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A AVALIAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL NUM CONTEXTO

INCLUSIVO
Janice Macêdo da Matta Simões
Bacharel em Administração de Empresas, Licenciada
em Letras com Inglês, Psicopedagoga, aluna Pós-
graduação em Educação Especial – UEFS FS/BA
jenglish.teacher@yahoo.com.br
jani_teacher_psicopedag@yahoo.com.br
danijane@ig.com.br

"Nosso verdadeiro papel, como educadores, é o de remover


dificuldades. Cada criança traz das regiões divinas algo de novo
para o mundo, e é nossa tarefa como educadores a remoção dos
obstáculos físicos e psíquicos de seu caminho, de forma a
permitir que seu espírito adentre a vida em total liberdade."
(Rudolf Steiner)

Resumo. Este artigo versa sobre a inadequação das regras da avaliação educacional da
escola regular firmada em parâmetros ultrapassados e que, no caso do aluno deficiente
mental, desconsidera as diferenças na aprendizagem, o que leva a uma fuga pela exclusão
proveniente da negativa da oportunidade de inclusão e falsa expectativa do fracasso
eminente. A necessidade que outros recursos sejam utilizados para superar as diferenças
para que o deficiente mental tenha oportunidade de vivenciar a superação através da
maximização de suas potencialidades, como pregam Adler e Waldorf que sugerem uma
abordagem holística, onde a avaliação do aprendizado é caracterizada pela
predominância e consideração dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, aptidões e
potencialidades individuais, estimulando-se a criatividade. O estudante deve ser avaliado,
de maneira geral, como ser humano único com suas próprias especificidades e alteridade.
Palavras-chave: Avaliação do aluno com deficiência mental.

Abstract. This paper shows inadequation on students evaluation rules with or without
different learning skills. That, in case of mental handicap student, don´t take into account
the evasion caused from a false expectation of failure. Even the student is contaminated as
the ones who deal with him share the same feeling. We have urgency in utilize other
resources to overcome the differences, so that the mental handicap student could have the
opportunity to take part of his learning superation process by this potential maximinization
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as Addler and Waldorf suggest in their holistic approach: learning evaluation must be
characterized by prevailing of qualitative aspects over quantitatives plus consideration
and stimulus of individual potential and criativity, step by step. An observation Schedule
must be consider as evaluative tool. Students in a general way have to be evaluated as
unique original human being with own specificities and alteracity.

Keywords: Mentally handicap student evaluation.

1. Introdução
A prática pedagógica e as regras de avaliação educacional, em geral, se encontram
desatualizadas e inadequadas ao objetivo dos processos avaliativos, em especial no caso do
aluno com deficiência mental. Tal prática desconsidera: as diferenças no processo de
aprendizagem, as características, os progressos alcançados em relação ao potencial e o
estimulo individual à plasticidade cerebral1.
Isso mostra uma falha não só no campo das práticas pedagógicas, mas nas regras que
regem o processo avaliativo de forma geral, independendo se nos referimos ao sistema
público ou privado de ensino.
Novas medidas voltadas à inclusão social do aluno com necessidades educativas
especiais surgem a cada dia. Desde as mais simples adequações como as adaptações
artesanais ao uso de teclados e mouse às mais complexas invenções tecnológicas.
Em contraponto, as adaptações físico-estruturais, curriculares, o alto número de
alunos em sala de aula e o despreparo da equipe gestora e docente são grandes obstáculos
que urgem ser resolvidos para que as propostas educacionais alcancem os objetivos
pretendidos.

2. Entraves no processo de aprendizagem:


As diferenças em sala de aula não são, como se supõe, entraves no processo de
desenvolvimento da aprendizagem. Na realidade, por baixo das aparências a maior
deficiência está no sistema educacional. Defasado, perdido e desconexo, como um navio à
deriva, sem comandante nem equipe competente que o guie, não dá conta não apenas do
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trajeto a ser percorrido, como também das medidas adequadas possíveis aos eventos
inesperados. É sempre pego de surpresa diante das mudanças positivas ou negativas
existentes ou trazidas na esteira da modernidade.

