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Foco epistemológico/metafísico

No período clássico, a coisa em si se apresentava ao indivíduo que, por meio do exercício


intelectual, retirava os véus do objeto o conhecia como ele é.
Alétheia.
Platão: de Ideia em Ideia, pelo exercício do Logistikón, ou seja, exercício racional, o
indivíduo alcançaria o Ser-em-si, a Forma pura.
Aristóteles: também pelo exercício racional, retirando o que é acidental, alcançar-se-ia a
ousia, que é aquilo sem o qual a coisa não é, o seu ser mais verdadeiro, a coisa em si.
O período clássico gira em torno desta concepção epistemológica: a coisa se dá a conhecer e
nós a apreendemos, há uma manifestação da realidade. Foco no objeto.
O objeto é se identifica como o modo como ele se manifesta.

Na modernidade, Kant é o maior expositor do pensamento que vai contra à concepção


clássica. No seu Livro “A critica da razão pura”, ele tenta responder a pergunta: “o que posso
conhecer?” O foco, neste momento não é o objeto (que se mostra e se dá a conhecer), mas é o
sujeito epistêmico com suas capacidades: alcances e limites no ato de conhecer.
Kant não analisa a natureza do objeto do conhecimento, mas se volta para o sujeito epistêmico
para analisar o modo pelo qual este conhece o objeto: há, portanto, uma mudança de foco: do
objeto para o sujeito.
Neste sentido, temos um salto: De objeto como manifestação da realidade - para objeto
específico do conhecimento humano que aparece em condições particulares, características da
estrutura cognitiva do homem. Com esse pensamento Kant faz uma distinção entre Númeno e
fenômeno.
Noumenon é a coisa em si. O fenômeno é aquilo que a estrutura humana apreende da coisa
em si. Aquilo que é captado pela intuição e inserido em categorias à priori do entendimento: o
resultado disso são os fenômenos. Exemplo: 5 dimensões num objeto; cor dos objetos.
O sufixo “fe” (mesma raiz de fw/j: luz) nos ajuda a compreender: existe o numeno que é
incognoscível. Sobre esse incognoscível, é jogada o fw/j (o “fe” de fenômeno) e assim nós
podemos conhecer. Porém essa luz diz respeito a nossa estrutura gnosiológica. Portanto, é nos
valendo dessa estrutura que capitamos a coisa que não é mais “em-si”, mas é em acordo com
nossa estrutura.
Aí está, portanto, a resposta da pergunta “o que posso conhecer?”: “os objetos do
conhecimento se revelam segundo os modos e as formas próprias da estrutura cognitiva do
homem, e que por isso não são as coisas ‘em si mesmas’, ou seja, as coisas como são ou
poderiam ser fora da relação cognitiva com o homem...” É, portanto, sob a condição da
estrutura humana que conhecemos o que conhecemos.
“Há um limite, portanto, que não nos permite acessar a coisa em si.”

O idealismo alemão surge posterior ao pensamento de Kant ser divulgado e teve como
preclaros Fitche, Scheling e Hegel. Esta corrente de pensamento dá origem a uma atmosfera
que abarcará diversos seguimentos, filosóficos, literário e também artístico: o romantismo.
A principal característica do idealismo e do romantismo é uma sede insaciável pelo infinito,
uma vontade de pertença a uma totalidade que ultrapassa a dimensão do entendimento. E
como consequência disso haverá um rompimento com a inacessibilidade da coisa em si e uma
insatisfação com a dicotomia sujeito e objeto.
A relação entre sujeito epistêmico e fenômeno é negada. No titanismo (característica do
Romantismo) percebemos que nessa corrente há como “contrapartida negativa a
inaceitabilidade do finito ou a impossibilidade de satisfazer-se com ele. Nessa inaceitabilidade
(ou insatisfação) estão as raízes da atitude de rebeldia contra tudo o que parece ser ou é limite
[...] (ROMANTISMO, 2012, p. 1019).
“O culto e a exaltação do infinito, o fato de não se contentar com menos que a infinidade,
constituem características marcantes do espírito romântico.” (ROMANTISMO, 2012, p.
1019).
Fiche, querendo completar a obra de Kant, faz uma passagem do “eu penso” Kantiano
(fundamento para que as sínteses aconteçam) para o “Eu puro” criador (intuição intelectual).
Para Kant o objeto (a coisa-em-si) é exterior a mim, por isso nunca terei capacidade de
conhecê-lo (dicotomia). Para Fichte o objeto não está fora de mim, eu apenas o percebo
fora de mim. Existe um eu criador, uma inteligência universal, um eu autoposto, uma
“força pela qual o mundo é produzido” (ROMANTISMO, 2012, p. 1017). Para Fichte o
“não-eu” (exterioridade) existe como criação do Eu puro.
Esse “Eu” pode ser identificado também como Eu infinito, Eu criador, como Autoconsciência
Absoluta (em Fitche), como Absoluto (Schelling) Ideia (em Hegel), mas todos esses termos
são identificados como “Princípio espiritual criativo”, constituindo a própria substância do
mundo. (ROMANTISMO, 2012, p. 1017)
O idealismo nega tudo que transcende o espírito, para ele tudo é ideia no mundo, ideia que
não provém de outrem senão do espírito.O panteísmo influência nesse processo, pois diz que
Deus está em tudo, e o espírito também estará em tudo. Não se está satisfeito só com o
fenômeno, mas quer a totalidade. É pela intuição que se alcançará o infinito.
“Fichte concebe idealisticamente toda a realidade, tanto espiritual quanto material, como uma
forma de produção do eu. Trata-se, naturalmente, de um eu universal, absoluto,
transcendental, isto é, Eu puro, de que o eu empírico, os diversos "eus empíricos"
seriam concretizações particulares, no tempo e no espaço.” (SLIDE 9)
Trata-se de um eu universal, absoluto, transcendental,” que cria tudo, desta forma, tudo está
reduzido à imanência do espírito. Por causa disto, até mesmo o que julgamos estar fora de nós
está, na verdade, nesse eu justamente por ser criatura dele. “Este computador não é exterior a
mim, posto que ele é criação do eu puro. Ao contrário ele está em mim.”
O processo chamando de consciência imediata ou intuição é que possibilita apreendermos a
unidade do cosmos. Esse processo só é possível quando o “eu empírico” é capaz de um
mínimo de atenção e, assim, retorna da atividade para dentro de si mesmo, reunindo toda
realidade na egoidade. O que nos leva ao erro de acharmos que o não-eu está fora de mim é a
mediação feita pelo entendimento quando os sentidos captam algo. É esse entendimento que
julga o não-eu como fora de mim.
É aqui que se dá a marca maior da passagem do criticismo Kantiano para o Idealismo alemão:
pelo fato de o sujeito e objeto serem um só no espírito, pois ambos são criação do Eu
absoluto, o limite de apreensão do que é externo é totalmente superado. Mergulhado no
espirito com aquilo que lhe é exterior, o sujeito epistêmico não vê limite para conhecer
qualquer coisa.
Não há separação entre sujeito e objeto e toda consciência do objeto também e
autoconsciência, pois tudo faz parte de um mesmo espírito. Somente o eu-empírico pode ter
consciência do não eu e é capaz de inteligí-lo como um consigo.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 6. ed. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2012.

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