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Relatório de estágio supervisionado I

Acadêmica: Naiana Araújo Santos Souza

Professor orientador: João Beneilson Maia Gatinho

Introdução

Este relatório tem por finalidade apresentar detalhadamente as atividades realizadas


pela acadêmica no período de 19 de janeiro a 29 de março de 2023, na disciplina de estágio I
(com turmas do 6º ao 9º ano); levando em conta que o estágio é momento essencial para o
crescimento dos futuros professores; crescimento esse não apenas profissional, mas também
pessoal, onde é possível conhecer a realidade dos estudantes e perceber cada turma e
indivíduo em sua particularidade. Sobre isso, Cintia Chung Marques Corrêa, Professora do
PPGE da Universidade Católica de Petrópolis, discorre em seu artigo:

Mesmo tendo sido desenvolvido competências e habilidades para


saber ensinar, contudo, nem sempre os processos de ensino e aprendizagem
ocorrem, visto que os dois atores - professor e aluno - se encontram em
posições diferentes e são sujeitos que diferem entre si. Dessa forma,
entendemos que o ensinar não conduz automaticamente à ação de aprender.
Muitos intervenientes, que podem partir do professor ou do aluno, entre o ato
de ensinar e o de aprender podem acontecer para que o processo ocorra ou
não. (Corrêa, p. 5)

Desse modo, compreendemos que, para promover um ensino que seja, de fato,
proveitoso, é necessário mais do que “saber ensinar”, ou seja, precisamos ir para além das
teorias e procurar saber quem são nossos estudantes (já que a teoria é uniforme, mas os
indivíduos são totalmente diferentes uns dos outros), quais os seus interesses, de que forma
gostam de aprender e como utilizam a linguagem no seu dia a dia. Visando isso, o estágio se
mostra fundamental, visto que nos leva a praticar tudo aquilo que viemos aprendendo e
discutindo ao longo do curso. Nesse sentido, Corrêa ainda argumenta:

Compreendemos que toda profissão necessita de habilidades técnicas


para o seu desenvolvimento. E não seria diferente para aqueles envolvidos
com o processo de ensinar. Somente as habilidades técnicas, entretanto, não
dão conta de resolver todas as situações que envolvem o processo de ensino e
de aprendizagem. O conhecimento científico necessita caminhar
paralelamente à prática, ou seja, teoria e prática como aliadas no fazer docente.
Neste sentido, vislumbramos a fragilidade da parceria entre as escolas (campo
de estágio) e as universidades. A universidade como espaço de discussão da
teoria e a escola como campo de estudo. As experiências vivenciadas e as
teorias estudadas como oportunidades de encontros para reflexões sobre a
prática. E quando esses momentos não ocorrem, a atividade de estágio fica
reduzida apenas ao desenvolvimento das atividades no campo de estágio e à
elaboração de um relatório. (Corrêa, p. 4).
Assim, percebe-se não apenas a importância da aplicação das teorias, mas também do diálogo
de resposta entre essas teorias e suas práticas, pois é apenas na aplicação que o teórico é
comprovado ou refutado, o que exige uma constante troca entre esses dois aspectos, uma vez
que aquelas metodologias bem-sucedidas na prática deverão ser aprimoradas e aquelas que
não obtêm sucesso precisam ser repensadas.

O Eestágio Ssupervisionado foi dividido basicamente em três etapas: diagnóstico,


observação e regência. A etapa de diagnóstico teve o objetivo de coletar informações sobre a
escola como um todo (histórico, estrutura física e localização), observando se o ambiente é
acolhedor, se possui acessibilidade, inclusão, se está bem localizado, em área de segurança
etc. A segunda etapa, observação, foi realizada já em sala de aula e objetivou analisar a
postura da professora regente para com os discentes, o comportamento dos estudantes e seus
interesses, bem como aprender com as metodologias que se mostraram eficiente e refletir
sobre como as que não dão certo podem ser melhoradas; a terceira etapa consistiu na regência
de classe, que teve ´por objetivo a experiência em sala de aula e o ensino de gêneros textuais
de uma forma mais dinâmica, uma vez que a regência foi feita em forma de oficinas; essa
última etapa também foi necessária para verificar se o plano de aula elaborado durante a
observação das aulas atendeu aos perfis das turmas e o que ainda é preciso modificar nesse
plano para que a estagiária tenha um melhor desempenho nas próximas experiências em sala.
As três etapas serão descritas de forma aprofundada, aula por aula, ao longo do relatório.

