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Cap.

4 - O Batalhador e sua família

Colaboradora: Tábata Berg (imagem de 2 pixels)


- graduação em CS, mestrado e doutorado em sociologia
- tcc orientado pelo próprio Jessé de Souza
- dissertação e tese orientados por Ricardo Antunes, acredito que seja referência em
trabalho no Brasil
- hoje, é professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
- hoje, estuda trabalho, gênero, decolonialidade
- seus últimos artigos são bem ontológicos, marxistas, bourdieusianos…
- também escreveu sobre o biopoder na pandemia

Contexto de escrita da obra Os Batalhadores Brasileiros


- pesquisa realizada em todas as regiões brasileiras
- apoiada pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, supervisionada pelo
Ministro da Ciência e Tecnologia e da Fapemig (Fundação de Apoio à Pesquisa do
Estado de MG), e pelo CNPQ. incentivada principalmente por Roberto Mangabeira
Unger, então ministro de assuntos estratégicos
- logo de início há uma citação de Bourdieu
- prefácio escrito por Roberto Unger
- o livro é uma coletânea (acredito que posso chamar assim), tem vários
colaboradores concentrados no tema no trabalho e seus vários desdobramentos
(precariedade, empreendimento, família, racismo
- essa edição é de 2012
- o que será apresentado agora é cap. 4, o batalhador e sua família

Principais reflexões do texto


- relação do batalhador com a família
- a autora já inicia questionando: o que nos vem à mente quando pensamos nos laços
familiares e afetivos das classes populares? Segundo ela, há 2 questões
(complementares, inclusive):
a. rede de benefícios mútuos (onde há uma hierarquia, um que tem mais
“poder” que os outros);
b. possibilidade de um tirar vantagem do outro.
- tem-se essa ideia porque imagina-se que as classes populares são inaptas à vida
pública, isto é, a serem agentes públicos, pois lhes falta justamente o que é
fundamental: a impessoalidade e a igualdade

A família:
- de início, na idade média, era algo profano e se contrapunha à igreja; depois, foi
adquirindo um perfil sagrado com a modernidade
- o modelo perfeito é a família burguesa, pois possuem capital econômico e cultural

A ideia é:
- entender como se dá a reprodução da classe da ralé estrutural
- entender a diferença que existe entre a RALÉ e os BATALHADORES
- entender o que faz os batalhadores se reproduzirem enquanto classe
Para isso, fará uso da empiria com três estudos de caso:

OBS.: o texto vai e volta, tentei organizar as ideias, concentrando em cada caso/família que
a autora pesquisa para que a apresentação seja POSSÍVEL

1. PAULO E HELENA
PAULO
- pedreiro; trabalha por conta; quando tinha vínculo empregatício fazia dupla jornada;
acometido pelo capitalismo financeiro e pela redução de contratos de trabalho típico
da década de 90
- quando criança, morava em uma casa de sapê localizada na fazenda onde seu pai
trabalhava
- havia um ciclo de responsabilidade entre os irmãos: até que atingisse a “idade para
trabalhar” (7 anos), seria responsável pelos irmãos menores
- quando casou, já se deparou com os “favores pessoais”, o que acabou por envolver
trocas políticas, pois precisava de um avalista para comprar os móveis básicos da
casa. Nesse sentido, salienta a importância da ampliação do crédito como política no
governo Lula
- tomou consciência de que não conseguiria continuar com o ofício de pedreiro aos 55
anos, então comprou um ponto de táxi e passou a ser taxista durante a noite
- construiu as casas onde morou com a família (quatro ao total, mas esta última é a
melhor localizada, com o “acabamento dos sonhos”
- via em Helena uma também batalhadora

HELENA
- camareira; dedicação aos afazeres domésticos
- teve depressão pós-parto na segunda filha; se incomodava com a casa - queria um
chão de cerâmica, e não de cimento liso
-

A FAMÍLIA:
- de início, levou os pais e os irmãos para morar com ele e a esposa, mas com o
tempo, o núcleo familiar se restringiu ao casal e as duas filhas
- a centralidade do trabalho se fez presente desde sempre, e a proximidade inicial
com a família não mudou isso
- ensinaram as filhas a não se “encantar com o que não era para elas”
- a primeira casa construída era vista como a primeira conquista familiar; era um
barraco comprado com muito sacrifício, mas ganhou laje com a primeira gravidez de
Helena
- o casal nunca saiu para almoçar, não se erotizam, não veem o sexo como parte
importante; se reconhecem enquanto companheiros de luta; para o autor, é um
reflexo da ética católica cristã onde o amor é companheirismo, lealdade,
compreender limitações; isso se opõe à lógica do amor burguês, que tem como
promessa o encontro e o reconhecimento de fraquezas na esfera erótica

