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TABULEIRO DO NORTE
2023
O filme “Que horas ela volta?” é uma produção de comédia/drama do ano de 2015,
com direção de Anna Muylaert. A história coloca em foco a vida de Val (Regina Casé), uma
empregada doméstica que trabalha há muitos anos para uma família em São Paulo e que é
obrigada a sair de seu “comodismo” após receber a vinda de sua filha Jéssica, que veio prestar
vestibular numa universidade da cidade.
Val se acomodou a sua vida de empregada doméstica de uma família rica e reconhece
o seu “lugar”. Mora em um quartinho nos fundos da enorme casa que a família vive, tem
noção que não pode gozar das mesmas regalias que os patrões, como entrar na piscina, não
sentar na mesa principal da casa e muito menos comer os alimentos caros e sofisticados aos
quais os patrões são habituados.
Os patrões, de certa forma, tratam Val com respeito e carinho, mas deixam claro a
posição dela de empregada dentro da casa, exceto por Fábio, filho do casal, que praticamente
a trata como sua verdadeira mãe. Val aceita sua vida tranquilamente, compreendendo sua
posição de prestadora de serviços em troca de um salário, até que sua mentalidade é
chacoalhada após a chegada de sua filha Jéssica, que veio prestar vestibular para uma
faculdade de Arquitetura na cidade.
Jéssica não acolhe bem a vida que a mãe se submete dentro da casa dos patrões, pois
como a mesma fala em cenas finais do filme, ela via a mãe como uma pessoa importante e
poderosa. Fica claro que Jéssica também não compreende muito bem a relação patrão-
empregado, mas a mesma reconhece que a mãe não deve se submeter a tais condições de
trabalho, condições essas que muitos brasileiros e brasileiras são submetidos, ou até pior.
O racismo cultural, abordado por Jessé Souza, é bastante evidenciado ao longo das
cenas do longa-metragem, como a cena em que Bárbara, patroa de Val, a impede de servir
algo em um conjunto de xícaras na sua festa de aniversário. Aquele objeto, na visão de uma
empregada doméstica, era algo muito sofisticado, porém para a patroa de classe social
elevada, seria motivo de vergonha diante de seus amigos, que com certeza também iriam
desaprovar o uso.