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A patemização na televisão como estratégia de autenticidade


in Mendes E. & Machado I.L. (org.), As emoções no discurso, Mercado Letras,
Campinas (SP), 2007.

A primeira questão que um analista do discurso se coloca, ao tratar das emoções, é saber se
perante outras disciplinas humanas e sociais esta noção pode ser objeto de um estudo específico
da linguagem. Responder afirmativamente a essa questão supõe que delimitamos o quadro de
tratamento no qual esta noção se insere, que descrevemos as condições do seu surgimento e que
mostramos como isso se dá. Meu propósito aqui não é o de abordar a totalidade da questão. Optei
por examiná-la apenas sob um ponto de vista, ou seja, considerar esta noção através de uma
situação de comunicação particular, a comunicação televisiva.

Tentarei, assim, inicialmente, apresentar o que são, no meu entendimento, as condições de um


estudo discursivo das emoções. Na seqüência, descreverei o dispositivo comunicativo no qual as
observei para, em seguida, mostrar como elas agem discursivamente.

UMA PROBLEMÁTICA DISCURSIVA DA EMOÇÃO

O ponto de vista de uma análise do discurso se distingue do de uma psicologia das emoções que
tentaria estudar : i) a reação sensorial dos indivíduos em relação às percepções que teriam de um
mundo cujas manifestações desempenhariam o papel de desencadeador de impulsos, visto que é
verdade que certas emoções podem ser provocadas fisiologicamente e até mesmo mensuradas
quimicamente (como o stress, a angústia ou o medo) ; ii) as disposições de humor ou de caráter
dos indivíduos que podem constituir uma categorização segundo as tendências ou inclinações
destes indivíduos em ter comportamentos recorrentes, o que determinaria neles tipos de natureza
de caráter (também chamado de “temperamento”), que convêm designar por adjetivos (colérico,
mau humorado, apaixonado, medroso, angustiado, hidrófobo [1]) ; iii) as reações
comportamentais dos indivíduos – sejam elas encenadas ou reais – diante de acontecimentos que
se produzem no mundo ou na ação que os outros têm sobre eles, reações que podem igualmente
constituir uma categorização similar às precedentes, mas numa perspectiva diferente, dado que
não se trataria aqui de descrever uma natureza do indivíduo, uma disposição de sua essência e
tampouco um grau de sensorialidade, mas uma re-ação relativa à situação na qual o indivíduo
reage. Nesta perspectiva, trata-se de chegar à definição de categorias básicas como a vergonha, o
orgulho ou a humilhação.

Tais estudos – que não são, vale lembrar, exclusivos uns dos outros, e que não prejulgam, aqui, as
opções teóricas nas quais eles podem ser conduzidos [2] –, estão centrados no indivíduo e
propõem explicações causais sobre seu comportamento, seja ele fisiológico ou psíquico. Assim, o
medo pode ser mensurado quimicamente, considerado como uma característica de temperamento
ou como um comportamento reativo podendo provocar pânico.

O ponto de vista de uma análise do discurso se distingue igualmente do de uma sociologia das
emoções que procura estabelecer categorias “interpretativas e ideal-típicas” [3] através das
reconstruções do que deveria ser o comportamento humano no jogo das regulações e das normas
sociais. Pode-se dizer, assim, na seqüência de Mauss e Durkheim [4], que as emoções não advêm
somente da pulsão, do irracional e do incontrolável, mas que elas têm também um caráter social.
Elas seriam a garantia da coesão social, permitiriam ao indivíduo constituir seu sentimento de
pertencimento a um grupo (Mauss), representariam a vitalidade da consciência coletiva. Isso quer
dizer que, sendo sinal de reconhecimento para os membros de um grupo, elas se apóiam em
julgamentos coletivos que se instituem numa espécie de regra moral. Infringir a regra leva a uma
sanção (Durkheim), o que, em contrapartida, dá a estes julgamentos um caráter de obrigação.
Trata, assim, aqui, de fazer a descrição destas categorias de emoção-norma-julgamento do
comportamento social segundo diferentes parâmetros : o grau de universalidade (a cólera parece
ser mais universal que a vergonha), a especificidade cultural (o pudor, o orgulho parecem ser
muito ligados ao contexto social), a maior ou menor orientação acional (a indignação parece
resultar de uma ação reivindicativa, a compaixão também, mas em um grau menor), por fim, a
racionalidade, mais ou menos evidente (a indignação parece mais ligada a um julgamento –
partilhável – sobre o comportamento do outro em relação às normas de justiça, a angústia mais
ligada a uma pulsão individual sem a determinação precisa de um objeto-suporte).

Parece-me que o ponto de vista de uma análise do discurso não pode confundir-se totalmente
nem com o da psicologia – ela seria social –, nem com o da sociologia – ela seria interpretativa e
interacionista. O objeto de estudo da análise do discurso não pode ser aquilo que os sujeitos
efetivamente sentem (o que é vivenciar a cólera), nem aquilo que os motiva a querer vivenciar ou
agir (porque ou em que ocasião se vivencia a cólera), tampouco as normas gerais que regulam as
relações sociais e se constituem em categorias que sobredeterminam o comportamento dos
grupos sociais. A análise do discurso tem por objeto de estudo a linguagem em uma relação de
troca, visto que ela é portadora de algo que está além dela. Assim, o medo, por exemplo, não
deve ser considerado em função da maneira pela qual o sujeito o manifesta através de sua
fisiologia, tampouco uma categoria na qual o sujeito se colocaria a priori de acordo com o que ele
é (suas próprias tendências) e tampouco segundo a situação na qual ele se encontra (sozinho
diante de um leão), e menos ainda como sintoma de um comportamento coletivo (o pânico), mas
como sinal daquilo que pode acontecer ao sujeito a respeito do fato de que ele mesmo estaria em
condições de reconhecê-lo como uma “figura”, como um discurso socialmente codificado que,
como bem propõe Roland Barthes [5], lhe permitiria dizer “É realmente isso, o medo !” ou
simplesmente “Tenho medo !”. Este ponto de vista se aproximaria, por conseguinte, ao de uma
retórica da visada de efeito que é instaurada por categorias de discursos [6] que pertencem a
diferentes ordens (inventio, dispositio, elocutio, actio), nas quais haveria, entre outras coisas, um
“tópico” da emoção – uma “patemia”, diria eu – que seria constituída por um conjunto de
“figuras”. Mas veremos que, se este ponto de vista faz parte da retórica, esta deve ser completada
por uma teoria do sujeito e pela situação de comunicação.

Entretanto, este “algo”, que não está no signo, mas do qual ele é, no entanto, portador (ou seja, o
que está no signo de discursos não é uma “essência denotativa” que faria deste uma realidade
explícita e transparente, contrariamente ao signo da língua), este algo que contribui para construir
figuras, onde está ele ? De onde ele vem ? O que ele representa ? Vem de tudo aquilo que
constitui a troca social e que faz sentidos : desejos e intenções dos sujeitos, suas relações de
pertencimento aos grupos, o jogo das interações que se estabelecem entre eles, indivíduos ou
grupos, conhecimentos e visões do mundo que eles compartilham, e em circunstâncias de troca ao
mesmo tempo particulares e tipificadas. Percebemos, a partir daí, que, ao se pautar pela
psicologia e pela sociologia, a análise do discurso precisa delas, na medida em que suas análises
evidenciam os mecanismos de intencionalidade do sujeito, os da interação social e a maneira
como as representações sociais se constituem. Certas noções são mais propícias à
interdisciplinaridade que outras justamente porque estão imbricadas nestes diferentes
mecanismos. Este é o caso da “emoção”.

Gostaria, assim, de me apoiar nos debates [7] que acontecem nessas diferentes disciplinas, no
que diz respeito às emoções, a fim de extrair, ainda que de maneira geral, algumas reflexões que
me serão úteis para melhor definir aquilo que chamo de “efeitos patêmicos do discurso”. Destes
debates me deterei sobre três pontos que parecem constituir consenso entre sociólogos,
psicólogos sociais e filosóficos, e que acho essenciais para um tratamento discursivo da questão :
as emoções são de ordem intencional, estão ligadas a saberes de crença e se inscrevem em uma
problemática da representação psicossocial.

AS EMOÇÕES SÃO DE ORDEM INTENCIONAL

A maior parte destes sociólogos e filósofos concorda que – sem negar o pertencimento das
emoções ao universo do afetivo (há sempre, de uma maneira ou outra, sentimentos e experiências
na emoção) –, estas não são, entretanto, totalmente irracionais e não são, por conseguinte,
redutíveis àquilo que é da ordem da simples sensação ou da pulsão irracional. Alguns [8]
recordam que a filosofia ocidental sempre distinguiu emoções tais como o amor, o medo, a
compaixão, a cólera e a esperança, de impulsos e instintos físicos tais como a fome e sede. Essa
distinção é maior, visto que a primeira categoria está ainda muito ligada às sensações, mas uma
primeira fronteira é estabelecida entre aquilo que poderá ser recuperado para integrá-la em um
campo cognitivo e aquilo que lhe parece ser totalmente externo. Outros, posteriormente, vão mais
além mostrando que não se pode confundir emoção e sensação “… ainda que empreguemos, às
vezes, os termos ‘sentir’ ou ‘ressentir’ para falar das nossas emoções, para reconhecê-las ou
confessá-las” [9]. Prova disso é o fato de que duas emoções diferentes (ciúmes, desejo) possam
corresponder a uma mesma sensação (dor), ou que uma mesma emoção (ciúmes) possa provocar
“estados qualitativos” diferentes (dor, excitação, abatimento, cólera). Assim, “… a sensação –
como estado qualitativo – não é um critério de discriminação suficientemente fino para dar conta
da diversidade das emoções” [10].

