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Os imaginarios de verdade do discurso politico A sociedade deve definir sua ‘identidade’; sua articulagio; 0 mundo suas relacdes com ele e com os objetos que contém; suas necessidades € seus desejos (...]. © papel das significagdes aginirias é 0 de fornecer tama resposta a essas perguns, reposta que, evidentemente, nem a realidade’ nem a ‘racionalidade’ podem fornecer ( Cornelius Castoriadis, A instituigaéo imagindivia da soviedade, 5. ¢4.. Trad. Guy Reynaud, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000, p. 177 Digitalizado com CamScanner Da ideologia aos imaginarios sociodiscursivos O PROPOSITO COMO IDEAL DOS FINS Em todo ato de discurso, 0 propésito é aquilo de que se fala, 0 projeto que se tem em mente ao tomar a palavra; 0 que ¢, afinal, proposto. Ele corresponde, de certa forma, ao tema do discurso, como quando falamos do tema (ou do assunto) de uma discussao. Por mais que se fale (ou escreva) com a finalidade essencial de estabelecer uma relagao entre si € 0 outro ¢ de influencié-lo, tentando persuadi-lo ou seduzi-lo, essa relagao seria vazia de sentido se nao tivesse por objeto certa visio que trazemos do mundo, isto é, © conhecimento que se tem da realidade e os julgamentos que dela se fa- zem. O homem € tomado tanto por um desejo de inteligibilidade do mun- do quanto de troca com 0 outro. Propésito e situacao de comunica¢ao Os conhecimentos que temos do mundo, assim como os julgamentos que dele fazemos, sio miiltiplos ¢ variados. Por isso, € necesstrio decompé- los, ordend-los ¢ classificé-los para que se possa apreendé-los conceitualmente. Fa isso que se dedica 0 espirito humano conforme o tipo de sociedade na 187 Digitalizado com CamScanner ‘qual se vive. Cada sociedade determina os objetos de conhec 9-08 de certa mancira em dominios de experiéncia, atribui se faz mediante a atividade de dominios, problomariza a mancis 2 maneira pescronamente daquele que faa: diz se pasa confundir © propésito do discurso politico com ox dos discursos publictirio, diditico, cientifico, juridico,religioso et, apesar das afinidaces ‘que poderiam cxistir entre uns € outros. © propésito do conceito politico Entretanto, 0 sujcito que fila no € rotalment discus, Ele depende, como ji foi dio, da si reivindica. O objeto de busca da age politica € um “bem soberano” que une essas duas instincias em um pacto de reconhecimento de um “ideal poderi pedir 20 médico Uae social” que € preciso querer atingir ¢ para cuja obtencio € preciso dar-se os a eee cet, Secon ee See: meios. A tarefa do discurso politico é, portanto, determinas, de acordo com aoe /amigo © no 20 profissio- s : . nal); 20 entrar noanfiteatro da faculdade para da uma aula um peskesor de seu propasito, cssc idcal dos fins como busca universal das sociedades. Trane no pode daca trons de Ppp e merorate fase Se oe ee algo que ver com o romance ou © pocma que etd no programa); 0 letor de Gente) cite «eee ee ee sum cartaz publicitirio sabe que cste fala das qualidaes de uma mercadoria € (a eee EET io de polities ou de moral (mesmo que esta ja abjewo de uma also de eee eae ee ema ere de um ‘mancira subjacente™). O sujito que fla, se € verdad que quer comunicar- oa dcug meet ee ee com seu interlocutor ou seu auditério, deve considerar o campo tematico deccrminads™ Portanto, a questio € como defnir um ideal que fag os ‘que édeterminado pel stuas3o na qual comunica. sso nio o impede, entre- aes i ‘espaco dererminado ness ‘anto, de introduuit, por sua ver, outros temas, mas com a condicio de que poke ee ae eee dlscuno politico, do memo made que todo discus de verdade é marcado ii fasalasLamstninnbndinoneeastateeeeotmerentten ao eee eres Ja sp Nene de maneirs caplicin. coma » Bemcwiom, marca iabans de moupes fa: om mans Shee OT, pS = An (19, pO Digitalizado com CamScanner O O8STACULO DA IDEOLOGIA homem tem tanta necessidade da realidade