Você está na página 1de 11

FACULDADES INTEGRADAS APARÍCIO CARVALHO – FIMCA

VILHENA SOCIEDADE DE PESQUISA EDUCAÇÃO E CULTURA, DR.


APARÍCIO
CARVALHO DE MORAES LTDA

LEANDRA SAIB ANDRADES AZEVEDO


ESTEFANNI CRISTINA TEIXEIRA DE ARAÚJO

O GRITO PELA IGUALDADE


(ANALISE CRITICA DO FILME QUE HORAS ELA VOLTA?)

VILHENA
RO- 2023
LEANDRA SAIB ANDRADES AZEVEDO
ESTEFANNI CRISTINA TEIXEIRA DE ARAÚJO

O GRITO PELA IGUALDADE


(ANALISE CRITICA DO FILME QUE HORAS ELA VOLTA?)

Trabalho referente a disciplina de


Psicologia escolar apresentado no
curso de Psicologia da FIMCA –
Vilhena. Orientado por Aline Alves de
Moraes.

VILHENA
RO- 2023
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo falar acerca da desigualdade social e cultural, utilizando
como base as contribuições da Psicóloga Maria Helena Souza de Patto através de seus livros
psicologia e ideologia como também o livro uma introdução a Psicologia Escolar, e fazendo
uma análise crítica do filme que horas ela volta.
A desigualdade social e cultural é presente no Brasil, assim como a diferença econômica,
diante disto Maria Helena Souza de Patto retrata que a classe dominada esta as margens da
sociedade, e que a mesma sofre de forma injusta não só na esfera escolar, mas também no
mercado de trabalho dificultando também o acesso as oportunidades.
A desigualdade social é uma característica forte do brasil, a classe dominante ainda
domina devido os discursos que fortalecem esta classe e de certa forma inferiorizam a classe
dominada.
O filme que horas ela volta ressalta a importância do pensamento critico por parte da
classe marginalizada, bem como a sua resistência diante da desigualdade, o que leva a pensar na
esperança de ter um mundo mais igualitário, onde se enxergue o indivíduo além de suas
dificuldades, e sim alguém que possui direitos, e merece viver em igualdade.
Em diversos momentos o filme retrata a desigualdade social, em seus diversos aspectos,
a forma como a classe dominada é posta as margens da sociedade, e de que forma a classe
dominante se posiciona diante da classe dominada, qual o comportamento que ambas fazem que
reforçam suas posições no meio social.
A carência cultural é vista como uma escolha do indivíduo, sendo ignorado totalmente a
estrutura social e histórica que contribuem de forma incisiva para a situação ao qual o indivíduo
está vivenciando, a ideia a ser discutida é que o individuo não nasce com a carência cultural,
mas é vítima do sistema desigual presente em nossa sociedade
O presente trabalho também aborda acerca da educação bancaria, que visa o aluno como
um recipiente vazio a ser preenchido, eliminando a possibilidade de enxergar as suas
potencialidades e a troca de conhecimento entre aluno e professor.
O GRITO PELA IGUALDADE
(ANALISE CRITICA E FUNDAMENTAÇÃO TEORICA)

