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ANTROPOLOGIA DAS EMOÇÕES

2º SEMESTRE DE 2019

1ª avaliação

Aluna: Carolina Pereira Crescencio

1. Arlie Hoschild discute como as abordagens organísmica e interativa da emoção


explicam a capacidade das pessoas de gerenciar seus sentimentos. Apresente como
a autora se posiciona neste debate. Exemplifique esta discussão sobre uma possível
base biológica da emoção e seu gerenciamento com um dos textos dos seguintes
autores da 1ª seção do curso: Delumeau, Badinter, Cadoná e Strey ou Del Monaco.

Segundo Hoschild, na abordagem organísmica as emoções são fragmentos de


experiências, “reação visceral, imediata e instantânea a um estimulo percebido”. Segundo essa
abordagem, os fatores sociais não influenciam o modo como as emoções são contidas ou
expressadas. As regras sociais, segundo essa abordagem, são aplicáveis/influenciam ao
comportamento e pensamento, mas não sobre as emoções, pois não seria possível
controlar/gerenciar as emoções. A interação social não afeta as emoções. Na abordagem
organísmica, “os fatores sociais só podem entrar para explicar o modo como as emoções são
estimuladas e expressas.”

“Eles não são vistos como uma influência sobre o modo como as emoções são
ativamente suprimidas ou evocadas. A emoção é na verdade caracterizada pela fixidez
e universalidade de um reflexo do joelho ou de um espirro. Nessa visão, a possibilidade
de gerenciar uma emoção é a mesma de gerenciar um reflexo do joelho ou um
espirro”.

A perspectiva interativa é diferente. Rotular, gerenciar e expressar os sentimentos são


processos que constroem aquilo que chamamos de emoção. As influencias sociais permeiam
as emoções, “os fatores sociais afetam o modo como as emoções são suscitas e expressas”.
Para Hoschild, gerenciamos aquilo que sentimos de acordo com regras implícitas, por isso o
que sentimos é frequentemente adequado à situação. Através das regras sociais e suas
convenções é possível gerenciar o que sentimos, já que nos é ensinado como nos portar diante
de determinado contexto.

“As regras parecem governar a forma como as pessoas tentam ou não tentam
sentir-se de maneira “adequada à situação”. Essa noção sugere o quão profundamente
“social” é o individuo, e o quanto é “socializado” para tentar pagar o tributo às
definições oficiais das situações com nada menos do que seus sentimentos.”

Cadoná e Strey abordam em seu texto os discursos contidos em algumas campanhas


de amamentação promovidas pelo ministério da saúde, discursos esses construídos através de
modelos sociais, voltados para a mulher/mãe, discursos esses construídos tendo como
perspectiva uma essência universal e biológica, colocando a mulher na posição de cuidadora,
educadora, por natureza, das crianças, ou seja, os significados de maternidade são construídos
através de um discurso biológico de que ser mãe é natural, instintivo, principal responsável
pela saúde do filho sem levar em consideração suas condições e problemas. Através dessas
campanhas que produzem um modo de ser mãe, é possível entender que esse modo é
construído através de um discurso biológico de que ser mãe é natural, instintivo, principal
responsável pela saúde do filho sem levar em consideração suas condições sociais e
problemas.

Através dessas campanhas que produzem um modo de ser mãe, é possível entender
que a maternidade é construída através/por meio de modelos sociais, porem justificadas
através de caráter biológico (Ministério da Saúde), porém o que seria “instintivo”, obrigação e
natural pode ser aperfeiçoado segundo a quando a campanha, quando a mesma ensina sobre
a mamada correta, por exemplo. Através dessas campanhas, a mãe passa a se sentir a principal
responsável pela saúde e por criar filhos equilibrados e saudáveis porque é ensinada pelas
normas sociais e por discursos que reforçam e legitimam esse “ensinamento”.

“Todos esses enunciados presentes nas campanhas estão ligados a um ideal


de mãe perfeita, que é a mãe ‘natural’, noção que se pauta na crença do instinto
maternal presente em todas as mulheres”.