para sgnifcéla quanto a realidade tem necessdade do homem para ser significada. Foucault tratou dessa questo 30 recur colocar © homem «0 mundo em um face a face em que um setia exetior 20 outro. De fato, de um lado, o homem é dominado por um a Pa a Flam 299, de 3 he een de 98.19) 190 Paralelamente, nas ciéncias sociais, nasceu a idéia de que era preciso ‘esudar a mancira como o homem representa 0 mundo com o intuito de compreendé-lo, nele etabelecerse € agit. Proliferam-se, asim, extudos € teorias para tentar dar conta desses sistemas de representagées, particular ‘mente das representagdes coletivas, diversamente nomeadas segundo as dis- iplinas ¢ 0s pontos de vista: sistemas de conhecimento, sistemas de cren- sistemas de valores ¢ ainda’ «corias, doutrinas. ideo em todas as ocasidcs ¢ as hierarquias que se cstabelecem entre estas nogées sio sempre controversas. As vezes,é propos to distinguir sistemas de conhecimentos e de crengas, uma vez que os ilti- ‘mos s40 portadores de valores; mas nos primeiros jamais haveria valores? Sistemas de idéias ¢ sistemas de pensamento sio denominagies que reco- cla encontrou até 0s anos 80 na filosofia, na sociologia, nas ciéncias politi ‘as, ¢, conseqiientemente, na andlise do discurso politico. Mas também im © ee ropa vet Mos (176) Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Os tipos de saber A Psicologia Soci 4o entre o sentido que seria comum lo que nao 0 seria™ e, por outro, 0 mecanismo das representa- §6es que acabam de ser descritas mostra que elas tém um a etal, pois dependem de uma organizagio mental que tem por funcio in- ‘erpretar 05 acontecimentos do mundo e suas relagdes com o sujeito, se- gundo um principio de cocréncia elaborado pelo grupo de filiagio. Assim procederemos com o substrato cognitivo a partir do qual sio construidos os as de saber, £ possivel que as representagdes tenham campos de apli- casio diferentes: de ordem praxcoldgica, quando se trata de compreender € ce mais pee, "Ea cere meg sg ret manga ng edna de emia mn, “presenrasdo” (4p. cit) a 196 conhecimento, de pensamento, m ‘Nessa perspectiva, 0s saberes nao sio caregori: maneinas de dizer configuradas pela ¢ dependences da linguagem que a0 mpo contribuem para constru mas de pensamento, Eles mesmo podem ser seagrupades em dois tipos. Saberes de conhecimento e saberes de crenca verdade sobre os fe do sujcito, pois o que funda essa verdade € algo © Esses saberes dizem respeito a0s fatos do mundo € 2 explicasio que se pode dar im, portanto, de procedimentos de figuragio cod dos de podem ser escapam & singularidade do no pertence 2 pessoa enquanto tal, que seria a realizagio de Tanke Abchon 77) 197 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner de posigio, mais ou menos antagonicas, ise ‘xqueras de conecimento tisdos por universtis ¢ evidentes”.® Essa definigio, vinda da psicologia social, firma que as ideologias so sempre uma tentativa de ‘conduzir a uma explicagio total ou globalizante da atvidade humana, Sob esse Chibi Tr cas da dian dat pce ogg nL Vichy dt Demi du dire, Jon cde pensamento maisou menos fechado sobre ce préprioe que éconstruido ‘em torno de valores de um grupo socia! que se impoe. ldcologia e poder encon- cram-sc em seguida para determinar miltiplos lugares de soberania parcial = sis6ria, podendo esas soberanias er ma) cm relagio a outro mais amplo que engloba o p Tal ponto de vista sobre essas nogGes peri cexplicar os movimentos que se operam com 0 tempo em certos pensamento. Por exemplo, o marxismo pode ser considerado ora uma teoria, ‘em fungio de sua tentativa de explicar sociopolitico-economicamente as so- , gragas i sua flexibilidade, cemas de To Cael pa pina quc"wcims” “iene” enh es dina ition Digitalizado com CamScanner ce am BOAT # Ques: © pont devia de das demais E somente em eco = anise do discuso pode ara este imenso ei ue objeo de , ¢ em que € realizada a demarcasio