Você está na página 1de 2

Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo em um porão sujo e apertado,

mas uma obra do acaso faz com que ele comece a dar aulas de inglês a uma garota
de família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe e filhos
bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No
entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custam caro a todos.1

A obra cinematográfica dirigida por Bong Joon-ho, Gisaengchung (Parasita), cujo o


enredo apresenta de forma contundente a desigualdade social presente nas sociedades
capitalistas, concentrando a narrativa no abismo social presente entre duas famílias: a família
Ki-taek que vive em uma situação de pobreza e a família Park que encontra-se em uma
conjuntura antagônica.
No início do filme somos apresentados a realidade da família Ki-taek, em que todos
estão desempregados e vivendo sob exploração de suas mãos de obra para a função de
“dobradores de caixa de pizza”, em que os seus salários são resultantes da sua produção,
podendo sofrer cortes caso não atinjam as expectativas da pizzaria. A situação de pobreza fez
com que eles se sujeitassem ao serviço precarizado que lhes foram ofertados, Marx (1996) já
dissertava em sua obra, em que o desemprego estava diretamente conectado a organização do
trabalho do sistema capitalista.
O capitalista pode agora extrair determinado quantum de mais-trabalho do
trabalhador, sem conceder-lhe o tempo de trabalho necessário para seu próprio
sustento. Pode destruir toda a regularidade da ocupação e fazer, apenas em função de
sua comodidade, arbítrio e interesse momentâneo, com que o mais monstruoso
sobretrabalho se alterne com desemprego relativo ou absoluto. Pode, sob o pretexto de
pagar o “preço normal do trabalho”, prolongar anormalmente a jornada de trabalho
sem nenhuma compensação correspondente para o trabalhador. (MARX, 1996, p.
176).
O que podemos chamar na atual conjuntura da sociedade capitalista de Uberização do
trabalho2, nos “trabalhos deliverys”, como os das plataformas globais: iFood, Uber (eats),
Rappi, etc. Onde os trabalhadores dispõem a sua mão de obra, em situações muitas vezes
inapropriadas, precárias, com jornadas exaustivas, sem os seus devidos direitos trabalhistas
garantidos, uma vez que essas empresas alegam que esses trabalhadores não possuem vínculo
algum com eles, por isso, não é de responsabilidade deles o fornecimento dos direitos para os
“colaboradores”.

Segundo Franco e Ferraz (2019), a uberização do trabalho exprime um método distinto


de acumulação capitalista, ao produzir uma nova forma de mediação da subsunção do
trabalhador, o qual apropria-se da responsabilidade pelos principais meios de produção da
atividade produtiva. Segundo Marx (1996), o segredo da acumulação do capital advém da

1 Sinopse do filme retirado do site Adoro Cinema. Disponível em:


<<https://www.adorocinema.com/filmes/filme-255238/>>. Acesso em: 10 set. 2021.
2 O termo advém do modelo de trabalho implementado primeiramente pela empresa Uber.
mais-valia, uma vez que o mais-valor, ou mais-valia é resultante da “transformação do valor
de uma mercadoria que vem a ser pago depois que seu valor de uso, sob o comando do
capital, recria o antigo valor de troca como uma substância capaz de aumentar por si mesma”.
(GIANNOTTI, 2011, p.62)

Ao longo da película Gisaengchung, somos apresentados mais a fundo acerca da real


situação da família Ki-taek. A família de Kim residem em um semi-porão, cujo as condições
de higiene são mínimas. Em um episódio, agora já empregados pela família Park, ocorre uma
tempestade, em que o seu lar e de seus vizinhos são devastados pela água da chuva, onde se
mistura com água proveniente do esgoto. O cenário proporciona ao telespectador a refletir em
como um evento natural, um fenômeno da natureza, também pode ser relacionado a classe,
uma vez que os efeitos da chuva teve uma proporção diferente, nas classes mais abastadas a
chuva resultou somente em um “céu azul e sem poluição”.

Referência Bibliográfica:
BARROS, Albani; SANTOS, Marcelly Costa. Marx e a Precarização do trabalho. Socied. em Deb:
Pelotas, v. 25, n. 3, p. 46-58, set./dez. 2019.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe.
São Paulo: Nova Cultural, 1996. Livro I. (Os economistas).
GIANNOTTI, José Arthur. Considerações sobre o Método. In: MARX, Karl. O Capital: Crítica da
Economia Política. O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 53-66.
FRANCO, David Silva; FERRAZ, Deise Luiza da Silva. Uberização do trabalho e acumulação
capitalista. Cad. EBAPE.BR, v. 17, Edição Especial, Rio de Janeiro, Nov. 2019.

Você também pode gostar