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ANHANGUERA EDUCACIONAL

ANHANGUERA EDUCACIONAL PASSO FUNDO


CURSO DE PSICOLOGIA

Vanessa Custódio Senna - RA 103979972236

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO BÁSICO


Aconselhamento em Manejo Parental na Primeira
Infância Realizado à Familiares de Pacientes do Caps
Infantil de Passo Fundo.

PASSO FUNDO
2022
Vanessa Custódio Senna - RA 103979972236

RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO BÁSICO


Aconselhamento em Manejo Parental na Primeira
Infância Realizado à Familiares de Pacientes do Caps
Infantil de Passo Fundo.

Trabalho apresentado ao Curso de


Psicologia da Anhanguera
Educacional - Passo Fundo, como
parte integrante da avaliação na
disciplina de Estágio Básico II –
Planejamento de Ações e Projetos de
Intervenção Contextualizada,
apresentando a professora
orientadora: Eliana Sardi Bortolon.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Centro de Atenção Psicossocial - CAPS

Com sua política fundamentada pela Lei Federal nº 10.216, de 6 de abril de 2001,


também conhecida como “Lei da Reforma Psiquiátrica”, que dispõe sobre a proteção
dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental no Brasil, os Centros de Atenção Psicossocial foram
criados pelo Ministério da Saúde, seguindo diretrizes e princípios do Sistema Único
de Saúde (SUS), como substituição aos hospitais psiquiátricos - antigos hospícios
ou manicômios, de forma que estes pacientes passassem a receber atendimento
ambulatorial multidisciplinar humanizado, com respeito a sua cidadania e o cuidado
em liberdade, objetivando a reinserção social, convivência solidária/inclusiva, e
estabelecimento de uma rede de relações que se estendam para além dos locais
das instituições (BRASIL 2021, Ministério da Saúde).

Centro de Atenção Psicossocial – CAPS: São instituições destinadas a


acolher pessoas com sofrimento psíquico grave e persistente, estimulando
sua integração social e familiar, apoiando-os em suas iniciativas de busca
da autonomia. Apresenta como característica principal a busca da
integração dos usuários a um ambiente social e cultural concreto, designado
como seu território, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida cotidiana
de usuários e familiares, promovendo sua reabilitação psicossocial. Tem
como preceito fundamental ajudar o usuário a recuperar os espaços não
protegidos, mas socialmente passíveis à produção de sentidos novos,
substituindo as relações tutelares pelas relações contratuais, especialmente
em aspectos relativos à moradia, ao trabalho, à família e à criatividade.
(CFP, 2013, p. 28).

Conforme dados do Ministério da Saúde, A atual política prevê a implantação de


diferentes tipos de CAPS:

• CAPS I – Serviço de atenção à saúde mental em municípios com população de 20


mil até 70 mil habitantes. Oferece atendimento diário de 2ª a 6ª feira em pelo menos
um período/dia.
• CAPS II – Serviço de atenção à saúde mental em municípios com população de 70
mil a 200 mil habitantes. Oferece atendimento diário de 2ª a 6ª feira em dois
períodos/dia.
• CAPS III – Serviço de atenção à saúde mental em municípios com população
acima de 200 mil habitantes. Oferece atendimento em período integral/24h.
• CAPS ad – Serviço especializado para usuários de álcool e outras drogas em
municípios de 70 mil a 200 mil habitantes.
• CAPS ad III – Serviço especializado para usuários de álcool e outras drogas em
municípios com população acima de 200 mil habitantes, por período integral/24h.
• CAPS i - Serviço especializado para crianças, adolescentes e jovens (até 17 anos)
em municípios com população acima de 200 mil habitantes.

Os CAPS são parte integrante da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que


é composta ainda por outros serviços de atendimento integral e humanizado, como:
Serviços Residênciais Terapêuticos (SRT), Programa Volta pra Casa (PVC), Serviço
Hospitalar de Referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno
mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool e/ou drogas,
Centros de Convivência, Unidade Básica de Saúde, Consultório na Rua e Escola de
Redutores de Danos (ERD). Segundo dados atualizados do Ministério da Saúde,
existem hoje no Brasil um total de 2.657 Centros de Atenção Psicossocial
distribuídos em todo território nacional. (Saúde Mental em dados 10 - BRASIL,
2021).

