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Introdução
Desse modo, compreendemos que, para promover um ensino que seja, de fato,
proveitoso, é necessário mais do que “saber ensinar”, ou seja, precisamos ir para além das
teorias e procurar saber quem são nossos estudantes (já que a teoria é uniforme, mas os
indivíduos são totalmente diferentes uns dos outros), quais os seus interesses, de que forma
gostam de aprender e como utilizam a linguagem no seu dia a dia. Visando isso, o estágio se
mostra fundamental, visto que nos leva a praticar tudo aquilo que viemos aprendendo e
discutindo ao longo do curso. Nesse sentido, Corrêa ainda argumenta:
O campo do estágio foi a Escola Santa Maria Mazzarello, uma instituição católica
dirigida pelas irmãs salesianas, atualmente dirigida pela gestora Altemar Socorro Bastos da
Rocha. A escola foi construída inicialmente, em 1969, como um simples “barracão”, como
dizem os antigos moradores e estudantes, onde aconteciam os trabalhos de alfabetizam e apoio
social para crianças carentes e suas famílias. Anos depois, 1980, já com um prédio de melhor
estrutura, a instituição foi reconhecida como escola de 1º grau e batizada com o nome que leva
até hoje. Em 1997, a escola passou a ser particular, administrada pela Inspetoria Laura
Vicuña, que é responsável pelos pagamentos dos funcionários e professores.
A escola está localizada no Bairro Alvorada I, Rua Professora Lea Alencar, uma área
tranquila e razoavelmente bem estruturada, habitada por pessoas, em sua maioria, de classe
média. A estrutura física da escola é relativamente boa e passa por constantes reformas e
ampliações (nos períodos de férias): apesar de ser pequena, ela conta com dois andares bem
aproveitados; no primeiro, ficam a sala do primeiro ano do Ensino fundamental (por conta da
logística de locomoção de crianças menores, que é mais complexa); a biblioteca, que no
momento não está sendo utilizada por falta de bibliotecários, segundo a escola; a cantina; a
casa das irmãs; a garagem delas; a cozinha dos funcionários; as salas de recursos humanos e
administração; a sala de informática, na qual os computadores estão, quase todos,
inutilizáveis, o que leva os estudantes a sempre trabalharem obrigatoriamente em grupos
nesse ambiente, ou faz os professores evitarem frequentá-lo com suas turmas; e uma pequena
quadra de esportes, que é mais utilizada no intervalo das aulas, para brincadeiras simples, já
que a escola possui um ginásio bem próximo a sua localização onde acontecem as aulas
práticas de educação física; os estudantes são levados para esse ginásio pelas professoras de
educação física e, geralmente, por mais algum membro da coordenação, para auxiliar no
percurso. No segundo andar, estão as salas de aula do segundo ao nono ano do Ensino
Fundamental, todas as salas contam com um projetor e um computador, nem todos em pleno
funcionamento, mas ainda servem bem para as aulas; a sala dos professores; a sala da gestora;
sala da diretora financeira e sala das pedagogas. As salas são bem climatizadas, sendo que as
do 1º ao 5º ano tem ornamentação educativa, como desenhos de boas-vindas, boas maneiras,
tabuada, etc. E as do 6º ao 9º ano são bem mais “formais”. A escola ainda conta com uma
rampa de acesso para pessoas com deficiência física, mas não possui nenhum recurso voltado
para pessoas com deficiência visual. Por fim, os banheiros, tanto dos discentes quanto dos
funcionários, são bem estruturados e limpos.
Ação pedagógica
Foram acompanhadas quatro turmas do ensino fundamental II: do sexto ao nono, turno
vespertino; no decorrer do diagnóstico de cada sala, puder perceber que elas têm perfis muito
diferentes, principalmente se compararmos as turmas mais novas, como o sexto ano – recém
vindo do Fundamental I –, com as mais velhas, como o nono ano. Em relação à turma do 6º
ano, notei que os discentes ainda sentem bastante a transição do FI para o FII, tendo
dificuldade para compreender textos de linguagem menos “infantil”. Além disso, grande parte
da turma tem problemas com a leitura, principalmente no respeito às pontuações e na
pronúncia de palavras razoavelmente complexas; O sétimo ano já tem maior autonomia
quando se trata da interpretação de textos para a realização das atividades propostas, mas é
uma interpretação básica, com a identificação de elementos presentes no texto. Assim,
quando se mostra necessário pensar além do que está escrito, os estudantes mostram certa
dificuldade, aspecto esse que ficou claro em todas as salas que acompanhei. A leitura, na
turma como um todo, se mostra bem melhor do que no 6º ano, contudo, alguns discentes
ainda apresentam um desempenho não muito satisfatório. Ainda sobre o 7º ano: tem uma
criança com Transtorno do Espectro Autista, que está na escola desde o primeiro ano do
ensino fundamental e ainda não foi alfabetizada, ficando na responsabilidade de estagiários
que faziam o papel de mediadores, quando nem formação para isso tinham, e sendo fadado a
apenas copiar respostas prontas do livro didático para cumprir o que a escola pede; as turmas
de oitavo e nono ano, por sua vez, já apresentam uma leitura muito bem feita, em ambas as
salas apenas 2 ou 3 estudantes mostraram desvios nesse sentido. Quanto à compreensão e
interpretação, o cenário é praticamente o mesmo das turmas mais novas, com a diferença de
que, muito provavelmente por conta das práticas de leitura que realizam por conta própria (a
maioria nas redes sociais), o 8º e o 9º ano possuem um pouco menos de dificuldade de
“pensar além” dos textos trabalhados pela professora.