das id polemics que 2b | ‘olocados como epigrafe sem prejulgar 10s quaisnio se pode en : ee porexclusio, Ha igualmente te 3 5, constroem 0 Feal como tniverso d idcologias ou mesmo em doutrinas, « res como 0 dos “direitos do homer sre em douitina que justifica as intervenes hu Digitalizado com CamScanner lo por Castoria clagdes que, a0 se auco-regul imagintios comuns. imagindrio nio é “nem verdadciro 1 em relacdo aos verdadciros py terminam por ci +O sentido que blemas ¢ a sua 'verdadeira’ soluci cle reflete a visio ordem do verossimil, ito é, do que sempre ¢ possvelmente verdadcio, baa © paradoxo do imagindsio -, como considerar que construiria percepsdes significantes sobre o mundo se ele nao as ‘ivesse por verdadciras? Isso nos faz, portanto, acrescentat as proposigies de Entretanto ~ ¢ aqui lugares de ensino dess n circula na nagio francesa 0 Outros circulam nas sociedades de mancira no consciente, sendo encon- dos nos julgamentos implicitas veiculados p\ podem as éncia quando uma sudo, quando se trata de defini-los em relagio a tro esttangeiro: a confrontagio com a alteridade provocs sempre uma (0 mada de consciéncia. Outros imaginrios estio ainda submersos no que se chama inconsciente coletivo, pois todas essas implicagdes complesas 30 tecidas ao longo da histéria, constituindo uma memria coletiva de longo termo que na pritica é identificavel apenas por uma abordagem historia ¢ antropolégica (assim & com 0 imaginério de purezs da ney. {Isso nos leva a concluir que os grupos sociais encontram-se em uma situa- io paradosal: ees nio cessim de produit, de reinterpret, na verdad, de {questiona os imagindrios, , a0 mesmo tempo io podem sfurtaracsenciaiz questioné-los e, sob 15 Farge Lon Be oe 1994 cited por Raa (196. 89) 205 Digitalizado com CamScanner cres de popul realizados sem 0 suy Oimaginario sociodiscursivo Trata-se de um conceito que propomos pa fio a0 quadro teérico de uma andlise do penhar plenamente seu pay de comportament ivas (aglomeragoes, manifesta- 40s imaginérios; na produsio de objetos manufaturados ¢ de tecnologias que dao a0 grupo o sentimento de dominar 0 mundo (ate 10a foice co martelo, a cruz gamada, o “Black is beautiful’ etc) Mas essa mesma materializagao em necessidade de ser sustentada por uma racionalizasio discursiva, sem que se saiba de fato quem precede quem, nem se a segunda deserapenha um papel de promosio ou de justificagao da primeira. Os grupos s i em textos escritos (ou 1c assim podem ser igiosas, as ceorias cien- sera Lificas, os manifestos politicos ou licerdrios. Outros circulam nas comuni- dades sob configurasdes variéves, is venes mais estaveis, como os provérbios, as maximas ¢ os ditados, as vezes menos, como os torneios de linguagem ou as frases circunstanciais, mas cuja variedade nao altera seu sentido de base Beads 190m, dos pela maio' acusacio, de caracteriar Juos € 08 grt ‘mentos que fazem plo, circulam im: tar, conforme a situagao em que se encontte: fa, debate, reuniio etc., imaginérios re tara si em Fungio de uma expectativa c cl gindri Fé ou os escri pdem c constroem especies de aq Tal definicao do imaginério soci risticas do imagindrio em geral, que Bayart destaca: 3 col A fungi doimaginiro¢indisocivel da ordem da materiidade: -em vimude dessa propricdade que cla € eruturaate € que Go cadutidos cm sua dimen- proces polos ou ccondmicos so trad ‘so, Em teimos de corona, se pode enfocar ma materiaidade ‘cm wu rego com 0 magni Enfim, em uma dada sociedad, o imaginino ado represenca uma toxalidade cocrente, wna vex quc engloba uma glia de figuras heterogéness cm fuga perpen. As produgiessmaginstias no so, portanto, necesariamente somorfx. Além dis, slo, por definigso, enquanto produses simbslicas. poissémicas € analiticos. Frequentemente, esses imaginarios inconscientes. scursivo encontra duas das caracte- s circulam, portanto, em um espago de Os imagindtios sociodiscursivo oe