Eles concordam, por conseguinte, no que diz respeito à ligação entre as emoções e a
racionalidade. Sem querer entrar, aqui, no debate suscitado por sociólogos e filósofos
contemporâneos entre teorias ditas “cognitivas” – que, tratando os estados intencionais na
terceira pessoa, tendem a absorver as emoções em uma concepção intelectualista a ponto de
eliminar o afetivo –, e teorias ditas “não-cognitivas” – que, tratando os estados intencionais na
primeira pessoa, mantêm a relação com o afetivo [11] –, a partir de agora admite-se que as
emoções têm uma “base cognitiva”. A própria racionalidade foi objeto, na filosofia contemporânea,
de uma redefinição que não a opõe mais, de maneira radical, aos instintos e a paixão, como em
uma concepção cartesiana. O surgimento do sujeito como fundamento do pensamento (a filosofia
kantiana e depois a fenomenologia passaram por aí) permitiu integrar na racionalidade um certo
número de componentes que estão muito ligados a ela. Como resume muito bem John Elster [12],
a racionalidade está ao serviço de um agir para alcançar um objetivo (não necessariamente
atingido) cujo agente seria, de uma maneira ou de outra, o primeiro beneficiário : ela
compreende, assim, uma “visada acional”. Mas no que diz respeito a essa visada, concebida
finalmente como a procura de um objeto, ela deve estar bem desencadeada por algo ; podemos
dizer que este algo é da ordem do desejo (visto que o agente se vê no final das contas como
beneficiário) : essa racionalidade, por conseguinte, será tida como “subjetiva”. Enfim, podemos
supor que a visada acional e o desejo desencadeador não são únicos, eles são o resultado de uma
escolha entre um conjunto de possíveis, e que para escolher entre este conjunto é necessário ter
alguns conhecimentos sobre as vantagens e os inconvenientes de cada um desses possíveis, e,
desse modo, uma representação deles. E como estes conhecimentos são relativos ao sujeito, às
informações que ele recebeu, às experiências que ele viveu e aos valores que ele lhes atribuiu,
podemos dizer que a racionalidade está ligada às “crenças”.

Assim, podemos afirmar que as emoções se inscrevem em tal quadro de racionalidade pelo fato de
“… conterem em si mesmas uma orientação direcionada a um objeto” [13], do qual tiram sua
propriedade de intencionalidade. É por essa razão que as emoções se manifestam em um sujeito
“a propósito” de algo que ele se imagina, de algo que possa ser nomeado de intencional. A
compaixão ou o ódio que se manifestam em um sujeito não é o simples resultado de uma pulsão,
não se mensura somente por uma sensação de torpor ocasionada pela adrenalina ; ela é
vivenciada na representação de um objeto que afeta o sujeito ou que ele procura combater. Isso
alarga o conceito de “estados intencionais” : dizem respeito ao intelecto e à emoção, e todos são,
ao mesmo tempo, exógenos (remetem a um objeto externo para o qual são orientados) e
endógenos (imaginados pelo próprio sujeito, que, de maneira reflexiva, constrói a representação
desse objeto).

AS EMOÇÕES ESTÃO LIGADAS AOS SABERES DE CRENÇA


O fato das emoções se inscreverem em um quadro de racionalidade não basta para explicar sua
especificidade. Não somente o sujeito deve perceber algo, não somente este algo deve ser
acompanhado de uma informação, ou seja, de um saber, mas é necessário, além disso, que o
sujeito possa avaliar este saber, possa se posicionar em relação a este saber para poder vivenciar
ou exprimir a emoção. Qualquer indivíduo pode perceber um leão, reconhecer a morfologia,
conhecer os hábitos, ter conhecimentos zoológicos profundos sobre esse animal, enquanto ele não
avaliar o perigo que este pode representar para ele, na situação em que ele se encontra, ele não
vivenciará nenhuma emoção de medo. Esse tipo de saber tem, desse modo, duas características :
1) ele se estrutura em torno de valores que são polarizados [14] ; 2) esses valores não devem ser
verdadeiros, visto que são dependentes da subjetividade do indivíduo, eles têm simplesmente
necessidade de serem construídos por ele. Trata-se de um saber de crença que se opõe a um
saber de conhecimento, o qual se baseia em critérios de verdade externos ao sujeito.

O que no debate geral que mencionei acima ainda não foi abordado é o tipo de relação que existe
entre emoções e crenças. Martha Nussbaum lembra que “… alguns sustentam que as crenças
pertinentes são condições necessárias para a emoção, outros afirmam que as crenças são ao
mesmo tempo necessárias e suficientes, outros afirmam, ainda, que elas são partes constitutivas
da emoção ; e outros, por fim, sustentam que a emoção é simplesmente uma espécie de crença e
de julgamento” [15]. Esse último ponto de vista parece ser compartilhado por vários
pesquisadores [16], que afirmam que não é necessário considerar que as emoções são “sensações
mais uma interpretação”, mas que “… elas são de imediato uma interpretação (…) das
circunstâncias” [17] E uma interpretação que se apóia em valores é tida como de ordem moral,
visto que a ausência de emoção em tais circunstâncias provoca uma sanção moral (cf. a rainha da
Inglaterra que quebra o protocolo ao fazer um discurso a respeito da morte da princesa do País de
Gales, para não ser vista como indiferente por seus súditos), não em termos psicológicos como
julgamento de anormalidade sobre uma conduta (a rainha é insensível), mas em termos de
“deficiência moral” (a coroa da Inglaterra é decadente) devido à “ruptura da relação” convencional
“… entre uma situação típica e as emoções que ela garante" [18] Nessa perspectiva, as emoções
deveriam ser tratadas sob o olhar de julgamentos que se apoiariam nas crenças que um grupo
social partilha, e cujo respeito ou não leva a uma sanção moral (elogio ou repreensão). A esse
respeito, as emoções são efetivamente um tipo de estado mental racional.

Seja qual for a posição tomada, emoções e crenças estão indissoluvelmente ligadas : qualquer
modificação de uma crença leva a uma modificação de emoção (por exemplo, a humilhação) ;
qualquer modificação de emoção leva a um deslocamento da crença (por exemplo, a indignação) ;
e podemos apostar que qualquer desaparecimento de emoção em uma circunstância socialmente
esperada leva a uma modificação das crenças [19]

Podemos, desse modo, resumir o que dissemos afirmando que : i) as crenças são constituídas por
um saber polarizado em torno de valores socialmente compartilhados ; ii) o sujeito mobiliza uma,
ou várias, das redes inferenciais propostas pelos universos de crença disponíveis na situação onde
ele se encontra, o que é susceptível de desencadear nele um estado emocional ; iii) o
desencadeamento do estado emocional (ou a sua ausência) o coloca em contato com uma sanção
social que culminará em julgamentos diversos de ordem psicológica ou moral.

AS EMOÇÕES SE INSCREVEM EM UMA PROBLEMÁTICA DA REPRESENTAÇÃO

Se definimos as emoções como estados mentais intencionais que se apóiam em crenças,


podemos, então, dizer que esta noção se inscreve numa problemática da representação.

De uma maneira geral, a representação procede de um duplo movimento de simbolização e de


auto-apresentação : i) de simbolização quando ela arranca os objetos do mundo em sua existência
objetal os imaginando, através de um sistema semiológico qualquer, através de uma imagem que
é dada pelo próprio objeto e que, no entanto, não é esse objeto (assim como definição do signo
lingüístico) ; ii) de auto-apresentação, visto que essa construção imaginada do mundo, através de
um fenômeno de reflexividade, retorna ao sujeito como imagem que ele mesmo constrói do
mundo, e através da qual ele se define : o mundo lhe é auto-apresentado, e é através dessa visão
que ele constrói sua própria identidade.

É assim que se construiria a consciência psíquica do sujeito [20], pela presença nela de algo que
lhe é externo, no qual foi dada uma forma-sentido, a partir da experiência intelectual e afetiva que
o sujeito adquire do mundo, através das trocas sociais nas quais ele se encontra inserido.

Entretanto, essa atividade mental de representação não é necessariamente interiorizada no


sentido em que ela se tornaria automaticamente fonte de um novo comportamento. Ela
permanece uma “re(a)presentação”. Jennifer Church [21] observa que podemos nos representar
uma regra de gramática de uma língua estrangeira sem necessariamente interiorizá-la, ou seja,
ser capaz de aplicá-la. Inversamente, podemos aplicar corretamente uma regra sem
necessariamente ter uma consciência clara dela, como quando falamos a nossa língua materna
sem tê-la estudado [22] A autora sugere também que não é a mesma coisa que ter uma vertigem
(fenômeno interiorizado), não é a mesma coisa que saber que a altura pode dar vertigem
(fenômeno de representação), o que para Paperman explicaria a razão pela qual, às vezes, as
emoções resistem à razão (descobrirmos que não termos razão de ter medo não elimina
necessariamente a experiência do medo [23] As representações permanecem, assim, em uma
relação de face à face com o sujeito, mas, é necessário acrescentar, elas podem, às vezes, se
interiorizar, o que verificamos na aprendizagem de uma língua estrangeira e, de uma maneira
geral, em qualquer aprendizagem social.

Duas questões permanecem : i) podemos falar de “representações patêmicas”, e onde residem


suas especificidades ? ii) quando as representações podem ser chamadas de “sóciodiscursivas” ?