A princípio o filme “que horas ela volta?”, retrata a desigualdade social e cultural de
muitas famílias brasileiras, de forma explicita. Nos primeiros minutos do filme, observa-se que
Val, uma pernambucana interpretada por Regina Casé, é a baba e empregada da casa, que se
muda para São Paulo para sustentar a filha, e também em busca de melhorias de vida, deixando
a filha por nome Jéssica, interpretada por Camila Márdila sob cuidados de Sandra, que
possivelmente é parente da mesma.
O único meio de comunicação que Val utiliza para ter contato com a filha, é via telefone
e celular, devido as condições financeiras não serem favoráveis, impedindo assim um possível
encontro pessoal.
Fica claro em todas as cenas do filme, que Val faz parte da classe dominada, pois seus
direitos são violados, e isto não é perceptível por Val, e sim após a chegada de sua filha, que faz
críticas ao comportamento e pensamento da mãe, em relação a algumas atitudes suas dentro do
seu ambiente de trabalho.
Patto (2022), relata em seu livro Psicologia e Ideologia, sobre a teoria da carência
cultural, onde as minorias raciais estão à margem da sociedade, ou seja, separado do resto da
sociedade, devido não conseguirem se inserir de forma permanente no mercado de trabalho, e
está dificuldade se dá porque a inserção do indivíduo no mercado de trabalho só é possível se ele
atingir um grau mínimo de escolaridade.
A saída de Val, para outra cidade em busca de trabalho, sua função como babá e
empregada doméstica, o fato de que Val teve que se sacrificar, para que a filha pudesse dedicar-
se aos estudos, só reforça o que foi exposto no parágrafo acima.
Val esta as margens da sociedade, seus patrões fazem tamanha acepção que o sorvete
(com valor mais alto) que eles ingerem, não pode ser o mesmo que a Val degusta ( valor baixo),
além disto a colocam para dormir em um quartinho apertado, onde há pouca ventilação, fazendo
com que ela perca o direito de descansar, e de curtir sua privacidade, e em nenhum momento a
encoraja e oferecem ajuda, para que ela possa ter sua própria casa, fingem não conhecer as leis
trabalhistas, porque de certa forma isso é benefício para Bárbara e Carlos, que são de fato a
classe dominante.
A classe desprivilegiada não é enxergada e é posta as margens, devido sua cultura ser
vista como uma cultura inferior, ou seja, terem uma carência cultural que faz com que haja a
classe que domina, pois possuiu maior conhecimento devido as oportunidades serem geradas por
meio do dinheiro o que não ocorre muita das vezes na classe dominada.
Observa-se que durante a festa dada por dona Barbara em sua casa, enquanto Val servia
os aperitivos, nenhum dos amigos de Bárbara olhavam diretamente no rosto de Val, assim como
por muitas vezes a patroa finge que não a vê, o único momento em que Bárbara desperta e
reconhece de fato a existência de Val, é quando ela pede as contas, no mesmo instante, são feitas
perguntas como: Foi algo que fiz? está chateada comigo? está tendo fofoca? É o motorista que
está falando algo no seu ouvido? Você quer um aumento?
É uma realidade que não necessita de aprofundamento para si tornar visível, muitas
famílias acabam dividas por necessidade de buscar sobreviver, saem de sua cidade natal, para
cidades grandes, ou outras regiões em busca até mesmo de um emprego melhor, mas se deparam
com uma barreira, o mercado de trabalho exige um grau mínimo de escolaridade, é neste ponto
que se dá a desigualdade, a desumanização na vida de muitos indivíduos pobres.
Dona Barbara como é chamada, leva uma vida de benefícios e muitas oportunidades,
pois seu marido é herdeiro de uma grande herança, e sendo bem ousada, podemos dizer que isso
foi benéfico a ambos, pois o seu marido Carlos interpretado por Lourenço Mutarelli fica em
casa, enquanto Barbara pode estudar, pagar uma faculdade enriquecendo o seu currículo,
gerando assim mais bens matérias, e consequentemente deixando uma boa herança para
Fabinho.
Barbara interpretada por Karine Teles, não precisa distanciar-se do filho, pelo contrário
após o rapaz prestar vestibular na faculdade e não passar, seus pais veem a solução no dinheiro,
ou seja, mandam Fabinho para Australia, para que ele possa cursar inglês, não havendo
necessidade, de que Fabinho trabalhe, apenas estude e curta as praias deste lugar no período de
seis meses.
Diante disto podemos pensar que, quando Fabinho retornar, o seu currículo estará
formidável para o mercado de trabalho.
Quantas famílias da classe desprivilegiada, os pais tiveram que abrir mão dos seus
sonhos para que os filhos pudessem sonhar, para que eles pudessem dedicar-se totalmente aos
estudos.
A trama começa a ter mudanças, quando Jessica decide ir aonde sua mãe está, para
prestar um vestibular, a partir daí em uma simples conversa dentro do ônibus, Jéssica já fica
indignada , porque Val mora em um quartinho nos fundos da casa do patrões , em seguida
quando ela é apresentada a esta família, Fabinho comenta que ela fala igual a Val, ou seja de
uma maneira diferente, uma linguagem inferior, assim como o não conhecimento de Jessica em
relação a cidade de São Paulo, que ela mesmo diz ter visto apenas pela internet.
Patto (1997), relata que foi realizado um estudo da linguagem, afirmando que esta área
da linguagem seria a mais comprometida na classe baixa, devido o pensamento e o raciocínio
dependerem da linguagem e a conclusão a que chegaram foi que crianças desprivilegiadas
possuem deficiência na linguagem, não utilizam as palavras adequadamente, a linguagem dos
tais não oferece uma base adequada ao pensamento, tornando-se dispensável, e
consequentemente acabam comunicando-se através de recursos não verbais.
Observa-se que tanto Val como Jéssica possuem uma linguagem e conhecimento inferior
quando comparado a da família de Bárbara.
De acordo com Patto (1997, p.265):

Em linhas gerais, as conclusões a que chegam, apesar das nuanças existentes entre os
diferentes estudos, podem ser resumidas em três afirmações básicas: 1) o grau e a
direção da motivação das crianças socialmente desfavorecidas são inconsistentes com
as solicitações e metas da educação formal; 2) os reforços simbólicos ou não-materiais
e o adiamento do reforço são inoperantes na manutenção e/ou modificação de seu
comportamento; 3) seu nível de aspiração, seu autoconceito e sua atitude geral diante
da escola e das atividades nela previstas geralmente são incompatíveis com o sucesso
acadêmico.