3. A avaliação para excluir as diferenças:


Mini-indústrias existentes em escolas polivalentes, outrora meios de desenvolver
conhecimento através de práticas que uniam o teórico ao empírico, dando ao aluno
oportunidade de se acreditar como sujeito capaz, atuante e produtivo, se consolidaram em
refugo do investimento público ao bel prazer da poeira e da ferrugem. O mesmo ocorre com
todo o acervo bibliotecário e equipamentos de informática que se perdem por mau uso,
extravio, condições inadequadas de conservação ou pelo abandono. Faltam condições para
gestar, faltam pessoas a quem delegar, faltam medidas para sanar esse desperdício de
recursos.
Professores inabilitados são jogados às séries iniciais, que, muitas vezes, cometem o
pecado de não trabalhar conceitos morais, desenvolvimento de habilidades cognitivas,
motoras, fatores socializadores, dentre outras competências em nossas crianças. O resultado
de tal falha é um despreparo na aquisição do pleno desenvolvimento sócio-educacional
através de uma base estruturada que as capacitem ao convívio social, desenvolvendo
aprendizagem e respeitando as diferenças.
Muitos fingem não enxergar o fato absurdo de crianças chegarem às séries do ensino
médio sem ao menos terem desenvolvido suficiente coordenação motora para escreverem o
próprio nome, para não falar da aquisição de quase que nenhum conteúdo programático.
Mas, o tempo passa e o sistema deficiente agora se encontra diante do “problema” de
receber (integrar), ou melhor INCLUIR o aluno com deficiência em sala de aula e,
transformar essa sala em um ambiente acolhedor, participativo onde ocorram as trocas
psicossociais que tanto favorecem a unidade educacional.
As práticas pedagógicas avaliativas seguem as regras ditadas pelo modelo de
classificar o aluno no ranking da dicotomia aprovação / reprovação, de modo excludente e
segregatório. O tempo reclama e ecoa a necessidade de avaliarmos os ganhos no processo de
aprendizagem e revertermos os “fracassos” ao seu verdadeiro lugar de “Instrumento” retro-
alimentador do método e prática pedagógica, dentro e fora da sala de aula.
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Assim, a avaliação perde sua validade e se transforma em mais um instrumento que


leva o aluno a uma fuga causada pela exclusão proveniente da falsa expectativa de fracasso
“eminente”, que lhe é imposto pelo (pré) conceito impingido por uma sociedade Deficiente,
Preconceituosa, Falha e, até mesmo pelo próprio seio familiar.

“Há escolas que são gaiolas. E há escolas que são asas, que
existem para dar aos seus alunos a coragem de voar.”
(Rubem Alves)

Janice Macêdo da Matta Simões


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REFERÊNCIAS

ADLER, A. Le Tempérament nerveux. Paris: Payot, 1948.


Aprende Brasil. Ano3 – n. 17 – junho/julho de 2007, p. 32.
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial. Estratégias e Orientações
para Educação de Alunos com dificuldades Acentuadas de Aprendizagem.
FADIMAN, J. et all. Teorias da Personalidade", ed. Harbra - 1980
McALLEN, Audrey, in: www.recursosespeciais.com – Pedagogia Waldorf
MORAES, Maria Cândida. Doutora/Professora em Educação pela PUC/SP. Responsável
pela formação dos primeiros professores da rede pública de ensino para uso de
computadores na educação. No “I Congresso Internacional de Inovação em Educação”.
Disponível em <http://blog.aprendaki.net/2007/06/20/entrevista-maria-candida-de-
moraes>>
PIAGET, Jean. Ensaio sobre as relações entre as regulações orgânicas e os processos
cognoscitivos. Trad. Francisco Guimarães. Petrópolis: Vozes, 1973.
Rudolf Steiner, A Prática Pedagogócia (São Paulo: Ed. Antroposófica), palestra de
20/4/1923, GA 306
VYGOTSKY, L.S. et all. Desenvolvimento e Aprendizagem. Tradução Maria da Penha
Villalobos. São Paulo. Ícone, Editora da Universidade de São Paulo, 1998, 226p. Cap. 2 p.21-
38.
WEINER, B. & KUKLA, A. Uma análise atribucional na aquisição da motivação. Jornal da
Psicologia Social e Personalidade, v.1, p.1-35, 1970.
www.ime.usp.br
www.waldorfworld.net

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