Retomando o fio das crenças cognitivo-afetivas, direi que uma representação pode ser chamada
de “patêmica” quando ela descreve uma situação a propósito da qual um julgamento de valor
coletivamente compartilhado – e, por conseguinte, instituído em norma social – questiona um
actante que acredita ser beneficiário ou vítima, e ao qual o sujeito da representação se encontra
ligado de uma maneira ou de outra : um acidente é uma situação a propósito da qual podemos
nos representar vítimas cuja norma social nos diz que são pessoas que estão sofrendo e que
devem ter nossa compaixão, emoção sentida em maior ou menor grau segundo a relação que nos
une às vítimas (parentesco, amizade, amor ou mitologia, como no caso da morte de Lady Di). A
relação patêmica engaja o sujeito em um comportamento reacional segundo as normas sociais às
quais ele está ligado, as que ele interiorizou ou as que permanecem nas suas representações.

As representações podem ser chamadas de “sóciodiscursivas” quando o processo de configuração


simbolizante do mundo se faz através de um sistema de signos. Não signos isolados, mas
enunciados que significam os fatos e os gestos dos seres do mundo. Esses enunciados, não sendo
produzidos arbitrariamente por qualquer um em qualquer ocasião, testemunham, ao mesmo
tempo, como já disse anteriormente, a maneira como o mundo é percebido por sujeitos que vivem
em comunidade, valores que eles atribuem aos fenômenos percebidos, e que são os próprios
sujeitos. Esses enunciados circulam na comunidade social, tornam-se objeto de partilha e
contribuem para constituir um saber de comum, e, particularmente, um saber de crenças.
Reservarei, assim, a qualificação “sóciodiscursiva” para as representações que envolvem o sujeito,
os levam a tomar partido no que diz respeito aos valores, em oposição aos conhecimentos que lhe
são exteriores, não lhe pertencem, vêm até ele e não o envolvem. Dizer : “os franceses vivem na
Europa” advém de um saber de conhecimento ; mas dizer : “os franceses são frívolos” advém de
um saber de crença que descreve propriedades qualitativas e essencialistas de um tipo de
indivíduo, cuja polaridade depende das ligações que unem o sujeito a esses indivíduos
(franceses/estrangeiros, grau de conhecimento, contacto/não contato [24] As representações
sóciodiscursivas são como mini-narrativas que descrevem seres e cenas de vida, fragmentos
narrados (Barthes dizia “parcelas de discursos”) do mundo que revelam sempre o ponto de vista
de um sujeito. Esses enunciados que circulam na comunidade social criando uma vasta rede de
intertextos se reagrupam constituindo aquilo que chamo de um “imaginário sóciodiscursivo”. Eles
são o sintoma desses universos de crenças compartilhadas que contribuem para construir ao
mesmo tempo um ele social e um eu individual (por exemplo, o imaginário da falta, do pecado, do
poder). Esse imaginário, segundo a tradição retórica retomada por Barthes, são tipos de tópicos
que diferentes imagens vêm preencher com a ajuda do enunciado.

Aí está, então, uma parte do discurso das ciências sociais modernas sobre o conceito de emoção
que resumirei da seguinte maneira :

as emoções advêm de um “estado qualitativo” de ordem afetiva, pelo fato de um sujeito que
vivencia e ressente estados eufóricos/disfóricos em relação com a sua fisiologia e suas pulsões,

mas advêm, ao mesmo tempo, de um “estado mental intencional” de ordem racional, enquanto
visam um objeto que é figurado por um sujeito que tem uma visão do mundo, que julga esse
mundo através de valores, os quais são objeto de um consenso social [25], constituem
conhecimentos de crença imaginários sóciodiscursivos que servem de suporte desencadeador ao
mesmo tempo em estado qualitativo e em uma reação comportamental.

as emoções são, desse modo, ao mesmo tempo, origem de um “comportamento”, enquanto se


manifestam através das disposições de um sujeito, e controladas (ou mesmo, sancionadas) pelas
normas sociais advindas dessas crenças.

OS PROBLEMAS

Podemos nos apoiar nessas características para definir uma análise do discurso das emoções, mas
três tipos de problemas, pelo menos, se colocam para tratar esta questão de maneira discursiva :
um refere-se à determinação do objeto do tratamento discursivo ; outro, a organização do campo
temático da emoção ; o terceiro, diz respeito à determinação das marcas que seriam vestígios de
emoção.

DO OBJETO “EMOÇÃO” À “VISADA PATÊMICA”

O que vemos e mensuramos no surgimento de uma emoção ? É devido ao fato de um sujeito dizer
que a vivencia ? Mas o que é que garante que o que o que ele diz corresponde ao que ele vivencia,
e como apreender o que ele vivencia ? Vimos que se a emoção tivesse as propriedades de um
estado mental intencional, ela não teria menos propriedades qualitativas de ordem afetiva que a
tornasse difícil de apreender : “… É a presença da excitação, de uma sensação qualitativa, de um
caráter agradável ou desagradável que faz com que o estado “vivenciar que p” difere outros
estados intencionais, como o estado “desejar que p” ou de “crer que p”. Não sei, continua Elster,
se os outros vêem as cores como eu, nem se suas emoções são as mesmas que as minhas. Será
que quando vivenciam a vergonha, eles sentem o que sinto quando vivencio a vergonha ? Não
podemos responder à questão ; é provável que ela não tenha nenhum sentido [26]”. Ou melhor, é
porque, mesmo se ele não pretende (pelo seu discurso explícito) ser comovido, o sujeito dá sinais
de emoção (o que não é a mesma coisa que dizer que vivencia a emoção) ? Mas aí também nos
perguntamos qual garantia temos de que estes sinais correspondem ao vivido ? Em outros termos,
que prova temos da correspondência entre o dito e o vivenciado ? Como comprovaríamos a
sinceridade e a autenticidade ? Uma manifestação de emoção pode ser mais ou menos dominada ;
pode ser controlada para fins táticos numa troca interacional de modo a não ser vista, ou, ao
contrário, simulada para impressionar o outro ; ela pode até mesmo ser encenada como no teatro
ou no cinema, e ser expressa através de gestos ou de comportamentos codificados que acontecem
apenas nesses em lugares [27]. Podemos exprimir uma emoção sem querer comover e, no
entanto, comover, podemos querer comover e não conseguir. Podemos descrever cenas que
acreditamos ser comoventes e não provocar emoção, podemos descrever cenas que acreditamos
ser neutra do ponto de vista emocional e, no entanto, provocar no destinatário da narrativa um
estado de emoção. Enfim, podemos controlar nossa emoção ou mesmo jogar com ela. Não há
relação de causa e efeito direta entre exprimir ou descrever uma emoção e provocar um estado
emocional no outro. Daí uma questão : a emoção deve ser estudada a partir da sua manifestação
no sujeito que a vivencia, ou naquilo que constitui o desencadeamento, a origem ?
A análise do discurso não pode interessar-se à emoção como realidade manifesta, vivenciada por
um sujeito [28] Ela não possui os meios metodológicos. Em contrapartida, ela pode tentar estudar
o processo discursivo pelo qual a emoção pode ser colocada, ou seja, tratar esta como um efeito
visado (ou suposto), sem nunca ter a garantia sobre o efeito produzido. Assim, a emoção é
considerada fora do vivenciado, e apenas como um possível surgimento de seu “re-sentido” em
um sujeito específico, em situação particular. Mesmo procurando os vestígios de emoção em um
sujeito que fala no momento de troca interlocutória ou na construção dramatizante de uma
narrativa susceptível de produzir emoção, estamos sempre em uma perspectiva de efeito : no
primeiro caso, é o interlocutor (ou o analista) que é alvo (voluntário ele involuntário) dessa visada,
no segundo caso, é o destinatário-público (leitor, espectador, telespectador) que é receptáculo
dessa visada.

Assim pode ser localizada uma dupla enunciação do efeito patêmico : uma enunciação da
expressão patêmica, enunciação ao mesmo tempo elocutiva e alocutiva que visa produzir um
efeito de patemização quer pela descrição ou pela manifestação do estado emocional no qual o
locutor se encontra (“tenho medo”, “me emociono”, o corpo que treme, imagem de pânico no
rosto), seja pela descrição do estado no qual o outro deveria se encontrar (“não tenha medo !”,
“tenha compaixão !”, “tenha piedade !”) ; uma enunciação da descrição patêmica, enunciação que
propõe a um destinatário anarrativa (ou um fragmento) de uma cena dramatizante susceptível de
produzir tal efeito. Portanto, consideraremos que “estou bravo” e “não fique bravo” são dois tipos
de enunciado que instauram o efeito patêmico de maneira diferente quando dizemos “a multidão
está brava”. O efeito patêmico dos dois primeiros enunicados é instaurado por meio de uma
construção identitária ; o do terceiro enunciado é instaurado por meio de uma identificação-
projeção que é proposta ao destinatário. O efeito e a intensidade dos dois primeiros dependem da
relação identitária e do jogo interlocutório que se instaurou entre os interlocutores ; o efeito e a
intensidade do terceiro dependem da relação que une o destinatário à situação descrita e dos
protagonistas [29]. Do mesmo modo a compaixão, por exemplo, pode ser detectada na réplica
“compreendo você e compartilho sua dor” de um locutor que se dirige ao seu interlocutor que se
encontra confuso ; a compaixão também pode ser mostrada numa reportagem televisiva e
detectada nos gestos de uma pessoa que pega uma criança abandonada em seus braços, nas
palavras que ela pronuncia, ou mesmo em sua ação humanitária. Nos dois casos é instaurada uma
visada discursiva de efeito compassivo.
É a razão pela qual prefiro os termos “pathos”, “patêmico” e “patemização” ao de emoção. Isso me
permite, por um lado, inserir a análise do discurso das emoções na filiação da retórica que desde
Aristóteles trata os discursos em uma perspectiva de visada e de efeitos [30] (ainda que
ordenamentos sejam necessários a essa filiação), por outro lado, me permite demarcar a análise
do discurso, caso seja necessário, da psicologia e a sociologia.

QUAL A ORGANIZAÇÃO DO UNIVERSO PATÊMICO ?

