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A partir da teoria sociocultural que tem a visão do homem como sujeito social fruto

de sua cultura, podemos atermo-nos ao filme Parasita que nos apresenta a realidade de duas
famílias. A família kim composta por mãe, pai e irmãos que vivem no bairro de Seul na
Coreia do Sul, onde residem em um porão com condições insalubres e diversos problemas
financeiros. Do outro lado temos a família Park, que vivem em condições acima da média,
tendo em seu núcleo pai, mãe e seus dois filhos. No decorrer do filme o caminho das duas
famílias se entrelaça e suas grandes diferenças são ressaltadas. Em relação aos Kim fica em
evidência o desejo que todos os membros tem de se erguer na sociedade com poder
aquisitivo para realizar seus objetivos e garantir desse modo o bem comum de sua família.

Analisamos a família Kim, operando em seu contexto social onde são


desfavorecidos economicamente, fato que os leva a uma instabilidade. Entretanto, podemos
notar que eram uma família com muito potencial, e muito unida apesar das dificuldades das
quais passavam devido a situação de pobreza na qual viviam, gerando uma situação de
vulnerabilidade cujo todos os membros estavam desempregados. Os Kim sempre muito
unidos, trabalham em conjunto para melhor a dificuldade financeira da qual enfrentam. No
começo do filme, o filho Kevin está tentando localizar o sinal de um Wi-Fi grátis para que
eles consigam um emprego de embalador de caixas, do qual paga pouco e exige muito. Isto
evidência a união da família, que trabalha sempre em equipe para conseguir pagar as suas
dívidas e alcançar uma condição melhor de vida, indo de encontro ao que Bronfenbrenner
explica em sua teoria bioecologia:

O potencial desenvolvimento de um ambiente aumenta em função do número de


vínculos apoiadores existentes entre aqueles ambientes e outros ambientes (tais
como a casa e a família). Assim, a condição menos favorável para o
desenvolvimento é aquela em que os vínculos suplementares ou não são
apoiadores ou estão completamente ausentes – quando o mesmo sistema está
fragilmente vinculado.

(BRONFENBRENNER, 2002, p. 165).

Ou seja, podemos verificar que mesmo diante das dificuldades que eles enfrentam, a
Família Kim permanece unida e se apoiando o tempo todo para conseguirem sobreviver,
constituindo dessa maneira um vínculo familiar forte, tal como um pilar de sustentação,
sendo desse modo capazes de superar os diversos obstáculos da vida.

Conquanto, a família Kim agarra a oportunidade que surge, quando o irmão mais
velho “Kevin” mesmo não sendo um professor, consegue um emprego para dar aula de
inglês para a filha mais velha dos Park. Uma família rica e que mesmo tendo tudo, são o
oposto dos Kim, pois vivem distantes uns dos outros, e são tão ricos que agem como se o
dinheiro comprasse tudo. A família Park, obtém condições financeiras para fazerem valer
todos os seus desejos e não se davam conta que a superproteção da qual faziam com filho
mais novo, que tinha passe livre para fazer tudo o que queria, era prejudicial ao mesmo,
pois segundo Alfred Adler, "As crianças superprotegidas não conseguem desenvolver
sentimentos sociais; tornam-se déspotas, à espera de que a sociedade se conforme com seus
desejos egoístas. Adler considerava isso danoso à sociedade" (MONTADON, 2009). Kevim
após fazer a senhora Park acreditar que seu filho tinha talento, indica sua irmã Jéssica, que
mesmo não sendo formada em arte, consegue convencer a senhora Park de que é uma
professora, observando detalhes "preocupantes" nos desenhos que o garoto passou a fazer
depois de vivenciar um trauma. Desse modo ela passa a dar aulas de arteterapia ao garoto,
tudo isso sem que seus chefes desconfiem de que são que são irmãos.    Jéssica trama para
que o motorista dos Park seja demitido, para que assim possa recomendar seu pai para ao
emprego, o senhor Kim, que passa mesmo a ocupar o cargo vago após a recomendação. Por
fim a senhora Kim, também consegue ir trabalhar como governanta para os Park, pois
Kevim, Jessica e seu pai, não medem esforços para tirar do caminho a antiga funcionária e
desse modo assegurar que todos tenham um emprego.

Um dos recursos essenciais que eles utilizam é a manipulação, isso os permite


conquistar aquilo que desejam, no decorrer da trama podemos analisar que eles identificam
pontos como a ingenuidade das matriarcas da Família Park, e utilizam isso ao seu favor,
desse modo, eles conseguem permanecem empregados na mansão. Indo de encontro ao que
Freud, afirma:

Em Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921), Freud faz uma releitura da


obra do antropólogo Gustave Le Bon: “(…) um indivíduo pode ser colocado em
um estado tal que, tendo perdido sua personalidade consciente, ele obedece a
todas as sugestões do operador que o fez perdê-la e comete os atos mais
contrários ao seu caráter e aos seus hábitos”. (BEZERRA, 2020)

A desunião, vulnerabilidade emocional e ingenuidade da família Park proporciona


de uma maneira simples a identificação dos pontos fracos deles por parte dos Kim, o que
facilitará o estado da perda da personalidade consciente pois verificamos que através das
sugestões que regem a manipulação dos Kim com os Park, eles conseguem aplicar golpes e
se infiltrar na casa, promovendo o desemprego dos antigos empregados e
consequentemente fazendo com que todos de sua família sejam empregados

Mesmo para que dê certo todos tenham que seguir atuando como se fossem
estranhos e consequentemente, manipulando e enganando a família dos Park, assim como a
antiga governanta também o fazia, mantendo seu marido escondido em bunker que havia a
baixo da mansão, em razão ao mesmo não ser morto por conta de suas dívidas. Fazendo
desse modo, valer o que Vygotsky nomeia como

O Fenômeno Psicológico (controle consciente do comportamento,


intencionalidade da ação e liberdade de ação) – Não é natural, não
preexiste ao homem, reflete a condição social, cultural e econômica que
o homem vive.

                            (TAVARES, 2018, p. 1)

E nesse caso dos Kim e a governanta, foi a econômica, que os levou em conjunto a
seguir caminhos errados para sair do estado de pobreza e perigo da qual partilhavam,
agindo desse modo, a partir de sua condição humana optando por uma forma de satisfazer
suas necessidades, de acordo com Ana Bock (1997).

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