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PROJETO: FENIX
POUSO ALEGRE
2023
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LARISSA STEFANNI TEODORO DA SILVA
Andrade Fagundes.
POUSO ALEGRE
2023
Sumário
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1. Introdução 4
1.1 Saúde coletiva 4
1.2 A instituição 6
1.3 Os adolescentes 7
2. Objetivos 8
2.1 Gerais 8
2.2 Específicos 8
3. Justificativa 8
4. Metodologia 9
4.1 Busca ativa 10
4.2 Triagem psicológica 10
4.3 Fênix 11
4.4 Grupos psicossocial e de psicoeducação 11
5. Considerações finais 12
5.1 Procedimentos 12
5.2 O que ainda pode acontecer? 13
6. Referências 14
7. Apêndices 15
7.1 Folha de frequência 15
7.2 Relatórios 17
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1. Introdução
O projeto foi estabelecido na cidade de São Sebastião da Bela Vista – MG, cidade
com cerca de 10 mil habitantes atualmente. Por ser uma cidade pequena, existem vários
paradigmas a serem enfrentados e superados quanto a própria psicologia e quanto ao
lugar onde o projeto acontece, o Centro de Convivência.
A cidade foi escolhida com base na localização de moradia da aluna e pela sua
identificação com a comunidade. São Sebastião da Bela Vista conta com um quadro
pequeno e instável de profissionais da saúde mental. O conceito de saúde coletiva é
limitado visto que ficam muito no biológico e pouco no social e psicológico.
Pensando nisso, o projeto foi criado visando trazer melhorias para comunidade, em
especial ao público adolescente que foi a demanda trazida pela instituição e que vem
apresentando as maiores demandas relacionadas a saúde mental, a psicoeducação e a
psicossocialização na cidade.
A saúde individual diz respeito a cada pessoa, tendo relação direta com fatores
genéticos, etários e de bem-estar físico e emocional de cada um de nós. A saúde
coletiva, no entanto, leva em conta dados quantitativos mais complexos e objetivos a
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respeito da população em geral, de suas demandas e problemas. Esses conceitos estão
profundamente relacionados: se a saúde coletiva não for bem estudada ou se não for
levada em conta na definição das políticas públicas para a área, isso acaba afetando a
saúde individual de milhares de pessoas. Por outro lado, há cuidados individuais que
também afetam a saúde de todos.
Visando esse novo modelo de fazer saúde, a ênfase de Saúde Coletiva, que é um
Estágio Supervisionado de Formação do Psicólogo atual, permitiu a atuação direta do
acadêmica junto à comunidade, consistindo em experiências de reconhecimento, análise
e investigação nas instituições e contextos sociais, assim como permitiu a participação
em projetos e uma experiência junto à diferentes realidades nos níveis de promoção e
prevenção.
1.2 A instituição
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O campo escolhido foi portanto o centro de convivência de São Sebastião da Bela
Vista que faz parte da Rede de atenção psicossocial (RAPS) e realiza serviços gerais da
atenção primária de saúde mental devido a não possuir outro centro estruturado para
realizar certos manejos e procedimentos. A instituição existe desde o ano de 2007 e
recebe o nome de Centro de Convivência Prof° Nilda Paglirini – uma figura importante
pra cidade. Localiza-se na Rua Mato Grosso – 107 – no bairro Santa Rita.
Após realizar visitas, reuniões, coletas de dados, o projeto foi pensado na demanda
que eles apresentaram como mais necessária no momento, trazer adolescentes e jovens
para a instituição, visto que nenhuma oficina ou grupo que fizeram nesses anos de
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funcionalidade, conseguiu atrair esse público que geralmente opta por atendimentos
individuais.
Atualmente a equipe da unidade básica de saúde (UBS) tem relatado nas reuniões
matriciais que o índice de crises, psicotrópicos e tentativas de suicídio subiu entre os
adolescentes, o que preocupa os profissionais de saúde.
1.3 Os adolescentes
A adolescência inicia-se entre os 10 anos e termina aos 19 anos (WHO, 2016). Esta
fase é caracterizada, como um ciclo da vida humana, onde iram surgir diversas
modificações, sendo essas modificações físicas, sociais e emocionais (Best & Ban,
2021).
Para além disso, é considerada uma fase crítica e inevitável para o desenvolvimento
do indivíduo, sendo um acontecimento necessário para a vida adulta (Barbosa- Silva,
Pereira & Alves, 2021).
Para o adolescente, sua vida está marcada por processos de definição, de inserção
social e de vulnerabilidades. De um lado, há a vitimização decorrente da
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contemporaneidade, do cenário social de crise, do desemprego e da violência urbana;
por outro, há que se destacar a sua alegria de viver, sua criatividade e autonomia. É a
partir dessa concepção positiva que as ações de prevenção e de promoção de saúde
podem encontrar terreno fértil e se tornarem efetivas, estimulando o potencial criativo e
resolutivo dos adolescentes, e incentivando a participação e o protagonismo juvenil para
o desenvolvimento de projetos de vida e comportamentos que priorizem o autocuidado
em saúde.
Nunca foi tão necessário como é atualmente olhar para o adolescente. As mudanças
desses últimos anos, o isolamento e as dificuldades pela interrupção do seu processo de
desenvolvimento, é perceptível. As demandas da cidade aumentaram e um olhar para a
saúde mental e o social se fez imprescindível.