Se é natural amamentar, por que existem campanhas de amamentação? É possível


entender a partir da abordagem realizada no texto que a amamentação, segundo as
campanhas e seu discurso, é considerada algo natural, porém que pode ser aperfeiçoado. A
mãe que não consegue ou optou por não amamentar é levada a se sentir culpada diante
dessas campanhas. Não é possível compreender a emoção dentro desse texto tendo como
base biológica, porém a emoção é passível de gerenciamento.

2. Explique a afirmação de Mauss de que “o caráter coletivo não prejudica em nada a


intensidade dos sentimentos”. Desenvolva sua resposta exemplificando o argumento
de Mauss com um dos textos da 2ª seção do curso: Viveiros de Castro e Araújo,
DaMatta, Castro ou Rezende.

Para Mauss, os sentimentos são produzidos pela sociedade e impostos/ensinados aos


indivíduos. As expressões orais dos sentimentos não são fenômenos exclusivamente
psicológicos ou fisiológicos, mas fenômenos sociais marcados. O ato, a forma como
expressamos o que sentimos possui caráter coletivo. Mauss ao descrever os ritos mostra que
os sentimentos estão ligados as regras sociais, ao que a sociedade espera que o individuo sinta
ou se comporte.

Segundo Mauss, a expressão dos sentimentos é social e obrigatória, mas ainda assim
natural e espontânea, não excluindo a sinceridade da demonstração. A performance, a
maneira como o/os individuo(s) demonstram suas emoções e seus sentimentos está
condicionada ao momento e a cultura da sociedade de qual faz parte, ou seja, são “moldados
pela forma coletiva”. Diante de determinado acontecimento, a sociedade espera uma postura
do individuo, o que nos leva a entender a expressão obrigatória dos sentimentos. A expressão
dos sentimentos é uma linguagem que o individuo utiliza para comunicar o que sente e como
se sente.
Rezende e Coelho, em Antropologia das Emoções, ao abordarem Mauss e a expressão
dos sentimentos como linguagem diz: “Para ele, a natureza ritualizada e coletiva da expressão
dos sentimentos é prova de seu caráter de “fato social”; isto, contudo, não impede que os
sentimentos sejam espontâneos, por ser assim vivenciada por quem a expressa.”

O texto de DaMatta exemplifica o argumento de Mauss ao abordar a saudade, palavra


de origem Portuguesa, utilizada e encontrada somente no idioma português. Segundo
DaMatta, nós “aprendemos a sentir saudade como aprendemos a brincar carnaval e a comer
feijoada.” “A saudade é dada coletivamente”. Para ele, a saudade é uma construção cultural e
ideológica, dotada de profunda capacidade performativa.

Saudade é sentir falta, emocionalmente, de algo passado e vivido, sendo possível que
ser experimentado e expressado por indivíduos que falam outro idioma. Quando um individuo
expressa sentir saudade demonstra para os outros como o mesmo lida com o tempo e com os
momentos passados e vividos pelo mesmo. Porém, a saudade não é um sentimento individual,
segundo DaMatta, ”é a existência social da saudade como foco ideológico e cultural, a permitir
um revestimento especial de nossas experiências, que faz com que a sintamos. É a categoria
que conduz a uma consciência aguda do sentimento, não o seu contrário.” Ou seja, só
sentimos saudade porque temos conhecimento do que ela socialmente significa .

A saudade demonstra a forma como a sociedade e o individuo lida com o tempo


passado, seja contextos ou relações. A relação e a forma como o individuo e a sociedade lida
com o tempo é social. Saudade está ligada ao tempo e a memória. A memória é coletiva, e é
por conta da memória que sentimos saudade. Alguns contextos de socialização evocam
memórias que despertam saudade. Saudade está ligada a situações, contextos e relações
perdidas. Fala sempre sobre perda seja temporária ou não. Está conectada a certa glorificação
do passado que leva ao esquecimento de problemas do passado, um discurso carregado de
nostalgia em que o passado “era melhor”.

Para DaMatta, a saudade é uma palavra performativa, invoca sentimentos. “A saudade


é algo que se aprende a partir de certo evento fortemente vivido”. Ou seja, o evento
fortemente vivido foi uma experiência de certa forma individual, mas o sentir saudade desse
evento é coletivo, social. A saudade é a expressão obrigatória de um sentimento.

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