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Introdução

A sociedade atual tem exigido um desempenho académico cada vez mais eficaz e um
conhecimento de si mesmo cada vez maior e mais preciso. É neste sentido que se impõe o
estudo do insucesso escolar , enquanto opositor do sucesso individual.

O insucesso escolar tem sido objeto de diversos estudos ao longo dos tempos, dada a
sua relevância para a vida profissional, pessoal, social e emocional dos estudante, acredita - se
que, apesar das crianças com insucesso não manifestarem comportamentos específicos ou
desajustados visíveis, as suas dificuldades podem causar danos na personalidade de quem as
possui.

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Inicio do fenómeno insucesso escolar

O problema de Insucesso Escolar surgiu fundamentalmente quando a escola se


tornou obrigatório, pois até o século XX, dado às várias dificuldades existentes, poucas
eram as crianças que frequentavam as escolas. O fenómeno de Insucesso Escolar
massivo existente inicia-se com o ensino de massa e intensifica-se com a massificação
do ensino.

Segundo Freire, M. F (2006) apud Cabrita, I (1991; P: 12) explica o insucesso


escolar a partir de uma matriz individual, com rejeição de factores a ele exteriores, serão
atribuídas as causas pedagógicas e psicológicas e onde o aluno era catalogado de
“desléxico” portador de desfuncionalidades cerebrais, ‘variações genéticas’ ‘patologias
adenoidais’.

Freire, M. F (2006) ap. Isambert – Jamati, (1985) afere que antes dos anos 60
do século passado, a preocupação com o fracasso escolar massivo das crianças
provenientes das denominadas camadas populares era diminuta, pois tal fracasso estava
na ‘ordem das coisas’ ficando durante bastantes anos o culpado por uma estrutura
escolar que justapunha duas ideias educativas compartimentadas: um popular, que
desembocava na vida activa e outra mais elitista, que preparava para estudos superiores.

No entanto, desde que se passou a considerar a educação como um investimento,


o fracasso escolar massiço tornou-se um problema social observando-se a transformação
das classes sociais e o desenvolvimento da escolarização. Assistiu-se a uma onda de
interpretações predominantemente «socializantes» ou política do fracasso escolar
apontando o dedo às condições degradadas do meio socio-económico, da família dos
alunos ou às deficiências do sistema educativo em geral, como se as pessoas mais
directas (o próprio aluno, os professores e os pais) fossem inocentes e pudessem “lavar
as mãos” incapazes de lutar contra o fatalismo imposto do exterior e de assumir as suas
responsabilidades.

O insucesso escolar que conhecemos hoje é datada de há bem poucos anos. Esta
noção passou gradualmente do campo da psicologia ao da sociologia. Porém ela não fez
essa passagem em todos os locais e ao mesmo tempo.

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Foi sobretudo por volta dos anos 80 que se tentou esclarecer esta noção de
Insucesso Escolar, mesmo que já tivesse tentado encontrar soluções para a situação que
a realidade das aulas tornava evidente.

Conceito de insucesso escolar

O dicionário universal da língua portuguesa (1997) define o insucesso como


falta de bom êxito ou mau resultado ou falta de eficácia ou fracasso ao longo de uma
determinada tarefa. Ao nível da educação o termo insucesso significa o fraco
rendimento escolar do aluno ou seja o aluno que não conseguiu obter a nota mínima
estabelecida no sistema de avaliação.

No campo educacional, o termo insucesso ou fracasso escolar é utilizado no


âmbito do sistema do ensino aprendizagem, geralmente, para caracterizar o fraco
rendimento escolar dos alunos que, por razões de vária ordem, não puderem, alcançar
resultados satisfatórios no decorrer ou no final de um determinado período escolar e, por
conseguinte, reprovarem.

Fatores que influenciam na ocorrência do fenómeno

A procura de explicações para problemática do insucesso escolar tem sido uma


preocupação constante ao longo das últimas décadas.

Segundo Tavares (1998), as causas do insucesso escolar estão relacionadas com vários
factores tais como:

 Factores extra-escolares e escolares

 Factores individuais do aluno

Fatores extra - escolares e escolares

Dentro dos factores extra- escolares destacam - se como fundamentais:

As características socio-económico e culturais da comunidade pedagógica; a origem


Sociocultural do aluno e o modo como se processou a sua inculturação; a profissão e a

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habilitação dos pais e o ambiente familiar; o tipo de habitação em que vivem e a
distância a escola.

Dento dos fatores escolares destacam – se:

As habilitações e a preparação do corpo docente; os conflitos institucionais; as relações


professor - professor, professor - aluno, pessoal auxiliar – aluno e professor – pessoal
auxiliar; existência e disponibilidade de equipamentos didáctico; estado de conservação
das instalações e mobiliário; recreio e sala de convívio.