Em conseguinte a cena citada na página anterior, uma pergunta feita por dona Bárbara
nos chama atenção, ela pergunta em que faculdade Jéssica irá fazer o vestibular, em seguida
Jéssica responde que seria na Fal, todos que estavam na mesa olham com olhar de pesar, e
Fabinho reforça dizendo que é uma das faculdades mais difíceis, é questionado também se a
escola em que Jéssica estudava era boa, ela muito desapontada responde que não, que o ensino
não era bom, mas ela ressalta que um professor por nome João Emanuel, a fez desenvolver um
pensamento crítico, e conclui dizendo que a arquitetura é um instrumento de mudança social,
por fim dona Bárbara diz que o país está mudando mesmo.
De acordo com Patto (1997, p.274), conforme citado por Cunha (1977, p.205-206):

É graças à existência das relações de dominação que "a cultura de classe dominante é a
cultura dominante e a cultura da classe dominada é a cultura dominada".
É viável pensar que Val não teve acesso a uma faculdade devido suas condições
financeiras e que não conseguiu um emprego melhor pela grande exigência de conhecimento de
muitas empresas, que a realidade da sua vida a levou a esta escolha, e que no momento o que
importa é que Jéssica possa estudar e não sofrer como a sua mãe.
No entanto nunca será justo esta realidade, a classe dominante é enrijecida, e indiferente
enquanto a classe dominada é quem trabalha para que a classe dominante permaneça em seus
altares.
É incrível como Val já está alienada, em todo os momentos em que Jéssica demonstrou
que elas também tinham direito de um quarto arejado, sentar na mesma mesa em que dona
Bárbara e Carlos sentavam para tomar café, que não havia problema nenhum em ser servido,
como também tomar banho na mesma piscina que eles tomavam, Val de certa forma sempre
tentava fazer com que a filha deixasse de desfrutar destas coisas, pois pertencia aos ricos, aos
patrões as classes dominantes, é como Val disse: onde já se viu filha de empregada sentar na
mesa dos patrões?
Enquanto nos acomodarmos com essa realidade, a filha da empregada jamais sentara na
mesa dos patrões. Com toda os acontecidos na casa, estampados de desigualdade, e até mesmo
assedio por parte de Carlos, Jéssica não suporta e resolve dar um grito pela igualdade, em uma
noite ela se revolta e discute com sua mãe, expondo seus sentimentos em relação a toda essa
situação, o grito que muitos pais e filhos, desejam dar, aderir um pensamento crítico para poder
enxergar o seu valor, pensar que por mais que a desigualdade exista , enquanto há vida ainda há
esperança, Jéssica podia muito bem ter cedido as ofertas e assédios de Carlos e pertencer a
classe dominante, mas ela sabia do seu valor, e conseguiu fazer com que sua mãe enxergasse,
que por mais que elas eram pobres, jamais deveriam ser tratadas assim.
O grito pela igualdade de Jéssica foi tão real, que ela foi embora em uma noite chuvosa,
e após a sua saída da casa, sua mãe começa a refletir sobre todos os questionamentos que Jéssica
fazia, enquanto se deparava com a imensa injustiça feita com a mãe.
O fechamento da trama se dá em um momento adventício, os jovens Jéssica e Fabinho,
prestam vestibular na mesma faculdade, para a surpresa de ambas as famílias, Fabinho não
consegue passar, enquanto Jéssica atinge 68 pontos.
Segundo Patto (1997, p.279):

Uma das conclusões a que chegamos, diante do estado de coisas vigente no campo da
pesquisa da criança oprimida é de que não conhecemos a criança brasileira em suas
características psicossociais e pedagógicas; aliás, nem poderíamos, já que, sobretudo, a
estudamos mal. Colecionamos afirmações, muitas vezes preconceituosas, sobre o que
ela não sabe fazer não conhece; ignoramos o que ele sabe e conhece, suas capacidades
e habilidades, que devem ser muitas, pois, afinal, a mantêm viva num contexto social
que lhe é extremamente adverso. Exigimos, além disso, que ela deixe na porta da escola
suas vivências, sob pena de ser considerada inapta.

