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Complexo paterno e complexo materno

14 de Abril, 2020 Juliana Fernandes Deixe um comentário

Verena Kast produziu um livro interessante sobre complexos


maternos e paternos, uma das referências quando se trata de falar
sobre esses complexos que nos habitam desde o momento que
nascemos. Como sempre tive uma certa dificuldade em entender o
que cada complexo atuante produz na gente mesmo fiz um esquema
para ajudar, é um resumão do livro em que podemos nos reconhecer
e pensar sobre nossos aspectos da infância.

Um fator importante é que ela vai descrever esses complexos


atuantes quando dão problemas no desenvolvimento da pessoa,
quando invadem a consciência e atuam sem que possamos ter a noção
de que estamos naquele momento vivendo a atmosfera da infância
que não superamos em algum ponto do nosso desenvolvimento.

COMPLEXO MATERNO POSITIVO

Complexo materno positivo que não se desligou da mãe no tempo


certo promove algumas características em homens e mulheres:

HOMEM: O homem tem o sentimento de ser especial para o mundo,


o mundo precisa se adaptar para receber tamanho presente que é esse
ser humano incrível. E normalmente são incríveis mesmo, dotados de
grande talento e sensibilidade acabam percebendo o mundo com a
mesma atmosfera que a mãe produzia na vida deles, possuem a
expectativa de que a vida, o mundo e as pessoas o recebam como uma
mãe doadora de tudo, que nutre e o admira.

• A solução para deixar esse complexo é assumir o lugar de herói


lutando com aspectos sombrios da relação mãe e filho, normalmente
esses homens possuem muita energia acumulada por terem sido
“alimentados” pela mãe durante muitos anos, a partir da agressividade
com o mundo podem deixar o complexo materno.

MULHER: Na mulher a atmosfera é diferente devido ao fato delas se


identificarem muito com os aspectos que a mãe constela durante a
relação e isso ser bem aceito socialmente no mundo do feminino. O
fato delas não apresentarem uma identidade como mulher não
compromete muito seu desenvolvimento. Elas simplesmente seguem
o plano da mãe, o mundo tem muito a oferecer a elas, a vida é sempre
muito rica, são presas nessa atmosfera materna e identificadas com a
mãe. O espaço materno é transferido com muita facilidade para o
espaço de vida como tal.

• Por outro lado, a mulher que possui a riqueza dentro de si por ter sido
criada por uma mãe que a superprotegeu tem que perceber seu lado
sombrio, projetando sempre no mundo o seu lado ruim, se
surpreendem quando encontram mulheres más, sem se darem conta
da própria maldade dentro de si mesmas. O importante neste
momento é elas internalizarem o aspecto sombrio da personalidade
delas para em seguida lidar com aspectos do complexo paterno, há
duas possibilidades quando elas são dominadas por esse complexo
materno positivo ou uma idealização do masculino ou a
desvalorização dependendo do aspecto de animus que está na mãe ou
a proximidade da sombra na consciência.

COMPLEXO PATERNO POSITIVO

Complexo paterno positivo que não se desligou do pai no tempo certo


promove algumas características em homens e mulheres:

HOMENS: São homens normalmente bem-sucedidos e propensos a


se adaptarem ao mundo, não conhecem seus próprios medos e entram
normalmente em crise quando as coisas fogem do próprio controle, a
criatividade e o contato com o feminino são sufocados devido a
ligação com o ambiente paterno.

“pode-se perceber uma pressão constante por


desempenho” (p.132).
Não possuem autenticidade porque tem que corresponder a
admiração do pai, ao mesmo tempo quando esse pai não pode mais
admirá-los fica preso na possibilidade de admiração de outros homens
ao redor.

• Homens com complexo paterno originalmente positivos precisam


aprender a relativizar a vida, compreender que não se deve generalizar
os eventos, portanto não tratar tudo com a mesma regra e sim se
adaptar ao meio de modo que consigam considerar a parte emocional
da vida.

MULHERES: Quando não se desligam na idade certa criam aspectos


dependentes dos homens para tudo, a atmosfera filhinha do papai. As
mulheres tomadas por esse aspecto satisfazem muito bem
convenções, se adaptam aos desejos dos homens que acaba
possuindo relacionamento, rivalizam com todas as mulheres ao redor,
respondendo aos desejos do homem que tem relação. Fora do campo
relacional elas conseguem ser independentes e inovadoras, porém as
amigas não têm muita relevância para ela, são apenas colegas ao qual
ela não faz muita questão da presença.

“O bom sentimento de auto-estima depende da admiração


dos homens” (p.139).
Aprenderam a ser conduzidas e não a se tornarem independentes
frente as responsabilidades, quando se deparam com ter que conduzir
passam a se sentir vazias e sem muito interesse no mundo, e o que
aparece constantemente é o medo. A filhinha do papai acaba não
tendo medo algum devido ao pai que sempre a conduziu ainda ser o
super herói, quando o medo aparece ela precisa de alguém para a
conduzir e garantir que ela está no caminho certo.

