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RENATA FREITAS
Porto Alegre
2020
RENATA FREITAS
Porto Alegre
2020
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Histórias Cruzadas, originalmente “The Help”, estreou no ano de 2012 sob direção
de Tate Taylor. O filme é um relato autêntico do preconceito sofrido pelos negros
nos EUA e conta o drama das empregadas negras durante a luta por direitos civis
em meados de 1960, quando a divisão entre negros e brancos era acentuada pelo
apartheid. A história se passa em Jackson, pequena cidade no estado do Mississipi,
mostrando diversas questões raciais da época, como banheiros e ônibus somente
para negros.
SEGATO, R. L (2006, p. 5) ainda pontua que “é, contudo, nas estatísticas, que
podemos rastrear a persistência contemporânea da instituição da mãe-preta, já na
sua função de mãe-seca e polivalente criadeira dos filhos da classe meia”.
No filme, Skeeter (Emma Stone) é uma jovem que sonha em ser escritora. Recém
formada, consegue um emprego em um jornal local escrevendo uma coluna sobre
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Skeeter também teve uma mãe negra, mas fez disso um móvel para a alteridade,
não adotando o comportamento discriminatório de suas irmãs de pele.
E é por isso que, contudo, novamente em contato com a realidade de sua cidade, a
jovem se sente incomodada com a realidade dessas mulheres, e decide tentar
escrever sobre suas histórias, frente a uma realidade onde mulheres negras
literalmente criam filhos que não são seus, limpam, passam e cozinham, por salários
baixíssimos tendo sua liberdade e honra desconsideradas. Essas mulheres nunca
haviam sido respeitadas por pessoas brancas, muito menos ouvidas. Devido ao
contato das empregadas domésticas com a criação das crianças nas famílias para
as quais trabalham, um ponto muito importante nessa película são as relações
familiares nessa sociedade. As mulheres negras, tratadas como objetos,
trabalhavam na criação das crianças enquanto os pais se ocupavam em outras
tarefas. Essa contradição aflige quem assiste ao filme, pois apesar do repúdio pelos
funcionários, a conveniência em não se ocupar com as crianças fala mais alto,
mesmo à custa do amor dos filhos.
As babás negras, também chamadas “amas de leite” criavam os filhos das brancas
com amor e carinho sem esperar nada em troca. Era o que faziam e sabiam fazer,
até que uma das personagens cria uma iniciativa de também ter banheiros
separados para as babás negras. Skeeter tem que conviver com suas amigas
egoístas e insensíveis, mas resolve escrever um livro com os depoimentos de várias
babás negras sobre como se sentem e suas histórias vividas nas casas dos
brancos.
Os versos, ditos rotineira e poeticamente por Aibileen à menina Mae Mobley, “você é
gentil”, “você é importante” e “você é inteligente” são sementes plantadas na
personalidade da menor com vistas à construção de uma pessoa bondosa e ética.
Mas, para além das palavras, o acolhimento físico – isto é, o colo, o abraço e o
conforto dado quando do choro – é doado com dedicação por Aibileen.
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Ao passar um tornado pela cidade, Aibileen está agachada, rodeada por móveis
caídos no chão, ela própria com medo, mas não deixando de abraçar, proteger e
consolar a menor Mae. Não arbitrária, nem coincidentemente, Aibileen passa a ser
vista por Mae como a sua verdadeira mãe, desabrochando entre elas o vínculo
afetivo de mãe e filha. A mãe biológica, por estar sempre envolvida com o marido e
com eventos sociais, chega a evitar a menor, a qual, ao seu turno, não a reivindica
como mãe. Não há como se concluir de outro modo: Aibileen é a mãe de Mae.
REFERÊNCIAS
GOMES COSTA, Suely: “Proteção social, maternidade transferida e lutas pela saúde
reprodutiva”. Revista de Estudos Feministas N° 2, 2002, 301-323.
PAPALIA, D.E. Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. Cap.
6: Desenvolvimento Psicossocial nos três primeiros anos.