Durante o tempo em que Jéssica esteve na casa dos patrões de Val, observa-se que de
fato não acreditavam em sua capacidade como estudante, sempre se direcionavam a ela com
desdenho e pesar, no entanto Jéssica diante de toda a sua dificuldade, continuar a fazer suas
considerações e dando seu grito de liberdade, Jéssica tinha talento em artes, isso fica visível
quando ela mostra o seu desenho, porem para o mercado de trabalho ou até mesmo a classe
dominante isso não é nada nas mãos de quem está as margens da sociedade.
Aqui fica claro a importância de o professor enxergar o aluno além de suas dificuldades,
e faze-lo enxergar seus talentos.
O aluno não pode ser visto como um recipiente vazio que pode ser enchido esta é uma
representação de educação bancaria que inclusive Paulo Freire a denúncia e a substituiu por uma
educação libertadora, onde o aluno tem também algo a ensinar, estamos nos referindo a uma
troca de saberes, que enxerga o aluno com toda a sua cultura, sua vivencia, e seu saber
particular.
Patto (2022, p.170) afirma:

Não podemos negar que são frequentes os clamores contra a injustiça social vigente,
considerada, contudo, não como decorrência do modo de produção, mas resultado da
discriminação social contra grupos étnicos e da competição por recursos escassos na
sociedade.

A trama conclui-se no esperado, Val pede as contas, e finalmente entende que o seu lugar
é onde ela possa ser valorizada, o grito pela igualdade que Jéssica deu ecoou por toda a casa,
movimentou cada integrante, incomodou a muitos e despertou sua mãe, Val inclusive
mencionou a possibilidade de fazer um curso de massagem, pois foi reforçada por Fabinho que
ela era uma boa massagista, começou a entender que a pessoa mais importante naquele
momento era ela mesma e sua filha, e que a igualdade pode ser alcançada mesmo com muito
esforço, e que mesmo pertencendo a classe desprivilegiada, ainda assim há tempo de
desfrutarmos de verdadeiros privilégios como a nossa família, a nossa liberdade , o nosso amor
próprio.
CONCLUSÃO

Concluímos com este trabalho que a diferença social e cultural perdura até nos dias de
hoje, é certo que ainda existem diversas famílias, que estão sendo colocadas as margens da
sociedade, uma escravidão silenciosa, cheia de desigualdade e atitudes que colocam o individuo
em posição de culpado.
A discriminação das classes dominadas percorre por todos os lados, sendo visado como
algo comum. A carência cultural é posta como uma característica de berço, assim muitas
crianças crescem vivenciando a falta de acesso a oportunidades que possam leva-los a desfrutar
de um futuro melhor, como também a ausência de recursos educacionais de qualidade que são
visíveis na educação brasileira, alimentando este caminho e mantendo a classe desprivilegiada
em posição não privilegiada.
A classe dominante triunfa até o momento em que indivíduos marginalizados adquirem
ou desenvolvem um pensamento crítico, pensamento este que os leva a instigar, o porque eu
estou aqui nesta posição, porque o outro pode e eu não posso, porque parece-me que eu tenho
menos oportunidades que os outros, dessa forma vai se modificando o pensamento e
consequentemente o comportamento, fazendo com que este indivíduo trace melhor o seu
caminho.
A partir do momento em que esse individuo se posiciona a igualdade se estabelece em
seu viver, não totalmente, mas o direciona a um lugar melhor, fazendo-o enxergar o seu
potencial, retirando esse ser marginalizado para uma posição de igualdade.
Maria Helena de Souza Patto, nos traz essa perspectiva inovadora e igualitária de que a
carência cultural jamais pode ser vista como culpa do indivíduo, mas se trata de uma construção
social, e não uma falta em si no indivíduo, nos levando a compreender o que realmente é a
carência cultural e como a identificamos no indivíduo.
O desenvolvimento deste trabalho nos trouxe uma visão ampla sobre como se origina a
posição de pobres e ricos, o quanto desigualdade está em nosso meio se fortalecendo através de
reforços que são pregados por nosso próprio sistema, como também despertou em nós um olhar
mais humano em relação a indivíduos que de certa forma não tiveram oportunidades que os
fizessem ter um futuro melhor, nos fez repensar na luta que nossos pais e avós passaram para
que hoje estivéssemos aqui.
REFERENÇIAS

PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à psicologia escolar. 3. ed. São Paulo: Casa do
Psicólogo, Livraria e Editora Ltda, 1997. 474. Acesso em 12 de agosto de 2023.

PATTO, Maria Helena Souza. Psicologia e ideologia: uma introdução critica a psicologia
escolar. 2. ed. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2022. 315 p.
ISBN 978-65-87596-34-1. Acesso em 19 de agosto de 2023.

Você também pode gostar