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Universidade de Brasília

Disciplina: Introdução à Sociologia


Professora: Gabriela Antunes
Discentes: Ludmila Samara Santos Costa - 231038161 e Samira Prado Novais -
231022958

ESTUDO DIRIGIDO: QUE HORAS ELA VOLTA?

1) No filme, o autor critica a divisão social e regional no país. De que forma?


Faça um breve resumo.

No filme, a empregada doméstica Val é tratada pelos patrões como alguém


considerada da família e que é sempre bem-vinda, mas é notório ao longo da trama
que isso não é de fato verdade. Com exceção de Fabinho, o filho dos chefes de Val,
a doméstica é constantemente tratada como invisível e subordinada, pode-se notar
isso nas cenas em que há uma explícita segregação tanto espacial como social.
É mostrado no filme que Val dorme em um quarto pequeno e mal ventilado nos
fundos da casa, mesmo havendo um quarto de melhor qualidade na casa. Outras
cenas em que fica visível essa discriminação é quando Jéssica, filha de Val, após
usar a piscina da casa é comparada a um rato por dona Bárbara, que chega até
mesmo a esvaziar a piscina para evitar que jéssica entre nela. Em muitos momentos
do filme, é exposto que a trabalhadora negligencia muitas de suas necessidades
básicas em prol das necessidades dos chefes, como o fato de ela não poder nem
mesmo sentar na mesma mesa que eles para comer.
No decorrer do filme, também é abordada a divisão regional. Val precisou sair de
Pernambuco e se mudar para São Paulo em busca de melhores oportunidades de
vida e, por ter deixado sua filha para trás, isso causou feridas no relacionamento
mãe-e-filha a ponto da protagonista ter ficado 10 anos separada de sua filha. Essa
disparidade é ainda mais evidenciada quando Jéssica chega na casa dos patrões
de Val, ela é uma menina inteligente e segura de si e sua isso acaba por
desestabilizar as relações de poder na casa, pois ela não aceita ser tratada com
tanta desigualdade como fazem com sua mãe. Uma cena marcante da personagem
é quando, em meio a uma briga, Val diz que a filha “se acha melhor que todo
mundo” e a jovem acaba por responder que aquilo não é verdade “eu só não me
acho pior”, ela responde.
O diálogo supracitado é apenas uma das diversas lições sobre o papel social
imposto nas pessoas mais pobres, durante o filme, Val parece, de certa forma,
conformada com a forma que é tratada, e mesmo com a filha confrontando a sua
posição de submissividade, ela diz que é o jeito que as coisas devem ser,
evidenciando uma alienação. O filme faz uma ligação entre a divisão regional e a
desigualdade social mostrando a ligação entre esses dois termos, uma vez que a
migração forçada em busca de melhores oportunidades de vida faz com que
diversos trabalhadores tenham que se submeter a situações de trabalho
desgastantes para poderem se manter.

2) O filme conta a história da empregada doméstica Val (Regina Casé). O que


pode fazer referência a nosso passado escravista? Analise o fato de Fabinho,
filho dos patrões, ser criado por Val, sem que ela tenha podido conviver e
criar a sua própria filha.
No filme “Que horas ela volta” de Anna Muylaert, a relação entre Val, a
empregada doméstica, e Fabinho, filho dos patrões, pode fazer referência ao
passado escravista do Brasil, pois mostra a continuidade de uma dinâmica em que
mulheres negras eram responsáveis pela criação e cuidado das crianças brancas,
enquanto suas próprias famílias eram negligenciadas. Isso evidencia a persistência
de desigualdades sociais e raciais decorrentes do sistema escravista, que ainda
afetam a sociedade brasileira.

3) A partir da concepção de hierarquia social, trabalhada no texto: Você sabe


com quem está falando? De Roberto Da Matta, analise a relação de Val com
seus patrões de classe média alta, que se apresentam modernos, mas que
são conservadores em seus costumes sociais.

Como a própria personagem Jéssica afirma várias vezes em relação ao estilo da


casa dos patrões da mãe — modernista — estes também se apresentam, se portam
e agem na maioria das vezes como pessoas modernas, por exemplo, aceitando
sem demais problemas que o filho fume maconha, algo considerado inconcebível
num pensamento conservador. No entanto, suas ações em relação à personagem
Val mostram uma situação de privilégio e desigualdade, algo marcante na
hierarquização social, onde Val, a empregada doméstica que trabalha para essa
família, não usufrui dos mesmos privilégios que eles, na verdade, não usufrui nem
do privilégio que um hóspede da casa teria, como pode-se observar comparando o
quartinho dos fundos minúsculo e abafado que ela vive e o quarto de hóspedes,
grande, com suíte, com cama de alta qualidade e outros adornos.
Em outras cenas, isso fica ainda mais explícito, como o fato de ela não “poder”
sentar na mesma mesa de café da manhã que os patrões ou comer da mesma
comida boa que eles. Há também um abuso de poder, em que coisas inúteis com as
quais não eram obrigações de serviço nenhuma de Val — como ter que pegar
coisas básicas para a família e levar para essa, sendo que a maior dificuldade para
eles seria de levantar da cadeira e pegarem por si mesmos — se tornam o “normal”
por mais de dez anos, além da mãe, Bárbara, numa das cenas finais impor para Val
que sua filha não passe da porta da cozinha, sem motivo algum para isso, apenas
porque Bárbara não gosta dela e se sente no direito, como patroa de Val, de fazer
isso.
4) Para analisar os preconceitos cotidianos presentes entre grupos de diferentes
classes sociais, utilize algumas imagens simbólicas como: o sorvete, as
xícaras de café, a mesa da cozinha, o quarto de empregada e a piscina.

