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A autoconsciência não é algo que é acabado. Existem várias etapas da autoconsciência . Ela
sempre se encontra num processo de desenvolvimento. Isto se mostra na maneira em que a criança
percebe -se a si mesma, numa maneira muito diferente da do adulto. E Hegel quer mostrar que este
desenvolvimento da autoconsciência é de maneira dialética, quer dizer, que ela está se desenvolvendo
naquelas três etapas, que nós já conhecemos, do fenômeno do amor e da vida: ". o desenvolvimento do
espírito é um ir-para-fora, um objetivar-se (explicitar-se) e, ao mesmo tempo, u~ vir":à:·si~mesmo''.
A prime ira etapa da autoconsciência é o estado em que o espírito ainda está como que
sonllando. O homem ainda não sabe de si mesmo explicitamente. Isso fica bem claro, observando a
consciência que a criança pequena tem do próprio eu. A criança não tem nada mais do que um
sentimento vago de que ela está aí, que ela existe. É este sentimento simples da própria existência
que corresponde à tese no esquema dialético.
Mas, para ser realmente consciente de si mesmo, o homem tem que acordar deste estado em
que está sonhando. Isto acontece na segunda etapa. O homem fica atento a si mesmo. E neste
momento. segundo Hegel, acontece alguma coisa estranha: o espírito vê a si mesmo, mas percebendo
a si mesmo, ele vê uma coisa alheia. Ele estranha a própria contemplação. Ele está surpreso e
pergunta: será que isso sou eu? r·..Ja contemplação de si mesmo, está acontecendo um alheiamento de
si mesmo. O próprio eu está se dividindo num eu que está contemplando e um eu que .está sendo
contemplado. Este auto-alheiamento é o estado de antítese. Neste estado, o homem ainda não
chegou à sua autoconsciência verdadeira e perfeita. Pois, à perfeição pertence descobrir: isso que eu
estou vendo na autocontemplação sou eu mesmo? o eu que está contemplando é o mesmo que está
contemplado . Com isso, segundo Hegel, o homem volta, do seu estado de alheiamento, para si
mesmo. Ele está se reconciliando consigo mesmo. Isto é o momento da síntese no processo dialético
da autoconsciência .
Assim, podemos fixar o resultado: Espírito humano é autoconsciência, mas autoconsciência é
autoconsciência em devir e assim, para Hegel, necessariamente dialético.
O que Hegel encontra no espírito humano, ele aplica no espírito divino. O espírito divino
também é autoconsciência em devir, e também está se executando de maneira dialética. Assim, Hegel
compreende a divindade como algo que não é perfeito de uma vez para sempre, mas que tem um
devir, um desenvolvimento interior. Ela precisa de um processo evolutivo para chegar à sua
autoconsciência perfeita. E neste ponto podemos perceber a diferença mais clara entre a idéia
hegeliana de Deus e a noção de Deus no cristianismo. A principal idéia filosófica de Hegel é o Deus
que tem sua própria história e que faz passos para chegar à perfeição do próprio ser.
Assim. Hegel deve demonstrar, em seguida. como está se executando a história interior da
divindade vista como processo dialético. pois "o espírito absoluto é isso: sendo eternamente o ser que
é sempre idêntico a si mesmo. que se torna um ser estranho e que reconhece este ser como o ser
próprio".
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Hegel faz a tentativa grandiosa: interpretar este ser-em-si da dinvidade. Para isto ele criou uma nova
forma de uma Lógica. Esta lógica inclui: "a apresentação de Deus... como ele se encontra no seu ser
eterno antes da criação da natureza e de um espírito finito". Assim nós não devemos confundir este tipo
de lógica com a lógica formal. Esta lógica de Hegel é uma lógica metaíísica-ontológica, pois ela quer
mostrar a idéia (quer dizer, Deus, o espírito absoluto) como ela é em si.
A lógica hegeliana tem a seguinte estrutura:
ser em si (tese)
/
Lógica (tese) · doutrina da essência< o aparente (antítese)
~ (antítese) o real (síntese)
~ . ---------noção (tese)
doutrina de pensar.........._____ juízo (antítese)
(síntese) ----.. conclusão (síntese)
A divindade não pode permanecer neste estado de sonhar, pois ela tem que cumprir o papel
de tornar-se autoconsciência verdadeira. Por isso, Hegel começa a descrever o caminho de Deus na
direção da própria perfeição da sua autoconsciência. Primeiramente, a divindade tem que iniciar a
busca de si mesma. Ela tem que assumir o auto-alheiamento, o segundo passo da dialética. Ela tem
que desfazer-se de si mesma. Ela tem que contemplar em si mesma, e com isso, ela tem que se dividir
em uma parte, a que está se contemplando e outra, a que é contemplada, e que a primeira vê como
algo alheio. Assim, Hegel afirma: Esta divindade, em si mesma, é nada mais do que se encontra como
mundo diante dos nossos olhos. O auto-alheiamento da divindade é seu "divir-mundo". Mas isto que r
dizer: Hegel tem que assumir a tarefa gigantesca de compreender toda a realidade do ponto de vista
de Deus. do espírito absoluto. Assim, o filosofar de Hegel assume o ponto de vista de Deus. Hegel
mesmo se torna. com isso, "espírito-m undo" (Weltgeist) em pessoa. Então, Hegel quer demonstrar, a
partir da realidade do mundo mesmo, que este mundo é representação de Deus no seu estado de
auto-alheiamento. O mundo aparece de um lado, como natureza e de outro, como espírito humano.
Ambos dev'em ser en tendidos, no fundo, como representação de Deus. Desse ponto de vista filosófico
o espírito humano que está contemplando a natureza é visto como órgão de Deus que está
contemplando . A natureza que está compreendida pelo espírito humano é o que está contemplando.
Em outras palavras, a natureza é o "espírito absoluto como o outro lado de si mesmo". Assim, o que
vemos na natureza. como coisas. na verdade é Deus mesmo. Porém, é Deus que está se
contemplando como algo estranho. Por isso, filosofia da natureza. para Hegel, é doutrina de Deus, mas
de De us qu e está no seu estado de auto·alheiamento. E. quando o espírito humano conhece a
natureza . isso significa. em verdade , que a divindade, presente no espírito humano. toma
conhecimento de si mesmo. Assim. a Filosofia da Natureza representa a antítese no processo
dialético do esp1rito absoluto Ela mostra a idéia como é. como objetivo de contemplação de esp írito- a
idéia no seu "ser-diferente", como objeto para si. (A Filosofia da Natureza é a parte menos desenvolvida.
menos orig1nal da filosofia de Hegel).
mecânica (tese)
Filosofia da Natureza (antítese)< física (antítese)
orgânica (síntese)
/
doutrina do espírito fenomenologia do espírito:
I
subjetivo (tese) doutrina da alma como espí-
rito que está se diferepciando
da natureza (antíteS'ê} -:-. ,
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