Há diferentes e múltiplas maneiras de classificar as emoções. A história da filosofia e da sociologia


nos dá vários exemplos. Tudo depende, mais uma vez, dos critérios de classificação que
escolhemos. Podemos tentar classificá-las segundo o papel que elas têm no desencadeamento da
ação em relação com outros conceitos tais como o interesse (os moralistas dos séculos XVII e
XVIII distinguiam entre interesses e paixões) [31] ou, mais recentemente, as normas sociais [32].
Podemos igualmente classificá-las segundo seu grau de generalidade, tentando distinguir aquelas
que teriam um caráter mais universal (a raiva) e aquelas que teriam um caráter específico em
relação com seu contexto social (o pudor, a vergonha). Podemos, ainda, classificá-las segundo seu
grau de racionalidade (a indignação a alegria) ou, de maneira mais fina, distinguindo as emoções
tidas como afetivas (tristeza, alegria), informativas (aborrecimento/interesse), apreciativas (ódio,
raiva). [33] Podemos, enfim, classificá-las simplesmente como reacionais (a compaixão) ou que
incitam à ação (a indignação). Mas, se cruzarmos vários desses critérios, veremos que é bem
difícil ter uma tipologia operacional. A indignação, por exemplo, pode ter uma base racional que se
instaura em uma apreciação da situação, mas pode também provocar uma reação de raiva não
racionalizada. Além disso, ela pode ou ter um efeito paralisante, e até mesmo levar a uma
angústia, ou, ao contrário, ter um efeito acional (o humanitário). Podemos também considerar que
ela não é a mesma segundo os contextos socioculturais, ou melhor, nesses tempos de
mediatização planetária, que ela tenha um caráter universal (a pobreza no mundo).

Fazer uma classificação dessa noção sem levar em conta a situação de surgimento da emoção faz
parte muito mais de um projeto sócio-antropológico. Se, como vimos, qualquer emoção se
instaura sobre crenças e resulta da atividade inferencial que um sujeito está prestes a
desenvolver, se, além disso, nos interessamos mais em detectar um efeito patêmico antes de
estabelecermos uma tipologia das emoções, então devemos abordar essa questão da natureza do
patêmico segundo a trilogia da qual falei acima : situação de comunicação, universos de saber
partilhado, estratégia enunciativa. Assim, poderão ser tratados dois dos fenômenos apontados a
pouco, a saber : a diversidade dos efeitos de um mesmo ato de enunciação e suas especificidades
culturais.

Para ilustrar o primeiro fenômeno, lembremos-nos da frase “Nada justifica que lancemos aos cães
a honra de um homem”, pronunciada por François Mitterrand no momento do enterro de Pedra
Bérégovoy. Essa frase é susceptível de produzir diversos efeitos patêmicos : de compaixão frente
a um homem que realizou um ato de desespero, de raiva que denuncia os perseguidores, de dor
contida pela morte de um pessoa próxima.

Para ilustrar o segundo caso, nos reportaremos aos efeitos da campanha publicitária da Benetton
com o cartaz do HIV que aparece em destaque sobre um braço humano. Seus efeitos não foram
os mesmos na França e na Grã-Bretanha. O fato de ela não ter5 chocado na Inglaterra,
diferentemente da França, se deve, provavelmente, a uma diferença dos universos de crenças : na
França, a existência da deportação e a experiência dos campos de concentração são susceptíveis
de desencadear uma rede inferencial (morte, sofrimento e genocídio) que opera uma aproximação
entre esta tatuagem e a dos deportados, e, por conseguinte, um efeito patêmico de dor que
provoca indignação e revolta. Já na Inglaterra, onde não houve esse tipo de sofrimento coletivo,
esse fenômeno tem apenas um conhecimento informativo dos campos e, por conseguinte, há à
disposição uma rede inferencial diferente que não desencadeia efeito patêmico tão extremado.

Estes dois exemplos mostram que a organização do universo patêmico depende da situação social
e sociocultural na qual se inscreve a troca comunicativa.

HÁ MARCAS-VESTÍGIOS DO PATÊMICO ?

Se nos detemos aqui apenas na linguagem verbal (e esse é o caso), a simples experiência e sua
observação mostram que o efeito patêmico pode ser obtido pelo emprego de certas palavras, mas
também quando nenhuma das palavras utilizadas remete a um universo emocional. Dito de outro
modo, o efeito patêmico pode ser obtido tanto por um discurso explícito e direto, na medida em
que as próprias palavras têm uma tonalidade patêmica, quanto implícito e indireto, na medida em
que as palavras parecem neutras deste ponto de vista. Portanto, constataremos três tipos de
problemas :

i) há palavras que descrevem de maneira transparente emoções como “raiva”, “angústia”, “horror”,
“indignação” etc., mas seu surgimento não significa nem que o sujeito as sinta como emoções
(problema de autenticidade), nem que elas produzirão um efeito patêmico no interlocutor
(problema de causalidade). Às vezes, acontece mesmo esse fenômeno curioso de despatemização,
quando essas palavras são empregadas com muita insistência, como o fazem os meios de
comunicação social (parece que se produz, desse modo, um desencadeamento metaenunciativo)

ii) há palavras que não descrevem as emoções mas são tidas como boas candidatas ao seu
desencadeamento : “assassinato”, “conspiração”, “vítimas”, “manifestação”, "assassino", por
exemplo, são susceptíveis de nos levar a um universo patêmico. Sim, mas qual ? Certamente, o
universo patêmico não será o mesmo, quando se trata de uma “manifestação silenciosa”
(expressão da dor e de indignação), como a “passeata branca” dos Belgas, a propósito do
processo Dutroux, ou quando se trata da passeata das mulheres da praça de maio na Argentina,
ou a dos espanhóis contra o ETA, ou, ainda, quando se trata de uma “manifestação agitada”, ou
até mesmo “violenta” (expressão do desespero e de reivindicação), como na África ou no Médio
Oriente. Esse universo também não será o mesmo, se pensamos em vítimas diferentes de um
roubo : uma “velhinha”, “meu chefe” ou “um banqueiro riquíssimo”. A mesma lógica pode ser
usada no caso de uma vítima de um assassinato ser um tirano, um ditador ou uma pessoa
próxima. Dito de outra forma, como bem mostra a teoria dos topoï (Ducrot), a orientação
argumentativa (diremos, aqui, patêmica) de uma palavra pode alterar, ou até mesmo se inverter,
segundo seu contexto e, acrescentarei, sua situação de emprego.

iii) enfim, como já dissemos, há enunciados que não comportam palavras patemisantes e que, no
entanto, são susceptíveis de produzir efeitos patêmicos, desde que tenhamos conhecimento da
situação de enunciação : “Basta !”, gritavam as pessoas vítimas do milésimo bombardeamento da
sua cidade ; “Meu filho era puro, inocente” disse um pai debruçado sobre o túmulo ao ser
entrevistado em uma reportagem na Bósnia Herzegovina ; “Um dia comum em Sarajevo”, disse
um jornalista à televisão, mostrando as imagens do último bombardeio que acabava de acontecer
naquela cidade.

Esses três tipos de problemas lembram que a construção discursiva do sentido como produção de
efeitos intencionais visados depende das inferências que os parceiros do ato de comunicação
podem produzir, e que estas inferências dependem do conhecimento que esses parceiros podem
ter da situação de enunciação.

PROPOSTAS

A patemização pode, então, ser tratada discursivamente como uma categoria de efeito que se
opõe a outros efeitos como o efeito cognitivo, pragmático, axiológico etc. E como toda categoria
de efeito, ela depende das circunstâncias nas quais ela surge. Se questionando sobre o fenômeno
da ausência de emoção, Patrícia Paperman constata que o julgamento a ser feito sobre tal
ausência depende das circunstâncias em que acontece : “O que tornaria notável a ausência de
emoção, é (…) uma divergência de apreciação das circunstâncias significativas que tornam
possível uma emoção específica” ; e a autora conclui : “… a questão que o sociólogo pode se
colocar refere-se à natureza da ligação entre a situação e a emoção” [34]. O enunciado “é
necessário matar este cão” poderá ter um efeito cognitivo se se trata de uma palavra de um
perito, um efeito pragmático para aquele que é responsável pela execução de tal tarefa, um efeito
axiológico no que diz respeito à lei, e um efeito patêmico para o proprietário do cão.

É necessário, assim, entrar nessa análise pelo “quadro de experiência” (como propõe Goffman),
mas com uma teoria da situação [35]. É aqui que o analista do discurso pode ser de alguma
utilidade, na medida em que ele não se satisfaz em se valer de categorias lingüístico-discursivas, e
traz uma definição da troca comunicativa e uma metodologia para analisá-la.