No caso dos professores que usam métodos de ensino, recursos didácticos, técnicas de
comunicação inadequadas às características da turma ou de cada aluno, fazem parte
igualmente de um vasto leque de causas que podem conduzir a uma deficiente relação
pedagógica e influencia negativamente os resultados. Na escola o professor deve estar
sempre atento as etapas do desenvolvimento do aluno, colocando-se na posição de
facilitador da aprendizagem e calcando seu trabalho no respeito mutuo, na confiança e
no afecto “ele deverá estabelecer com seus alunos uma relação de ajuda, atento para as
atitudes de quem ajuda e para a percepção de quem é ajudado”.

É de suma importância, portanto, que o professor conheça o processo da aprendizagem


e esteja interessado nas crianças como seres humanos em desenvolvimento. Ele precisa
saber o que seus alunos são fora da escola e como são suas famílias.

A gestão da disciplina na sala de aula, é um outro factor que condiciona bastante o


resultado dos alunos.

Fatores individuais dos alunos

Refere-se ao próprio aluno, ou seja, às suas características individuais e


inerentes nomeadamente o seu grau de inteligência, a sua capacidade de assimilação, o
seu entusiasmo ou a sua apatia em relação aos colegas e professores ou às matérias do
ensino. Estas características individuais referem-se também aos aspectos físicos e
psicológicos de cada aluno.

Teorias explicativas do insucesso escolar segundo

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(Gonçalves, 2002). Existem três teorias explicativas do insucesso escolar e merecedoras de
destaque pela sua importância que marcou três épocas distintas:

1. teoria dos dotes individuais,


2. teoria do handicap Sócio - cultural e
3. teoria sócio – institucional.

Teoria dos dotes individuais

Identifica o aluno como principal responsável do seu sucesso escolar, sendo que
este está depende das capacidades e da inteligência da criança ou jovem em questão.
«Apoiada na convicção de que a inteligência é hereditária, um ponto de partida na vida
de cada indivíduo, esta teoria baseia-se nas “medidas” da inteligência (essencialmente
através dos testes), medidas que revelam a existência de consideráveis diferenças
individuais» (Benavente e Correia, 1980, p. 10). Como seria de esperar, esta teoria
embora fortemente criticada pelos meios académicos e científicos, é a que prevalece na
opinião dos professores e da escola, sendo que desculpabiliza os demais sujeitos
intervenientes no processo e encara o aluno como o único responsável pelo seu percurso
académico.

Teoria do handicap sócio – cultural

Que defende que a criança quando chega à Escola traz consigo uma herança
cultural que se traduz nas suas origens e que se reflete nas diferentes condições de vida,
sendo assim, esta teoria sustenta que estas desigualdades sócio – culturais poderão
desencadear o insucesso escolar das crianças mais desfavorecidas socialmente, pelo
facto de se considerar que a sua herança sócio -cultural possa estar mais desajustada do
modelo cultural aplicado na escola.

Teoria sócio – institucional

Que segundo (Almeida, 1994) o insucesso escolar surge também associado à


escola, pelo facto que a instituição não consegue lidar com as diferenças encontradas

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entre as diferentes classes sociais dos alunos, estando assim o problema generalizado à
escola e aos professores.

Expectativas familiares

Tal como refere Lahire (1977), a família assume um papel essencial na vida
escolar dos jovens, visto que é através da família que estes jovens recebem as
motivações e daí interiorizam as suas ações e comportamentos, sendo que estas crianças
aprendem por observação ou por imitação dos adultos que lhe são próximos. Assim
sendo, as atitudes, condutas e valores dos adultos tornam-se o centro da atenção dos
jovens.

Para o autor Pardal (2000), o nível de qualificação escolar da família está


associado ao sucesso ou insucesso escolar do aluno, na medida em que pais com maior
qualificação, geralmente possuem uma maior perceção da sociedade e do mercado de
trabalho, acabando por motivar os seus filhos nas melhores escolhas profissionais,
sendo notório que esta situação na generalidade das situações se atribui às classes mais
favorecidas.

Por outro lado, ao invés de fatores de ordem cultural e social, Martins (1993)
atribui as causas do insucesso escolar ao meio familiar de proveniência do aluno, uma
vez que os pais não lhes incutem aspirações e expectativas que lhes permitam na escola
competir com os outros grupos sociais.