svidude, Eles dio testemunho das identidades coletvas, da pet pos tém dos acontecimentos, dos julga- 207 Digitalizado com CamScanner ‘Discurs° PP" Descrever 05 im cosas “grades dei Veremos que no cam Freqientemente instrumental po do discurso politico esses ima los com fins de persuasio, BINGtiog «, Alguns imaginarios de verdade do conceit de politica fam confrontados nesse momento. ear, Somo faz Badiou, sobre o problema de saber s€ 24" Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner 5 diante da ameaga q imagindrio que éa “modernidade” em scu aspe ico: 4 modernidade no teria por horizonte senao o progresso tecnoldgico, fuga ara o futuro que nos fatia dar as costas a0 passado ¢ 8s nossas origens, casionando uma subversio dos modos, que faria as populagées perderem sua identidade (0 anonimato da internet, a urbanizasio ctescente ¢ a perda do torrio). Voltaremos ao tema mais adiante. Fae verde ao puss i geno pao 1 demi *Faprota que Danie Heres Ley 1993 ia pope da mami ti cq Chin deanna camp cord 88 Auge 94), 22 lc criasio, de passagem do nada a qualquer coi fica do Big as, irsupgio da obra de arte) que se encontra nada tendo tido tempo de vir macul: a). A fidelidade & dada como um valor mo origem, Nessa subjda em diresi0 ao passado, 0 grupo descobre sua vor e a recebe como heran ‘vor cuja responsabilidade assume sem transform |, a6 pé da letra, Com essa heranga mora idade, pois nos sen sua versio biblica ov ranspa- la por nossa conta em tuma longa cadeia de filiacio e de solidariedade hist6rica, a fim de conse |i na meméria. E em nome dessa responsabilidade, dessa fidelidade & o gem pura, que surge, em qualquer que seja © momento da histéria, em sam pole "Nal Bano Verma 21:2 eos de 1981 213 Digitalizado com CamScanner 6 pode ser tra passade. dade. Nem do sentido dado pela uma soberania mondrquica de . confirmada pelo triunfo da nfo se trata também do sentido que as artes eas letras atrbulram a essa nogio por meio da expressio “arte moderna”, designando um momento de ruptura 5 Wosabape Gp 10H, Lnbraos uc Vil Nautical sa lint Alea tine impr op de een ettemuaor soc fs pata fans ne dee Simone ds nan Acid cos ans Dune 0) 24 se dotariam de um im grupos s06 mando como base a época precedente ¢ p' esti em jogo a | dia “indus A questio remete, portanto, 3 po maginirios de modernidade sucessivos apoiando-se nos discursos e nas priticas que cons- troem as sociedades. Colocaremas em evidéncia alguns tragos gerais, lade de descrever ess ‘A modernidade contra o passado ¢ 0 sonho Esse imaginiio se define inicialmente contra um passido que seria perce- bdo sempre como uma era, sendo de obscurantismo, a0 menes de um saber ‘5 Min Randa a Mod 4 lod 200, qe most ot abu do pane pecan cm Mae Ma, asus Le Goll 25 Digitalizado com CamScanner Conseqiientemente, esse imaginitio se inscreve contra o que ser os Sonos das construsies ut6picas do homem, julgados desmobil sonhar impediria de agit, Produz-se nesse momento uma mudanga de pro- blemasica que concerne 3 busca de felicidade, 3 mancira de atingir 0 bem- ‘oxar do homem e das socicdades: um deslize se opera do fim em relagio 20s ‘meios. Nao que “o fim justfigue os meios”, adigio um pouco cinico do pooto de vista da morale da virtude, mas & que ndo ¢ dil sonhar com um fim ideal se no temos 05 meios de ating-lo. Isso explica por que o imagins- ara que © homem sia de mancira cca, a vontade sem 4 qual ncabuma ‘empresa pode obter sucewso. Nio ¢ suficiente querer 0 bem, uata-se dese 20 posibilidades de produgio; que fosse defini aso que cle pode cer sobre ela See hte. tgendram, oo inexioe do imagindsio de modemidede, dois pas de di ‘cursos: um centrado aa economia, 0 outro na seomodegns. Modernidade ¢ cconomismo prcciso entender a economia ni como o setor de atvidade que regu 1a 0 comércio de bens ¢ o mercado financeiro, nem come a disciplina que Sage Cherm. deca anor prairie de 8 ge Chm ten be Ha nem eS