Já tendo tratado dessa questão em outros textos, resumirei minhas propostas relativas ao estudo
do efeito patêmico, afirmando que ele depende de três tipos de condição :

i) que o discurso produzido se inscreva em um dispositivo comunicativo cujos componentes, a


saber : sua finalidade e os lugares que são atribuídos previamente aos parceiros da troca,
predispõem ao surgimento de efeitos patêmicos. Assim, observaremos que os dispositivos da
comunicação científica e didática não predispõem ao surgimento de tais efeitos (o que não quer
dizer que não os encontremos nunca), por razões que não posso explicar aqui (força da visada de
credibilidade), assim como os dos debates de tipo colóquio de peritos. Em contrapartida, os
dispositivos da comunicação ficcional (romance, teatro, cinema) e, por razões diferentes, a
comunicação midiática, se predispõem, assim como as discussões polêmicas (familiares, políticas).
Quando o dispositivo não se predispõe, é porque a finalidade comunicativa se encontra sob a forte
dominante de credibilidade e que os parceiros estão colocados “à distância” de saberes de
verdade ; Quando o dispositivo se predispõe, é porque a finalidade se encontra sob a forte
dominante captadora e que os parceiros estão “envolvidos” nos saberes de crença.
ii) que o campo temático sobre o qual se apóia o dispositivo comunicativo (o propósito relativo aos
acontecimentos) preveja a existência de um universo de patemização e proponha certa
organização dos tópicos (imaginários sóciodiscursivos) susceptíveis de produzir tal efeito. Para as
mídias de informação, como veremos, será o universo dos tópicos da “desordem social” ou de sua
“reparação” ; para a publicidade, será o universo dos tópicos da “felicidade” e do “prazer” ; para a
ficção romanesca, será o universo dos tópicos do “destino humano” (a vida/a morte, uma parte
daquilo que Barthes destacou nos seus Fragmentos do discurso amoroso) ; para a polêmica
familiar ou amigável, será o universo dos tópicos da “intimidade” ; e compreenderemos que não
há mais universo dos tópicos para a comunicação científica.

iii) Que no espaço de estratégia deixado disponível pelas limitações do dispositivo comunicativo, a
instância de enunciação se valha da mise en scène discursiva com visada patemizante.

Levando-se em consideração que qualquer ato de discurso, sendo em parte limitado por condições
situacionais (que chamo de “contrato de comunicação”), e em parte deixado para a
responsabilidade do sujeito da enunciação (que chamo de “espaço de estratégia”), podemos dizer
que a patemização do discurso resulta de um jogo entre limitações e liberdades enunciativas : é
preciso condições de possíveis visadas patêmicas inscritas no tipo de troca. Entretanto, essas
visadas, se elas são necessárias, não são suficientes. Isso porque o sujeito de enunciação pode
escolher entre reforçá-las, apagá-las, ou até mesmo, acrescentar-lhe algo. Reforçá-las quando,
por exemplo, as mídias tratam da morte dramática da princesa do País de Gales. Apagá-las como
em certos discursos oficiais (e particularmente no da rainha da Inglaterra durante o velório da
Princesa Diana), ou como em uma narrativa fantástica. Acrescentar-lhe algo quando, por exemplo,
um professor faz o papel de palhaço ou ameaça os alunos em sala de aula.

É para ilustrar essa proposta que vou, a partir de agora, fazer uma revisão das características do
discurso de informação televisiva para, por um lado, mostrar como seu dispositivo comunicativo
instaura o possível surgimento dos efeitos de patemização e, por outro lado, destacar algumas das
estratégias enunciativas à visada patêmica.

O DISPOSITIVO DA COMUNICAÇÃO TELEVISIVA E O LUGAR DOS


PARCEIROS

A comunicação televisiva é um subconjunto da comunicação midiática que é ela própria um


subconjunto do discurso de informação. Algumas de suas características advêm, assim, do
contrato geral da comunicação midiática, outras lhe são próprias. As características gerais definem
a finalidade do ato de comunicação midiático e o lugar dos parceiros (instância midiática /
instância receptora), as características próprias do dispositivo televisual, com o som e a imagem,
reforçam e especificam as características gerais.

Tendo descrito essas características na minha última publicação [36], me contentarei em retomar
algumas delas e tecer sobre elas alguns comentários no que diz respeito a patemização.

OS 3 PÓLOS.

A finalidade global da comunicação midiática é de informação. O que faz com que nos
encontremos na presença de um dispositivo de três pólos : um pólo fonte de informação, um pólo
instância de mediação-transmissão, um pólo instância de recepção (ao mesmo tempo “alvo” da
transmissão e “público” origem de interpretação). O pólo fonte de informação representa a
realidade daquilo que se passa no mundo, cujas características veremos daqui a pouco. Ele
constitui, por conseguinte, o referente do discurso de informação, sob o aspecto de uma “verdade
de autenticidade”. (veremos a incidência). O pólo instância midiática (de mediação-transmissão) é
tomado em uma contradição, visto que este tipo de comunicação se inscreve em uma dupla
lógica : de simbólica democrática, por um lado (ele deve apresentar essa realidade relativa aos
acontecimentos pelo que ela é, dando calções de autenticidade e de objetividade), e por outro
lado, de sobrevivência numa concorrência comercial (ele deve procurar se dirigir a um maior
número possível). Sua finalidade discursiva é, desse modo, marcada por uma dupla tensão de
“credibilidade/captação”. O pólo instância de recepção (enquanto alvo) é, assim, posto em posição
de ter a “crer” (a realidade do acontecimento), a “compreender” (seu surgimento e sua
causalidade) e a “ressentir” (o desafio intelectual e emocional que o tornará fiel). De certa forma,
podemos dizer que essa instância de recepção é ao mesmo tempo um “público ideal”, na acepção
de Aristóteles, porque a instância midiática deve levantar a hipótese de modos de raciocínio
necessários e objetivos que são válidos para todos (vai além da credibilidade), e um “público
universal”, na acepção de Perelman, ou seja, um público “médio” susceptível de deixar-se tocar
por efeitos de ethos ou de pathos.

A INSTÂNCIA RECEPTORA

Vejamos agora a especificidade da posição dessa instância de recepção quando ela se encontra na
comunicação televisiva.

Em primeiro lugar, a materialidade audiovisual do apoio de transmissão (som e imagem) põe a


instância de recepção em uma dupla posição : a de espectador do mundo (são apresentados ao
seu olhar os acontecimentos que se produzem no mundo), e a de telespectador (ele vê o
mediador que lhe faz lembrar, pela sua própria existência de relator e comentarista dos
acontecimentos, que ele é espectador da televisão). O fato de ser espectador dos acontecimentos
do mundo (ele vê o mundo), lhe dá a ilusão de estar em contacto com essa realidade, de estar
“ligado” imediatamente ao acontecimento, sobretudo, graças aos procedimentos de linha direta
(ou de ilusão de estar ao vivo). O fato de ser telespectador (ele vê a instância de mediação) lhe
faz lembrar que ele está “distante” dos acontecimentos do mundo, que ele está em uma relação
de presença-ausência com esses acontecimentos e com o mediador, o que o obriga a ter um olhar
reflexivo sobre si mesmo e, por conseguinte, se ver como espectador em segundo grau.

Agora, se considerarmos essa instância de recepção quando ela é colocada diante de um


espetáculo de sofrimento, podemos, então, constatar que ela se encontra em uma posição
complexa :

i) o espetáculo de sofrimento que lhe é apresentado é tido, como acabamos de ver, como
“existente na realidade”. Isso a coloca em uma posição diferente do espectador de cinema. Esse
último, devido a um contrato de ficção, tem toda a liberdade para “se projetar” no espetáculo
proposto [37]. Na posição de telespectador, devido à referencialidade do objeto de espetáculo, não
é possível projetar-se no que é ou no que foi, não é possível apropriar-se do espetáculo. O
telespectador pode apenas “se interrogar” sobre qual pode/deve ser sua reação. É uma espécie de
“meta-espectador” [38]

ii) além disso, esse espetáculo de sofrimento, ele o consome, como acabamos de ver, “à
distância”. Isso impede que se estabeleça uma verdadeira fusão (de empatia) entre aquele que
sofre e aquele que assiste. Só é possível haver uma relação de “simpatia”, ou seja, uma relação
que supõe que o simpatizante tenha consciência da sua diferença com aquele que sofre, que ele
se veja como aquele que não sofre, e, desse modo, que ele possa se interrogar, como acabamos
de dizer, sobre as razões dessa diferença e, assim, de sua possível culpabilidade (esse sentimento
não nasce no cinema), ou até mesmo o seu possível compromisso em uma ação. A menos que ele
não desvie o seu olhar sobre aquele que sofre e se oriente em direção à causa do sofrimento. Ele
pode, então, ficar indignado e denunciar a causa. O telespectador é ou um “espectador
apaixonado” (e, por conseguinte, um bom candidato para as cenas de catástrofes), ou “um
espectador-denunciador”.

iii) de imediato, ele não pode responder à questão “o que fazer diante desse espetáculo ?”senão
passando pela mobilização de crenças que definem os princípios morais, opiniões a serem
defendidas, conduções a serem tomadas que lhe permitam abraçar a causa. Como pode ser
diferente, visto que o que lhe é oferecido como espetáculo não é o sofrimento do seu cotidiano,
mas o sofrimento do mundo ? Sua posição de visão total, global, onipresente (é o sofrimento de
um mundo distante que se oferece a ele), reforça a sua capacidade reflexiva de ver-se que
observa, de sentir-se impotente. Resulta daí que ele não pode nem se dizer indiferente a esse
espetáculo, nem pretender se deleitar [39]. O telespectador é, como diz Boltanski, um
“espectador moral” [40]

iv) por último, ele não pode pretender se deleitar do espetáculo do sofrimento do outro, e, no
entanto, ele permanece assistindo, os olhos fixos na tela, fascinado pela nudez, pela intimidade
desse sofrimento que não é o seu e que ele não pode partilhar. E assiste sem ser visto : olhar
sobre a intimidade do outro, olhar livre de culpa porque não é visto, duas condições para definir a
posição voyeurismo. O telespectador é um “espectador voyeur” [41]

A INSTÂNCIA MIDIÁTICA

Voltemos à instância midiática no seu papel de encenadora do espetáculo de sofrimento.


Percebemos que ela tem uma parte difícil de encenar.