“identificada com o lado de pai de seu complexo paterno,


ela geralmente dá a impressão de ter um complexo do eu
extraordinariamente bem estruturado, de ser sensata,
forte. E geralmente ela é assim no trato com a vida
“externa”, mas não no trato com o próprio
desenvolvimento.” (KAST, Verena, 1997, p.140)
A identidade dela é fake, normalmente ela pega emprestado a
identidade do pai e do complexo paterno. Precisam fazer algo para
conquistar o amor do outro, porém tem esperanças desse amor
acontecer de alguma forma, mal sabem elas que o amor acontece sem
que elas precisem se esforçar.

• A saída para esse complexo é o contato com outras mulheres, com a


mãe e amigas em uma relação intima e mais profunda, a fim de se
libertar das exigências masculinas.

COMPLEXO MATERNO NEGATIVO

HOMENS: Possuem uma simbiose com a mãe que em geral não


garantiu o sentimento de existência do filho, mães depressivas ou
pouco protetoras, sentimento de “abandono” do filho em que este tem
que se virar sozinho. Ocorre em geral uma transferência desse
aspecto que tem com a mãe na esposa a qual mantém uma relação
semelhante de mãe-filho, porém mãe negativa que não oferece
eroticidade a relação.

MULHERES: Complexo materno originalmente negativo nas mulheres


não garante a existência, existe um clima de medo e desconfiança que
vêm da origem com a mãe ou atmosfera de cuidado do passado, elas
entendem que se deve lutar para obter o sentimento de sentir-se
pertencente. Arrumam muitas estratégias para conseguir o direito a
existência. Elas normalmente acabam cuidando dos outros como mães
e acabam se excedendo nesse aspecto, não é de todo ruim desde que
ela conheça os limites desse cuidado.

As exigências que essa pessoa faz de si mesma para “não” alcançar o


amor desejado são enormes. Tem sempre a impressão de dar muito
mais que recebe apesar de não demonstrar isso às outras pessoas, é
faminta por não ter recebido nutrição o suficiente quando pequena.
Nunca se trata de fazer algo ou desempenhar algo e sim conquistar
um lugar no mundo, um lugar de existência.

• São pessoas que se consideram ruins em um mundo mais ruim ainda,


estão sempre esperando a benção da mãe e que a mãe reconheça que
errou quando desvalorizou o filho(a).

• Apresentam em geral problemas psicossomáticos, e problemas bem


razoáveis de autoestima, se sentem no fundo culpadas pela mãe de
certo modo não aceitá-las. A relação com mulheres positivas é
primordial para esse aspecto se modificar internamente, elas mesmas
precisam dar-se o direito a existência sem que peçam autorização para
isso.

COMPLEXO PATERNO NEGATIVO

HOMENS: Vive como um fracasso em que o pai sempre o supera e é


o melhor, o pai não garante sua existência e vira um rival, porém as
leis paternas sempre prevalecem e o filho se sente um nada frente a
isso.

As leis criadas pelo pai e o distanciamento tornam o filho solitário em


suas leis paternas e próprias somente para o filho. Ao mesmo tempo
isolado do mundo paterno e ao redor com vários homens livres dessas
leis ditadas pelo pai para expulsá-lo do campo do masculino que o pai
pertence e ele não. Uma excessiva exigência faz com que esses
homens sempre fracassem em seus objetivos inalcançáveis e se
sintam como na infância derrotados por esse pai.

“Atrás dessa alta exigência também se oculta,


suplementarmente, o desejo de ser como o pai, de poder
estabelecer uma experiência-do-nós e de finalmente
receber, com isso, a benção paterna.” (P.184)
O filho não é liberto para a vida pelo pai, fica preso na ditadura
paterna. A solução para esse tipo de complexo que toma o homem é
deixar a rivalidade, e entrar em contato com aspectos vitais, espaços
esse de aspecto anima.

MULHERES: Elas vivem em alta exigência buscando a aprovação do


pai que nunca a reconhece, a diferença do complexo paterno nos
homens é que quando ela abre mão da exigência paterna ela não
perde sua identidade ela simplesmente tem o aspecto ainda do
feminino para se estabelecerem na vida.

Estão sempre sentindo-se uma porcaria e exigem muito de si mesmas.

Verena Kast (1997) afirma que o mais difícil é livrar-se de uma ideia e
não de figuras reais, pais reais são sempre mais fáceis de lidar,
complexos são mais difíceis porque são ideias criadas desde a infância
e que se engendram na psique de uma forma que o que nos resta é
perceber esses complexos e tentar identificar quando eles estão em
ação seja em frases de desvalorização ou em hiper exigências e modo
de atuação no mundo do trabalho e relacionamentos.

Perceber se as frases chaves que usamos vem de pai de mãe ou de


nós mesmos é um processo moroso, mas que pode proporcionar a
experiência de autenticidade.

Esse resumo é mais para nos orientarmos a respeito do clima que


vivemos na infância, as imagens que trazemos sobre nosso pai e nossa
mãe, assim como imagens de cuidado e desempenho são a chave para
entendermos o que nos toma, quais complexos que fazem parte da
nossa dinâmica atuante. Acredito que contribui um pouco para
pensarmos em aspectos que tem mais a ver com nossas percepções
sobre o mundo do que a respeito de nossas figuras parentais que no
fundo não tem nada a ver com a realidade.

Referência Bibliográfica

KAST, Verena. Pais e filhas – Mães e filhos: caminhos para a auto-


identidade a partir dos complexos materno e paterno. São Paulo:
Edições Loyola, 1997.

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