Le Mh 25 eb de 800, 0 Man pts deme eee Lr Mee, em de 2083) 27 Digitalizado com CamScanner lasio social para tentar estabele- tum prnefpio de realidade que a obriga a apoiat-se na taro ea bani uuma ordem da gest que se oporia a uma ordem da utopia, Entretanto, quan- do se observam os discursos que configuram esse imagindtio, percebe-se que les reivindicam valores que sio organizados em sistemas de crengas ~ em ideologia, pode-se dizer aqui ~ tio idealizadas quanto as outras. Hi, portan- 1, uma idevlgia da economia enquanto tal lugar de uma verdade que conceme 4 gestio da vida coletiva em gcral,e, no interior desta, outras verdades que se ‘opdem & maneira de gerir essa vida coletiva. Por exemplo, véem-se opor a 50 ar enpear ana mr mc psi por cnt rc dene Aus manera, aqueles » quem se dinge nso deixam de exprimir” (Auge, 1994, p. 114) a 28 into” como se ouve jedades nao poder interveng6es para organizar sob seu cont ‘a educagao ea satide, permitir que cada um tenha um fo desemprego, assegurar “a formagao ao longo da vida poder de compra dos menos favorecidos (redusio de nimo, asisténcias socais diversas zindo a duragio da jornada de trabalho. Hi um rsco, ode car no excesso. Se, por exemplo, sob o pretexto de que 0 Estado tem o dever de dirigir a res publica (ao menos a partir do século Vi, na Franga), seu intervencionismo toca a todos os setores da vida social (lazeres, arte e cultura, infincia, e mesmo os setores mais intimos da vida privada), € cle nio é mais um simples regulador, mas um ordenador todo poderoso. Esse ‘7 Fama de onl pin Ur Monde 19 ce argo de 2002) 219 Digitalizado com CamScanner 0 jn loomatina que promoeenanrulmene a enc wm wolvimentouranesjo modelo completo c acaba € od Pais tos por desenvobvids ou, dito de outro meno, aiden Basta ter confianga erm uma economia de mercado. © dos produtores ¢ consumidores ~ se realizaria por ele proprio, uto-regulasio é 0 que legitima tal doucrina. Daf nascem os discursos que criticam o intervencionismo de Estado ¢ outros que sc pronunciam em fe: de uma facilitagao da atividade empresarial (diminuigéo da carga tri- ea pec ae a ibuigao voluntéria para protegio social, "Maine Mn 20 de mae de 202, Os esq so nso 20 uma hipertrofia do “ecor cores da sociedade, outrora ut um quarto de n que se confundam valor Jesse economismo € 0 das pesquisis, que c amostra da populagio — construida segundo critérios socioprofissionais (renda), ¢ de ponto de vista (opiniao) ~ sobre questoes dest rnadas a revelar as apreciasies ou opiniGes relativas a uma dada situagio social ¢ ‘cujos resultados sio tratados est icamente. Porém, ao serem tomnadas puibli- as, as pesquisastransformam-se em um discurso, 0 da propaganda que nio se afiema enquanto tal, que se esconde pudicamente sob os hibitos nobres da informagio, dando-se ares de ciemtificidade. Seus resultados, largamente difun- didos pelas midias que nesse momento os simplificam ainda mais, estemu- ‘nham as grandes tendéncias consumistas,oferecem ~ na realidade, impdem ~ rmodos de comportamento: a oferta se apresenta como um modelo a seguir ¢ rin uma demanda, desando crer que esta é que vem primeiro. Pode-se dizer ‘que se a publicidade invadiu completamente o espago privado, ela, a0 menos, se apresenta como um discurso de sedusao com fins comerciais. 221 Digitalizado com CamScanner Modernidade e tecnologismo Os discursos sobre a tecnologia cestemunham uma representagio social sobre a maneira de enfocar 0 mundo ¢ a técnica do ponto de vista de seu valor. Eles sio portadores de um imagindrio de verdade que est ext mente ligado as nogdes de eficacia, competéncia e vontade de agie das quais falamos anteriormente; conseqiientemente, ele esti telacionado a gestio da economia. De fato, supoe-se que a técnica constréi ferramentas que permi- tem gerir da mancira mais cficaz possivel a criagio c a circulagio de rique- as, 0 que supée compet e vontade de agir por