Se a instância midiática se satisfaz em mostrar cenas, é preciso estabelecer um equilíbrio sutil


entre “envolvimento” e “distância”. Envolver-se demasiadamente é tomar partido e tornar-se
suspeito em relação aos motivos que fazem você se anular diante do espetáculo do sofrimento ou
da alegria (ele/ela faz muito para que seja sincero). Marcar demasiadamente a distância, é correr
o risco de ser taxada de frialdade (ele/ela não tem coração). As mídias devem se colocar como
enunciador que não se envolve (passar uma imagem de profissionalismo), mas que dá alguns
sinais de emoção (passar uma imagem de humanidade : “para ser jornalista não é necessário ser
menos humano”), com a esperança de produzir um efeito patêmico como, por exemplo : a cara de
tristeza ou a postura de indignação do apresentador do jornal televisivo ; o anúncio de cenas
difíceis de serem vistas (“fizermos cortes em algumas imagens”), o enunciado litótico (“esse
drama acontece a duas horas de Paris”). Mas, frequentemente, as mídias falham na escalada da
encenação do sofrimento (imagens em plano aberto, repetitivas, música dramática, gritos das
vítimas) ou pelo emprego de uma superabundância de termos pertencentes ao campo semântico
da emoção (“emoção”, “lágrimas”, “prantos”, “coração” etc.).

Se a instância midiática toma uma posição de comentarista que denuncia a causa ou os culpados
pelo sofrimento, é preciso igualmente que ela não seja suspeita de envolvimento nem de
perseguição pessoal contra os causadores do sofrimento. Daí as mídias se apoiarem em
testemunhos externos para endossar a acusação. Daí também o incômodo e a ambigüidade
quando ocupam o lugar do acusado e devem se defender (acontecimento comum aos Paparazzi ;
a síndrome de Timisoara).

Vemos que os lugares que o dispositivo da comunicação televisiva atribui aos seus parceiros são
particularmente favoráveis ao surgimento de efeitos patêmicos que mais que em outro lugar se
apóiam em crenças : tensão na finalidade comunicativa entre “credibilidade” e “captação” ; tensão
no lugar que ocupa cada um dos parceiros entre “envolvimento” e “distância”. Porque o que é mais
notável, é a tensão e não a simples finalidade de captação. Isso explica talvez porque a
comunicação publicitária não é um dispositivo de efeito patêmico (que pode ser comovido por uma
publicidade ?), enquanto que, no entanto, está inscrito no contrato publicitário uma forte exigência
de captação. Talvez seja porque a exigência de captação vem acompanhada da exigência de
credibilidade. No fundo, não devemos acreditar o que nos conta a mensagem publicitária.
Sabemos que a narrativa publicitária é pura invenção. É pura invenção diferente da do contrato da
ficção romanesca porque sua visada sedutora explícita é posta a serviço de uma visada
pragmática (fazer comprar), o que nos impede de nos projetar gratuitamente nesses personagens.
Além disso, é pura invenção que não tem necessidade do apoio de uma realidade. É o que faz sua
diferença com o contrato midiático. Este se justifica pela sua referencialidade, e é esta
referencialidade que é calção do efeito de patemização : preciso saber que o sofrimento é
realmente vivido por meu outro-eu-mesmo para que eu possa me sentir emocionalmente
envolvido [42].

É disso que a Benetton trata, com o cartaz da camiseta maculada de sangue de um bósnio. Este
cartaz provocou mais escândalo que outros (mesmo o do beijo entre um padre e uma irmã de
caridade), porque ela colocava referencialidade onde não é permitido (o contrato publicitário
permite tudo exceto a referencialidade). O que provocou escândalo não foi, então, a visão desse
horror (vemos coisa muito pior nos jornais televisivos), mas a transgressão situacional (não se
fala de fato “real” para exaltar um produto comercial).

O DISPOSITIVO DA COMUNICAÇÃO TELEVISIVA E A ORGANIZAÇÃO


PATÊMICA DO LUGAR DE PRODUÇÃO DO ACONTECIMENTO

No Discurso de informação midiático [43], defini o propósito desse contrato de comunicação como
o lugar de um processo de produção do acontecimento, fenômeno que deve nascer de uma fratura
no estado do mundo (princípio de modificação), deve ser percebido, e, por conseguinte, ser visto
(princípio de significância), e deve, como diz Ricoeur, “se deixar pensar como substância”
(princípio de pregnância). Além disso, como a finalidade do contrato de comunicação midiática é a
informação, dizia que esse processo de produção do acontecimento se refere ao que se passa no
espaço público.
Ora, acontecem muitas coisas nesse espaço público. O que a mídia mostra procede de uma
seleção e de uma organização que resultam no que chamei de potencial de “atualidade” do
acontecimento (mais as notícias são frescas no tempo e no espaço, mais elas são susceptíveis de
envolver ao público) ; seu potencial de “imprevisibilidade” (menos a notícia é esperada, mais ela
rompe com os sistemas de expectativas e normas, e mais ela é susceptível de tocar o público) ;
seu potencial de “socialidade” (quanto mais uma notícia encontra eco nos sistemas de
categorização intelectual e afetiva do público, mais ela o satisfaria). Daí surgem dois problemas
para a mídias e particularmente para a televisão : o da relação entre espaço público e espaço
privado e o da organização de o que faz significância/pregnância.

A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO PÚBLICO E ESPAÇO PRIVADO : SOCIALIZAÇÃO


DA INTIMIDADE

Sobre essa questão, não me estenderei porque houve recentemente numerosos escritos sobre o
assunto [44], e eu mesmo, no âmbito houve um estudo [45]. Gostaria simplesmente de apontar
algumas conseqüências dessa presença crescente do espaço privado na mídia no que diz respeito
ao efeito de patemização :

O surgimento do privado na televisão é “fazer ver aquilo que está guardado atrás da fachada
social”, e, desse modo, entrar na humanidade dos atores do mundo social. Ao encenar papéis de
representação, esses atores se confundem com eles, tornam-se arquétipos, máscaras nas quais o
telespectador não pode se encontrar Ao ver esses atores fora de sua função oficial, na sua vida
privada feita dos mesmos rituais do cotidiano deles (no mercado, de férias, em família, na
intimidade), das mesmas dificuldades e alegrias que as deles, ele pode se encontrar. É na própria
descoberta da defasagem, da oposição entre as duas faces da vida desses atores, a cena e os
bastidores, que um efeito de patemização pode emergir, visto que esse outro que está distante
por definição, se aproxima, se torna “natural” [46], ou até mesmo entra na mesma experiência
quotidiana do telespectador. O privado na televisão tem uma função de humanização e de
personalização.

O surgimento do privado na televisão é também “fazer ver e entender aquilo que está guardado
na intimidade do outro”, algo geralmente doloroso (programas do tipo Tirando as máscaras). A
patemização provém aqui do eco que esse espetáculo do sofrimento individualizado pode
encontrar no telespectador e do seu eventual efeito terapêutico. O surgimento do privado tem aqui
uma função de identificação catártica.

O surgimento do privado, é, enfim, “fazer ver um anônimo”, um obscuro do cotidiano, um sujeito


qualquer, que, ao se tornar subitamente público pela espetacularização de um ato heróico de
salvamento de outro (reality shows tipo Noite dos heróis), envia ao telespectador uma
mensagem : “você também pode”, destacando sua impotência em agir frente a miséria humana. O
surgimento do privado tem uma função de compaixão-ação.

Através desse jogo da intrusão do espaço privado no espaço público é instaurada uma outra
condição para que haja efeito de patemização : o contato (ou sua ilusão) que o telespectador pode
ter com a intimidade do outro (que ela seja dolorosa ou feliz), de modo que esta possa fazer eco à
sua, ou até mesmo entrar em sintonia com a sua e encontrar ali “a verdade do vivenciado” (ou
pelo menos sua representação). Assim, podemos explicar o fervor desencadeado pela morte de
Diana.

A ORGANIZAÇÃO DO UNIVERSO DE PATEMIZAÇÃO

A organização daquilo que faz significância/pregnância no contrato de comunicação midiático nos


leva a estudar o que faz a “desordem social”. De fato, trata-se, de uma maneira geral, da
desordem do acontecimento. Este pode ser cósmico (buraco de ozônio), biológico (epidemia),
patológico individual (criminalidade) ou coletivo (terrorismo), ele é de qualquer modo
recategorizado pelo discurso em “desordem social” com suas vítimas, ou em sua “reparação” com
seus heróis. O espaço público é tão fechado e ajustado pelas mídias que ele não pode se destacar
senão através daquilo que não funciona em relação ao esperado nas rotinas da vida social, ou em
relação aos julgamentos da norma social. Estudá-lo advém, desse modo, de uma vasta
empreitada da qual me satisfarei em apresentar somente um aspecto : o universo de patemização
tal como ele aparece na televisão, nos jornais televisivos, nas reportagens, nas revistas e nos
debates. Não se trata, desse modo, de descrever uma estrutura universal ou antropológica do
universo patêmico, como em Aristóteles, mas da organização própria de uma situação
comunicacional específica. Não se trata de uma definição de “raiva” em geral, mas de “raiva” tal
como ela é encenada na televisão.

Cruzando os resultados das minhas análises com as proposições – nem sempre convergentes – de
alguns filósofos, sociólogos e semioticistas [47], chego a estruturar o universo de patemização das
mídias em alguns grandes tópicos (ou imaginários sóciodiscursivos) que defini com a ajuda de
certos parâmetros. Se decidimos que um estado patêmico (ao mesmo tempo qualitativo e
intencional) é desencadeado pela percepção de um actante-objeto exterior ao sujeito que
vivencia, que o sujeito sente algo que está mais ou menos em condições de exprimir, e que ele
tem um certo comportamento diante do actante objeto e daquilo que ele sente (que tudo isso seja
dito explicita ou implicitamente), então, podemos nos perguntar : qual é o estatuto que o sujeito
atribui a esse actante-objeto, que relação se instaura entre o sujeito e ele, qual é o
comportamento enunciativo do sujeito ?

