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Política e Gestão da Unidade Escolar 2023.

2 (Noturno)
Cristian Gaspar Teixeira

Fichamento do texto "Seleção velada em escolas públicas: práticas,


processos e princípios geradores"

O texto em questão se refere à divulgação de uma pesquisa a respeito da


seleção velada feita no âmbito da matrícula em escolas públicas em periferias do
estado de São Paulo. No recorte de objeto da pesquisa em questão, é apontado que
tanto os pais procuram as melhores unidades escolares para matricular seus filhos,
quanto as instituições fazem uma seleção inversa e velada, por debaixo da burocracia
aparente, em que buscam evitar o ingresso de alunos potencialmente indisciplinados.
Destarte, cabe esclarecer que neste processo se fazem avaliações subjetivas
a respeito do nível de prestígio da escola anterior do candidato, do status social de
sua família e de outras questões ligadas ao seu histórico. Há algo como um pacto
escuso entre as instituições de diferentes níveis de ensino, mas que possuem o
mesmo status prestigioso. Ou seja, as escolas de nível fundamental e médio que
tenham a mesma boa fama trocam entre si informações acerca dos alunos candidatos
às vagas, para manter-se na hierarquia acima das instituições que não têm
capacidade de fazer o mesmo processo de evitamento de estudantes que poderiam
diminuir seus indicadores escolares.
No entanto, mesmo inserido num processo de matrículas zonais, em que o
aluno tem de ser matriculado na região onde mora e que, em teoria, deveria gerar
mais heterogeneidade, menos desigualdade nas instituições, a seleção em questão
acaba impedindo essa consequência. O estado de SP criou um Sistema Integrado de
Cadastro de Alunos, através do qual recebe dos responsáveis pelo aluno seu
endereço e, de acordo com o CEP, lhes informa em qual escola, a não mais que 2km,
ele deverá estudar. Isso é a dita Setorização de Matrícula. Há muita discriminação de
classe apontada por esse artigo na seleção de alunos. Julga-se que determinados
estudantes poderiam vir a ser um problema, somente tendo por base percepções
específicas a respeito de coisas como a situação social de seus pais.
Infere-se que, dada a situação apontada pela produção acadêmica de base e
aqui resumida, se faz necessário estabelecer uma percepção crítica a respeito do
tema, da qual brotaram algumas questões em específico, mesmo sem pretender dar
respostas ou tratar como concluído o problema, como apresenta-se a seguir.

1. É realmente papel da escola receber e lidar com estudantes em quaisquer que


sejam as situações, até mesmo com transtornos psíquicos ou sociais com os
quais os profissionais da educação não estejam preparados para lidar? Ou
seria mais, talvez, competência da assistência social do Estado? Para
determinar o problema, cabe destacar que a questão da disciplina escolar não
é somente relacionada à incapacidade dos funcionários (especialmente
professores) de lidar com os problemas, mas sim com a gravidade das
situações, que acabam realmente desordenando o ambiente escolar, ao ponto
de impedir o andamento real da educação. Fica claro não se tratar de uma
problemática que seja pequena e romantizada, mas gigante e muito concreta.

2. De quais modos é possível aprender a lidar com situações graves, para que
seja possível evitar o estigma que carregam consigo os estudantes expulsos?

3. Será que a seleção que é feita de modo velado não devia ser um alerta para o
Estado, não de que devesse intervir para evitar de pronto, necessariamente,
mas de que fosse necessário investigar as causas pelas quais ocorre, visando
estabelecer políticas públicas que realizassem correção das situações que
fazem os funcionários, aparentemente a maioria deles, realizar essa seleção?
Dentre as situações, destacam-se transtornos psicológicos, situações sociais
insalubres, criminalidade, indisciplina, faltas recorrentes, etc. A prática de
seleção velada parece ser muito mais um sintoma gritante do que a “doença”
social em si, e fica evidente que a resolução de tudo isso parece ser muito mais
papel da política de grande porte do que da educação na base.

4. Sendo futuros ou atuais professores, como saber qual o limite do exercício de


nossa profissão, para não interferir indevidamente em competências que
sejam de outros profissionais, como assistentes sociais, líderes de estado,
parlamentares ou psicólogos?

5. É possível diminuir as implicações concretas de julgamentos pessoais dos


funcionários que realizam as matrículas com relação ao risco de terem alunos
indisciplinados, somente com base em situações tão particulares?

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