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QUESTÕES A PARTIR DO FILME: ‘’ QUE HORAS ELA VOLTA?

’’

Aluno(a): Yngrid Larissa Araújo Martins

1- Como o filme "Que Horas Ela Volta?" retrata o papel social da


empregada doméstica na estrutura social brasileira?
No país temos uma realidade onde quando não invisibilizadas totalmente e
responsáveis por serem multitarefas pela informalidade das condições de
trabalho a quais são submetidas a olhos fechados de um estado que não
oferece suporte e fomenta tal situação, as domésticas são levadas a crer que
de alguma forma fazem parte da família a qual trabalham, e mesmo não
recebendo o mínimo além de um agrado esporádico ou condições básicas para
a existência como um lugar para dormir e comida, também são condicionadas
a acreditar que devem submissão a esses patrões e a anulação delas mesmas
enquanto indivíduo, que a gratidão deve vir em forma de obediência e
conformidade e que os interesses do patrão estão acima dos seus próprios, é
uma hierarquia que rebaixa essa classe não só no âmbito trabalhista mas
também social, a ideia de terem os mesmos direitos e privilégios dos seus
empregadores soa utópica.

2- Comente a frase “onde já se viu a filha da empregada sentar na mesa


dos patrões”!?
Reiterando o que foi dito na resposta anterior, apesar de conviver
pacificamente com os patrões existe uma segregação implícita onde para a
burguesia não é esperado ou visto como correto que empregadas estejam no
mesmo nível dos seus empregadores, pra existir esse convívio pacífico se segue
uma ordem onde mesmo sendo ambos seres humanos o direito a privilégios e
ao convívio equivalente é absurdo, já que um ser está na condição de limpar,
servir e organizar enquanto o outro deve se beneficiar disso, haver uma
igualdade de tratamento na visão destes seria se equiparar a essa nivelação
que foi instaurada acima da desigualdade social, assim é retratado na cena que
após Jéssica nadar na piscina a patroa de Val manda trocar a água, como se ela
fosse impura pra conviver da mesma maneira que eles.
3- Comente aspectos que você observou da relação entre Fabinho e Jéssica
com a personagem Val.
Fabinho ama o carinho e a proteção de Val, em contrapartida não tem a
mesma intimidade com a mãe e detesta os gestos de afeto ocasionais da
mesma, não tendo proximidade emocional nenhuma com a genitora que
pouco participa de sua vida. É um efeito borboleta e o mesmo acontece do
outro lado da história com Jéssica, que pela falta de convivência não se sente
próxima da mãe e nem entende a razão dela se submeter a algumas coisas
mesmo quando tudo foi feito em função de sustentá-la, na verdade parece que
a intenção dela em estudar tanto é trilhar um caminho diferente do da mãe e
dar pro próprio filho a criação que não teve, a confiança e a relação entre mãe
e filha foi sacrificada pela responsabilidade que Val tinha em prove-la,
chegando até mesmo a gerar ciúme em Fabinho quando a menina chega na
casa e recebe atenção da doméstica, que pra além de uma figura materna pra
ele é também um instrumento de serviço e suporte emocional que não deveria
poder ser dividido, o espaço que Val ocupa na vida dele não é só afetivo, mas
também muito ligado aos papéis sociais e de gênero e tudo que neles vem
atrelado.

4- Comente a afirmação: "Quando eles oferecem alguma coisa é por


educação, eles têm certeza que nós vamos dizer não".
O patrão oferece para manter a imagem de benevolente e bom, e ao mesmo
tempo usar isso pra municiar o ego e reforçar sua própria posição na
hierarquia social.

5- Como o filme aborda a relação entre classe social e poder, especialmente


no contexto da casa em que a protagonista trabalha? Destacando o papel da
educação.
Os patrões de Val tiveram acesso a uma boa educação e a meios de vida que
nunca foram oferecidos a ela, chegando em um lugar que Val, uma mãe solo
vinda do interior do Pernambuco e com baixa escolaridade nunca poderia ter
chegado, pois suas obrigações eram imensas e as oportunidades sempre foram
poucas. É notório a preocupação de Bárbara e Carlos em que o filho Fábio não
só passe numa renomada faculdade de arquitetura como também continue
com esses meios de ascender social e financeiramente e perpetue o legado da
família, dedicando seu tempo apenas para os estudos, podemos dizer que a
linha de chegada dele e de Jéssica, mãe solo, nordestina, filha da classe
trabalhadora, é totalmente diferente. Mas Jéssica veio para mudar a
convenção da casa de que a filha da empregada não pode ter conquistas
maiores do que as do filho do patrão, e não só passou no processo seletivo que
Fabinho reprovou como também quebrou qualquer dogma vigente na cabeça
da mãe. Por meio da crença que a educação e a resistência mudam vidas, pela
coragem de não aceitar ser tratada como menos em meio a uma sociedade
que tentou a fazer desistir e por reivindicar seu lugar nela, a educação não
serve só para fazer ter consciência do seu lugar no mundo, mas também age
possibilitando com que ciclos geracionais de exploração, miséria e ignorância
tenham fim. Para que o acesso à educação não se hegemonize e o caminho
que fez aquela desigualdade acontecer não se repita. Educação é poder.

6- Qual é a crítica social e política que o filme faz ao retratar as relações de


trabalho doméstico no Brasil?
O trabalho doméstico acaba sendo exploração das classes ricas, tomando o
tempo de vida das empregadas em troca de migalhas, usando-as pra liberar o
próprio tempo, não precisando criar seus filhos, e impedindo as empregadas
de criarem os seus, perpetuando o ciclo de exploração.

7- Como o filme apresenta a interseção de gênero, raça e classe social, e de


que forma isso afeta a vida das personagens?
Vínculos são criados e fortificados pela convivência, mas essa convivência é um
privilégio que nem todos podem ter, sobretudo mulheres pobres que dividem
a maternidade com a necessidade de estar no mercado de trabalho onde
também impera uma divisão sexual e classista. Para ter condições de manter a
filha, Val precisou deixar de estar presente em todo o crescimento dela, o que
é a realidade de muitas domésticas no país e retrato de como mesmo após
anos da abolição da escravatura a segregação social e a relegação da mulher
pobre a ama dos filhos de mulheres ricas enquanto abdicam de seus próprios
filhos continua. O afeto de Val por Fabinho não tem relação consanguínea, é
um laço estreitado pelo cotidiano e uma outra responsabilidade que lhe foi
atribuída enquanto deixava sua verdadeira filha aos cuidados do avô e ouvia
Fabinho lhe perguntar que horas a mãe voltaria, Jéssica do outro lado do país
também devia se perguntar o mesmo, esperando pela mãe que diferente da
do outro menino não voltaria no fim do dia, e também a ela é esperado a
continuação desse ciclo de miséria, já que como filha de doméstica cresceu
sem o acesso a melhor educação e assistência parental.

8- Reflita a partir das personagens acerca da ideia Marxista de que: A nossa


consciência é determinada pelas Condições Materiais de existência
A forma de pensar do indivíduo será formada a partir da condição social que
ele se encontra, isso é o que faz com que a Val se coloque mentalmente nessa
situação de subserviência e é o que faz com que ela pense e aja dessa forma
sem se questionar sobre o porquê de não sentar na mesa, não aceitar o que é
oferecido, e não pensar que existe a possibilidade de outro modo de vida até
que vê a filha passando na faculdade.

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