É desta forma que o nível de instrução da família, o tipo de consumo e a posse


de bens culturais criam aspirações e atitudes diferenciadas perante o saber, com
influência sobre o desenvolvimento cognitivo, sobre as escolhas e o sucesso escolar dos
seus filhos, incutindo-lhes uma perspetiva de futuro próximo com custos reduzidos, ao
invés das classes com capital cultural médio-alto que facultam aos seus filhos
orientações mais corretas e relacionadas com um futuro onde a qualidade e o prestígio
estão presentes. Da mesma opinião é Fonseca (1999) que também enumera as atitudes
dos pais, o interesse e o encorajamento, bem como o grau de estimulação e de interação
linguística, enquanto fatores determinantes no ajustamento social da criança e nos seus
resultados escolares.

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A questão familiar é também levantada por Almeida et al. (2005), afirmando
que o sucesso está mais garantido quando na família se encontram as perceções,
orientações, disposições, valores e hábitos culturais rentabilizados pela escola.

Portanto, as expectativas familiares em relação ao rendimento escolar do aluno


são indispensáveis e poderão incutir o sucesso ou insucesso escolar dos jovens, na
medida em que alunos com pais interessados e preocupados com a sua aprendizagem
terão mais desembaraço em encontrar o sucesso escolar, ao contrário de jovens em que
a sua família é desinteressada, passa por contrariedades económicas e preferem que os
filhos procurem um trabalho que possa ajudar no sustento familiar, em vez de
desperdiçarem tempo com os estudos.

O papel da escola

As escolas são instituições imprescindíveis para o desenvolvimento e para o


bem-estar das pessoas, das organizações e das sociedades. É nas escolas que a grande
maioria das crianças e dos jovens aprendem uma diversidade de conhecimentos e
competências que dificilmente poderão aprender noutros contextos. Por isso mesmo elas
têm que desempenhar um papel fundamental e insubstituível na consolidação das
sociedades democráticas baseadas no conhecimento, na justiça social, na igualdade, na
solidariedade e em princípios sociais e éticos irrepreensíveis.

Para muitos milhares de alunos, a escola constitui uma oportunidade única para
romper com situações económicas e sociais desfavoráveis e precárias. Certamente por
essa razão muitos pais sempre se sacrificaram para que os seus filhos a frequentassem.
Aprender deve constituir o primeiro propósito da vida escolar. Exige esforço por parte
dos alunos e o reconhecimento de uma hierarquia – os professores têm conhecimentos
que os alunos não têm e que precisam de aprender. Ensinar constitui outro incontornável
propósito da escola que exige, da parte dos professores, a mobilização de uma
significativa variedade de conhecimentos e competências.

Um número crescente de filósofos, sociólogos e estudiosos da educação vem


defendendo que o desenvolvimento do currículo, o ensino e a aprendizagem, têm que se
centrar no que Michael Young designa por conhecimento poderoso, ou seja, o
conhecimento especializado que os professores têm que dominar com segurança. O

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conhecimento poderoso está associado ao conhecimento teórico, mais independente de
contextos, e, consequentemente, tende a ter uma aplicação mais universal.

O conhecimento prático e o conhecimento de procedimentos estão normalmente


dependentes de contextos específicos e são, por isso, mais situados, mais localizados e
menos susceptíveis de utilização generalizada.

Nestas condições, as disciplinas escolares constituem elementos centrais na


definição dos propósitos das escolas porque são meios fundamentais para aprender e
para conhecer “coisas” que, para a maioria dos alunos (jovens ou adultos), não é
possível aprender noutro lugar. A valorização da escola, como meio de partilha e
difusão do conhecimento poderoso, não deve, no entanto, estar associada à
desvalorização de outros meios, mais ou menos informais, onde se pode aprender e
desenvolver outros tipos de conhecimento . As relações entre os conhecimentos
escolares e os não escolares são complexas e podem assumir intensidades muito
variadas. É uma área que interessa a muitos investigadores e pedagogos.

As escolas são decisivas para que os jovens compreendam o mundo em que


vivem e para que possam intervir crítica e responsavelmente na vida social.
Consequentemente, é importante valorizar o conhecimento escolar, no sentido do
conhecimento poderoso, que constitui um meio incontornável de emancipação e de
independência dos cidadãos, assim como de democratização, de coesão e de bem-estar
das sociedades. É sobretudo para isso que as escolas servem e é também por isso que a
sua importância não se devia questionar.

Por esta razão, cabe à escola manter o equilíbrio entre os domínios cognitivo,
afectivo e psicomotor, mantendo uma atitude de igualdade face a diferenças raciais,
étnicas, sócio-económicas ou religiosas.

Isto para que também os aspetos da personalidade dos alunos que ensina sejam
tidos em conta, sobretudo no que se refere ao autoconceito, sendo ele uma componente
fundamental no ato de aprender.