Nas quatro turmas, notei que, apesar de não serem necessariamente “bagunceiros” e
raramente atrapalharem as aulas com conversas paralelas, os estudantes no geral são bastante
dispersos e não prestam atenção de fato ao que está sendo ensinado, ou nas informações
básicas que são dadas, tanto que, na realização das atividades, por exemplo, muitos
perguntam a mesma coisa diversas vezes seguidas, mesmo após a professora ter explicado
mais de uma vez; e são coisas simples, como se devem copiar ou não as questões, ou quantas
linhas deve ter um texto. Contudo, no momento de expor as respostas das atividades todas as
turmas de mostram bem participativas: os estudantes, quase em sua totalidade, respondem em
voz alta as questões e colocam opiniões diferentes dos colegas, quando há espaço para isso.
Também é característico das quatro turmas a boa relação com a professora regente; mesmo
aquelas que já possuem certa intimidade, por já serem acompanhadas por ela a mais de dois
anos, prezam pelo respeito e consideração.
A professora regente assume uma postura séria, que estabelece disciplina nas salas e,
ao mesmo tempo, se coloca à disposição para tirar todas as dúvidas levantadas pelos discentes,
sem exceção. Utiliza basicamente a mesma metodologia com todas as turmas: leitura em
conjunto, em voz alta; realização de atividade individual, no máximo em duplas sobre o que
foi lido; partilha e correção das respostas, também em conjunto. A profissional costuma
apontar o nome dos estudantes que deve responder em voz alta e não abre muito espaço para
uma mesma questão ser discutida. Utiliza de uma linguagem simples, principalmente com as
turmas mais novas, e incentiva a escrita dos gêneros trabalhados, aguçando a criatividade dos
discentes; porém, quanto à escrita, no que diz respeito aos elementos gramaticais, apenas
aponta os desvios, ditos “erros”, não propõe reflexão, o que gera uma repetição desses desvios
(principalmente pontuação e acentuação) em todos os textos produzidos. No geral, é amigável
com os estudantes e procura ser o mais clara possível para com eles. Em relação ao estudante
com TEA, a professora busca fazê-lo interagir com a turma nas aulas, mas, visto que é
necessário o preenchimento do livro didático e que a escola não dispõe de nenhum recurso
para facilitar o aprendizado de pessoas com deficiência e transtornos globais, as atividades
dele em língua portuguesa, e em todas as outras matérias, acaba sendo apenas copiar
respostas.
A equipe docente, como um todo, mantém uma boa relação e a comunicação entre
gestora, diretora financeira, recursos humanos e outros funcionários; porém, existe uma certa
falta de comunicação entre essa equipe pedagógica e os professores, que muitas vezes se
sentem pressionados a fazer apenas o que é disposto pela instituição, não tendo liberdade para
trabalhar materiais próprios ou qualquer outro que não sejam os dispostos pela escola.
Ademais, os docentes também reclamam da falta de estrutura da sala de informática e do não
funcionamento da biblioteca, locais que aparecem nas propagandas da escola, mas não
funcionam de fato, dificultando a realização de um trabalho mais dinâmico e aprofundado
com as turmas. Outro fator conflituoso entre os professores e o restante da equipe pedagógica
é a falta de inclusão da escola para com as pessoas com deficiência e transtornos globais,
levando em conta que a única acessibilidade disposta pela escola é a rampa, não possuindo
nenhum tipo de recurso para os estudantes com deficiência intelectual. Assim, os professores
alegam ser contraditório essa falta de recursos disponíveis e a cobrança por parte da escola
em relação a evolução desses estudantes.
Considerações finais
Por fim, registro que as minhas atividades no estágio foram muito proveitosas,
principalmente quando, ao perceber algumas falhas no ensino, pude trabalhar com a língua de
forma mais dinâmica, por meio das oficinas, entendendo onde devo me aprimorar como
profissional e enxergando as maiores dificuldades que os discentes de cada turma geralmente
tem e como podemos auxiliá-los da melhor maneira.
Referências
ASSIS, Machado de. A cartomante. Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
1884. Disponível em: Academia Brasileira de Letras:
http://www2.academia.org.br/abl/media/A%20CARTOMANTE_MACHADO%20DE%20A
SSIS.PDF
https://www.augustopessoa.com/contos-indgenas