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ETEC CAROLINA CARINHATO SAMPAIO

ANDRESSA VITÓRIA RODRIGUES VIEIRA

FILME: PARASITA (2019)

Professor: Bruno – Sociologia


São Paulo, 2019
O filme sul-coreano “Parasita” dirigido por Bong Joon Ho e lançado no
ano de 2019 mostra a história de duas famílias, a de Kim, que é pobre e está
desempregada, e de outro lado a família de Sr. Park, que é rica e mora em
uma mansão. No entanto, mentiras e farsas circundam a busca pela ascensão
social dos Kim.
O longa inicia mostrando a decadente realidade na qual a família de
Kim composta por 4 pessoas vive. Dentro de uma casa que é rebaixada em
relação à rua e possui um pé direito baixo, o menino Kevin e sua irmã Jessica
roubam Wi-fi do vizinho enquanto vários insetos infestam a casa. A situação é
precária e as condições de higiene são sub-humanas, e não são só eles que
estão nessa situação, o bairro inteiro onde moram vive na mesma condição.
Entretanto, o jovem Kevin vê uma maneira de ascender socialmente
após receber um convite de um amigo para trabalhar na casa dos Park como
tutor da filha deles. No entanto, ele precisa falsificar o diploma para conseguir o
tal emprego. Aos poucos, a família de Kevin consegue se infiltrar na mansão
dos Park – como parasitas – falsificando currículos e influenciando os donos da
casa a demitirem seus profissionais para contratarem todos os integrantes da
família de Kevin. O pai Kim, vira motorista particular; a mãe, vira a empregada
doméstica da casa e a irmã Jessica vira uma espécie de terapeuta artística.
Assim, através de uma rede de mentiras, a pobre família de 4 pessoas começa
a ganhar seu lugar na sociedade por conta da ingenuidade dos outros 4
integrantes da família rica. Cada um parasitando o outro.
O parasitismo, termo vindo lá da Biologia, é uma relação intraespecífica
que um organismo se utiliza de outro para sobreviver. O título “Parasita”,
apesar de não ter sido a primeira escolha do diretor, é o que resume a
complexidade do filme. As relações humanas mostradas no longa são nada
mais nada menos do que frutos do parasitismo. De um lado, vemos a família
pobre de 4 integrantes que vai se proliferando dentro do modo de vida da
família rica não somente para ascender socialmente, mas sim para sobreviver.
Do outro lado, vemos uma família de classe alta que tem tudo na palma da
mão, a facilidade das coisas somada ao poder aquisitivo faz com que eles não
tenham muitas tarefas, deixando tudo nas costas de seus empregados.
Com um olhar arquitetônico, vários takes subjetivos propõem reflexões.
A mansão onde a família Park vive foi construída por um arquiteto coreano
famoso, e essa informação é repetida diversas vezes ao longo do filme,
contrastando bem com a morada precária dos Kim e até mesmo com o porão
escuro e pequeno que o marido da ex-empregada da família rica fica
trancafiado.
A grande distância da mansão dos ricos Parks também afeta as
relações interpessoais dos integrantes da família. Tão separados, eles são frios
uns com os outros e muitas vezes parece que nem se conhecem.
Diferentemente do que acontece com os Kim, que amontoados em sua
casinha, vivem juntos em uma relação de companheirismo e afeto.
Essa visão espacial, que é muito presente no filme, também é
mostrada a partir das inúmeras escadarias apresentadas em diversas partes da
cidade, e sempre os personagens pobres são representados descendo as
escadas. Pode-se utilizar dessa característica como uma metáfora para a
tentativa de ascensão social presente, que é falha como mostrada no filme. O
famoso verso brasileiro de As Meninas ilustra bem essa situação: “onde o rico
fica cada vez mais rico/ e o pobre cada vez mais pobre/ e o motivo todo mundo
já conhece/ é que o de cima sobe e o de baixo desce”.
A chuva também é outro elemento importante na construção de sentido
do filme. Apresentada em momentos estratégicos, mostra a tamanha diferença
social entre as duas famílias. Enquanto a família de classe alta fica dentro do
seu confortável lar, a família pobre corre pelas ruas para tentar salvar alguns
pertences de sua casa que foi tomada pela água, fazendo-os perder tudo que
tinham. Um simples fenômeno natural que representa, por diferentes
perspectivas, a gritante diferença social entre as classes.
O cinismo e o desejo permeiam a obra inteira, fazendo inúmeras
críticas não somente ao comportamento humano e a luta pela sobrevivência
diária, mas também ao sistema capitalista que deixa a sociedade cada vez
mais estratificada.
O choque causado entre as duas realidades não termina bem. Depois
de ver toda a realidade luxuosa a qual os Parks viviam e saber sobre o
preconceito dos ricos em relação aos pobres por conta de seu cheiro, Ki-taek é
consumido pelo ódio e crava uma faca no peito do Sr. Park. Esse combate final
representa a luta de classes e todas as injustiças sociais presentes atualmente.
Longe da Coreia do Sul, a cidade de São Paulo não é diferente. Com
seus 11 milhões de habitantes, o contraste entre as classes e a tamanha
desigualdade social são presentes também. A busca por uma vida melhor e
principalmente, a busca pela sobrevivência causa o parasitismo.
Portanto, a atmosfera do filme que varia de tensão e suspense até
mesmo humor critica e propõe muitas reflexões sobre o mundo em que
vivemos e o caminho que ele está tomando. Essa transitividade de gêneros
que o filme tem é a mesma que a vida tem. Após de mergulhar na experiência
do filme, um sentimento de ódio e repulsa sai da tela e atinge nós, os
telespectadores, tanto pela sociedade em que vivemos, quanto pelas pessoas
que somos e que nos cercam. Do humor até à tragédia, “Parasita” representa
de forma escancarada e ao mesmo tempo metafórica a triste realidade em que
vivemos hoje, onde os de cima sobem, e os de baixo descem.

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