acontecer incidentes desagradáveis. A ação de
também sempre deixar claras as regras e seus propósitos, bem como as consequências
do seu descumprimento são também um ganho para meu plano de gestão, uma vez que
no início da carreira sofria as consequências de não manter uma constância em manter
sempre os combinados com a turma o que gerava desgastes e conflitos. E mesmo que
depois de criado um bom ambiente para aprendizagem, o estabelecimento de normas,
regras e rotinas, ainda haja situações desafiadoras em que alunos apresentem
comportamentos inadequados, o caminho será o do diálogo se possível ou o
distanciamento do aluno para poder se acalmar e refletir sobre suas atitudes. Não farei
discursos longos frente à turma quando o comportamento inadequado foi de apenas um
ou dois alunos, conversarei com eles à parte. E se houver um comportamento desafiador
da turma toda, também buscarei trazer a eles a oportunidade de refletirem sobre seus
atos, as consequências para eles e para quem maios esteja envolvido e irei propor que
eles mesmos apresentem uma possível solução ou retratação para o problema. Quando
tanto no caso individual como no coletivo, as infrações sejam graves ou bem relevantes,
a gestão será informada para que tanto os responsáveis sejam comunicados bem como
os alunos sejam notificados por meio de registro formal da ocorrência advertida.
Ainda seguindo a linha preventiva de maus comportamentos, pretendo utilizar
com uma certa frequência o incentivo positivo referente à entrega 1 da disciplina Gestão
e Organização da Sala de Aula, que foi um telefonema para um familiar de aluno para
informar algo positivo sobre ele. Esse “desafio” trouxe grandes reflexões sobre,
primeiramente, como nunca pensamos nisso antes. Depois, como é difícil pensar nos
pontos positivos e avanços de alunos que por repetidas vezes têm seus nomes
associados a mau desempenho ou comportamento disruptivo. Entretanto, como é
gratificante passar 10 ou 15 minutos travando uma conversa agradável e esperançosa
com uma mãe que só é acionada para ouvir reclamações sobre seu filho. Certamente
essa prática será incorporada como uma ação preventiva a problemas de
comportamento. E ainda em relação à questão do elogio, consegui também refletir sobre
uma questão perturbadora para mim, que durante toda a adolescência sofria bullying dos
meus colegas de classe pois meus professores teciam elogios repetidamente ao meu bom
comportamento em sala e bom desempenho nas avaliações. Além dos conflitos com os
colegas, isso também gerou em mim uma falsa sensação de grande competência
acadêmica que, mais tarde na graduação, gerou uma frustração enorme frente aos
desafios enormes que tive que superar para conseguir atingir o rendimento suficiente
para aprovação em diversas disciplinas, pois me faltavam pré-requisitos que não haviam
sido abordados nas aulas das escolas públicas nas quais estudei e eu não havia
desenvolvido outras competências senão a de entender os padrões do que era ensinado e
repeti-los nos exercícios e nas provas. Hoje como professora, procuro distribuir os
elogios pelos diferentes alunos e por diferentes competências e quando respondem algo
que não está totalmente ou está parcialmente correto, busco fazer perguntas
complementares para conduzir o pensamento do aluno ou permitir a complementação
por outro colega. Assim, percebo que a turma não “entra” em uma competição e sim
num clima de colaboração, que é o objetivo de uma comunidade de aprendizagem.
Muitos conflitos são evitados diminuindo as tensões entre os alunos e mostrando na
prática que todos são capazes de aprender, a seu ritmo e com estratégias adequadas às
suas necessidades, mas que podem e devem elevar sua autoestima perante a sua
aprendizagem.

SEÇÃO 3 - Reflexões

Sobre o meu plano de gestão apresentado na seção anterior, estou confiante


na expectativa de criar um ambiente de aprendizagem bem organizado e planejado de
forma mais consciente e assertiva. A perspectiva de saber lidar melhor com as
questões de comportamentos desafiadores e de promoção do engajamento de todos
os alunos de forma equitativa me trazem grande esperança de ser uma professora
mais eficiente, mais próxima daquela mediadora que idealizo ao estudar as teorias da
educação e do comportamento, além das contribuições da neurociência que venho
buscando conhecimento e mais aprofundamento nas peculiaridades das deficiências e
transtornos globais de desenvolvimento. Além da busca pela evolução profissional
também tenho buscado compreender-me melhor enquanto pessoa e desenvolver as
competências socioemocionais que não foram estimuladas na minha trajetória escolar
e familiar, como o desenvolvimento da criatividade, o trabalho em equipe exercendo o
papel de “harmonizador” e não apenas de “repórter” ajudando aos outros se
desenvolverem também de forma empática entre outras.
O que ainda me causa certo desconforto e apreensão se refere à parte da
organização para que o planejado ocorra nos prazos determinados e que eu me
mantenha firme na manutenção dos combinados com os alunos, internalizando a
premissa de que para ensinar os alunos a terem constância eu também preciso ter e
ser exemplo. Estou no início do meu tratamento para conviver melhor com o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que descobri este ano e que
ajuda a explicar
muitos comportamentos que eu não conseguia melhorar durante toda a minha vida. E,
além de melhorar a minha rotina pessoal, estou compreendendo como lidar e
incentivar os alunos que apresentam o mesmo transtorno. Preciso agora aprender a
como sensibilizar e orientar adequadamente o grupo de professores que coordeno na
escola, uma vez que as queixas dos alunos e dos pais me tocam profundamente no
sentido da incompreensão ou da falta de estratégias adequadas dos professores para
com os alunos com neurodesenvolvimento atípico.
Para o próximo ano letivo, pretendo dedicar um tempo do meu planejamento
pessoal e também o da equipe escolar para refletir e discutir todos os pontos descritos
neste plano e compartilhar com a equipe os diversos pontos abordados das aulas de
Gestão e Organização da Sala de Aula que tivemos no Mestrado. Estou confiante de
que no desenvolvimento da minha pesquisa para a escrita da dissertação, consiga
realizar os registros da minha própria prática de forma coerente e que, na pesquisa-
formação, possa contribuir com a prática de meus colegas e em consequência
obtenhamos a construção de uma comunidade de aprendizagem na escola.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 2016. 496 p. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf.
Acesso em: 04 nov 2023.

CHARRÉU, L. V., & OLIVEIRA, M. O. de. (2015). Diários de aula e portfólios como instrumentos
metodológicos da prática educativa em artes visuais. Cadernos De Pesquisa, 45(156), 410–
425. Disponível em: https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/2839 Acesso em: 04 nov
2023

COHEN, Elizabeth G.; LOTAN, Rachel A. Planejando o trabalho em grupo: Estratégias para salas
de aula heterogêneas. 3ª. ed. Porto Alegre: Penso, 2017. 226 p. ISBN 978-85-8429-101-4.

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