Proponho quatro grandes tópicos, cada um duplamente polarizado, (de fato, negativo ou positivo,
visto que a patêmica não é somente o sofrimento), e os nomearei através de termos que não têm
senão um valor emblemático : o tópico da “dor” e seu oposto, a “alegria” ; o tópico da “angústia”
e seu oposto, a “esperança” ; o tópico da “anti-patia” e o seu oposto, a “simpa-patia” ; o tópico da
“repulsa” e seu oposto, a “atração”.

O TÓPICO DA “DOR” E SEU OPOSTO, A “ALEGRIA”

A “DOR”

Não se trata, evidentemente, de seu aspecto sensorial (sentir dor no braço), mas de seu estado
mental, ainda que fenômenos de somatização estejam, às vezes, ligados aos dois. A dor :

i) deve ser considerada como um estado de insatisfação do desejo do sujeito tal como ela o
mergulha em uma sensação de mal estar profundo, de sofrimento no qual o corpo do sujeito é
tomado à parte (somatização), e que pode se traduzir, na manifestação, por num recolhimento
sobre si mesmo, uma exteriorização mais ou menos convulsiva, ou um abatimento quase total.

ii) é desencadeada por um actante-objeto (pessoa ou situação) que colocou o sujeito em posição
de vítima-ofendida, razão pela qual a dor é provocada pela mobilização de uma rede de crenças
que coloca o sujeito em posição de vítima moral, que faz com que o objeto externo seja
interiorizado pelo sujeito como causa interna da dor.

iii) de imediato, o sujeito se encontra em uma relação intransitiva e reflexiva com a dor (ela é
“auto-patêmica”) : interiorizando o objeto causa de sua dor, ele se essencializa ele próprio em “ser
que sofre” e o enuncia-se de maneira elocutiva (ele diz : “tenho dor”).

Nesse campo, encontramos algumas figuras particulares, com graus diversos de dor tais como : a
“tristeza” (aceitação de impotência, de fatalidade), a “vergonha”, o “incômodo”, a “humilhação”, o
“orgulho ferido” (degradação identitária no que diz respeito a uma referência idealizada de si [48].

Podemos dar como exemplo as narrativas de introspecção, de confiança e de confissão que são
veiculadas nos programas do tipo “psi-shows”, e que põem telespectador em posição ao mesmo
tempo de voyeur e de testemunho impotente.

A "ALEGRIA"

i) tem as mesmas características da dor (introspecção do actante-objetot, intransitividade


reflexiva e enunciação elocutiva), mas sobre o pólo oposto da satisfação do desejo, do bem-estar
corporal e moral, que faz dizer ao sujeito : “estou bem comigo mesmo”", uma essencialização
eufórica.

Algumas figuras a acompanham : a “satisfação” e o “contentamento” (até o sentimento de


“poder”), a “vaidade” e o “orgulho” (promoção identitária de si).

Daremos como exemplo as imagens de multidão alegre e as entrevistas de pessoas felizes


(torcedores após um jogo ganho ; fans na saída de um show ; participantes nos Jornadas
Mundiais da Juventude) que colocam o telespectador em posição distanciada ou de ironia frente a
uma televisão euforizante.

O TÓPICA DA “ANGÚSTIA” E SUA OPOSTO, A “ESPERANÇA”

A “ANGÚSTIA”

i) é um estado de espera desencadeada por um actante-objeto desconhecido, mas que representa


um perigo para o sujeito.

ii) o sujeito mobiliza, assim, uma rede de crenças que lhe faz encarar diferentes representações,
sempre negativas, deste objeto (cósmicos : o buraco de ozônio ; biológicos : epidemias ; sociais :
guerra, criminalidade, desemprego) frente ao qual ele permanece à distância, à espera de saber
(ele diz : “o que é que me espera ?")

iii) aqui também, o assunto se essencializa em “esperar-ameaçado” que ele exprime de maneira
elocutiva (ele diz : “estou angustiado”).

Outras figuras pertencem a este tópico com variações de grau : o “aborrecimento”, o “medo”, o
“terror” (= “estar aterrorizado”).

O mostra de cenas de pânico, com grandes planos sobre os rostos que exprimem terror, as
entrevistas de testemunhas que se encontram em uma situação terrível repetitiva (guerra na
Bósnia, erupções vulcânicas) fazem parte desse tópico e colocam o telespectador em posição de
ter que partilhar ou recusar a ameaça ou o medo.

A "ESPERANÇA"

i) tem as mesmas características da angústia, mas na espera de um benefício, de um


acontecimento feliz, de uma melhora do destino.
ii) de imediato, leve movimento do sujeito para com esse objeto desconhecido, movimento de
confiança em seu acontecimento e de seu efeito positivo. Às vezes, surge um terceiro intercessor
que é implorado.

Outras figuras : a “confiança”, o “desejo”, os “votos”, a “chamada”, a “oração”.

Os testemunhos de confiança dos notáveis e as mensagens eleitorais dos políticos, bem como os
comentários jornalísticos quando dos seqüestros, das guerras (daquele evento que dura e para os
quais desejamos uma saída positiva), atualizam esse tópico e, como o tópico precedente, colocam
o telespectador em posição de ter que partilhar ou recusar a esperança ou a confiança.

O TÓPICO DA “ANTI-PATIA” E SEU OPOSTO, A “SIM-PATIA”

A “ANTIPATIA”

i) deve ser considerada como uma atitude reativa dupla, em uma relação triangular : vítima de um
mal, responsável pelo mal, sujeito observador-testemunha. O actante-objeto é, então, duplicado
em perseguido e perseguidor, e o sujeito observador-testemunha se volta para o perseguidor.

ii) o sujeito está ao mesmo tempo em estado de indignação frente a uma vítima perseguida (ele
mobiliza crenças sobre o bem e o mal e sobre as relações de dominação [49]), e em
comportamento de denúncia do responsável pelo sofrimento de outro que exprime de forma ao
mesmo tempo elocutiva e alocutiva (ele diz : “denuncio e acuso X !”). A anti-patia é sempre
orientada contra alguém. Ela não deve se constituir a priori nem contra o perseguidor, nem a favor
do perseguido.

iii) a indignação pode ser proporcional ao grau de dor da vítima e, desse modo, ao grau de
perseguição.

iv) essa indignação pode se voltar contra o perseguidor (ela é chamada de “unânime e
homogênea”, como aquela que denuncia os ex-nazistas) ; ela pode se voltar contra a própria
perseguição (ela é chamada de “esclarecida” [50], como aquela que se exerce em defesa de um
condenado – processo Dreyfus -). Nos dois casos, ela pode suscitar um programa de
vingança [51].

Outras figuras, mais ou menos intensas : “indignação”, “acusação”, “denúncia”, “cólera”, “ódio”.

Esse tópico é frequentemente atualizado, na televisão, pela descrição dos negócios que procuram
os responsáveis dos prejuízos cometidos [52], a mostra das manifestações de protesto, a
encenação de debates (do tipo Direito de resposta). Ela promove uma televisão que denuncia, que
coloca o telespectador em posição de moralista.

A “SIMPATIA”

i) resulta igualmente de uma atitude reativa dupla, em uma relação triangular, mas dessa vez o
sujeito se vê voltado para o perseguido.

ii) o sujeito está, então, em estado de emoção (crenças morais) no que diz respeito ao perseguido
e em comportamento de ajuda para aliviar o sofrimento dele (ele se constrói uma imagem de
salvador) que ele exprime de maneira elocutiva e alocutiva (ele diz : “eu gosto de você !”).

iii) esse movimento não deve ser visto como tomada de partido. Quanto mais o perseguido é
anônimo (arquétipo) e obscuro, mais a simpatia será justificada [53].
Outras figuras : a “benevolência”, a “compaixão” (que é antes individual e exige um contacto dos
corpos, razão pela qual ela vem frequentemente acompanhada de silêncio, como no caso de uma
criança violentada), a “piedade” (que é antes coletiva, quantitativa, abstrata e universal, razão
pela qual ela vem acompanhada de discursos, como no caso das vítimas de uma catástrofe
natural) [54].

A televisão dita compassiva ativa esse tópico pela mostra de vítimas de um drama, de populações
em sofrimento (os sem-teto), de cenas humanitárias, mas também pela organização de
campanhas de solidariedade (Teleton) e pelas entrevistas de confissão (Tirando a máscara). O
telespectador está, aqui também, em posição de moralista.

O TÓPICO DA “ATRAÇÃO” E SEU OPOSTO, A “REPULSA”

“Atração” e “repulsa” correspondem igualmente a uma atitude reativa em uma relação triangular,
mas a atitude do sujeito é mais intelectual e o seu comportamento mais inativo [55].

A “ATRAÇÃO”

i) o sujeito é voltado para um actante benfeitor que tem, desse modo, repara um sofrimento.

ii) ele se constrói uma imagem intelectual positiva de benfeitor ideal que ele essencializa em
“herói”.

iii) ele tem um movimento de aprovação com relação a essa imagem que, contudo, permanece
exterior e ele adere a ela sem outra ação possível senão segui-la. Ele a exprime de maneira
delocutiva dizendo : “ele é admirável”.

Outras figuras : a “admiração”, o “fervor”, o “maravilhamento”, o “encantamento”.

A televisão ativa esse tópicp através da mostra e do tratamento de figuras carismáticas (o Papa, o
Abade Pierre, Bernard Tapie) [56] e o telespectador é colocado em posição de apreciador que tem
admiração para essas personagens.
A “REPULSA”

i) o sujeito é, dessa vez, voltado para um actante do qual ele possui uma imagem negativa de
malfeitor que é essencializada em “má”.

ii) ele tem, então, ao contrário do tópico precedente, um movimento de desaprovação, ou até
mesmo de rejeição violenta dessa imagem, sem que, entretanto, ele esteja em condições de
destruí-la.