Numa sociedade com grande hierarquização social como a que existe no Brasil,
ainda que de forma “velada”, existem certas atitudes que são profundamente
preconceituosas, porém consideradas “senso comum”, como a própria Val fala para
a filha Jéssica no trecho “Tem coisas que você já nasce sabendo”, quando tenta
explicar para ela o por quê de aceitar sua situação de submissão e desigualdade,
por exemplo, algo bem especificado no seguinte trecho de Val: “Onde já se viu? A
filha da empregada sentar na mesma mesa que come o patrão?”. O fato de até
comer na mesma mesa que uma pessoa teoricamente numa posição de poder
superior a você, ser considerado um privilégio que não é para ser dado para uma
“classe tão baixa” quanto a de um empregado, demonstra esse preconceito
cotidiano e normalizado. É também um privilégio poder comer uma comida de
qualidade melhor do que a outra, já que, no caso do sorvete no filme, apenas um
seleto número de pessoas poderia consumir algo tão bom (no longa, essa pessoa é
o filho Fabinho), enquanto que as demais, não incluídas nessa classe especial, tem
que se contentar com uma comida ruim e/ou as sobras.
Isso fica ainda mais marcado no filme quando Jéssica, por causa das
brincadeiras de Fabinho e seu amigo, fazem com que ela caia na piscina e jogue
com eles. O problema aqui é porque, na concepção de Val, a empregada doméstica,
e da sua patroa, Bárbara, nem ela e nem a filha podem entrar na piscina, como se
nadar no mesmo ambiente que os patrões suja-se ele. Bárbara reage ao
acontecimento relatado exatamente assim, ligando imediatamente para um de seus
funcionários para que esvazia-se a piscina e limpasse ela, porque houve problemas
com “ratos”.
Por fim, esse preconceito de classes sociais diferentes, incutido tanto nas classes
baixas quanto imposto pelas classes mais altas, pode ser resumido na seguinte
frase de Val: “Quando eles oferecem algo que é deles, é por educação, porque já
esperam que a gente diga não”.

5) O enredo do filme muda quando Val recebe sua filha Jéssica (Camila
Márdila), que vai morar junto com a mãe na casa dos patrões. Jéssica não
age da maneira esperada por Val e, principalmente, por seus patrões. Quais
são os comportamentos e o lugar determinados para seu grupo social que
Jéssica começa a questionar?

Jéssica, ao se mudar para São Paulo, passa a morar com a mãe na casa dos
patrões, ela se recusa a ser tratada como uma empregada doméstica e desafia as
expectativas que os donos da casa tinham sobre ela.
Um dos questionamentos da jovem acerca de uma posição social imposta para si
é sobre os locais da casa que ela pode frequentar. Logo de início ela não aceita
dormir no quartinho de sua mãe, não só por ser de qualidade inferior ao resto dos
quartos da casa, mas também porque ela não vê sentido e dividir um cômodo tão
pequeno e sem ventilação se há quartos melhores disponíveis. Outra cena que ela
desafia esses comportamentos impostos é quando ela come do sorvete do filho dos
chefes da mãe ao invés de comer o “sorvete dos empregados”. Essas cenas
utilizam de elementos muitos sutis para mostrar os preconceitos velados na
sociedade.
Outro momento marcante que enfatiza a quebra dos padrões esperados por
pessoas da classe de Jéssica é a cena em que ela passa no vestibular de uma
universidade em São Paulo, mesmo usando apenas livros velhos e tendo estudado
em um colégio de má qualidade, enquanto Fabinho, que estudou em escolas de
ótima qualidade, não consegue passar. No decorrer da cena, é possível notar que
Bárbara, mãe de Fabinho patroa de Val, se mostra desconfortável ao saber da
notícia e até mesmo tenta descredibilizar Jéssica, tentando diminuir sua conquista e,
em diversos momentos anteriores a esse, Bárbara parece incrédula com a escolha
de Jéssica por um curso difícil e concorrido, sempre duvidando da capacidade da
jovem e reforçando preconceitos de que pessoas de classes sociais inferiores não
conseguiriam passar em uma universidade de renome.

6) Pensando no preconceito e na discrimanção vivida no Brasil entre os grupos


sociais devido às diferenças econômicas, raciais e de gênero, analise o
seguinte momento do filme: quando Jéssica e Fabinho, filho dos patrões,
prestarão vestibular para a mesma universidade.
No momento em que Jéssica e Fabinho prestam vestibular para a mesma
universidade em “Que horas ela volta?”, o filme destaca a disparidade de
oportunidades enfrentadas por diferentes grupos sociais no Brasil, especialmente
em relação a diferenças econômicas, raciais e de gênero. Isso evidencia a
persistência do preconceito e da discriminação que afetam o acesso a educação e
as chances de ascensão social para aqueles que são marginalizados.

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