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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ

ESPECIALIZAÇÃO EM TEORIA, METODOLOGIA E PRÁTICAS DE ENSINO

ANDRÉ LUÍS OLIVEIRA MAIA

RESENHA CRÍTICA DO FILME “QUE HORAS ELA VOLTA?”

TABULEIRO DO NORTE
2023
O filme “Que horas ela volta?” é uma produção de comédia/drama do ano de 2015,
com direção de Anna Muylaert. A história coloca em foco a vida de Val (Regina Casé), uma
empregada doméstica que trabalha há muitos anos para uma família em São Paulo e que é
obrigada a sair de seu “comodismo” após receber a vinda de sua filha Jéssica, que veio prestar
vestibular numa universidade da cidade.

Val se acomodou a sua vida de empregada doméstica de uma família rica e reconhece
o seu “lugar”. Mora em um quartinho nos fundos da enorme casa que a família vive, tem
noção que não pode gozar das mesmas regalias que os patrões, como entrar na piscina, não
sentar na mesa principal da casa e muito menos comer os alimentos caros e sofisticados aos
quais os patrões são habituados.

Os patrões, de certa forma, tratam Val com respeito e carinho, mas deixam claro a
posição dela de empregada dentro da casa, exceto por Fábio, filho do casal, que praticamente
a trata como sua verdadeira mãe. Val aceita sua vida tranquilamente, compreendendo sua
posição de prestadora de serviços em troca de um salário, até que sua mentalidade é
chacoalhada após a chegada de sua filha Jéssica, que veio prestar vestibular para uma
faculdade de Arquitetura na cidade.

Jéssica não acolhe bem a vida que a mãe se submete dentro da casa dos patrões, pois
como a mesma fala em cenas finais do filme, ela via a mãe como uma pessoa importante e
poderosa. Fica claro que Jéssica também não compreende muito bem a relação patrão-
empregado, mas a mesma reconhece que a mãe não deve se submeter a tais condições de
trabalho, condições essas que muitos brasileiros e brasileiras são submetidos, ou até pior.

O racismo cultural, abordado por Jessé Souza, é bastante evidenciado ao longo das
cenas do longa-metragem, como a cena em que Bárbara, patroa de Val, a impede de servir
algo em um conjunto de xícaras na sua festa de aniversário. Aquele objeto, na visão de uma
empregada doméstica, era algo muito sofisticado, porém para a patroa de classe social
elevada, seria motivo de vergonha diante de seus amigos, que com certeza também iriam
desaprovar o uso.

Em algumas cenas evidencia-se o preconceito, as desigualdades socias e estratificação


da sociedade, abordada por Marx e Weber. Para os patrões, uma filha de empregada não tem
muitas chances de estudar em uma universidade renomada, em outras palavras, ela não tem o
“status” necessário para utilizar um espaço como esse. Aqui vemos a importância que a
educação tem como forma de promover ascensão social, pois uma mulher, pobre, nordestina,
filha de empregada consegue passar no vestibular do curso de arquitetura, o que é uma grande
oportunidade de melhorar, futuramente, a sua condição socioeconômica.

Observa-se também o abismo de capital cultural, explicado por Bourdieu, entre as


duas famílias. De um lado os patrões com seu estilo de vida refinado, comidas importadas,
roupas de grife, coleções de obras de arte, livros, pinturas, além de seu histórico acadêmico de
grandes títulos e certificações. Do outro lado, uma empregada, talvez alfabetizada, e sua filha
com pouca bagagem cultural.

A crítica a realidade brasileira é visível ao longo de todo o filme. Uma sociedade


dividida em classes, em que a maioria pobre e trabalhadora se acostuma a vida difícil que leva
e não procura uma forma de melhorá-la. Val, porém, com um empurrão de Jéssica, pede
demissão e busca uma nova forma de renda em que a mesma não se sinta tão desvalorizada.

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