2. Objetivos
2.1 Gerais
2.2 Específicos
Proporcionar um ambiente acolhedor e validar sentimentos/pensamentos
Trabalhar habilidades sociais
Elucidar dúvidas sobre temas psicossociais
3. Justificativa
Na cidade não existem muitos projetos destinado aos adolescentes. Uma das grandes
queixas dos próprios aceitantes do projeto foi a falta de oportunidade pra interações
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sociais. Pensando nisso, o projeto se faz necessário, pois o adolescente precisa de um
local onde consiga sair da sua rotina, criar vínculos com pessoas da idade deles,
trabalhar habilidades sociais, conversar e validar o que pensam e sentem. Trabalhar o
adolescente é prevenir um adulto de uma vida disfuncional.
4. Metodologia
Após a observação foi constato que o público pra ser trabalhado seria o de adolescente,
devido a forte demanda da instituição e uma fila de espera mais numerosas que em
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outros grupos. Se fez necessário uma triagem psicológica com esses possíveis aderentes
ao projeto, os adolescentes que estavam na fila de espera e os adolescentes que usavam
psicotrópicos na cidade.
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triagens tradicionais, mas comunica sua compreensão, compartilha suas impressões a
partir do que está ouvindo e vendo (Rocha, 2011, p. 127).
Através desse conceito realizou-se triagens com um acolhimento, além de explicar o
projeto e esclarecer possíveis dúvidas. Assim, além de conhecer os adolescentes, eles
me conheceriam e poderiam estabelecer um vínculo desde o primeiro contato.
4.3 Fênix
Dito isso, o projeto Fênix foi pensado para existir um lugar onde falaremos sobre o
adolescer na atualidade, o descobrimento de si e as consequências desse processo.
A simbologia da fênix é de uma ave que marca o renascimento, o triunfo da vida
sobre a morte, o eterno recomeçar, porém sem perder a essência ao se tratar sempre da
mesma criatura. Desta maneira, ela simboliza a vida e seus ciclos, a esperança e o fato
de que é preciso dar a volta por cima nas situações adversas.
Trazendo essa simbologia para o adolescentes, o projeto significaria exatamente isso,
uma forma de sair do confortável e se arriscar, de conhecer rotas diferentes, outras
formas de olhar para uma situação sem perder a sua essência e potencializando tudo de
bom que carrega em si, podendo ressignificar todas as angústias que compõem sua
história. É uma forma de renascer, de ser dar uma chance, de se permitir caminhar
olhando para vida de uma forma que não olhava.
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pensamentos, além de criar novas experiências, visto que nenhum deles participou de
algum grupo.
5. Considerações finais
Observa-se uma rigidez institucional e resistência para sair da zona de conforto. Existe
muitos projetos na burocracia, mas na prática nenhum desses projetos são funcionante.
A demanda da cidade exige mais profissionais e mais atividades oferecidas. Existe um
rodízio de profissionais no local, apenas dois funcionários estão estáveis na instituição,
sendo um deles responsável pela única oficina ativa, e isso precisa ser olhado como
possível gerador de estresse, e a falta de permanência e constância dos grupos.
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6.1 Procedimentos
Após a etapa de triagem ficou para o próximo semestre terminar as triagens que falta e
iniciar o grupo. Os grupos acontecerão semanalmente e serão dividido por gêneros
identificados (Ele x Ela). A princípio se pensou em fazermos um grupo misto logo no
início, mas devido às demandas apresentadas nas triagens optou-se por essa separação
para que os adolescentes se sintam confortáveis e dispostos a trabalharem com o gênero
oposto.
Os temas dos encontros serão estabelecidos após o primeiro contato com o grupo
formado, e através de uma dinâmica de apresentação e observação traçaremos um plano
com estratégias e técnicas eficazes que melhor se adeque ao público usuário.
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6. Referências
Nunes, E. D.. (1994). Saúde coletiva: história de uma ideia e de um conceito. Saúde
E Sociedade, 3(2), 5–21. https://doi.org/10.1590/S0104-12901994000200002
Osmo, A., & Schraiber, L. B.. (2015). O campo da Saúde Coletiva no Brasil:
definições e debates em sua constituição. Saúde E Sociedade, 24, 205–218.
https://doi.org/10.1590/S0104-12902015S01018
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7. Apêndices
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Obs: essas 10 horas são referentes ao projeto. Lancei 5 horas pela manhã e 5 pela tarde,
no dia 18/06 (dia da entrega do projeto)
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7.4 Relatórios
6. Descrição da atividade: Visita pelo CAPS, onde a psicóloga gerente do local, juntamente com a supervisora do
estágio , nos mostrou o estabelecimento, as salas, o lugar onde acontece oficinas, os trabalhos dos usuários e para
finalizar aconteceu uma roda de conversa sobre o CAPS e a rede de saúde, enfatizando processos que funcionam e os
que precisam ser trabalhados. A aluna Jennifer trouxe o exemplo dela que estágio no Asilo da cidade e conversamos
boa parte do tempo sobre problemas institucionais, o suporte para saúde mental e a importância da rede funcionar
de uma maneira eficaz.
7. Análise e planejamento: Nota-se a importância de trabalhar em equipe e com a rede, que mesmo com suas falhas
encontra uma maneira de funcionar. As limitações são frustrantes, mas cabe ao profissional fazer o melhor com o
que lhe é oferecido. O lugar em termos de estrutura é um ótimo lugar, apesar de não ser tão acessível por localizar
longe do centro da cidade, é um lugar acolhedor, com salas amplas e uma área externa ampla onde ocorrem oficinas
de contato com a natureza. Existem trabalhos espalhados pela instituição feitos pelos usuários, onde nota-se que as
oficinas estão sendo aproveitadas. Não conhecemos a equipe, pois não foi nos apresentados os membros.
6. Descrição da atividade: Visita pelo CAPS, onde a assistente social do local mostrou a instituição, falou sobre as
oficinas, os profissionais, as demandas, como ocorre o acolhimento dos usuários, como é trabalhado a reinserção
deles na sociedade, como funciona o matriciamento.
