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O Novo Modelo de Família Moderna

por Frank Figueiredo César

Como dizia nosso saudoso Rui Barbosa: “A família é a célula mater da sociedade”, mas de toda
sorte os conceitos e a formação desta célula social vem de maneira célere mudando-se de tal sorte a deixar os
ditames legais serem ultrapassados, ousando dizer, atropelados, pela velocidade com que se realizam as
mudanças sociais.
O presente artigo visa de maneira clara e sucinta, mas sem o intuito de esgotar o discurso temático,
demonstrar as causas e as mudanças que nossa sociedade contemporânea vem passando, e até mesmo alguns
paradigmas rechaçados no passados, principalmente pela igreja e pela sociedade mais conservadora em permitir
e aceitar que as relações homo afetivas (com o devido cuidado de não descriminar as relações entre casais do
mesmo sexo, uma vez que de sexos opostos também existe o afeto). Outra questão bem atual é a formação da
famílias monoparentais (formadas por apenas um dos pais).
Diante de tais fatos sociais estaria nossa justiça preparada para decidir questões familiares sob este
novo enfoque? Serviria apenas aos costumes e a nossa pacificadora jurisprudência para atender os novos
reclames sociais? São questões como estas que implantaremos neste artigo para uma reflexão.
Palavras-chaves: Família, monoparental, casamento, pessoas do mesmo sexo, direito.

O novo modelo de família moderna e seus reflexos no direito


Já vai longe o tempo em que tínhamos a família de nossos pais e até mesmo as nossas, composta
pelo Varão (Pai), sustentáculo econômico e moral desta célula social, a Varoa (Mãe), reflexo da candura,
carinho, educação e dedicação integral aos filhos exclusivos deste casamento formal, e estes últimos em geral
eram sempre naturais ou adotados.
O álbum de família moderno muda com uma velocidade impossível de ser acompanhada pelo
direito e por seus operadores, que se deparam com situações nunca antes experimentadas. Assim a legenda
família é cada vez mais complexa, e para tentar explicar quem é quem neste novo contexto ou ordem social,
tentaremos abarcar aqui todas as situações inerentes ao novo tempo.
O retrato atual não reflete mais o modelo clássico, descrito acima e fruto de um mesmo casamento.
Aquele que parece ser o pai é o padrasto, ou simplesmente é o “novo” amigo da mãe; a moça com uma criança
no colo não é a mãe, mas uma meia-irmã mais velha, fruto de um casamento anterior de seu pai ou de sua mãe;
os três jovens que dividem o mesmo teto são um casal e uma amiga, ou filhos de casais distintos – o irmãos
unilaterais que agora vivem com um dos pais; e aquela que parecia ser a mãe pode ser na verdade a namorada
dela, e como na Argentina, pode até ser sua cônjuge, da mesma sorte os dois homens sorrindo na foto, podem
ser apenas mais um casal de homo afetivos, ao invés do tio e o pai, ou como usualmente falávamos “ o tio e o
sobrinho”, jargão tantas vezes usados pelo casal de homossexuais para explicar sua convivência.
Nossos institutos de pesquisas se esforçam cada vez mais para tentar explicar, senão vejamos as
informações do IBGE :“O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar uma nova
análise dos dados do último censo. Ela confirma a mudança, na prática, do conceito de família: atualmente,
47% dos domicílios organizam-se de formas nas quais no mínimo um dos pais está ausente. Há gente morando
sozinha, avós ou tios criando netos, casais sem filhos, ''produções independentes'' e outras tantas alternativas.
Algumas são tipicamente modernas, como os grupos de amigos que decidem morar juntos para dividir um
apartamento grande, no estilo do seriado americano Friends — e não se trata, no caso, de estudantes de
orçamento apertado, mas de adultos com trabalho fixo e contracheque. Outras situações, de temporárias,
acabam virando definitivas — como o homem que se separa da mulher e volta a morar com os pais, ''apenas
por alguns dias''. ''Embora o modelo nuclear ainda seja maioria, cresce a incidência de novos arranjos'', atesta
Ana Lúcia Sabóia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais do IBGE.”
Esse novo MODELO é resultado das conjunturas sociais e econômicas próprias dos dias atuais,
realizando a metamorfose familiar, que transforma os tipos conservadores, em várias formas de se ver e
perceber a formação destes modos de constituir e refazer as “teias familiares”, que como as aranhas em suas
armadilhas, vão afastando-se do núcleo e ganhando novos níveis estruturais com mais e distintos componentes.
