Você está na página 1de 11

Coordenação de Psicologia

CAMILA MARANHÃO FARIA FERREIRA


ÍRIS GOMES DE MEDEIROS
LÍLLIAN BEATRIZ BEZERRA SANTOS
ROMIL COSTA DA SILVA

RELATÓRIO DE VISITA AO CAPS INFANTO-JUVENIL CIRANDAR


Ênfase em Psicologia Clínica e Atenção e Psicossocial

CABEDELO
2022.2
Coordenação de Psicologia

CAMILA MARANHÃO FARIA FERREIRA


ÍRIS GOMES DE MEDEIROS
LÍLLIAN BEATRIZ BEZERRA SANTOS
ROMIL COSTA DA SILVA

RELATÓRIO DE VISITA AO CAPS INFANTO-JUVENIL CIRANDAR


Ênfase em Psicologia Clínica e Atenção e Psicossocial

Relatório apresentado ao Professor Leandro


Roque da Silva da disciplina Estágio
Supervisionado Básico I, do 7º período do
Curso de Psicologia do Centro Universitário
UNIESP, como requisito para a obtenção da
nota referente a unidade curricular.

CABEDELO
2022.2
Coordenação de Psicologia

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS .......................................................................................... 4
3 RELATO E DISCUSSÃO ....................................................................................................... 5
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 8
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 9
3

1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 80, iniciou-se um período em que os psicólogos passaram a
questionar a realidade social e o caráter normatizador de sua própria atividade. Dessa forma, a
entrada da categoria psicológica no âmbito da saúde pública passa a acontecer mais
intencionalmente, com a chegada de reivindicação da própria classe, que vê a necessidade de
ser introduzido nessa esfera da saúde (GUARESCHI, 2022).
Até esse momento, a psicologia se posicionava na sociedade de maneira meramente
individual e de certa forma elitista, onde o acesso a sua ciência era dado apenas àqueles que se
conectassem com as clínicas; fazendo assim com que os profissionais que buscavam
fortalecer a ideia da importância da saúde mental decidissem por levantar pautas voltadas para
uma comunidade, por vezes esquecida, entendendo as desigualdades da sociedade brasileira
de maneira mais profunda (GUARESCHI, 2022).
Aprofundando ainda mais essas pautas que visavam entender os grupos sociais
negligenciados pela sociedade do Brasil e pela saúde pública, o olhar da psicologia,
finalmente, atinge às crianças e adolescentes que vivem em sofrimento psíquico. Segundo o
Ministério da Saúde, foram as 2ª e 3ª Conferências Nacional de Saúde Mental, uma em 1992 e
a outra em 2001, que a contundência e importância dada a esse grupo resultou em ação, e
assim o respeito e o cuidado com a população infanto-juvenil foi de fato levado em conta
pelas obras político-assistenciais, surgindo assim a Lei nº 10.216, de 6/4/2001, que discorre
sobre o modelo assistencial dessa saúde mental tão amplamente discutida (BRASIL, 2005).
Hoje, essa luta de inclusão infanto-juvenil ainda vive um progresso paulatino, pois o
desafio de fabricar uma política que alcance as necessidades e peculiaridades desse grupo,
mas que ainda assim siga os princípios do SUS, é gigantesco (BRASIL, 2005).
Assim, esse relatório tem como objetivo explanar e entender o processo de
funcionamento do CAPS’i da cidade de João Pessoa-PB, através das impressões e relatos da
prática psicológica nesse local; e assim compreender de melhor forma o funcionamento desse
Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil, enxergando os desmanches históricos que
ainda respingam nele, e os obstáculos que são enfrentados naquele lugar. Para que dessa
forma a construção de uma educação psicológica ampla possa ser feita, fugindo dos
paradigmas e estereótipos que cercam a psicologia.
4

