Você está na página 1de 2

Fichamento: Desafios no Psicodiagnóstico Infantil

Disciplina: Psicodiagnóstico
Docentes: Profª Amanda Ribeiro Pasqualini

Nome: Carolina de Fatima Macedo


RA: F289GC2
Campus: Marquês
Periodo: Noturno

ANCONA-LOPEZ, S., TCHIRICHIAN, R. F. M. Desafios no Psicodiagnóstico Infantil. In: ANCONA-LOPEZ,


S. (Org.) Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de Uma Prática. São Paulo: Cortez Ed., 2013, p.
226- 239.

DESAFIOS NO PSICODIAGNOSTICO INFANTIL

A autora nos conta no texto que, por desempenharmos nossa profissão principalmente em
clínicas-escola de Psicologia grande parte dos clientes tem dificuldades socioeconômicas,
acarretando carências em diversos aspectos, o que induz a atuações que escapam do campo
tradicional da psicologia clínica. Embora considerando as questões sociais e as condições do mundo
atual, não é nosso objetivo fazer uma análise sócio-histórica do nosso tempo, mas levantar questões
e organizar alguns elementos que contribuam para uma reflexão prática sobre o psicodiagnóstico,
levando em conta o contexto no qual ele se dá.
Nas clínicas-escola de psicologia as crianças comparecem para atendimento psicológico
trazendo como queixa dificuldades na escolarização, são encaminhadas por escolas públicas, que
esperam obter dos psicólogos clínicos explicações acerca dos motivos que as impedem de se
desenvolver pedagogicamente. Embora haja exceções e esforços governamentais e de alguns
educadores no Brasil, é fato que a escola tem se tornado cada vez mais o palco de fracassos e de
formação precária. A escola, que deveria formar jovens capazes de analisar criticamente a realidade,
a fim de perceber como agir no sentido de transformá-la e, ao mesmo tempo, preservar as
conquistas sociais, contribui para perpetuar injustiças sociais que sempre fizeram parte da história do
povo brasileiro (Bossa, 2002, p. 19), embora a situação descrita seja a mais comum, é preciso lembrar
que estão sendo feitos esforços governamentais e de alguns educadores visando mudar essa
condição. Uma visão ampliada da clínica psicológica permitiria levar em conta esses dois aspectos, de
tal forma que a compreensão da dificuldade de aprendizagem se construísse a partir da avaliação do
contexto escolar no qual a criança está inserida.
No Psicodiagnóstico Interventivo, cientes da limitação do fazer clínico, procuramos engajar a
família e a escola num processo que visa não apenas à compreensão das dificuldades da criança, mas
também encontrar formas de auxiliá-la no seu desenvolvimento. A participação no psicodiagnóstico
interventivo pode propiciar aos pais uma mudança de atitude em relação aos seus filhos,
reconhecendo e favorecendo seus aspectos positivos e ajudando-os a encontrar a melhor maneira de
auxiliar a criança a superar os aspectos negativos. Entendemos que ainda temos como desafio no
psicodiagnóstico interventivo ampliar nosso olhar, de modo a ir além da criança como foco da
investigação e integrar outros aspectos, como os efeitos do mundo moderno sobre ela e sua família.
Um número expressivo de crianças que chegam às clínicas de psicologia está prestes a
finalizar o primeiro grau praticamente sem alfabetização. Para essas crianças, qual sentido terá o uso
dos computadores e a navegação na internet? O uso dos aparelhos eletrônicos, nesses casos, não é
uma forma de adquirir ou armazenar conhecimentos, mas uma ferramenta de consumo que cria para
elas a ilusão de fazerem parte da modernidade e do mundo virtual, o que, de algum modo,
compensaria o sentimento de exclusão no contexto escola.
A época em que vivemos tem por característica privilegiar o consumo, o imediatismo e o
individualismo competitivo. Como consequência, também os laços afetivos (familiares, amorosos, de
amizade etc.) adquirem os atributos de volatilidade e superficialidade, assumindo um caráter que
Bauman (2004) chama de “amor líquido”. São relações facilmente substituíveis que se pautam pelo
compromisso provisório e, frequentemente, são de curta duração.
Na nossa prática clínica, esse quadro se reflete em algumas das configurações familiares das
crianças que vêm para o psicodiagnóstico. Grande parte é de famílias monoparentais femininas
(mães solteiras ou abandonadas por seus parceiros); crianças que têm irmãos de pais diferentes;
avós que criam seus netos; casais que trazem filhos de relacionamentos anteriores e que geram
outros filhos. Enfim, são novos modos de organização familiar.
Cabe ao psicólogo questionar de que forma essas metamorfoses nas famílias repercutem na
constituição das crianças, e o psicodiagnóstico interventivo é um momento privilegiado para esse
questionamento por ter como objetivo conhecer os sentidos e os significados que as crianças e seus
pais dão às suas vidas e a seus mundos. Cabe-nos também o enfrentamento rigoroso das teorias, que
são insuficientes para dar conta das profundas transformações processadas nas famílias, sobretudo
em seus enredamentos afetivos.
É possível observar, no entanto, que apesar das questões teóricas que o psicólogo venha a
enfrentar, o psicodiagnóstico interventivo, ao oferecer a oportunidade de uma reflexão conjunta,
permite enfrentar as lacunas teóricas através de uma compreensão co-constituída que se pauta pelo
mundo vivido do cliente. Não poderíamos deixar de incluir nessa discussão nossas inquietações
frente à cruel realidade de crianças que, em circunstâncias mais adversas, são obrigadas a conviver
diretamente com a violência social e familiar. No que se refere ao psicodiagnóstico interventivo,
cabe-nos tentar, conforme dissemos, compreender e respeitar o mundo do cliente, o que implica
contemplar as questões políticas, sociais e econômicas que estão imbricadas na sua vida e que se
não consideradas nos tornarão incapazes de atingir nosso objetivo. Após todos estes anos de prática,
entendemos que o enfrentamento dos desafios aqui apresentados é o caminho que nos levará a
manter o psicodiagnóstico interventivo como um procedimento útil para a compreensão dos que
vêm em busca de auxílio psicológico e para a criação de um espaço diferenciado que permita àqueles
que estão envolvidos no processo compartilhar seu sofrimento e encontrar um novo modo de lidar
com sua realidade.

Você também pode gostar