Caracterização do campo de estágio

O campo do estágio foi a Escola Santa Maria Mazzarello, uma instituição católica
dirigida pelas irmãs salesianas, atualmente dirigida pela gestora Altemar Socorro Bastos da
Rocha. A escola foi construída inicialmente, em 1969, como um simples “barracão”, como
dizem os antigos moradores e estudantes, onde aconteciam os trabalhos de alfabetizam e apoio
social para crianças carentes e suas famílias. Anos depois, 1980, já com um prédio de melhor
estrutura, a instituição foi reconhecida como escola de 1º grau e batizada com o nome que leva
até hoje. Em 1997, a escola passou a ser particular, administrada pela Inspetoria Laura
Vicuña, que é responsável pelos pagamentos dos funcionários e professores.

A escola está localizada no Bairro Alvorada I, Rua Professora Lea Alencar, uma área
tranquila e razoavelmente bem estruturada, habitada por pessoas, em sua maioria, de classe
média. A estrutura física da escola é relativamente boa e passa por constantes reformas e
ampliações (nos períodos de férias): apesar de ser pequena, ela conta com dois andares bem
aproveitados; no primeiro, ficam a sala do primeiro ano do Ensino fundamental (por conta da
logística de locomoção de crianças menores, que é mais complexa); a biblioteca, que no
momento não está sendo utilizada por falta de bibliotecários, segundo a escola; a cantina; a
casa das irmãs; a garagem delas; a cozinha dos funcionários; as salas de recursos humanos e
administração; a sala de informática, na qual os computadores estão, quase todos,
inutilizáveis, o que leva os estudantes a sempre trabalharem obrigatoriamente em grupos
nesse ambiente, ou faz os professores evitarem frequentá-lo com suas turmas; e uma pequena
quadra de esportes, que é mais utilizada no intervalo das aulas, para brincadeiras simples, já
que a escola possui um ginásio bem próximo a sua localização onde acontecem as aulas
práticas de educação física; os estudantes são levados para esse ginásio pelas professoras de
educação física e, geralmente, por mais algum membro da coordenação, para auxiliar no
percurso. No segundo andar, estão as salas de aula do segundo ao nono ano do Ensino
Fundamental, todas as salas contam com um projetor e um computador, nem todos em pleno
funcionamento, mas ainda servem bem para as aulas; a sala dos professores; a sala da gestora;
sala da diretora financeira e sala das pedagogas. As salas são bem climatizadas, sendo que as
do 1º ao 5º ano tem ornamentação educativa, como desenhos de boas-vindas, boas maneiras,
tabuada, etc. E as do 6º ao 9º ano são bem mais “formais”. A escola ainda conta com uma
rampa de acesso para pessoas com deficiência física, mas não possui nenhum recurso voltado
para pessoas com deficiência visual. Por fim, os banheiros, tanto dos discentes quanto dos
funcionários, são bem estruturados e limpos.

Quanto aos aspectos administrativos da escola, só é permitido observar que o local é


liderado por duas pessoas: uma diretora financeira, que é uma das irmãs, e a gestora, que trata
dos assuntos pedagógicos, devido a sua formação. A direção administrativa muda
constantemente, geralmente a cada ano, uma vez que o grupo de irmãs sempre muda também.
Além disso, a escola possui duas pedagogas, uma do turno matutino e outra do vespertino, e
uma assistente social, que acompanha os estudantes com problemas familiares ou que
sofreram algum trauma recente. Por ser de cunho religioso, faz parte da filosofia da escola
promover reflexões sobre as questões divinas e os ritos da igreja, além de campanhas de
missão e arrecadação de alimentos, roupas e materiais de higiene para doação.