7. Análise e planejamento: A estrutura apesar de extensa é mais antiga e está passando por reformas. No dia da visita
estava acontecendo um encontro de famílias dos usuários, pude perceber como a realidade é diferente desse Caps
para o aldeia. Pontos diferentes notados foi: o público do AD apresenta aparência descuidada, são pessoas que
moram em situação de rua ou em bairros pobres da cidade, possuem dificuldade de manter o tratamento, são mais
faltantes, possuem um estigma mais evidente no sentido de ‘não tem doença, só procurou isso’ como se fosse uma
invalidação, relato de pessoas que diminuem o que eles estão passando, e maioria possui recaídas no processo com
evasões. Apesar de citar outros profissionais do local, a assistente social que me acompanhou no tour, não me
apresentou nenhum funcionário, mas disse que a convivência funciona bem e que a equipe está anos juntos devido a
esse entendimento coerente.
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UNIVÁS. CURSO DE PSICOLOGIA ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE SAÚDE COLETIVA (x) I ( ) II
Professor (a): Viviane Vianna de Andrade Barbosa
Aluno (a): Larissa Stefanni Teodoro da Silva R.A 98008032
1. Data: 24/03/2023 2. Atividade: Visita e observação
3. Local (Serviço/ Unidade): Centro de convivência 4. Município: São Sebastião da Bela Vista
5. Público: toda a comunidade 6. Número pessoas atendidas: ...
6. Descrição da atividade: Reunião com a equipe de profissionais. Psicóloga Leticia Carvalho, que está a dois meses na
instituição, Creusa que oferece a única oficina ativa no local de costura e pintura, e Fábio o secretário o local.
7. Análise e planejamento: Foram discutidos e negociados pontos para realizar parceria de estágio com o local em
questão. O centro de convivência existe a cerca de 16 anos, mas não possui aderência da população. Na comunidade
taxam o lugar como ‘lugar de louco ou idoso’. Existem demandas diversas, visto que ocorre apenas a oficina de
segunda a quinta das 13 as 15 e atendimentos individuais nas segundas, quartas e sextas, durando 30 minutos cada
atendimento, realizado pela psicóloga que possui a carga horária de 20hrs semanais, e no tempo restante ficam
trabalhando com a parte burocrática e em treinamentos. Ressaltam a dificuldade que possuem de captar públicos
para realizar grupos e para criar alguma oficina. Por 14 anos o lugar foi coordenado pela psicóloga Sheila Nadalini, e
há dois anos ela saiu de licença, onde nesse período teve trocas frequentes de psicólogos na instituição. A cidade é
pequena, contem cerca de aproximadamente 8mil habitantes, sendo zona rural sua maioria de extensão e zona
urbana. Possui um centro de convivência na cidade, uma Unidade básica de saúde, um Cras. Não possui Caps e por
isso a referência de saúde mental é o Caps de Santa Rita do Sapucaí, onde atualmente realizam procedimentos mais
frequentes de plantão psicológico para conter crises e os casos mais urgentes, e depois são acompanhados
clinicamente no centro de convivência pela psicóloga Letícia. Atualmente Leticia não conduz nenhum grupo de
intervenção terapêutica, oficina ou encontro sociais.
A equipe é pequena, e quando a psicóloga não está no local quem coordena o estabelecimento é o secretário e
recepcionista Fábio, e a instrutora de oficina Maria Cleusa. Foi informado também, quanto a realizações de
campanhas, onde acontece no próprio centro de convivência é aberto a comunidade, mas como existe a dificuldade
de aderencia do local, normalmente o público presente é as mulheres da oficina de costura e pintura. Quanto ao
matriciamento, eles marcam reuniões com outras instituições para realizar o trabalho conjunto que necessita.
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maquiagem, pois se sentiram bem consigo mesma.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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UNIVÁS. CURSO DE PSICOLOGIA ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE SAÚDE COLETIVA (x) I (
) II
Professor (a): Viviane Vianna de Andrade Barbosa
Aluno (a): Larissa Stefanni Teodoro da Silva R.A 98008032
1. Data: 12/05/2023 2. Atividade: Acolhimento
3. Local (Serviço/ Unidade): Centro de convivência 4. Município: São Sebastião da Bela Vista
5. Público: toda a comunidade 6. Número pessoas atendidas: 1
6. Descrição da atividade: Acolhimento de usuária do centro de convivência
7. Análise e planejamento: Lurdes (63) é uma paciente de anos do centro de convivência. Atualmente não faz parte de
nenhuma oficina ou atendimento individual, mas todo dia vai na instituição pintar com lápis de colorir. Tem
dificuldades na fala, na cognição, não sabe desenhar formas, apenas linhas retas, possui comportamento infantilizado e
tem medo excessivo das coisas, por exemplo, água, cachorro, carro, etc. Gosta de caminhar e por isso anda pela cidade
o dia todo. Perdeu a mãe recentemente, sua figura de apoio que cuidou dela a vida toda, e agora mora com uma irmã,
mas a família é bem negligente aos cuidados oferecidos. Neste dia, ficamos pintando juntas, fiz um arco-íris e ela os
traços que está acostumada a fazer. Tentou copiar o meu desenho, mas apesar de acreditar que ficou igual, ficou
totalmente diferente, pois ela não sai do padrão de linhas. Contou que sente falta da mãe, não gosta da irmã e que a
sobrinha briga com ela. Devido a sua dificuldade em falar as palavras corretamente é uma dicção totalmente defasada,
escuta-lá é complicado. Lurdes não adere nenhum outro tipo de atividade, a não ser a pintura com lápis.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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7. Análise e planejamento: A passeata da luta antimanicomial de Pouso Alegre ocorre todo ano, com excessão da
época da pandemia. A caminhada começou no centro cultural de saúde, as 08:00 da manhã e seguiu para a praça
principal, onde em frente à catedral aconteceu a concentração dos participantes. Neste local estavam alunos da
Univas, alunos da Uma, profissionais da saúde, de saúde mental, Caps aldeia, Caps AD, centro de convivência, e
usuários da rede. Houve cartazes, gritos de guerra, conversas, músicas, danças e muita disposição para lutar. Uma
pauta levantada foi a implementação de Caps I (caps para crianças e adolescentes), que vem aumentando casos e
demandas em toda a região. Neste dia, também é levantado a pauta da luta contra violência sexual infantil, e muitos
adeptos a essa campanha estavam no local e se uniram a uma luta muito maior, porque a violência sexual é uma das
demandas mais fortes e presentes na prevenção e promoção de saúde mental. Fiquei no local até o meio dia, mas
ainda tinham muitos profissionais no local.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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8. Ass. Aluno (a) Prof.