2.1.2 CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil

Conforme dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2021), o CAPSi (Centro de


Atenção Psicossocial Infantil) é uma Instituição pública de âmbito municipal,
vinculado à Secretaria de Saúde, que presta atendimento ambulatorial
multidisciplinar à crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, portadores de transtorno
mental grave, ou em uso/abuso de substâncias psicoativas, com o objetivo de
reinserção social, em municípios com população acima de 200 mil habitantes.

2.1.3 A Atuação da (o) Psicóloga (o) na Política do CAPS

De acordo com as "Referências Técnicas para atuação de Psicólogas (os) nos


CAPS", elaboradas pelo CFP (2013), dentre as atividades elaboradas por
profissionais psicólogos na instituição, devem constar: "acolhimento humanizado,
discussão de casos em equipe, psicoterapias, atendimento às crises, elaboração de
planos individuais de cuidado, grupos e oficinas, atividades dirigidas diretamente à
reinserção social, dentre outras" (CFP, 2013, p. 85). Além destas, o documento
ainda traz como referências algumas práticas inovadoras, tais como aproximação da
população rural, com a comunidade e o uso de diferentes recursos artísticos para a
execução de grupos e oficinas.

Ainda segundo o CFP (2013), quase trinta mil psicólogos atuavam no SUS em 2013.
Esse número expressivo revela a necessidade de um "redirecionamento da
Psicologia, ao lado de outras profissões da saúde, em relação à sua tradição
histórica relativa às orientações éticas, teóricas e metodológicas" (p. 78). Na
perspectiva dos serviços alinhados à Reforma Psiquiátrica, tal como o CAPS:

... o fato psíquico se inscreve, necessariamente, como fato social ..., [desta
premissa decorre] uma nova direção de intervenção no campo da saúde
mental, caracterizada pela perspectiva da atenção psicossocial, que se
colocou como orientadora do desenvolvimento do projeto institucional dos
CAPS. (CFP, 2013, p. 80).

Assim, podemos observar que os profissionais psicólogos têm como desafio em sua
prática profissional nos Centros de Atenção Psicossocial, construir a possibilidade
de um atendimento multidisciplinar, com enfoque desinstitucionalizador, intervindo
na cultura social e realizando uma crítica ao discurso biomédico e à perspectiva
reducionista acerca da experiência da loucura, que considera o sujeito apenas como
um corpo enfermo, a ser contido (em hospitais psiquiátricos) e medicado. O desafio
está posto como necessidade para o reconhecimento da dimensão cultural que
atravessa a existência desses sujeitos e conforma suas subjetividades. Tal
reconhecimento é essencial para resgatar a dimensão humana do fenômeno da
loucura e a dimensão do sofrimento que atravessa essa experiência humana (CFP,
2013).

2.2 Primeira Infância

Conforme o Ministério da Cidadania, a primeira infância é a fase do desenvolvimento


infantil que compreende o período desde a concepção até os 6 anos de idade. Este
é um período crucial, no qual ocorre o desenvolvimento de estruturas e circuitos
cerebrais, bem como a aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o
aprimoramento de habilidades futuras mais complexas (BRASIL, 2017).
O desenvolvimento infantil começa antes do nascimento e continua ao longo de
todo o ciclo da vida, sendo os primeiros anos de vida, um período crucial para sua
constituição, em todas as esferas que a compõem: afetiva, cognitiva, social, física.
Os fenômenos do desenvolvimento ocorrem em um processo complexo e contínuo,
por meio do qual a criança adquire capacidades crescentes para mover-se,
coordenar-se, pensar, sentir e interagir com os outros e com o meio que a rodeia
(OPAS, 1999). Fazem parte do processo de desenvolvimento multidimensional: a
dimensão psicomotora (capacidade de se movimentar e de coordenar os
movimentos); a dimensão cognitiva (capacidade de pensar e raciocinar); a dimensão
emocional (capacidade de sentir e ter autoconfiança); e a dimensão social
(capacidade de estabelecer relações com os outros). Essas dimensões estão
interrelacionadas e devem ser consideradas de maneira integrada. Todas as
crianças se desenvolvem segundo uma sequência ou esquema geral, mas o ritmo e
a qualidade desse processo variam de criança para criança e de cultura para cultura
(MYERS, 1991). Importante ressaltar que, desenvolvimento não é sinônimo de
crescimento. Enquanto o crescimento é definido por uma mudança no tamanho, o
desenvolvimento caracteriza-se por mudanças em complexidade e função.