ANÁLISE:
- economia baseada no sofrimento passado, e praticamente encabeçada por Helena,
que tem um medo incontrolável de retornar à vida miserável
- a Constante Antecipação Inconsciente da Inconstância do Mercado: é justamente
esse controle paranoico de Helena que, na visão de parte das classes média e alta,
que garante a sobrevivência das classes baixas às inconstâncias do mercado

2. SEU LUÍS
- filho homem mais velho de Antônio, quem acompanhava desde pequeno na
venda de verduras; infância sofrida, mas o pai ensinou a não aceitar
humilhação nas fazendas onde trabalhassem; aos 18 ganhou uma carroça
do pai, com a qual começou a trabalhar
- hoje, aposentado; mas conseguiu ser médio proprietário rural mediante a
compra da fazenda onde o pai trabalhou a vida inteira, que inclusive tem alta
produtividade, tecnologias e trabalho mecanizado
- viúvo, mora com a companheira que se encarrega do trabalho pesado na
fazenda
- manteve a família ligada ao meio produtivo, mas tem ciência da incerteza da
continuidade do seu trabalho, pois os filhos e netos já não estão tão
envolvidos com a vida rural
- DIFERE de Paulo e Helena na economia prévia, possui outra maneira de
economizar: ação orientada a um futuro objetivado no presente
- há mais verticalidade e intensidade nesta família, além de ser mais visível
- dominação masculina pautada na divisão sexual do trabalho, base não só da
propriedade, mas das relações afetivas

3. SEU MANOEL
- a autora não coloca exatamente como um caso, é como se fosse uma
extensão do caso de Seu Luís, é bem menor e parecida, mas com um fim
mais trágico
- filho de roçador de pasto; durante a infância, morou na pequena casa cedida
pelo dono da fazenda para quem seu pai trabalhava; plantava o que comia,
criava galinhas e porcos; hoje, vive da aposentadoria
- o fumo: produto da base produtiva familiar; homens e mulheres como força
produtiva, filhos homens ajudando no plantio e na colheita e filhas mulheres e
crianças enrolavam e preparavam o fumo; enquanto os homens recebiam
parte dos lucros, as mulheres não
- a promessa de “vida melhor” atraiu os homens para deixar o fumo, enquanto
as mulheres substituíram o campo pelo espaço doméstico; essa evasão de
mão-de-obra provocou a descontinuidade da vida rural para o Seu Manoel
- aponta 3 fatores principais para o descaso com a agricultura: aumento
vertical do adubo, queda do preço da produção e principalmente a falta de
empréstimos para o pequeno produtor, tendo FHC como o principal
responsável

CONCLUSÕES:
- Ética do Trabalho Duro: ancorado em um aprendizado prático do trabalho, os pais
ensinam aos filhos; é a parte de conhecimento prático do mercado que os
batalhadores conseguem alcançar, é com essa ética que eles podem contar e talvez
ascender, pois não possuem capital cultural legítimo nem econômico
- uma espécie de moralidade ao redor do sacrifício dos interesses individuais em prol
do grupo familiar, e há reciprocidade nisso; nesse sentido, há uma citação a
Durkheim, que já havia abordado a questão de abrir mão da individualidade em prol
da sobrevivência física e social do grupo familiar enquanto fundamento de todo e
qualquer ato moral
- há um novo tipo de proprietário em ascensão: o filho do trabalhador adaptado à ética
do trabalho duro
- a família é a base da pequena propriedade
- Marx já havia falado do arrendatário capitalista como visionário de sua época, sendo
o batalhador rural o da nossa
- o exemplo da Grande Família ilustra o duplo racismo sofrido pela classe
batalhadora, que é o ARCAÍSMO PATRIARCAL E A INSTRUMENTALIDADE: Lineu,
empregado público estável; Beiçola, membro da pequena burguesia; Marilda,
batalhadora cabeleira, a imagem do “espírito empreendedor”; entre Lineu e
Agostinho, seu genro, há instrumentalidade na medida em que sempre tenta
envolvê-lo em atividades duvidosas para ganhar dinheiro, se aproveita dos laços
familiares para se dar bem
- a família batalhadora não só prepara seus membros para determinada função no
mercado, como também inclina seus corpos ao trabalho duro (a aceitar isso!), e
assim a ascender à classe trabalhadora

CONCLUSÕES da obra como um todo


- a metodologia adotada foi a pesquisa qualitativa, as entrevistas, a análise de
trajetórias, que conversa plenamente com Bourdieu
- foi possível observar que generalizações podem ser feitas a partir desses casos,
várias questões se repetem, e essa é uma das grandes utilidades da análise de
trajetórias
- observar as disposições desses batalhadores, o que despertam (ou não) em seus
filhos, tornando possível (ou não) a permanência na mesma classe (batalhadora)

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