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tudo piorou. A convivência com a mãe era difícil. Traz um discurso de que a mãe sempre cuidava e protegia a irmã,
e a deixava como segunda opção. Reconhece que no início da vida a irmã precisou de certos cuidados, pois nasceu
com uma deficiência física, mas que após a operação, ela não precisava ser criada em uma “redoma de vidro” como
foi, nem ter prioridades ou privilégios. Conta que sempre foi a segunda mais importante. Tudo que acontecia era
para Sarah primeiro.Até quando as duas desenvolveram problemas psicológicos, os da Sarah era mais importante.
Há cerca de 3 anos, voltaram para Bela Vista. Atualmente, Alice mora com a mãe, o padrasto, a irmã. Conta vários
problemas atuais com a irmã, inclusive invasão de privacidade, onde a irmã filmou ela com o namorado tendo
relações sexuais e usou o vídeo para chantagear. – Esse episódio a traumatizou ao ponto de não querer mais ter
relações com o namorado, faz cerca de 6 meses que não fazem nada sexual, e sempre precisa cobrir janelas e portas
quando está no seu quarto. - Existe muita disputa de atenção, conflitos por bens materiais, e para Alice a irmã quer
tudo que ela tem, pois tudo que ela compra, a irmã tem que comprar, tudo que ela faz, a irmã tem que fazer, e diz
que até o horário de sair e voltar ela teve que diminuir, se não Sarah faz chantagem ou drama para a mãe alegando
que Alice volta tarde e ela não pode. Sarah tem 13 anos, Alice fez 17 recentemente. Ao que parece, a mesma
liberdade que uma tem, a outra precisa ter, é isso engloba até assuntos mais complexos como relacionamentos,
relações sexuais, bebida e demais temas que precisariam ser abordados de maneira diferentes devido a idade e fase
que cada uma deveria estar. A relação de Alice com a mãe é insanável também, como para ela a mãe protege a
irmã, ela acabou desenvolvendo um rancor pela mãe. As duas brigam ao ponto de ela dormir na calçada de casa
porque a mãe não a deixou dormir em casa e que nesse dia, só entrou novamente em casa, quando os vizinhos
chamaram a polícia. Alice por fim, diz que depois que teve a última crise “feia”, onde ficou 7 dias sem comer,
tomar banho e tudo mais, a mãe resolveu olhar para ela. Que depois desse episódio, começou a fazer para ela coisas
que só fazia para a Sarah, como por exemplo, dar boa noite na porta do quarto toda noite, perguntar se já comeu,
perguntar como foi o dia. Termina falando novamente como se fosse um reforço que ela não tem inveja ou ciúmes
da irmã, mas que ela odeia a cena que a irmã faz como se fossem mundo precisasse parar pra ela, como se ela fosse
o centro de tudo.
Durante todo atendimento manteve contato visual, sua aparência estava condizente com uma boa higiene e
demonstrou um olhar apático e vago ao contar toda situação. Parecia até que ela contava a história de outra pessoa,
não a dela.
*Marco Aurélio – 16 anos - Marcos possui diagnóstico de autismo, mas faz anos que trata de uma crise convulsiva
que ocorre toda vez que ele é contrariado, negado a fazer algo, pressionado, fica estressado. Também possui crises
de agressividade, o que normalmente não condiz com a persona que ele carrega durante o cotidiano, de um menino
comunicativo, inocente, calmo. Possui interesse em caminhões e ônibus, o que beira a uma certa fixação. Diz que
embora não goste de redes sociais usa como ferramenta pra fazer amizades já que possui uma grande dificuldade
em estabelecer laços na escola, pelo contrário, deixou de frequentar a instituição faz cerca de alguns meses e desde
então vem fazendo exercícios em casa com a ajuda da mãe. O material oferecido vem da escola onde é matriculado.
Evadiu do colégio após uma briga durante sua crise de agressividade. Diz que se precisar entrar em briga, ele entra.
Na rede social, faz parte de grupos de caminhões e ônibus, e mantém amizade virtual com várias pessoas do Brasil.