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Consequências do insucesso escolar nos alunos

Afirma Fonseca (1999) que a criança com problemas escolares é sintoma de uma
sociedade em segregação e está sujeita a uma dupla repressão ideológica (por um lado a
família, por outro a escola). As aprendizagens escolares surgem à criança como
“fantasmas repressivos, os quais resultam numa multiplicidade de fracassos escolares,
conducentes possivelmente a condutas sociopatológicas e à delinquência” (Fonseca,
1999, p. 348).

A não adaptação escolar é, portanto, o primeiro passo para uma perturbação


mental e que pode afetar os indivíduos, não só no plano social e económico, como
também no plano educacional e cultural. Ademais:

“Uma criança com insucesso escolar transporta um peso frustacional, que se reflete na
família, no professor e no grupo dos seus companheiros. Este aspeto, para além de ser
impregnado de tendências antissociais que se verificam mais tarde, converteu-se num
sentimento de autodesvalorização e autosubstimação que urge combater.

Além das implicações na vida social, o insucesso na escola pode influenciar a


vida pessoal dos alunos, concretamente no que respeita ao seu autoconceito e
autoestima, conforme se menciona mais abaixo. Ao longo dos anos tem vindo a ser
estudada esta relação, concluindo-se acerca do carácter bidirecional do fenómeno, isto é,
tanto o baixo autoconceito pode agravar o insucesso escolar, pode contribuir para o
baixo autoconceito dos estudantes.

O fracasso escolar traz consigo a infelicidade da criança, a falta de confiança em


si própria no presente e com graves reflexos futuros. A visão que cada um tem de si
próprio é marcada profundamente pelo sucesso ou insucesso.

O sentimento de frustração de falta de confiança em si mesmo por vezes é tão


intolerável que força o adolescente ou o jovem a procurar refugio na droga e mesmo em
caso extremo a morte. Outras vezes, o aluno procura-se afirmar se demonstrando os
seus poderes através de actividades marginais.

Formas de combate ao insucesso escolar

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A colaboração da família com a escola é de extrema importância, tentando
desenvolver estratégias que possam assim melhorar o desempenho dos alunos, passando
por criar um elo de ligação e cooperação entre a escola e os pais impulsionando a
entreajuda e fomentando o espírito de equipa e a construção de parcerias que apoiem a
qualidade do ensino.

A visita regular dos pais à escola motiva e estimula o bom aproveitamento


escolar.

A criação de apoios e complementos educativos que permitem promover o


sucesso escolar, como por exemplo: apoios e complementos educativos a alunos com
necessidades escolares específicas, apoio psicológico e orientação escolar e profissional,
ação social escolar e apoio de saúde escolar.

Criação de Reforma do Sistema Educativo, com incidência na forma de


avaliação das aprendizagens, nas adaptações curriculares, na administração e gestão dos
estabelecimentos de ensino, na formação de professores, entre outros domínios, tem
como finalidade última o incremento do sucesso escolar.

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Conclusão

Contudo, torna - se difícil delimitar as responsabilidades do fenómeno do


insucesso escolar, sendo ele o resultado de um amontoado de fatores que atuam de
modo coordenado. Assim, a conjunção de características individuais, o choque entre a
cultura escolar e a familiar e as influências de outros fatores sociais e culturais mais
amplos conspirarão para tornar altamente provável a experiência do insucesso. Porém, a
existência do mesmo não pressupõe que todos estes fatores tenham necessariamente de
coexistir, pois, em alguns casos, são elementos de tipo individual que precipitam a
existência das dificuldades escolares.

Por isso, a tarefa educativa de identificar e de acompanhar este presente


problema do homem, mantendo vivo o amor pelo saber, despertando o coração e pondo
em marcha a sua razão e a sua inteligência.

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Referencias bibliográficas

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Introdução....................................................................................................................................1
Inicio do fenómeno insucesso escolar.........................................................................................2
Conceito de insucesso escolar.....................................................................................................3
Fatores que influenciam na ocorrência do fenómeno................................................................3
Fatores extra - escolares e escolares.......................................................................................3
Fatores individuais dos alunos................................................................................................4
Teorias explicativas do insucesso escolar segundo....................................................................5
Teoria dos dotes individuais....................................................................................................5
Teoria do handicap sócio – cultural........................................................................................5
Teoria sócio – institucional......................................................................................................5
Expectativas familiares................................................................................................................6
O papel da escola.........................................................................................................................7
Consequências do insucesso escolar nos alunos........................................................................9
Formas de combate ao insucesso escolar.................................................................................10
Conclusão...................................................................................................................................11
Referencias bibliográficas..........................................................................................................12

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