Ação pedagógica

1. Diagnóstico das turmas e demais envolvidos

Foram acompanhadas quatro turmas do ensino fundamental II: do sexto ao nono, turno
vespertino; no decorrer do diagnóstico de cada sala, puder perceber que elas têm perfis muito
diferentes, principalmente se compararmos as turmas mais novas, como o sexto ano – recém
vindo do Fundamental I –, com as mais velhas, como o nono ano. Em relação à turma do 6º
ano, notei que os discentes ainda sentem bastante a transição do FI para o FII, tendo
dificuldade para compreender textos de linguagem menos “infantil”. Além disso, grande parte
da turma tem problemas com a leitura, principalmente no respeito às pontuações e na
pronúncia de palavras razoavelmente complexas; O sétimo ano já tem maior autonomia
quando se trata da interpretação de textos para a realização das atividades propostas, mas é
uma interpretação básica, com a identificação de elementos presentes no texto. Assim,
quando se mostra necessário pensar além do que está escrito, os estudantes mostram certa
dificuldade, aspecto esse que ficou claro em todas as salas que acompanhei. A leitura, na
turma como um todo, se mostra bem melhor do que no 6º ano, contudo, alguns discentes
ainda apresentam um desempenho não muito satisfatório. Ainda sobre o 7º ano: tem uma
criança com Transtorno do Espectro Autista, que está na escola desde o primeiro ano do
ensino fundamental e ainda não foi alfabetizada, ficando na responsabilidade de estagiários
que faziam o papel de mediadores, quando nem formação para isso tinham, e sendo fadado a
apenas copiar respostas prontas do livro didático para cumprir o que a escola pede; as turmas
de oitavo e nono ano, por sua vez, já apresentam uma leitura muito bem feita, em ambas as
salas apenas 2 ou 3 estudantes mostraram desvios nesse sentido. Quanto à compreensão e
interpretação, o cenário é praticamente o mesmo das turmas mais novas, com a diferença de
que, muito provavelmente por conta das práticas de leitura que realizam por conta própria (a
maioria nas redes sociais), o 8º e o 9º ano possuem um pouco menos de dificuldade de
“pensar além” dos textos trabalhados pela professora.

Nas quatro turmas, notei que, apesar de não serem necessariamente “bagunceiros” e
raramente atrapalharem as aulas com conversas paralelas, os estudantes no geral são bastante
dispersos e não prestam atenção de fato ao que está sendo ensinado, ou nas informações
básicas que são dadas, tanto que, na realização das atividades, por exemplo, muitos
perguntam a mesma coisa diversas vezes seguidas, mesmo após a professora ter explicado
mais de uma vez; e são coisas simples, como se devem copiar ou não as questões, ou quantas
linhas deve ter um texto. Contudo, no momento de expor as respostas das atividades todas as
turmas de mostram bem participativas: os estudantes, quase em sua totalidade, respondem em
voz alta as questões e colocam opiniões diferentes dos colegas, quando há espaço para isso.
Também é característico das quatro turmas a boa relação com a professora regente; mesmo
aquelas que já possuem certa intimidade, por já serem acompanhadas por ela a mais de dois
anos, prezam pelo respeito e consideração.
A professora regente assume uma postura séria, que estabelece disciplina nas salas e,
ao mesmo tempo, se coloca à disposição para tirar todas as dúvidas levantadas pelos discentes,
sem exceção. Utiliza basicamente a mesma metodologia com todas as turmas: leitura em
conjunto, em voz alta; realização de atividade individual, no máximo em duplas sobre o que
foi lido; partilha e correção das respostas, também em conjunto. A profissional costuma
apontar o nome dos estudantes que deve responder em voz alta e não abre muito espaço para
uma mesma questão ser discutida. Utiliza de uma linguagem simples, principalmente com as
turmas mais novas, e incentiva a escrita dos gêneros trabalhados, aguçando a criatividade dos
discentes; porém, quanto à escrita, no que diz respeito aos elementos gramaticais, apenas
aponta os desvios, ditos “erros”, não propõe reflexão, o que gera uma repetição desses desvios
(principalmente pontuação e acentuação) em todos os textos produzidos. No geral, é amigável
com os estudantes e procura ser o mais clara possível para com eles. Em relação ao estudante
com TEA, a professora busca fazê-lo interagir com a turma nas aulas, mas, visto que é
necessário o preenchimento do livro didático e que a escola não dispõe de nenhum recurso
para facilitar o aprendizado de pessoas com deficiência e transtornos globais, as atividades
dele em língua portuguesa, e em todas as outras matérias, acaba sendo apenas copiar
respostas.

