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Uninassau – Psicologia 8º M

Psicologia das Relações Familiares


Professor: Walfrido Menezes
Alunas: Edinéia Cunha Oliveira – 01598629
Maria Cecília Amorim – 01191846

Família Monoparental no Brasil: breve histórico, características e


influências.

O conceito de família sofreu alterações com o passar do tempo e foi se


ajustando à modernização da sociedade. Porém, a fundamentação central de
núcleo familiar permanece inalterada. Para a constituição brasileira, família é a
base da sociedade, como afirma seu artigo 226, e representa a união entre
pessoas que possuem laços sanguíneos, de convivência e baseados no afeto.

Nos tempos primitivos, as tribos viviam em situações de endogamia, ou


seja, ocorriam relações sexuais entre todos os membros da tribo. Mais tarde,
houve uma prevalência por relações individuais, o que acabou originando a
monogamia, caracterizada por relações afetivas, e sexuais exclusivas entre
duas pessoas. É preciso registrar, no entanto, que a poligamia é mantida por
algumas civilizações.

De acordo com Santos e Santos (2008), “a família monogâmica foi


fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Sua prevalência entre os
povos forçou o reconhecimento da paternidade, beneficiando os filhos com o
exercício da obrigação paternal de proteção e assistência” (p.3).

Na idade média, o domínio da igreja era bastante expressivo na moral e


nos costumes. As famílias tinham como obrigação principal transmitir os
valores religiosos e educação aos filhos, além de transmitir os ofícios que
passavam de geração a geração. O patriarcado, ou seja, regime social onde o
pai era autoridade máxima, era a forma adotada pela sociedade.

Por serem as famílias também a base do sistema de produção social,


por possuírem uma realidade econômica baseada na agricultura, foi possível
identificar o desmantelamento deste sistema com a industrialização. A indústria
retirou das famílias a função do fator de produção e diversas mudanças
ocorreram a partir deste período: o homem passou a trabalhar nas fábricas e,
posteriormente, a mulher também adentrou no mercado de trabalho para
complementar o sustento financeiro familiar. Dessa forma, no século XX, a
educação dos filhos foi passada para as escolas e as novas condições de vida
acabaram por exigir que as famílias, antes numerosas, se tornassem cada vez
menores. Além disso, a influência da igreja passa também a diminuir com a
instituição da liberdade de crença.

A partir de então, é iniciada a busca por igualdade de direitos, que são


garantidos pela lei. Os cônjuges passam a ocupar o mesmo patamar e o
casamento deixa de ser a única forma de união legítima, abrindo espaço para
outros formatos de famílias. Na década de 60, surge a tendência à ruptura do
vínculo conjugal, o divórcio, o que auxilia a diversificação ainda maior do
conceito de família e acaba por ampliar o número de famílias monoparentais,
ou seja, famílias formadas por apenas um dos genitores e filhos. Os primeiros
países a tratarem desse tipo de família foram os países europeus, como
Inglaterra e França.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226 parágrafo


4, dispõe que “entende-se também como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes”, o que reconhece não só
as famílias monoparentais como outros formatos familiares.

As razões para uma família ser monoparental são das mais diversas:
viuvez, divórcio, adoção unilateral, produção independente e até o não
reconhecimento da filiação pelo outro genitor, sendo homem ou mulher, e não
se trata de um fenômeno novo. Porém, somente a partir da década de 60, com
o aumento dos divórcios, passou a ser tratada legalmente. No Brasil, apenas
em meados dos anos 70 e com reconhecimento legal apenas na constituição
de 1988.

É importante reforçar que as famílias monoparentais são diversas e


heterogêneas, conforme citado anteriormente. No entanto, o crescimento das
famílias chefiadas por mulheres é expressivo nas últimas décadas: de acordo
com a Secretaria Nacional da Família, mulheres sem cônjuge e com filhos
representam 16,3% dos arranjos familiares.

Sendo assim, talvez o caso mais comum seja, de fato, o das mães
solteiras, que tinham seus núcleos familiares à margem da sociedade e até
meados do século XX, sendo seus filhos considerados ilegítimos. Mesmo após
o reconhecimento legal, muitas vezes as mães solteiras são marginalizadas
pela sociedade, e isto se dá em decorrência do tradicionalismo em que se
encontra esta mesma sociedade brasileira.

