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Democracia: Regime político caracterizado pelo poder que emana do povo, para o
povo. Assim, todos os cidadãos participam de forma efetiva e igual nas decisões
políticas.
Desigualdade: falta de equilíbrio, estado de coisas ou pessoas que não são iguais
entre si.
Fazendo a análise dos dois conceitos, entende-se que a democracia pode ser vista
como o caminho para a disseminação das desigualdades. Por outro lado, a
democracia plena não existe num país desigual, já que existe uma parcela da
sociedade que se aproveita das brechas criadas pela desigualdade para manipular o
capital econômico em influência política, o que distorce o conceito de democracia, já
que impede a participação igualitária dos cidadãos na política.
O filme “Que horas ela volta?”, lançado em 2015 pelas mãos da diretora paulistana
Anna Muylaert, é responsável por chamar atenção para o debate sobre as relações
de trabalho das empregadas domésticas e de seus patrões no Brasil. Dessa forma,
o filme acompanha Val, que trabalha no Morumbi como doméstica há cerca de 10
anos, época em que saiu do Nordeste (região com maior índice de desigualdade
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social no Brasil, como demonstra o gráfico), deixando sua filha Jéssica para trás, e
foi para São Paulo com objetivo de melhorar a qualidade de vida de ambas.
Uma vez em São Paulo, Val começa a trabalhar para uma família e
imediatamente surge um paralelo entre a forma como ela cuida de Fabinho, filho da
patroa, enquanto teve que se distanciar de sua filha para que conseguisse manter
alguma estabilidade financeira. Essa relação entre Fabinho e Val pode ser
comparada às "amas de leite”, aquelas mulheres que amamentavam as crianças
alheias quando suas mães não podiam estar presentes. Papel esse que sempre foi
da mulher negra e escrava, e se adaptou com as transformações sociais até que se
consolidasse em mulheres como Val, que mesmo não amamentando, fez o papel de
mãe e criou uma relação afetiva com Fabinho.
Em um momento, a Val repreende sua filha e lhe pergunta: “Por que você se
acha superior aos outros? “. A resposta de Jéssica é um ponto de destaque para o
caos principal do filme, a desigualdade social. “Eu não me acho melhor não, Val. Eu
só não me acho pior.” Na visão de Ranciére, o ódio a democracia é um fenômeno
que se inscreve na longa duração, haja vista que as pessoas de setores
privilegiados da sociedade nunca aceitaram 100% a implicação do regime
democrático no cotidiano e as conquistas das classes mais baixas, como é visto no
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filme, a filha da empregada doméstica consegue passar na primeira fase da prova,
enquanto o filho da patroa não, e isso é algo que incomoda a patroa, já que ela não
entende como Jéssica consegue realizar tal feito.
Ao decorrer do filme, é nítido como a família possui uma relação de afeto com
a Val, mas sem nunca desapegar da ideia da empregada submissa que nunca vai
ter uma relação de igual com eles, nem mesmo uma verdadeira relação familiar. Val,
mesmo morando na casa dos patrões, não possuía sequer um quarto, dormia num
pequeno cômodo separado da casa, que também pode ser visto como uma ideia
herdada da escravidão, ela também não consumia os mesmos alimentos que a
família, não se sentava à mesa com eles e raramente saía de casa. Fica claro que a
relação “família” construída com a mulher é usada como um instrumento para
impedir que ela construa qualquer vínculo não relacionado com o trabalho,
mantendo-a sempre trabalhando, mas sem deixar isso claro. Logo, ela nunca
recebia hora extra, não possuía horários para trabalhar e ainda estava privada da
consciência de que estava sendo explorada, sem limites entre seu trabalho e
pequenos favores a família.
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transformação, consequência de seus estudos, também ressaltando a educação
como fonte de mudanças e de constante procura por métodos para desenvolver a
sociedade.