A equipe docente, como um todo, mantém uma boa relação e a comunicação entre
gestora, diretora financeira, recursos humanos e outros funcionários; porém, existe uma certa
falta de comunicação entre essa equipe pedagógica e os professores, que muitas vezes se
sentem pressionados a fazer apenas o que é disposto pela instituição, não tendo liberdade para
trabalhar materiais próprios ou qualquer outro que não sejam os dispostos pela escola.
Ademais, os docentes também reclamam da falta de estrutura da sala de informática e do não
funcionamento da biblioteca, locais que aparecem nas propagandas da escola, mas não
funcionam de fato, dificultando a realização de um trabalho mais dinâmico e aprofundado
com as turmas. Outro fator conflituoso entre os professores e o restante da equipe pedagógica
é a falta de inclusão da escola para com as pessoas com deficiência e transtornos globais,
levando em conta que a única acessibilidade disposta pela escola é a rampa, não possuindo
nenhum tipo de recurso para os estudantes com deficiência intelectual. Assim, os professores
alegam ser contraditório essa falta de recursos disponíveis e a cobrança por parte da escola
em relação a evolução desses estudantes.

2. Descrição das aulas e análise crítica pormenorizada das atividades desenvolvidas

• Diagnóstico: Para fazer o diagnóstico, visitei os compartimentos e salas da escola,


analisando as condições físicas dos locais e procurando saber dos funcionários como
cada um deles funciona, bem como se tal funcionamento é bom. Como já colocado

anteriormente, é evidente a falta de estrutura de algumas salas, principalmente a


biblioteca e a de informática, a primeira por não estar funcionando e a segunda por
estar em condições ruins, prejudicando a realização das pesquisas e atividades dos
estudantes. O restante da escola é bem organizada, em questão de estrutura, com
destaque para a cantina, bem higienizada, com alimentos bem manuseados, e para os
banheiros, que estão sempre limpos e abastecidos. Todos os funcionários foram muito
receptivos e prestativos, se dispondo a contar a realidade dos seus trabalhos e da
instituição no geral.

• Entrevista com o professor: A entrevista ocorreu na sala dos professores, no intervalo


das aulas. Minha professora regente se chama Milena Bruno Ferreira, se formou em
Letras – língua portuguesa, em 2018, tem 24 anos de idade e 7 de atuação como
professora. Ao longo da entrevista, a professora comentou que gosta de responder
sempre as atividades junto com a turma, pois se algum discente estiver com dúvida ele
pode quitar e não deixar de responder às questões;as questões; disse também que suas
práticas de leitura e escrita são, no momento, restritas aos textos acadêmicos, pois está
produzindo sua tese de mestrado. Com relação ao trabalho que desenvolve na escola,
a professora pontuou que não possui autonomia de utilizar materiais próprios, ou
qualquer um outro que não seja disponibilizado pela escola e que, para os estudantes
eu vêm de outras instituições e não estão familiarizados com o material, isso dificulta
consideravelmente o aprendizado. Além disso, a professora demonstrou sua frustração
no que diz respeito ao tipo de trabalho que gostaria de desenvolver com seus
estudantes, visto que não há uma boa comunicação entre docentes e equipe
pedagógica e, segundo ela, a escola não oferece os recursos necessários para que os
conteúdos sejam abordados de forma mais dinâmica e funcional. Por fim, a docente
ainda expressou indignação pela falta de inclusão das pessoas com deficiência e,
especialmente, com transtornos globais do desenvolvimento.