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A etapa prática na ênfase em Psicologia Clínica e Atenção e Psicossocial se deu de
maneira única, através de uma visita singular. Inicialmente a proposta era termos ao menos
dois encontros no local, mas intercorrências de horário possibilitaram apenas um.
Nos foi pedido para preparar perguntas guias para esse momento. O objetivo desses
questionamentos feitos à psicóloga, foi de entender melhor o seu papel dentro da instituição, e
como seria o funcionamento do trabalho feito com as crianças e adolescentes. Para isso, além
do momento com os adolescentes beneficiários do Centro, pudemos nos reunir com a
psicóloga responsável por nos guiar, para fazer essa entrevista aberta, de maneira mais
informal, tornando-a uma conversa e uma mesa de diálogo. Para a captação mais eficiente das
informações, utilizamos cadernos de anotação e um gravador de áudio para registrar as falas.
5

3 RELATO E DISCUSSÃO
Ao chegarmos no local o contato foi feito pelo professor Leandro Roque com a
psicóloga Hedilei, responsável pelo grupo de adolescentes que frequentam o local. Ela nos
apresentou a um grupo de quatro adolescentes, de idades entre 15 e 18 anos, aos quais
acompanharíamos a intervenção padrão feita por ela às quintas-feiras. Inicialmente ficaríamos
em uma sala do próprio ambiente físico do CAPS’i, porém o aparelho de ar-condicionado não
estava funcionando, fazendo com que momento acontecesse no Parque Zoobotânico Arruda
Câmara (Bica), localizado em frente ao Centro. Vendo aqui um exemplo claro de dificuldade
apontada pelo Ministério da Saúde, na conciliação do cuidado da saúde mental do adolescente
com os preceitos dos SUS (BRASIL, 2005). Alguns desses preceitos falam e discorrem sobre
o incentivo que essas instituições irão receber, e claramente nesse sentido esse investimento
financeiro não tem sido feito de maneira eficaz. Talvez os padrões aplicados pelo SUS ainda
não tenham alcançado a realidade do que precisa em um Centro que cuida de crianças e
adolescentes; e o próprio ambiente físico, aprovado pelo governo, demonstra isso. Além
desses desfalques citados, a falta de ambientes pensados para atrair e facilitar o alcance ao seu
público é notória. Fisicamente, não se trata de um ambiente de apreço infantil, ou mesmo
juvenil.
Pelo que foi falado pelos jovens, normalmente os encontros são para conversar e são
feitos em grupos, uma vez por semana, onde eles os classificaram como “é massa”, “ajuda
para desestressar” etc. No dia da visita fizemos esse encontro em forma de passeio pela Bica,
o que nos permitiu ter conversas mais individuais e de maneira mais informal, abrindo o leque
para uma interação mais profunda, pois à medida que caminhávamos a conversa ia fluindo
sobre algo, e até nas que eram sobre os animais conseguia-se identificar certos padrões de
comportamento. Identificamos que ideação suicida é o grande motivo da maioria deles
estarem ali, dentro do nosso grupo, três deles vivenciavam essa batalha com o sofrimento
psíquico que os levava as tentativas de suicídio; enquanto o outro tinha problemas com
drogas. Através dessas conversas informais pôde-se notar que a base familiar, coma já se
imaginava, afeta diretamente nas escolhas feitas por eles, e nos traumas que carregam em suas
falas. A maioria dos rapazes já frequentavam o CAPS’i a mais de 3 meses, expondo a
segurança que os encontros trazem para tratar de certas questões. Vemos assim, um claro
exemplo de que o acolhimento humano pode plantar sementes que o sistema, físico e político,
não alcança. Porém, sem o apoio necessário essas questões que problematizam suas vidas
acabam por se tornar constantes. Gerando em nós a sensação de que o trabalho acaba por ser
“gotinha em meio a um oceano”.
6