parte de seus atores. Assim, reciprocamente, a preocupasio com a eficicia faz buscar novas téc- niicas que estimulam a vontade de agir, fazendo crescer a competéncia de 50 "Manon pars um dacvavineno vente" (Lr Mo, 3 de ani Se 2002) 222 fortficagoes em cuja edi foram edificadas co © peso das absbadas in de modo a procurar obter a no contexte teligioso da clevacao ¢s técnico foi o de geometrizacio vertical. Ji as de soberania contra as agress0es do inimi /¢ senhores feudais ou de invasbes de exerci desafio aqui era duplo: o de resisténcia (res Je ordenagao estratégica das diferentes part gio das perspectivas sobre os arredores). Pod queo correspondence era o de geometricagio espacial. tum caso quanto em outro, a concepglo arquiterural resultava da ‘geométrica’™” ea mao do homem nao se separava de seu espirto. Paralel mente, 0 mundo social ¢ politico era concebido como um conjunto de relagdes de forga entre dominadores que dispunham de pot (ou religiosa) ¢ dominados coagidos a fazer o juramento de obediéncia € fidelidade ou a se rebelarem. Trata-se ainda de uma visio a0 mesmo tempo vertical ¢ horizontal das relagdes humanas. No Renascimento surgiram os engenheitos que, com os arquitetas, co- megaram a fazer emergit um saber-fazer conceitual: proje;to mencal no inte- rior de espagos e de volumes habitados, percepZ0 de wm mundo organizado em proporgdes, a atividade de classificacao das formas ¢ das espécies. Enge- Ren orp 2) 223 Digitalizado com CamScanner aqui é de crenga do pensu Com a industralizagio, aparece uma nova relagio entre o homem € ‘atureza e paralelamente novas relagdes entre os homens, Parecia evidente » movimento, Sopa "Op at (p.2) "On (p30, Op an (p. 224 1c cudo passa a ser adqui domina como « ipa de um imaginario que foi fortem do mundo ocidental, sendo o filme Tempas modernos, jo do século xxi) & marcada pela isso So- Nossa época (fim do século xx € tecnologia da comunicagio, pela fabricagio de modos de trans fisticados (eletrdnicos, digitais) ¢ por uma organizagao das conexdes em rede que permitem ao mesmo tempo fazer circular a i tempo préximo daquele da palavra oral ¢ colocar em contato direto pes- soas que se encontram muito distances umas das outras. Segue-se a ‘emergéncia daquilo que Patrice Flichy chama “imag que se funda em «és erengas: dominio toral do saber, existéncia de uma em um Hay Owl pT 225 Digitalizado com CamScanner rel’ apa dee ato eg se 10, nem do Exado, rm que a ciclo ds infmagona eds ‘unis prod uma reviaols comple nas mera da sonoma" n meio do mercado Evidentemente, os discursos produzidos nesse imaginério de tecnologia tendem a celebrar os efeitos positivos ¢ a mascarat os negativos, pois se trata aqui de legicimar as novas tecnologias. A cada epoca corresponde um repercute na organizagio social e ec agindrio relativo & tecnologia, © qual mica do grupo social que o produz. TAGS, 26 . que propunha uma busca es se imeadio imponha uma luz pela vontade de ces que sc beneficiam dessa origem ~ esse imagin ce seja guiado cla possa toma ue partindo do ide sagrada ou pessoal, pre intocada, constitui-se na rua pela presenga : insurtecional de grupos que, minoritirios no principio, terminam por tor- hnarem-se uma massa que se imagina por um tempo “a senhora do mundo”. Depois vem o tempo da construgio de uma mediagio social, pois uma v= junto, 0 que nao tomado o poder ¢ preciso gerenciar essa vontade de viv pode ser feito sem que essa vontade sejaesclarecida por uma luz do espirito, sem que seja guiada por um ideal supremo que funda a identidade ¢ 0 destino do grupo, que serve de referéncia aos que, sendo representantes do 10, receberam delegasio para af Eu creio que, naruralbnente, 0 povo ¢ o depositério da soberania, mm debe dic com 9 ina de Asus Exngsos do 000), © downge po enancade€ nos 227 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner

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