• Observação: Logo que iniciei a observação, a professora me apresentou às turmas,


pedindo que me respeitassem como profissional e colaborassem com meu estágio.
Além de observar, nesse período auxiliei em coisas simples, como preparar as salas
para as aulas, organizar materiais e ajudar na locomoção de equipamentos que seriam
utilizados nas turmas. No decorrer da observação, pude notar que as aulas de língua
portuguesa acontecem quase sempre no mesmo formato: a professora inicia com uma
leitura em turma, na qual os discentes, geralmente, se voluntariam para ler; depois, em
duplas ou grupos, respondem atividades dos livros didáticos sobre a leitura que
fizeram – perguntas essas que, como dito anteriormente, abrangem apenas o que está
escrito no
texto, não exigem uma verdadeira compreensão da leitura; após responderem as questões,
a turma partilha as respostas e a professora orienta a correção; por fim, os estudantes
vão até a mesa da docente para “pegarem o visto” da mesma. As únicas vezes que a
dinâmica foi diferente, os discentes se dirigiram até a sala de informática para
produzir seus slides dos seminários; como grande parte dos computadores da sala já
não funciona, os estudantes foram obrigados a se sentar amontoados em grupos,
ficando facilmente dispersos – a professora regente comentou que essa situação
acontece faz bastante tempo. Em nenhum momento os estudantes foram à biblioteca,
uma vez que a mesma não está funcionando, por falta de bibliotecário(a). Observei que
os discentes ainda possuem muita dificuldade na pronúncia de algumas palavras e no
respeito das pontuações, especialmente os mais novos (6º e 7º ano);
consequentemente, são perceptíveis diversos desvios na escrita, resultados da falta de
uma abordagem mais dinâmica da língua, onde apenas se apontam os “erros”, mas
não existe a preocupação em fazer os estudantes compreenderem as diversas situações
de linguagem. Outra coisa que senti falta foi o trabalho com as variações linguísticas,
importantíssimo para que os discentes valorizem seus próprios contextos de fala, e o
dos outros; a variação linguística é trazida de maneira superficial nos livros didáticos
e trabalhada da mesma forma na sala de aula.

• Regência: Fizemos a regência tanto na Escola Normal Superior, quanto na escola do


estágio; ambas tiveram a mesma metodologia: oficinas de conto. Com as turmas de
Pedagogia, na UEA, e com o nono ano do Ensino Fundamental, na escola, trabalhamos
o conto A cartomante, de Machado de Assis e com o sexto ano do Ensino Fundamental
os contos indígenas como surgiu o Rio Amazonas e como surgiram os homens, por
conta da linguagem, que necessitava ser mais simples. Iniciamos as oficinas com uma
conversa diagnóstica com os discentes sobre o autor que estávamos trabalhando, para
saber o que cada um sabia dele e quais outras obras suas já leram (como os contos
indígenas são perpassados de forma oral, no sexto ano falamos dos anciãos e demais
líderes das etnias que perpassam as histórias); também perguntamos de forma
contextualizada sobre os textos que trabalhamostrabalharíamos (utilizando perguntas
como: você sabe o que é uma cartomante?) Depois,depois, fizemos uma roda e
distribuímos os contos impressos, exibindo slides com os nomes dos personagens e
pedindo para os estudantes decidirem entre si quem narraria cada um deles. Após a
sala estar organizada, lemos os contos na dinâmica e, depois, ainda em roda de
conversa, distribuímos um livreto de atividades com questões sobre as histórias no
geral (o que acharam, se mudariam algo etc.), bem como sobre a estrutura das obras e
como ela se deu especificamente nos
textos trabalhados. Com as respostas adquiridas tanto oralmente, quanto nos folhetos
de atividades, percebemos que, apesar da compreensão dos textos ter se dado de forma
mais eficaz nas oficinas, a capacidade de elaborar respostas críticas e “além do
escrito” ainda precisa ser bem desenvolvida, já que grande parte das respostas,
inclusive dos universitários, de Pedagogia, foram bastante rasas em relação ao que
poderia ter sido explorado nos textos.