É preciso não esquecer que as mulheres chefes de


família costumam também ser “mães-de-família”:
acumulam uma dupla responsabilidade, ao assumir o
cuidado da casa e das crianças juntamente com o
sustento material de seus descendentes. Essa dupla
jornada de trabalho geralmente vem acompanhada de
uma dupla carga por suas insuficiências tanto no cuidado
das crianças quanto na sua manutenção econômica. É
verdade que essas insuficiências existem também em
outras famílias, e igualmente é verdade que ambastêm
suas raízes nas condições geradas pela sociedade.
Porém, esses fatores sociais são ocultados pela ideologia
que coloca a culpa na vítima, e o problema se torna mais
agudo quando as duas vítimas são encarnadas por uma
só pessoa. (BARROSO & BRUSCHINI, 1981, p. 40)
É notório que a monoparentalidade ocorre em diferentes classes sociais,
porém ela vem atrelada a uma queda no poder aquisitivo dessas famílias. Por
serem muitas vezes as únicas provedoras financeiras da família, as mulheres
chefes de família precisam enfrentar jornadas duplas de trabalho e delegar a
educação de seus filhos às escolas e creches, onde eles acabam por passar a
maior parte do tempo. Em alguns casos, mães solteiras também acabam por
morar com seus filhos na casa de seus pais, buscando encontrar um suporte e
rede de apoio na educação e cuidado de sua prole. Os arranjos, nestes casos,
são os mais diversos.
No campo da psicologia, é possível analisar o desgaste da mulher em
situação de monoparentalidade. Ela geralmente busca suprir a carência afetiva
de seus filhos antes das suas próprias e desta situação decorrem problemas
freqüentes como a solidão e a depressão. Em se tratando da
monoparentalidade por divórcio ou abandono, estes problemas são ainda mais
pontuáveis, pois há uma mudança brusca na situação familiar. Ao tentar
cumprir seus papéis e dupla jornada, há um novo abalo para as condições
emocionais da mulher: o estresse.
Com freqüência, também é possível observar o detrimento do
autocuidado da mulher em sua vida sexual que pode tornar-se uma área
esquecida por diferentes motivos: falta de tempo de manter uma vida social,
zelo e preocupação com os filhos e até por dependência afetiva de mães e
filhos e senso de “proibição social” que visa proteger a imagem da família.
Neste ponto, é importante diferenciar as famílias monoparentais entre as
voluntárias, onde as mães escolhem criar seus filhos sozinhas, e involuntárias,
onde as mesmas se encontram nesta situação de chefes de família por motivos
que fogem à sua vontade. A monoparentalidade programada é cada vez mais
freqüente na sociedade e, geralmente, estas mulheres possuem condições
financeiras e emocionais para a criação dos filhos. Já nas camadas mais
pobres da sociedade, o sofrimento financeiro e psíquico das mães solo é um
problema social crítico no Brasil. A falta de vagas em creches para deixar as
crianças, baixas oportunidade empregatícias, entre outros, são apenas alguns
dos desafios enfrentados diariamente por estas mulheres.
Da mesma forma, o vínculo afetivo pai-filho, quando desfeito ou
inexistente, causa uma ausência nas crianças de lares monoparentais que
busca ser suprido pela mãe solo, mas que muitas vezes traz conseqüências
psíquicas e emocionais em crianças e adolescentes. Em casos de divórcio ou
abandono por parte do pai, casos de alienação parental são freqüentes nos
fóruns e varas de família. A ausência do genitor por vezes é financeira, afetiva,
ou ambos, e a criação e educação dos filhos acabam ficando prejudicadas por
brigas e desentendimentos dos genitores.
No caso do abandono afetivo, é mais difícil a exigência judicial do
cumprimento da mesma, pois mesmo com a determinação de visitas, muitas
vezes elas não são cumpridas. Além disso, há uma romantização do papel
masculino: tarefas que são exigidas das mães como uma obrigação, como
acompanhar o desempenho escolar indo às reuniões escolares ou levar ao
médico, geralmente são vistas como elogiosas quando realizadas pelo pai.
Mesmo na sociedade pós—moderna atual, ainda recai totalmente sobre a
mulher os cuidados básicos na criação dos filhos.
Portanto, vale mencionar que mesmo em famílias nucleares com pai e
mãe vivendo juntos na mesma casa e compartilhando a criação dos filhos,
ainda recai a maior responsabilização sobre a criação dos filhos nos ombros da
mãe. Ao pai, recai apenas a responsabilidade financeira.
De acordo com Lucas, (2012), em um estudo com amostras de
professores e enfermeiros em Portugal, foi observado que o resultado obtido na