São tenciosos que os filhos permanecerem muito mais tempo na casa dos pais e, em alguns casos,
até voltarem para lá depois de uma separação ou um revés financeiro. ''Atualmente, um quarto dos lares
brasileiros reúne três gerações, geralmente sustentadas pelos parentes mais velhos'', afirma Ana Amélia
Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Entram nessa conta desde grupos de baixa
renda dependentes da aposentadoria de um idoso até núcleos de classe média alta nos quais os pais bancam
filhos que não alcançaram a independência. Aparentemente insignificante, esse dado tem força para mexer nas
estruturas: o ciclo familiar se expande, empurrando adiante a fronteira da terceira idade, já que os pais ficam
ativos afetiva e financeiramente por mais anos.
Entender a evolução da família na história é entender a mudança dos paradigmas sociais modernos,
e as motivações de suas pretensões resistidas no direito de família atual. Destacado pelo exercício do poder
público atual, que se manifesta pela necessidade de uma nova roupagem de segurança social.
Esta Metamorfose Social é realizada com uma velocidade incompatível com o sistema legislativo
atual, incapaz de acompanhar esta rapidez com que as mudanças se apresentam, desfavorecendo a tão desejada
Celeridade Processual, e mais, estagnada pelos pré-conceitos, sem a reflexão necessária para entender que a
mudança de nossas estereotipadas famílias apresentam-se de modo extrínseco, "da maneira como a sociedade
quer que elas realmente se apresentem, mesmo que isto seja irreal", e de modo intrínseco "como realmente se
apresentam e se formam, com pais residindo em casas separadas, com uma ficta família que não divide o
mesmo teto, sem nunca sentar-se a mesa para compartilhar seus alimentos físicos e espirituais, sem
conviverem mutuamente no sentimento e na necessidade fisiológica, sem a participação nas principais decisões
que implicam no norte da direção de seus independentes sujeitos". É a sociedade moderna e suas várias
facetas, onde o que importa é parecer e não ser, ou seja, o que os outros pensam é mais importante do que
realmente o que é.
Aquelas formadas pós 1970 até meados de 2000, em que os laços matrimoniais estavam mais
frágeis, ante ao avassalador processo de independência feminista, e do início da formação das famílias
monoparentais, com a presença do varão apenas na mantença predominantemente, e da varoa na educação e na
orientação social, apresentam em várias classes e camadas sociais, e sua principal característica é a diminuição
do número de filhos, cuja predominância é de apenas um por casal, com pais separados e suas novas famílias
formando uma "terceira autônoma" família, formada por irmãos unilaterais e por dois pais e duas mães,
consanguíneos e por afinidade.
Aquelas famílias formadas nos últimos 10 anos, caracterizadas pela constante mudança de
endereço, e até mesmo de cidades, desenraizando a cultura natural de seus centros de formação básica, onde a
preponderância é o emprego público e a disseminação dos concursos públicos como aporte profissional,
independentemente de sua formação acadêmica ou especialidade, fincando seu interesse maior na ordem
econômica estável. Caracteriza-se pela chamada família DINK's (Double in no kids) — casais sem filhos,
voltados a viagens, e principalmente ao consumismo desenfreado, voltado principalmente para a adoração do
corpo, investindo grandes somas em cirurgias plásticas, e boa parte do tempo em academias de ginásticas,
relegando a relação afetiva para os encontros sociais. O tempo de convivência é mínimo mais intenso.
Agora, podemos entender claramente que a interdependência das ciências jurídicas com a
sociologia é de tal sorte inseparável, e dela não se pode afastar um milímetro sob pena da aplicabilidade injusta
e tardia. A sociologia jurídica é aquela que procura saber exatamente em que condição se dá à relação feita
entre a sociedade e o direito, de que maneira a sociedade é impactada pelo próprio direito, pelas leis e pela
eficácia menor ou maior da leis nas relações sociais.