Considerações finais

A disciplina de estágio I proporcionou-me uma experiência enriquecedora, tanto no


sentido de aprender com profissionais de maior formação, quanto no de perceber e confrontar
certas metodologias da escola, por meio dos conhecimentos adquiridos em sala de aula
durante as orientações do estágio e ao longo de outras disciplinas. Sobre a escola como um
todo, é importante destacar que, apesar de ter uma política inclusiva e de respeito a todos, a
falta de inclusão é algo gritante, já que, além da rampa, a instituição não dispõe de nenhum
outro recurso para as pessoas com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento.
Além disso, locais extremamente agregadores ao aprendizado, como a sala de informática e a
biblioteca, não funcionam de forma eficiente, o que acaba por proporcionar aos discentes
apenas o espaço da sala de aula, onde se trabalha sempre da mesma forma. Entre a equipe
pedagógica falta comunicação, mas as atividades de cronograma da escola funcionam
razoavelmente bem. Já o trabalho com a saúde mental dos estudantes é feito de forma muito
rasa, pois, como foi dito anteriormente, a instituição oferece um programa pago, bem como
aulas sobre isso, mas tais aulas são dadas pelos professores das outras disciplinas, não
ocorrendo de forma que os discentes se sintam realmente acolhidos.

Em relação ao trabalho com a língua e a literatura, a escola não desenvolve nenhum


projeto voltado a isso e, segundo a professora regente, existia antes um trabalho no qual eram
distribuídos livros clássicos para que os estudantes pudessem, juntamente com a turma, ler e
interpretar as obras e terem melhor preparo para o ensino médio e vestibulares, porém, o
projeto foi suspenso em 2020, sem nenhuma explicação plausível, segundo os docentes.

Já sobre o trabalho realizado na sala de aula, em específico na disciplina de língua


portuguesa, é notável que a professora regente procura promover a participação de toda a
turma nas atividades: alguns estudantes ainda não têm livros didáticos, por falta de condições
financeiras, e, por isso, a docente realiza leituras e atividades em dupla ou grupos; assim,
poucos livros são suficientes para todos. Também busca envolver o estudante com Transtorno
do Espectro Autista nos diálogos com a turma, mas a metodologia de realização de atividades
é a mesma de todos os outros professores, colocando-o para copiar e colar respostas, só para
preencher o livro, sem proporcionar aprendizado efetivo para o adolescente, que ainda não foi
alfabetizado. No geral, a profissional tem uma ótima relação com as turmas, que têm apreço
por ela e participam bem das aulas.

Levando em conta a ministração dos conteúdos de língua portuguesa, a forma de


construção das atividades pela professora se mostrou fluida, já que as turmas sempre realizam
as leituras em conjunto, em voz alta, momento em que a docente avalia como está a pronúncia
dos estudantes, e partilham as respostas também em conjunto, o que seria muito interessante
se todos tivessem a liberdade de dar respostas diferentes para uma mesma questão; contudo,
apenas um discente pode responder casa questão, os outros não têm permissão de apresentar
opiniões diversas, devem “esperar sua vez”. Quanto ao tipo de questões com as quais se
trabalham os textos, friso que são perguntas pautadas do que está escrito nesses textos, os
estudantes não têm oportunidade de pensar “além”, e como a escola não permite que a
professora utilize outros materiais a não ser os da própria rede escolar da qual a escola faz
parte, as aulas ficam constantemente repetitivas.

Por fim, registro que as minhas atividades no estágio foram muito proveitosas,
principalmente quando, ao perceber algumas falhas no ensino, pude trabalhar com a língua de
forma mais dinâmica, por meio das oficinas, entendendo onde devo me aprimorar como
profissional e enxergando as maiores dificuldades que os discentes de cada turma geralmente
tem e como podemos auxiliá-los da melhor maneira.
Referências

CORRÊA, Cintia Chung Marques. Formação de professores e o Estágio supervisionado:


tecendo diálogos, mediando a aprendizagem. SciELO. Belo Horizonte, 2021. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/edur/a/pjSCdw3yLypv6zYPN9qKhvL/
Data de acesso: 17/03/2023

ASSIS, Machado de. A cartomante. Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
1884. Disponível em: Academia Brasileira de Letras:

http://www2.academia.org.br/abl/media/A%20CARTOMANTE_MACHADO%20DE%20A
SSIS.PDF

Data de acesso: 15/02/2023

PESSOA, Augusto. Contos dos povos indígenas. Disponível em:

https://www.augustopessoa.com/contos-indgenas

Data de acesso: 27/02/2023


Anexos
1. Diagnóstico e observação

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