Conta que gosta de uma menina, mas que ela não sabe. Marcos possui um repertório social defasado, devido a
falhas no processo de cognição, possui uma certa imaturidade, dificuldade em entender e expressar o que sente
(sistema límbico confuso?), impulsividade e muitas vezes fala coisas sem pensar. Gosta de atividades lúdicas, traz
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que ama socializar e conversar, mas não possui amigos. Questionei sobre estar em um grupo e ele respondeu que
não se importa com ninguém, não liga para o que as pessoas acham dele e ele não liga para as outras pessoas
também. Logo após dizer isso, trouxe exemplos de episódios onde sofreu bullying (ele não tem consciência disso),
e diz que não ligou pra isso, mas é contraditório porque parou de ir pra escola .. (se não ligasse, ele deixaria de
ir?) .. até tentou voltar, mas chegou lá, e minutos após pediu para chamarem a mãe dele. Apesar de não ir para
escola, gosta de vim para o centro de convivência, gosta de fazer oficinas, gosta de ir no CRAS, gosta da
psicoterapia e de passar em médico. Na realidade, me parece que ele ama atenção, e por isso quando é negado a ele,
sente-se angustiado ao ponto de ter uma crise ansiosa e consequentemente virando algo mais agressivo ou em
convulsão.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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ele possui o receio do filho ir buscar em lugares errados as respostas que ele precisa. Fala de brigas a respeito da
mudança, que o filho sente muito essa mudança de SP para uma zona rural em uma cidade do interior, mas ressalta
que toda a família sofreu e sofre com esse processo, mas que acredita que daqui uns anos isso vai ter valido a pena.
Diz que a missão de vida dele é fazer os filhos estudarem, seguirem um rumo, conquistarem seu caminho, sua
história, sua casa, seus bens. Após esse diálogo, chamei o João para conversar. O adolescente evitou falar, assim
como o pai descreveu, mas o pouco que ele conseguiu falar, nota-se a grande dificuldade que possui para falar,
principalmente quando é algo ligado a expressar o que sente, pensa, fica nervoso e começa a gaguejar. Assuntos
banais ele trava, mas acaba falando. Embora se expressou pouco verbalmente, pelo comportamento deu para
observar que estava atento a tudo que foi falado, que ele estava gostando, pois sempre sorria, mas desviava o olhar
quando percebia que eu olhava pra ele, sempre abaixava o olhar. Perguntei se ele sentia incomodado olhando para
alguém no olho enquanto conversava, e ele disse que não, mas que tinha medo de falar algo errado ou estranho.
Expliquei que não existe o errado, apenas o que ele conhecia e sabia, que podia ser diferente de outras pessoas, mas
não era errado, era o que ele acreditava. Falamos sobre a dificuldade de morar aqui, sobre o fato dele não ter amigos,
não ter privacidade, trabalhar bastante. É notório que o garoto possui dificuldades sociais e trabalhar essas
habilidades seria enriquecedor, ainda mais entrando no ensino médio.
*Esther – 16 anos – É uma menina vaidosa, introvertida. Conta que veio de São Paulo para Bela Vista faz 2 anos,
através do seu avô que tinham família em Pouso Alegre e lhes informaram que a saúde da cidade era boa e por isso,
fazer o tratamento e acompanhamento que ele fazia, por aqui, era mais fácil. Mora no bairro Paraíso dos pescadores,
um bairro quase perto de Pouso Alegre. Relata ter desenvolvido crises fortes de ansiedade em pânico. Ao contar da
sua história fala que sentiu diferença entre SP e morar em uma zona rural de uma cidade pequena em MG. Apesar de
nunca ter tido muita amizade, sente que aqui acabou estabelecendo menos vínculo ainda. Seu avô faleceu há um ano
apesar de totó tratamento e cuidado. Relata que apesar da morte dele ter sido recente, ela sente que perdeu ele há
anos, pois existia muitos momentos onde ele não estava lúcido e a confundia com a mãe dela, esquecendo de fato que
tinha uma neta. Conta que isso foi muito difícil, porque eles sempre foram muito próximos. Esther conta que
atualmente tem muitos problemas de autoconfiança, de insegurança com outras pessoas e de pensamentos negativos.
Fez terapia algum tempo e a psicóloga pediu pra ela treinar pensamentos positivos – toda vez que pensasse negativo,
era pra cortar aquilo e pensar algo positivo reforçando aquele pensamento repetindo várias e várias vezes. Perguntei
se ela entendia o porque dessa insegurança, e ela respondeu que tem medo de ser machucada como já foi, pois
confiava em pessoas que fizeram mal pra ela. Depois disso contou que uma melhor amiga teve um caso como
namorado dela, que atualmente essa menina a provoca na escola e no ônibus (são vizinhas e por isso pegam a mesma
condução), e que sempre diz que só aproximou dela porque queria o namorado dela pra si. Esther ainda mantém o
relacionamento com esse cara e diz que desenvolveu um excesso de desconfiança, porque ele traiu ela várias vezes,
não apenas com a ex amiga, então ela pede pra ele mandar foto a todo momento, liga por vídeo e pede pra mostrar o
lugar que está, vê o celular dele o tempo todo que estão perto .. enfim, comportamentos que ela sabe não ser
saudável, mas prefere optar por não confiar nele. Perguntei como ela está após me conte tudo isso, e ela respondeu
que o que mais dói nela, é a traição da amiga e não do namorado. Ela até perdoa ele pelas traições com outras
pessoas, mas com a amiga é algo que a incomoda muito, principalmente em relação a garota, porque segunda ela,
ofereceu o seu melhor, amava ela e escutar que serviu apenas como escada pro interesse dela com o namorado dói
demais. Soltou a frase: “meu valor foi menor pra ela do que o valor do namorado, porque ela queria ele e não eu.”
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Em momento algum falou sobre valor relacionando ao garoto, apenas deu foco a ex amiga. No fim, disse que sente
que precisa confiar em mais pessoas e se abrir, mas não sabe se isso é possível, porque não quer se machucar como já
se machucou.
Esther possui grandes perdas na sua vida, seja por luto não legitimado ou luto por morte.
*Ana Júlia – 16 anos – Conta que já fez acompanhamento psicológico, pois desde 2021 possui crises de ansiedade.