Ao voltarmos ao Centro, os garotos foram liberados para um lanche oferecido pelo


espaço, que tenta fazer esse momento não só para as crianças e adolescentes, mas também
para os familiares que os acompanham. A organização desse momento é um fator a ser
destacado, pois demonstra o cuidado que os funcionários têm com todos os beneficiários e
seus responsáveis. Inclusive, há periodicamente momentos de escuta desses responsáveis,
para entender as suas realidades.
Falando nessa rede de apoio dada aos beneficiários, é importante frisar a relevância da
ajuda dos responsáveis por eles, pois o sistema, em sua teoria, deveria ser multidisciplinar, o
que não ocorre, fazendo com que o ambiente fora do espaço tenha muito mais peso sobre as
crianças e adolescentes. De acordo com o Ministério da Saúde a institucionalização de uma
rede ampliada que atenda esse público é mais do que primordial, pois conseguirá acompanhar
esse grupo infanto-juvenil em outros setores, e se tornar corresponsável pela sua inserção
social (BRASIL, 2005). Na prática e no discurso da profissional que tivemos contato, é
observável o que essa falta de intersetorialidade pode causar como dano para o processo de
recuperação desse indivíduo. Nem mesmo o transporte dos beneficiários é cedido pelo sistema
de saúde, os fazendo muito mais dependentes de questões externas.
Por fim, após o momento de lanche e de nos despedirmos dos adolescentes, pudemos
reunir-nos com a profissional de psicologia, durante em média 30 minutos, para entender o
funcionamento da parte operacional.
Nessa conversa alguns pontos foram observados pelo grupo como sobressalentes.
Primeiramente, o efetivo do setor psicológico é um apontamento positivo, porque mesmo que
ainda não seja o ideal em um contexto sem falhas, o número que foi nos dado, de seis
psicólogos, não são os menores em comparação a outros centros na região metropolitana.
Com algum esforço, foi notório que há uma mínima organização quanto as divisões de tarefas
e grupos de acompanhamento, que são feitos por faixa etária.
Outra questão que nos chamou a atenção foi a forma que se lida, governo e Centro,
com o uso de drogas ilícitas. O objetivo é claramente o de redução de danos, e apesar de não
ser o ideal, é o real. A maneira como a psicóloga abordou essa questão foi muito interessante,
pois por vezes nos deparamos com essas situações de maneira utópica, acreditando que haverá
erradicação total do uso, mas é comum que a meta não seja essa, mas sim diminuir o uso,
fazendo com que o prejuízo nas atividades desse adolescente seja cada vez menor. Apesar
desse empenho, não existe, por parte da saúde pública do nosso país, uma maneira de acolher
àqueles que chegam em graus mais elevados. Sendo assim, eles são encaminhados para
comunidades terapêuticas.
7

Um último tópico que nos chamou muita atenção foi a forma de chegada dos
beneficiários ao Centro. A psicóloga nos relatou que ela é predominantemente por demanda
espontânea, ou seja, não há nenhum órgão que volta o seu olhar para essas crianças e
adolescentes. Mesmo que as vezes isso aconteça através da escola, fica a crítica para que haja
iniciativa do governo em identificar como tem sido o processo de saúde mental no seu grupo
infanto-juvenil. Como lido nos artigos apontados pelo professor Leandro Roque, aqui fica
comprovada a negligência com esse grupo, sem nos fazer entender, como população, a
importância que cada geração desse tem para o futuro.
Concluiremos essa reflexão com um trecho de um questionamento indignado, feito por
um integrante do nosso grupo nos nossos debates internos sobre a visita:
“Uma das minhas grandes críticas é que a tal REDE DE APOIO não funciona, uma vez que
não existe um acompanhamento desses adolescentes por uma equipe multidisciplinar, a
exemplo, um apoio para transporte ou passagem de ônibus do menor e acompanhante. Vimos
um caso de um dos adolescentes que mora em Mangabeira 8 e quando este não tem dinheiro
da condução ele não pode ir ao CAPS’i. Questionei também que tipo de acompanhamento ou
obrigatoriedade de ir ao serviço existe com os adolescentes, especialmente com aqueles
encaminhados por questões com drogas, e a psicóloga respondeu que todos são livres, pois
precisa ser algo voluntário. Eu só me perguntava o quanto estar ali era eficaz para eles? Ou
seja, num mundo ideal, caso a tal rede de apoio funcionasse, cada um desses adolescentes
seria acompanhado por um assistente social que iria identificar as necessidades do mesmo e
de sua família; em alguns casos talvez, o conselho tutelar, para avaliar a segurança no
contexto familiar (abusos acontecem dentro da própria casa), ou seja, tudo se resume há
algumas oficinas e de participação voluntária. Vi a profissional com um conhecimento
profundo e muita boa vontade, engessada no sistema, fazendo apenas uma máquina
funcionar, cumprindo seu horário e tentando fazer algum proveito da uma hora e meia que
tem com eles. Caso esses adolescentes fossem acompanhados de forma mais completa, tendo
o apoio de toda a rede, estes mesmos poderiam ser convidados para compartilhar de suas
experiências nas escolas da cidade, isso iria impactar a vida de muitos outros, seria um
trabalho preventivo.
Talvez minhas impressões sejam de um graduando apaixonado pela profissão, e com vontade
de mudar o mundo, quando me deparo com o aparelho que tem uma enorme estrutura e
equipe de trabalho, mas não vejo eficácia no que está sendo feito de concreto, saio com o
sentimento de frustração enorme.”
8

