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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
TRÊS MARIAS
2022
1. INTRODUÇÃO
O trabalho compõe um dos principais mecanismos para designar a existência dos seres
humanos no mundo e apresenta as relações que entre eles se estabelecem. Podendo ser
definido como produtivo, revolucionário e apto para produzir recompensas. Todavia, também
existe o trabalho doméstico. Ambos se assemelham ao indivíduo que executa, entretanto, se
distanciam quanto a valorização social e o reconhecimento jurídico.
O filme " Que horas ela volta? " (Anna Muylaert, 2015), retrata essa relação de classes,
existente entre a empregada Pernambucana Val (Regina Casé) e a família abastada da " Dona
" Bárbara (Karine Teles), que é desestabilizada após a chegada da filha da funcionária
nordestina. E, nos faz refletir sobre certos pontos, “Existe um nexo de continuidade entre
trabalho escravo e serviços domésticos?". Afinal, qual o percurso das políticas sociais atuais?
As domésticas em posição desprivilegiada há 200 anos no país. Quadro “Um Jantar Brasileiro”, de Jean-Baptiste
Debret. Fonte: Wikipédia/Reprodução
2. O FILME
Precipuamente, é importante citar que o filme “Que horas ela volta” é um importante
material de estudo sociológico e retratação da realidade de muitos brasileiros. Ademais,
segundo dados do IBGE (2019), ainda existem cerca 71,6% trabalhadores domésticos que
trabalham sem a carteira assinada, no contexto nacional, comprovando que ainda hoje, o
trabalho doméstico é considerado por muitos, informal, como exemplo, verifica-se a vivência
da personagem “Val” no filme. Sob esse viés, é possível investigar o motivo de o trabalho
doméstico ser considerado informal e relacionar tal fato ao passado escravista e
discriminatório do país.
O filme protagonizado pela atriz Regina Casé, documenta de forma fictícia o dia a dia
de uma empregada doméstica em uma casa de luxo, a qual comporta moradores bem
sucedidos, aparentemente educados e de origens diferentes da doméstica. O objetivo da
protagonista de origem pernambucana de ir para São Paulo era claramente conseguir melhores
condições de vida e de trabalho para ela e para sua filha, a qual permanece no nordeste com o
pai.
Na trama, nota-se o quanto a desigualdade social está presente nos mínimos detalhes
da convivência da empregada e de seus patrões. Cita-se, como exemplo, a presença de uma
piscina na casa de luxo, totalmente restrita à doméstica e de uso exclusivo da família
proprietária. Ademais, o quarto de empregada de uso exclusivo de Val apresenta condições
limitadas e desproporcionais se comparado aos outros cômodos da mansão, a saber, nele
possui uma pequena janela responsável por ventilar o pequeno cômodo tão contrastante com o
conforto da casa de luxo.
Em síntese, “Que horas ela volta?”, retrata de maneira crua e fiel como a desigualdade
social originada no passado escravista e desumano está presente no dia a dia de muitos
trabalhadores honestos, os quais se esforçam para dar o seu melhor, todavia não são
reconhecidos com a dignidade necessária.
É inquestionável, o filme “Que horas ela volta?", de Anna Muylaert, se impõe como
uma arte capaz de emocionar e, ao mesmo tempo, refletir. Um filme sobre ideologia. Com um
conjunto de metáforas e efeitos cinematográficos que servem para legitimar as ações de
determinado grupo.
Um vez que, o filme carrega uma crítica categórica à relação de desigualdade entre
empregadas e patrões que não servem sequer o próprio alimento. Vivenciando assim,
situações análogas à escravidão.
Ademais, observa-se uma nova perspectiva com a chegada da filha e sua forma de
viver. Val passa a questionar o seu papel frente a sociedade. E, cria consciência de sua
condição de mãe ausente. Até que ponto vale a pena se distanciar do seio familiar? Assim,
chega à conclusão que existem novas possibilidades de vida e que nada está perdido.
Diante disso, é necessário assegurar não só que políticas públicas sociais sejam fixadas
de forma a criar uma real equidade e não igualdade imaginária, no intuito de promover a
superação dessas desigualdades de gênero, raça, classe social, que ainda modelam o perfil da
doméstica brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES, Vandré. Que horas? Ou “A sua piscina está cheia de ratos”. União da
juventude socialista, 2016. Disponível em: <https://ujs.org.br/blog/noticias/que-horas-ou-a-
sua-piscina-esta-cheia-de-ratos-por-vandre-fernandes/>. Acesso em: 26 de Jun. 2022.
Que horas ela volta? Direção de Anna Muylaert. Rio de Janeiro, RJ: Globo Filmes, 2015. 1
DVD (114 Min), color
PEREIRA, Bergman de Paula. De escravas a empregadas domésticas – A dimensão social
e o “lugar” das mulheres negras no pós-abolição. In: XXVI Simpósio Nacional De
História, 2011, São Paulo. Anais… São Paulo: ANPUH, 2011. P. 1-7.
MONTOVANI, Denise. Emblema do país colonial, domésticas vão à luta. Outras Palavras,
2021. Disponível em: <https://outraspalavras.net/trabalhoeprecariado/emblema-do-pais-
colonial-domesticas-vao-a-luta/>. Acesso em 26 de Jun. 2022.