Os relatos dela traz uma crise existencial que todo adolescente passa e muitas coisas projeções da mãe sobre ela. Por
exemplo: Trouxe que é filha única, de pais mais velhos que já tentaram várias vezes engravidar novamente, mas a
gravidez não progride, inclusive chegou a ter 4 fecundações e fetos, mas houve abortos. Então ela se sente muito
sobrecarregada, porque as expectativas dos pais caem sobre ela o tempo todo. A mãe segundo seus relatos é
superprotetora e o o pai rígido e machista.
Ana júlia conta que fez terapia por um tempo devido a seu trauma por brigas. Quando era pequena, viu um ex
namorado de uma prima bater nela e quase bater o carro com elas juntos, depois disso, toda vez que vê alguém
brigar, ela trava e tem crise de ansiedade (sintomas: falta de ar, tremedeira, coração acelerado, vontade de chorar).
Sua mãe usa isso para não deixar que ela saia para lugares movimentados, ou durma fora de casa (dormir na casa de
amigas e familiares sem ela), e Ana Júlia acaba ficando mais em casa. Perguntei se isso a incomodava e ela disse que
não, que ela prefere ficar mais em casa mesmo porque tem medo de ter crise caso haja uma briga. Medo que parece
ser reforçado e estimulado pela mãe, porque esse apuramento que ela usou, entra em contradição com sua principal
queixa: Sentir-se sozinha.
Segundo Ana, ela não tem amigos, mas quando fui estimulando ela falar da rotina dela, percebi que ela tem bastante
interação social na escola, por telefone. Embora não seja popular e cheia de seguidores, tem amigos fiéis, tem
contato, mantém conversas. Quando ela fala de sentir sozinha, parece ser algo mais profundo. Perguntei se em casa
ela sentia isso, e ela disse que sim, porém analisando sua rotina, ela fica “sozinha” apenas 2 horas do dia. Sempre tem
a mãe junto, ou a escola, ou o trabalho (trabalha na loja do pai), ou o pai. Esse sentimento de solidão é além, e soa
muito como uma solidão existencial. Não sabe-se ao certo se isso é real ou não, é apenas uma hipótese baseada em
um encontro, mas sinto que o grupo poderá auxiliar muito nesse processo e que isso pode ser um passo no sentindo
da sua própria evolução.
Obs: o Fabio entrou de férias e uma funcionária veio para ajudar com a parte burocrática, chama-se Amanda.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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6. Descrição da atividade: 3 atendimento de triagem adolescentes
7. Análise e planejamento: Foi realizado duas triagens.
*Eliza – 15 anos – Conversei com a mãe primeiramente. A mãe relata que a filha possui crises fortes de agressão,
autolesão e ansiedade. Atualmente ela toma medicação, mas toma de maneira não eficaz, pois toma uma vez, fica
dias sem tomar e depois toma de novo. Diz que a filha relata alucinações visuais quando toma a medicação, mas que
ela viu que pode ser um efeito adverso, e eu expliquei para ela que existem efeitos colaterais durante adaptação do
medicamento que normalmente é de 30 dias, após isso, o remédio para com esses efeitos, mas caso continue o ideal é
passar novamente no psiquiatra. Questionei se Eliza tomou os remédios por no mínimo 30 dias consecutivos. Ela
disse que não. Expliquei que antes de tentar o médico não trocaria a medicação. *orientei a adolescente quando
conversei com ela e ela está ciente desse processo*.
Simone, a mãe de Eliza, conta que ela mora sozinha com 5 filhos (incluindo Eliza). O marido atualmente está em
situação de rua devido ao uso de Crack e drogas recreativas (cocaína e maconha). O ex não é do município, então não
possui família aqui. Conta que tentou várias vezes ajudá-lo, mas sempre acabava apanhando dele ou coisas piores.
Perguntei se Eliza sabe disso, e ela disse que a folha presenciou tudo e que ela *odeia* o pai. As crises de Eliza
começou tem cerca de 3 anos, período que ela começou a se cortar.
Conversei com Eliza. A menina falou objetivamente sobre o que era perguntado, mas mostrou interesse no projeto.
Falou sobre as amizades, sobre o pai, sobre querer ser mais independente. A conversa durou pouco e ela obteve um
discurso igual o da mãe.
*Victor – 15 anos – Conversei com a mãe do adolescente primeiramente, pra entender a demanda. Michele contou
um pouco sobre a infância do garoto, sobre as dificuldades de relacionamento dele com o pai, sobre momentos
difíceis após lutos por morte, um diagnóstico recente, crises de ansiedade, medicação e a falta de habilidade social.
Detalhadamente, o garoto cresceu mais isolado de outras crianças, entretanto nunca achou que isso fosse um
problema. Victor sempre foi muito bom academicamente falando, aprendeu a ler aos 4 anos, aos 6 já fazia operações
matemáticas, aos 9 já entendia de aplicativos em celulares complicados, aos 12 instalou um app que monitorava
quando a avó dele fumava e mandava um recado pra ele quando isso acontecia, permitindo que ele emitisse um
barulho no celular da avó pra que ela tivesse “medo” do celular apitar sozinho e parasse com o cigarro. Aos 14
construí todo um sistema de marketing pro pai dele que após 10 anos tentou reaproximar do filho e aos 15 ganhou
feira de ciências, passou em primeiro lugar na prova da OBMEP na escola que estuda, está aguardando a segunda
estava e apresentou um produto que inventou na faculdade INATEL. Antes, achava que isso tudo era típico de
qualquer garoto e confessa que apesar de as vezes achar surpreendente, não incomodava o filho ter um desempenho
bom no colégio, até que ele começou a apresentar crises de ansiedade, choro, agressividade e a se isolar mais ainda
das pessoas. Levou-o então na Clínica Luna, para uma avaliação psicológica e através desse procedimento constato
que ele possui Autismo leve (o antigo Asperger). Quando o diagnóstico saiu, sentiu que muitas coisas foram
esclarecidas, e ele começou a fazer um tratamento psicoterápico, até que ele quis parar e atualmente não faz. Toma
medicação por causa das crises ansiosas. Possui problemas de convivência com o pai e atualmente faz um ano que
não se comunicam. Segundo Michele o pai usou ele pro marketing da empresa e depois demitiu ele e ainda criou uma
confusão por conta de dinheiro. Existem problemas entre a Michele e o ex, e ele não cumpre o papel de pai
afetivamente falando e nem financeiramente. Quem fazia o papel de pai para o Victor era o avô dele (pai da
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michele). Ela namora, mas o menino não considera o namorado da mãe como um padrasto. A mãe diz que o menino
não possui assunto de adolescente, não se interessa por namoros, diz que não precisa de mais ninguém a não ser dela
e do primo (única amizade que cultiva), que ele faz tudo sozinho e não sabe conviver com outros, que ele odeia ser
tratado como criança ou que pensem que por ser novo ele seja “burro”, e não gosta do fato de sua sala ser
infantilizada. A queixa da mãe é ele não conseguir conviver socialmente, ter dificuldade em criar laços e as crises de
ansiedade.