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Medrado, Spink e Méllo (2014), escrever um diário de campo é a capacidade
de unir as palavras e as coisas, de uma maneira que existam inúmeros cenários a serem
levados em consideração. A proposta desse relatório foi tentar trazer esse conceito
estabelecido pelos autores, mesmo que de maneira breve e mais sucinta.
É importante frisar que um campo de estudo como um Centro de Atenção
Psicossocial, não é esmiuçado de maneira simples, e infelizmente o pouco contato nos impede
de irmos além de uma reflexão, talvez, superficial de todo o seu sistema. Mas de qualquer
maneira nos permitiu observar de forma prática como a psicologia é exposta e desenvolvida
nesse ambiente.
Como já dito por Guareschi (2022), o olhar sobre a saúde mental e a forma que ela é
tratada dentro da Atenção Básica no Brasil foi deficitário e quase inexistente durante muito
tempo. Então, esse processo de estabelecimento de funcionamento e delegação de funções de
maneira adequada tem sido gradual. Mas a pergunta que permeia as nossas mentes ao nos
depararmos com realidades como a do CAPS’i em João Pessoa é: Onde está a raiz do
problema para que esse desenvolvimento seja mais constante e aceitável? Essa é, talvez, uma
maneira até inocente de tentar achar culpados, pois na verdade a estrutura social e histórica
construiu nosso país nesta condição; com um quadro onde o governo não valoriza e incentiva
esse cuidado, o que foi visto de forma evidente através do espaço físico e dos materiais
visuais lá encontrados. Além disso, poderíamos tentar encontrar respostas nos profissionais,
que mesmo com as boas intenções e desejos de criar soluções, não vão além da bolha exigida,
entregando o mínimo e enxergando esse tratar como algo corriqueiro.
Definitivamente, entender o processo de recuperação de um indivíduo que foi
concebido em um ambiente propício a exacerbação do sofrimento psíquico não é uma tarefa
fácil. Para isso, tem de se haver um árduo e longo trabalho de reconstrução de todo um
sistema, que já se provou falho e com dificuldades de funcionamento. Isso significa que o
problema está em seu projeto? Talvez não, mas há algo na maneira como a população é
educada a respeito das questões psicológicas que precisa mudar. As crianças precisam ser
ensinadas a lidar com essas questões, mesmo que não sejam diretamente atingidas por elas. É
preciso construir uma comunidade preparada, e assim, começaremos a tratá-la.
A experiência de lidar com o sistema de maneira mais aberta nos fez refletir sobre que
tipo de profissionais queremos ser. O que é realmente possível? O que é utópico? Como fazer
com que a nossa “gota d’agua” faça diferença no oceano? Os questionamentos são intensos e
profundos, nos abrindo o pensamento para toda uma esfera, que é esquecida e negligenciada.
9

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Caminhos para uma política de saúde mental infanto-juvenil.
2005.

GUARESCHI, Neuza Maria de Fátima et al. Referências Técnicas para Atuação de


Psicólogas (os) no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). 2022.

Você também pode gostar