2.2.1 O Desenvolvimento Cerebral na Primeira Infância

A constatação de que as habilidades e competências humanas têm seu


alicerce cerebral organizado nos primeiros anos de vida, nos obriga a repensar os
cuidados com a primeira infância. Desde as primeiras semanas de gestação,
acontece uma prodigiosa multiplicação das células que compõem o nosso cérebro,
os neurônios. Eles ainda não existem na segunda semana de gestação, mas 20
semanas depois já são 100 bilhões, interligados entre si, numa enorme rede que
chega, ainda na primeira infância, a mais de um quatrilhão de conexões. Esses
neurônios se diferenciam em grupos, funções e em espaços determinados
geneticamente, carregando poderosos programas de interação com o ambiente em
que vivemos. Os estímulos do ambiente modificam as conexões que nossos
neurônios estabelecem entre si e nos permitem ir percebendo o mundo ao nosso
redor, processando essas informações e reagindo de diversas formas a elas. A cada
ano, surgem novas evidências da neurociência de que os primeiros anos de
desenvolvimento – da concepção até o sexto ano e, particularmente, do zero aos
três – estabelecem as bases das habilidades e competências que afetarão a
aprendizagem, o comportamento e a saúde ao longo da vida (RAMIRES;
SCHNEIDER, 2007).
Nascemos com um cérebro em organização, e atravessamos um longo período
de infância enquanto suas estruturas vão amadurecendo. Esse amadurecimento se
dá em períodos determinados para cada função, e é basicamente conformado pelo
aumento e especialização das conexões entre os neurônios. A formação e o reforço
dessas ligações são as tarefas-chave do desenvolvimento cerebral inicial.
Particularmente, do nascimento até os três anos de idade, vive-se um período
crucial no qual se formarão mais de 90% das conexões cerebrais, isto é, as sinapses
que ligam os neurônios uns aos outros. Segundo Kandel e Jessel, o detalhamento
da formação da rede de neurônios do cérebro é dependente de interações
específicas com o meio ambiente. A influência do ambiente no cérebro muda com a
idade e profundos efeitos ocorrem nas fases iniciais do desenvolvimento pós-natal.
Uma das descobertas mais significativas é a importância dos estímulos externos
para a organização dessas redes neuronais (RAMIRES; SCHNEIDER, 2007).

2.3 Conceituando a Parentalidade

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1989).

Segundo Barroso; Machado (2010), no que tange os aspectos da citação acima


dentro do relacionamento familiar, é esperado que os progenitores/cuidadores
facilitem o desenvolvimento dos seus descendentes a nível físico, psicológico e
social. Ao conjunto de tarefas necessárias para este efeito deu-se o nome de
parentalidade, isto é, à prática ou ação de educação, à forma (processo) como os
progenitores/cuidadores cuidam de seus filhos.
Com a evolução dos estudos sobre Parentalidade e Neuropsicologia do
Desenvolvimento Infantil, é possível comprovar através das pesquisas o que muitos
pais já suspeitavam, de que a maneira como eles interagem com o filho nos
primeiros anos e as experiências que possam proporcionar ou encorajar têm um
impacto significativo sobre o desenvolvimento cognitivo, emocional, físico e social da
criança.
O estilo de comportamento da mãe ou do principal cuidador, quão disponíveis e
apropriadas são suas respostas, interfere nos laços de apego, contribuindo para as
suas características. É nessa base que as crianças estarão construindo expectativas
acerca do comportamento das suas figuras de apego, representações do self, das
pessoas e do mundo ao seu redor, e das interações entre ambos. E é também sobre
esta base, que poderá ser uma base segura ou não, que a criança pequena estará
capacitada para explorar o mundo, ter curiosidade, aprender, interagir (BOWLBY,
1990). Enfim, pode-se afirmar que a qualidade dos cuidados recebidos na primeira
infância é decisiva para o desenvolvimento saudável da criança. A capacidade de
percepção, a memória, o desenvolvimento da linguagem, da atividade simbólica e
das estruturas de pensamento, todas essas são dimensões sensíveis à qualidade
desses cuidados.