Quando chamei o Victor, nossa conversa não durou nem 10 minutos. Ele não pronunciou nenhuma palavra e eu
falei sobre o projeto, apresentei os ganhos e benefícios que ele vai adquirir se aceitar e pontuei as dificuldades que
ele possui segundo a mãe para ver se ele concorda. Ele assentiu com a cabeça e demonstrou um comportamento de
curiosidade com base na minha fala. Quero ressaltar que o garoto estava mal higienizado, com caspas na cabeça, de
pijama, chinelo e meia. Será um pouco desafiador trabalhar com ele em grupo, então para incentiva-lo a fazer parte
do grupo, ofereci acompanhamento individual conjunto.
Através dos atendimentos decidi que os grupos acontecerão semanalmente, de uma maneira consistente, mas junto
com os grupos oferecerei sessão individual. Farei uma escala onde todos os participantes sejam contemplados com
isso. A escala funcionando, conseguiremos ir rodando ela. O participante só terá o individual neste momento caso
tope trabalhar de maneira psicossocial com o grupo.É um jeito de oferecermos suporte terapêutico e psicossocial em
conjunto.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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para cá faz uns anos. Era de Campinas, mas não sentiu muita diferença na mudança, pois não cultivava amizades lá.
Mudou aos 11 anos. Quando chegou aqui tentou fazer amizades, mas não obteve muito sucesso. Se sentia diferente
das pessoas e confessa que apesar de ter amigas hoje em dia, ainda sente isso. Contou sobre sua dinâmica familiar e
os pais parecem ser muito controladores, severos, religiosos e conservadores. O que acaba afastando ela deles, pois
no último ano começou a perceber que gosta de meninas também, gosta até mais do que meninos, mas ainda assim
gosta dos dois. Além disso, após ler assuntos na internet, tem se identificado como gênero fluido. Diz que os pais
possuem muito preconceito com isso e que pegaram uma cartinha que ela fez para uma garota e a questionaram sobre
isso, mas de uma maneira severa e ameaçadora. Ela negou, mas na realidade foi ela quem escreveu, pois devido ao
receio de chegar para conversar, preferiu se expressar assim. Atualmente o único suporte de Rebeca é a irmã mais
nova.
É uma menina estilosa, criativa e está passando por um período de descobertas. Ela mesma usou a frase: “não
consigo me definir porque estou me conhecendo agora e ainda não sei.” A insegurança é o algo paralisante pra ela.
*Julia – 16 anos – Buscou o atendimento por conta de crises de ansiedade, crises de choros, isolamento, dificuldade
em sentir ligação com as pessoas apesar de ter amigos.
Filha do meio, possuí um irmão mais velho que é a sua figura masculina de proteção e segurança, é uma irmã mais
nova, que ela se considera até “mãe” por cuidar o tempo todo da menina. Mora em um bairro rural e sempre morou
lá. Teve sempre muito contato com primos, tios, vizinhos, mas hoje passa a maior parte do tempo sozinha. Começa o
discurso trazendo problemas com o pai que apesar de não beber sempre, toda vez que bebe, se transforma em outra
pessoa. Júlia cresceu com isso, o pai bebe de tempos em tempos, mas ao beber fica agressivo verbalmente, diz coisas
que machucam ela, a mãe, e causa um pavor psicológico na família. Diz que nunca chegou a agredir ninguém
fisicamente, mas que psicologicamente destruiu todo mundo. Possui problemas para confiar nas pessoas, apesar de
ser extrovertida e sociável, não fala nada sobre si, não duvide problemas, não consta angústias, não fala de
lamentações. Fala de um ex namorado que foi ruim para ela, mas ela ainda pensa nele e de um ficante atual que a
trata bem, que se importa, que oferece carinho e diálogo, mas ela não sabe ao certo se gosta dele ou não, parece que
algo diz que não está certo. Começou a falar que possui problemas de autoestima, que não se sente bonita, capaz, que
ao ouvir um elogio sempre questiona se é real ou se estão caçoando dela. Trouxe um sentimento de sujeira, impureza,
nojo. Então eu procurei sutilmente tocar nisso, e ela trouxe que um dia antes do aniversário de 12 anos pensou em se
matar. Ouvia sempre que as crianças ao morrerem iam direto pro céu, que tudo estava perdoado. Então se ela se
matasse antes de virar adolescente, ela seria perdoada. Chegamos em um ponto onde optei pelo silêncio e ela trouxe
relato de episódios de abuso sexual. Diz que não suporta toques, que até gosta de abraços de quem ela “confia”, mas
até essas pessoas se ficarem tocando muito nela, se sente mal e vem uma angústia forte onde acaba virando crise. Diz
que demorou um tempo pra ela começar a sentir um leve prazer em relações sexuais, que se sentia mal no início. As
crises começaram aos 12 anos, mas vem se intensificando. Antes era mais em casa, quando o pai bebia, mas agora
acontece na escola e outros lugares. Não consegue saber o porque, simplesmente vem vários pensamentos negativos
e através disso vem uma ansiedade, desconforto, choro, tremores, falta de ar. Enquanto conversamos percebi que ela
possui grande desconfiança com o gênero masculino. Traz a palavra medo várias vezes, que possui muito medo das
coisas, das pessoas, mas na realidade esse medo é dos homens. O único homem que traz segurança e suporte para ela
é o irmão. Fora isso, conta que cultiva uma admiração por um professor chamado Wagner, mas tirando os dois não
confia em nenhum. Fala super bem da mãe, mas percebe-se um vestígio de decepção e outros sentimentos ainda não
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identificado com essa figura materna.