aplicação da Escala de Stress, não se registaram diferenças significativas entre
a tipologia familiar e o stress percebido pelos participantes. Apesar disso, a
bibliografia também relata que as mulheres estão mais propensas a fatores
sociais estressantes, haja vista as sobrecargas existentes.
Nogueira (2019) reforça, através do seu estudo comparativo entre
famílias monoparentais e nucleares, que a vivência do estresse não possui
diferenças, de forma estatística, que sejam significativas, neste sentido,
estatisticamente o estresse, bem como outras tensões, como ansiedade e
depressão, por exemplo, são vivenciadas e afetadas de modo igual por ambas
as tipologias. Sendo assim, as maneiras de enfrentamento tanto do estresse
quanto de outras possíveis tensões existentes também são igualitárias entre
famílias monoparentais e nucleares, ou seja, não existe um enfrentamento
único de uma tipologia, urge destacar, no entanto, que cada família
monoparental é única, e as respostas ao estresse e às tensões podem variar
significativamente de uma situação para outra.
Sendo assim, a forma como as famílias monoparentais respondem ao
estresse e às tensões comumente vivenciados pode variar significativamente,
entretanto, existem algumas maneiras gerais que evidenciam como podem
reagir. Para conseguir sustento e continuar trabalhando, uma vez que não
podem se abster do emprego, nas famílias monoparentais em que se tem mais
de um filho, os mais velhos precisam cuidar dos mais novos enquanto a mãe,
no caso da parentalidade ser mulher, cumpre sua carga horária, levantando
muitas vezes nas primeiras horas do dia para organizar tudo em casa para os
filhos e então sair para o trabalho, muitas vezes sem conseguir, ela própria, se
alimentar. A necessidade de deixar os filhos com outrem, bem como de
sustentar financeiramente, ou ainda de gozar de outras possibilidades como
maior cuidado, lazer, estudo, etc., outras tensões são vividas diariamente.
Nogueira (2019) pontua que há recorrência ao apoio social sólido, por
parte das famílias monoparentais, sendo ele imprescindível, de modo que
ajudaessa mãe de família monoparental a se inserir socialmente, haja vista que
a presença de outras pessoas na mesma situação, de forma solidária e
sensível, atua no favorecimento à própria maternidade.A escola também é uma
alternativa para lidar com o estresse diário, uma vez que serve como aliada da
figura parental para que seus filhos fiquem cuidados enquanto precisam
trabalhar ou ainda resolver outras demandas.
Ainda sobre as formas de lidar com os estresses e tensões, a resiliência
é uma das maneiras de enfrentamento, sendo ela descrita como um conjunto
de fenômenos que direcionam para o enfrentamento, bem como a superação
de crises e adversidades. Neste sentido, abordar resiliência em famílias, de
modo geral,denota orientar o foco e pesquisar os aspectos saudáveis e de
sucesso do grupo familiar, não focando em destacar as disfuncionalidades e
falhas, buscar identificar e inserir os processos fundamentais que permitem que
as famílias não só a lidem de forma mais eficaz com os eventos de crise,
estresse ou tensões, mas também saírem fortalecidas e potencializadas delas
(YUNES, MENDES, ALBUQUERQUE, 2005)
Ademais, Portugal (1995) apud Yunes, Mendes, Albuquerque (2005),
acrescenta que é possível distinguir quatro áreas cruciais de apoio e suporte às
famílias monoparentais, focando nas femininas, sendo elas: a prestação de
serviços, cuja qualinclui os cuidados diários, temporários e ocasionais, bem
como auxílio nas tarefas cotidianas relacionadas aos bebês e crianças; o
suporte financeiro, compreendendo contribuições em dinheiro, bem como
assistência para despesas relacionadas à alimentação, saúde e educação das
crianças; o apoio material, que inclui doações de bens necessários para o
cuidado infantil, como roupas, brinquedos e alimentos; e, por último, o suporte
informacional, que se traduz em esclarecimento de dúvidas, aconselhamento e
assim por diante.
Diante do exposto, é possível compreender que as famílias
monoparentais buscam diferentes formas de lidar com as tensões da vida,
respondendo de acordo com o repertório que possuem, bem como com o
contexto sócio-histórico-cultural e econômico, mas não se restringem somente
às que aqui foram citadas, tendo ainda respostas financeiras, de
acompanhamento com outros profissionais (assistentes sociais, psicólogos,
agentes de saúde, etc.) e todas essas maneiras são válidas.
REFERÊNCIAS
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format=pdf&lang=pt

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