2.4 Disciplina Positiva – Uma Nova Perspectiva para Educar

A Disciplina Positiva é baseada na filosofia e nos ensinamentos de Alfred Adler


e Rudolf Dreikurs, os quais acreditam ser possível educar os filhos com firmeza, sem
a aplicação de punições, ameaças, ou recompensas e avaliando o desenvolvimento
cognitivo/emocional da criança como parâmetro importante a se considerar ao
educar. Conforme a psicóloga e educadora Jane Nelsen, autora da obra “Disciplina
Positiva”, trata-se de uma opção melhor que castigos, palmadas, gritos e outras
formas de intimidação, e neste método, a criança deve ser respeitada, tratada com
dignidade e os cuidadores devem priorizar a construção do vínculo familiar com
afeto e conexão. Esta nova filosofia de educação garante mais autonomia à criança,
contribui para melhorar seu otimismo, autoestima, autoconfiança, ao mesmo tempo
em que determina limites para suas ações por meio de regras claras e firmes.
O método elaborado pela doutora Jane Nelsen, baseia-se em cinco princípios
básicos:

1. Gentil e firme ao mesmo tempo: oriente seu filho sendo respeitoso e encorajador,
mesmo quando o mau comportamento acontecer.
2. Promove nas crianças um senso de pertencimento e importância: ajude seu filho a
sentir uma forte conexão com você e sua família.
3. Soluções e ações são eficazes a longo prazo: O objetivo não é apenas
interromper comportamentos com punições (curto prazo), mas ajudar as crianças a
desenvolver comportamentos positivos, novos e aceitáveis por meio de soluções e
aprendizado.
4. Ensina habilidades sociais e de vida valiosas para o bom caráter: incentive seu
filho a ser respeitoso, mostrar preocupação com os outros, aprender a resolver
problemas, ter responsabilidade, contribuir e cooperar em casa, na escola e na
comunidade.
5. Convida as crianças a descobrirem quão capazes são e a usarem seu poder
pessoal de maneira construtiva.
10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

________. Lei No 10.2016- de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os


direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Brasília; DF, 2001.

Conselho Federal de Psicologia. Referências Técnicas para Atuação de


Psicólogas(os) no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial. 1. Ed. Brasília,
2013.

SCHNEIDER, Alessandra ; RAMIRES, Vera Regina. Primeira Infância Melhor: uma


inovação em política pública. Brasília : UNESCO, Secretaria de Saúde do Estado do
Rio Grande do Sul, 2007.

MYERS, R. Um tempo para a infância. Portugal: UNESCO, 1991.

BOWLBY, J. Apego: a natureza do vínculo. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,


1990. 423 p. (Apego e perda; v. 1).

SIEGEL, Daniel J. ; BRYSON, Tina Payne. Disciplina sem Drama: Guia prático
para ajudar na educação, desenvolvimento e comportamento dos seus filhos. São
Paulo: Nversos, 2016.

SIEGEL, Daniel J. ; BRYSON, Tina Payne. O Cérebro da Criança: Estratégias


revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua
família a prosperar. São Paulo: Nversos, 2015.

BARROSO, Ricardo G. ; MACHADO, Carla. Definição, Dimensões e


Determinantes da Parentalidade. Psychologica, volume 52, 211-229, abril, 2010.

NELSEN, Janet. Disciplina Positiva: O Guia Clássico para pais e professores que
desejam ajudar as crianças a desenvolver autodisciplina, responsabilidade,
cooperação e habilidades para resolver problemas. 3. ed. Barueri: Editora Manole,
2016.

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