Outras figuras : o “desprezo”, o “desgosto”, a “aversão”, a “fobia”.

A televisão ativa igualmente este tópico pela mostra de personagens carismáticos julgados
negativos (Le Pen) ou criminosos (assassinos, pedófilos), mostra que coloca o telespectador em
uma posição ambígua de fascinação (ele é atraído pela própria repulsa).

Para ser completo nessa descrição, seria necessário agora descrever aquilo que chamo de “espaço
de estratégias” para destacar, não as estratégias emocionais, mas as estratégias discursivas
susceptíveis de ter um efeito patêmico. Mas seria ultrapassar demais o quadro físico dessa
contribuição.

CONCLUSÃO

A conclusão será dupla, por um lado, no que diz respeito à significação desse dispositivo televisivo
e de suas estratégias de patemização, e, por outro lado, no que diz respeito ao método de análise
e a hipótese teórica que o subjaz.
Dada a importância da patemização na televisão, tanto pela escolha dos acontecimentos e sua
mostra, quanto pelos efeitos das estratégias enunciativas, qualquer tentativa de explicação na
televisão é tida como quase impossível [57]. A visada de credibilidade do contrato televisivo é
dificultada pelo fato de que ela tende a desaparecer sob a visada de captação. Visar tocar o afeto
do outro é neutralizar em parte, nele, a atividade racional de análise, ainda que, como vimos, este
efeito passe por crenças.

O telespectador é, nesse caso, solicitado muito mais a crer (ou seja, a se pronunciar apenas sobre
o verdadeiro/falso) e a sentir (ou seja, reagir em função do sentimento do bem/mal) do que a
compreender. Portanto, o risco para a televisão é o da perda de legitimidade, já que seu contrato
lhe dá vocação para informar e que para isso deve se mostrar credível. As coisas acontecem,
então, como se a televisão pudesse recuperar a legitimidade provando que o que ela mostra é
autêntico.

A televisão manipula o paradoxo da “declaração verdadeira”. O “verdadeiro”, aqui, não é o que é


monstrado e provado ; o “verdadeiro” não é o que surge da confrontação das crenças como uma
verdade média. O “verdadeiro” é aquilo que se sente e não se discute. De fato, qual suspeita
sobre a autenticidade pode nascer : de um testemunho que exprime dor ou alegria ; da mostra de
uma cena de horror (Timisoara) ou contentamento (Bastillha em 81) ; da acusação de um
perseguidor (Mobutu) ou da glorificação de um benfeitor (o Abade Pierre) ; da nudez da
intimidade sofredora de um outro eu-mesmo (os Psi-shows) ? E quanto mais a imagem exerce sua
função de mostrar (direta) e visualizar (plano geral), mais ela nos dá a ilusão de que o que vemos
não pode ser senão “aquilo que é”.

Tudo isso é in-dis-cu-ti-vel, é a verdade do patêmico.

No que diz respeito ao aspecto teórico desse texto, trata-se, para mim, de insistir sobre o
pressuposto de que os signos são consumidos através dos dispositivos de comunicação. Esses
dispositivos atribuem de antemão um lugar aos parceiros da troca e dão ao mesmo tempo ao
receptor uma grade de leitura do signo. É o que faz com que um mesmo signo seja lido
diferentemente (e, desse modo, produz sentidos diferentemente), não somente segundo o
contexto, mas também segundo o dispositivo. Qualquer dispositivo “fagocita” o valor, tido como
geral (antropológico), do sinal para enviá-lo ao mercado do consumo do sentido social. Portanto,
como julgar a validade do efeito patêmico de um enunciado se não sei em qual posição me pedem
para consumi-lo ? Seria como interlocutor envolvido, telespectador, consumidor de publicidade,
membro de um Conselho de administração ou como leitor de um artigo científico ? O contrato de
comunicação é a primeira sobredeterminação do sentido de discursos. E se quisesse terminar com
uma nota ligeiramente provocadora, diria que de fato não há saber de língua que não seja saber
de discursos, e que não há conhecimento “prototípico” do mundo (para falar como os
cognitivistas) que não se instaura sobre o saber de “crença”.

Patrick Charaudeau.
Paris, 30 de setembro de 1997.
Tradução de Renato de Mello

[1] O dicionário Robert define este último termo : “naturalmente levado ao ódio”.

[2] Fisiologia do comportamento, psicologia diferencial, psicologia social, psicanálise.

[3] Com relação à diferença entre explicação causal e explicação interpretativa, ver Ogien R., “O
ódio”, In : A cor os pensamentos, Razões práticas, EHESS, Paris, 1995.

[4] Papermann P., “A ausência de emoção como ofensa”, In : A cor dos pensamentos (181),
EHESS, Paris, 1995.

[5] Fragments du discours amoureux (p.8-9), Le Seuil, Paris, 1977.

[6] É necessário lembrar que a história desta palavra a remonta à “… ação de percorrer em todos
os sentidos” (latim) – o que lembra Barthes nos seus Fragmentos op.c. -, na “conversação” (latim
vulgar), em seguida “a expressão verbal do pensamento” (século XVII). O discurso é, ao mesmo
tempo, “… aquilo que exprime e constitui o pensamento” e “… aquilo que circula entre os membros
de uma comunidade social”.

[7] Cf La couleur des pensées, op. c.

[8] Nussbaum M., “Les émotions comme jugement de valeur”, In : La couleur des pensées (24),
op.c.

[9] Paperman, op.c.(186).

[10] op.c. (10)

[11] Cayla F., "La nature des contenus émotionnels", in La couleur des pensées, op.c.(84).

[12] (34-35),

[13] Nussbaum, op.c.(24)

[14] Elster J., “Rationalité, émotions et normes sociales”, In : La couleur des pensées, op.c. (35).

[15] (25).

[16] Patricia Paperman, na seqüência de Coulter (1976, 133).

[17] Paperman, op.c. (188). Essa posição se opõe ao ponto de vista dito “disruptivo”, que
considera que as emoções perturbam a regulação interacional, e que estas últimas seriam
precisamente as fiadoras de um controle social sobre as tendências “selvagens” dos agentes
(175), mas sem integrá-las.

[18] (189).

[19] (25).

[20] (86-87)

[21] (228)

[22] Isso divide o mundo da didática e da aprendizagem lingüística entre os defensores do ensino
de uma gramática explícita e os do ensino de uma gramática implícita.

[23] op.c.(11)

[24] Ver a esse respeito nossa pesquisa intercultural entre a França e o México : Olhares
cruzados, Didier Erudition, Paris, 1990.

[25] Consenso sensório-proposicional, diz Fabien Cayla, op.c. (92)

[26] Elster, op.c.(38-39)

[27] Laurent Thévenot lembra que “… o gesto de desprender a gola da camisa”, a partir das
Expressões da fisionomia humana, “Emoções e avaliação nas coordenações públicas”, In : A cor
dos pensamentos, op.c. (158).

[28] O que os psicosociólogos chamariam de “impressões”, cf., C. Chabrol, 1997.

[29] Essa ligação faz com que o efeito patêmico não seja o mesmo, dependendo dos sujeitos : o
irmão Diana Spencer, suas crianças, a família real, ou telespectador.

[30] Ver, a esse respeito, Roland Barthes, “L’ancienne rhétorique”, Communications 16 (212),
Seuil, Paris, 1970.

[31] Elster op.c.(33)

[32] Id.

[33] Livet P., “Évaluation et apprentissage des émotions”, In : La couleur des pensées, op.c.(128-
29).

[34] Paperman, op.c. (188) e (180).

[35] Que Goffman não propõe.

[36] Le discours d’information médiatique. La construction du miroir social, Nathan-INA, Paris


1997.

[37] Boltanski L., La souffrance à distance (42,219), Métailié, Paris, 1993.

[38] Daí o sucesso de alguns programas interativos que dão ao telespectador a ilusão de
responder às suas indagações.

[39] Boltanski, op.c.(167).

[40] D’où le succès d’émissions du genre Téléthon.

[41] D’où le succès des talk show intimistes, (Bas les masques).

[42] No contrato romanesco, essa referencialidade é construída por mim mesmo.

[43] op.c. (107).

[44] Ver, entre outros, a obras de Mehl D., La télévision de l’intimité, Seuil, Paris, 1996.
[45] Paroles en images et images de paroles, coll. Langages, discours et sociétés, Didier Érudition,
Paris, 1998, et La parole confisquée (en collaboration avec R. Ghiglione), Dunod, Paris, 1997.

[46] Sennett R., Les tyrannies de l’intimité (274), Seuil, Paris, 1979.

[47] Boltanski, Livet, Barthes, Greimas-Fontanille, etc.

[48] Fontanille J., “Les passions de l’asthme”, In : Nouveaux actes de sémiotiques, Trames 6, (36),
Université de Limoges, 1989.

[49] Boltanski op.c. (98).

[50] Id.

[51] Greimas A.J., “De la colère”, In : Actes de sémiotiques III, 27 (23), EHESS, 1981.

[52] A respeito da morte de Diana, a valsa das responsabilidades em torno dos paparazzi, depois
do motorista, depois do Hotel Ritz e depois do complô.

[53] Cf.a explicação do Bom Samaritano, proposto por Boltanski, op.c.(25).

[54] Com relação à diferença entre “compaixão” e “piedade”, ver Boltanski, op.c.(19).

[55] Livet P., op.c.

[56] Daí a suspeita ou a decepção quando a imagem é cortada (l’Abbé Pierre et l’affaire Garaudy :
Tapie et l’affaire OM/VA).

[57] Ver nosso artigo “La télévision peut-elle expliquer ?” , In : Colloque de Cerisy, Penser la
télévision, (no prelo).

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