Como falamos de assuntos delicados, optei por acolher o que ela trouxe, sem muita interpretação ou interferência.
Houve momentos no meio que ela optava por mudar de assunto para algo mais “leve” e a gente acabou conversando
sobre assuntos como música, filme, festas.
8. Ass. Aluno (a) Prof.
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não confia em ninguém, por que namora um cara que traiu ela com a amiga, traiu outro relacionamentos, afastou ela
de amizades? Existe um padrão de sentimentos que o inconsciente carrega consigo, e o dela é essa inferioridade. Traz
isso em discursos de baixa autoestima, discursos do pai onde reduz ela a nada, o fato de não conseguir emprego e não
saber o que estudar ou se quer estudar (faculdade), de não se achar capaz, bonita, de tentar se cortar e de algumas
vezes até conseguir. A única pessoa e figuro de apoio que ela diz ter é o namorado, que pelo próprio discurso parece
não ser de fato o que ela queria pra si, mas tolera por medo de ficar sozinha.
*Melo – 18 anos – Nome da identidade é Camila. Diz não saber se definir em questão de gênero, mas que sente mais
confortável quando chamam ele de ele. Apenas um amigo chama ele assim, o resto trata no feminino. A pouco tempo
começou a sentir isso, começou a estudar e ainda está se descobrindo. Atualmente gosta mais de meninas, mas diz
que sua sexualidade é pansexual, embora não saiba muito sobre siglas e nomenclaturas. Possui um casal de irmãos
mais velhos e uma irmã mais nova. Os pais e toda família é evangélica, possuem muita ligação com a fé, mas ele não
pensa igual. Estava em um relacionamento, mas terminou tem uma semana, pois a família da menina que é “tóxica”
(palavras que ele usou, proibiu a relação, e pra evitar problemas optaram por se afastarem. Atualmente mora em
Pouso Alegre nos dias de semana e nos finais de semana vem para São Sebastião da Bela Vista. Sua rotina é simples,
dorme a noite toda, de manhã faz um curso de T.I, chega, almoça, arruma tudo e dorme de novo. Diz não possuir
objetivos e propósitos. Perguntei do que ele gostava e o que ele gosta é completamente o oposto do que ele faz. Até o
T.I não é algo que ele ama, ele tolera e faz porque queria sair de casa e ficar sozinho, mas agora que mora sozinho
não suporta muito essa solidão. Diz que nada o atrai, que não confia nas pessoas, que perde o interesse pelas pessoas
e coisas, mas em relação a ex namorada, sentia-se bem, confortável e amava falar com ela o tempo todo. Quanto as
outras pessoas, não costuma sentir conforto, na maioria das vezes até tenta e força um contato, mas geralmente não
gosta muito das pessoas. Conta que na infância brincava muito sozinho, inventava histórias, ou brincava apenas com
uma pessoa, quando juntava mais crianças, ele se afastava e saia. Não tolera barulho, não gostava de toque físico,
mas no relacionamento descobriu que possui todas linguagens de afeto e gosta delas, só não gostava que outras
pessoas fizessem isso, mas da ex ele gostava. Sua queixa principal é estresse. Diz que guarda muita coisa pra si, que
fala alto quando algo o tira do sério, o que acontece frequentemente, mas detesta barulho. Tem mania de limpeza
quando está frustrado, angustiado. Toda vez que fala algo errado por conta de estar ansioso ou nervoso, ele se
autocorrige. Diz que ama vôlei, não liga pessoas errarem, mas ele não pode errar.
É uma mania de ser perfeito o tempo todo. Não pode errar, não pode ser imperfeito. Será que está compensando o
fato de não ser quem gostariam que ele fosse? Será que a necessidade de ser perfeito é pra compensar o fato de ser
“diferente”? Fala sobre criar pensamentos o tempo todo, como se fosse uma FanFic, perguntei se ele escreve e ele
disse que tem vontade, mas não. Essas histórias que ele pensa já tem personagens, nome, contexto e até uma capa
caso vire um blog. Incentivei isso nele, pois foi a única coisa na sessão toda que ele falou com entusiasmo. Perguntou
se pensar demais é comum. Expliquei pra ele sobre esses pensamentos neuróticos que todo ser humano tem e o que
pode ser sinais de alerta caso ocorra. Expliquei em uma linguagem acessível. Ele disse que se sente mais “normal”.
Essa palavra normal me pegou, perguntei o que seria e ele disse: como todo mundo.
Sabemos que ninguém é como ninguém, mas é nítido que ele se sente diferente por ser um POSSÍVEL (porque ele
ainda não se encontrou em nenhum gênero) garoto trans, ou fluido, ou não binário, etc ..
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