Conforme bem coloca Silvia Maria Schafranski (SCHAFRANSKI, Silvia Maria Derbli. A Lei n.º
9.278/96, a família e o direito – conceitos gerais)
“A relevância da instituição familiar e da vida em família como pilar de sustentação da formação sócio-
cultural humana jamais poderá ser contestada. Porém, não há como ignorar que a família brasileira
contemporânea em muito difere dos padrões clássicos através dos quais inicialmente se estruturou, o que
reflete as mudanças que veem ocorrendo na sociedade em seu processo de evolução histórica. E este processo
necessariamente em eterna metamorfose cria novos agentes, novas relações e novos conflitos. Em destaque,
para as pessoas sem vínculo consanguíneo, mas de afinidade, que podemos caracterizar como todas aquelas
que frequentam e se relacionam dentro do ambiente familiar, na territorialidade da residência ou
extraterritorialidade familiar mas de convivência comum, no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa. O antigo padrão secular de família existente no Brasil colônia, por
exemplo, onde a vida dos indivíduos girava em torno de agregados familiares vastos, submetidos à autoridade
patriarcal, foi paulatinamente cedendo lugar a um tipo de família cada vez mais urbanizada e reduzida a um
núcleo geracional integrado apenas por pais e filhos, e modernamente falando, tendo na matriarca a
sustentação moral e financeira da família pós divórcio do casal, ou mesmo no pós-separação, mormente nas
famílias atuais, em sua maioria, são formadas por casais surgidos simplesmente pela união estável, inclusive
naqueles de pessoas do mesmo sexo.”
Em relação àqueles modelos de famílias, consideram alguns autores que o mito da grande família
"unida e de sólidos princípios", de antigamente, representa apenas um estereótipo, fruto de valores idealistas,
uma vez que não eram raras já naquela época as uniões tidas pela sociedade como "Imorais" e pela legislação
como "ilegais", mas que hoje não só se mostram como perfeitamente normais, no conceito moral, como
amparadas legalmente, inclusive defendida pelas cartas magnas dos principais países latino-americanos. No
Brasil, esta possibilidade é claramente pacificada pelo art. 229 da Constituição Federal da República/1988.

A família e o Direito
O Novo Código Civil brasileiro de 2002, num esforço legislativo de antever parcialmente as
mudanças, tentou infrutiferamente acompanhar as mudanças da sociedade, e após oito anos já vai merecer
alterações, tão logo os reclames populares sejam cada vez mais pacificados pela jurisprudência. Aliás, até bem
pouco tempo atrás as Leis eram capazes de ajustar-se as realidades que se mostravam, de sorte que o Saudoso
Teixeira de Freitas, jamais poderia imaginar em seu tempo, as mudanças comportamentais que se apresentam
hoje, nem mesmo os renomados civilizas mais liberais poderiam sequer aventar as mudanças necessárias em
nossa legislação, que qual fluído, vai ajustando-se como pode até transbordar seu receptáculo, havendo a
necessidade de mudar este recipiente ante os anseios sociais–familiares.
Na Família sua definição abrange as unidades formadas por casamentos, união estável ou
comunidade de qualquer genitor e descendente. No Código de 1916, ''família legítima'' era definida apenas pelo
casamento oficial. No Casamento, orientado pela igualdade constitucional entre homens e mulheres, e da
expressa denominação na carta magna da união estável, sendo que o primeiro passou a ser a ''comunhão plena
de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges'', e o segundo “é a união entre homem e
mulher sem impedimentos para o casamento que se unem com ânimo de família – pública e duradoura”. É
apenas uma das formas para constituir família. O novo texto reconhece ainda a união estável, formada entre
homens e mulheres, portanto ainda conservou a tradicional formação dos cônjuges, sem adentrar nos casos de
casais homo afetivos.
Caso que não se aplica mais à irmã Argentina que de toda sorte de resistência da igreja, aprovou
nestes dias a lei que adota como modalidade de casamento, aquelas realizadas entre pessoas do mesmo sexo, o
que torna impossível tentar fazer qualquer ilação ou aventura interpretativa ante aos efeitos e as complicações
que esta novíssima lei irá trazer aos portenhos.
Já em relação aos filhos o avanço nos parece mais próximo do contexto atual, que podem ser
adotados e concebidos fora do casamento, biológicos ou não, e que têm direitos idênticos aos dos nascidos
dentro do matrimônio. Eliminou-se a pejorativa distinção entre ''legítimos'' e ''ilegítimos'' para designar os
descendentes. A Lei do Divórcio, de 1977, atribuía a guarda dos filhos ao cônjuge que não tivesse provocado a
separação ou, não havendo acordo, à mãe. Hoje, é concedida a ''quem revelar melhores condições para exercê-
la''.
Na igualdade dos sexos, alguns cuidados gramaticais foram tomados, como por exemplo a palavra
''pessoa'' substitui ''homem''. O ''pátrio poder'', que o pai exercia sobre os filhos, passa a ser ''poder familiar'' e
é atribuído também à mãe. A família é dirigida pelo casal, e não mais apenas pelo homem.
(...)Se faltam paradigmas em alguns casos, em outros eles são abundantes. Figuras como a da
madrasta e a do padrasto estão sendo reabilitadas e não raro concorrem com a do pai e da mãe biológicos.
''Quando eu era adolescente, a mulher do meu pai era uma péssima madrasta porque não tinha recursos para
lidar comigo. Hoje a situação se tornou tão comum que as pessoas têm melhores condições de encarar esse
papel'', relata a professora Roberta Palermo, de 34 anos. Na passagem para a vida adulta, Roberta viu-se do
outro lado do balcão: casou com um homem divorciado e pai de dois filhos. A experiência rendeu-lhe a
publicação do livro Madrasta - Quando o Homem da Sua Vida já Tem Filhos e a criação da Associação das
Madrastas e Enteadas (AME). Ela abriu um fórum de discussão on-line, o www.madrasta. hpg.ig.com.br, em
que cerca de 400 madrastas compartilham o drama do ciúme incontrolável dos enteados - considerado o maior
desafio -, da dificuldade de estabelecer espaços no relacionamento com o marido e da tentação de competir com
a ex dele. ''A sociedade aceita melhor essas novas situações, mas, para quem está dentro delas, os conflitos são
tão difíceis quanto eram antigamente'', reforça Roberta.
Adoção do divórcio e pílula alavancaram transformações. As pessoas ainda não estão 100% à
vontade em seus novos papéis. ''Tendem a reproduzir o modelo clássico de família como se nada houvesse
mudado, por isso há tantos conflitos'', afirma Adriana Wagner, da PUC-RS. Em seu livro Família em Cena,
Adriana apresenta uma pesquisa realizada em 1996 com 400 adolescentes de classe média de Porto Alegre. Do
total, 53% viviam em famílias ''recasadas''. Em 1999, eram 71%. Ou seja: não dá para fechar os olhos e viver
como antes. Um dos equívocos recorrentes é transferir para a família reconstruída o mito do amor materno e
incondicional, próprio do modelo tradicional. ''As pessoas se vinculam afetivamente a seus novos parceiros,
não aos enteados. É preciso que todos se respeitem, mas ninguém é obrigado a amar como se tivesse laços de
sangue.''
O momento atual ainda é de transição e os indivíduos estão experimentando situações para as quais
não existem referências de como agir, o que dizer ou o que esperar. A pesquisadora Adriana exemplifica o
desconforto relatando o episódio de dois irmãos de convivência, um rapaz e uma moça, que se apaixonaram e
deixaram os pais sem saber o que fazer. ''Parecia incesto, porque moravam na mesma casa e eram tratados
como irmãos, mas, na realidade, não havia impedimento nenhum para que se amassem.''
Da mesma sorte temos os comentários do Dr. Marcelo Cardoso
“O afeto tornou-se fator crucial nos tribunais, o que favoreceu sobremaneira os casais formados por
homossexuais que, agora, já tem os mesmos direitos dos casais heterossexuais, como o pagamento de pensão, a
inclusão nos planos de saúde e os direitos sobre a herança e sobre os bens que eram comuns aos dois
parceiros, desde que fique comprovada a união afetiva estável entre eles ...E na separação conjugal, a guarda
dos filhos também mudou e, ao invés de ser sempre uma prioridade da mulher, como era antigamente, agora é
da parte que provar que tem melhores condições, tanto financeiras quanto emocionais, para criá-los , podendo
também ser estabelecida a guarda compartilhada, na qual a criança passa parte da semana com a mãe e outra
parte com o pai ...A justiça brasileira hoje privilegia mais os laços afetivos, em detrimento dos biológicos e
essa revolução de costumes atinge não somente pais e filhos de diversas uniões como também os casais
homossexuais que, de um modo geral, também já são aceitos pela sociedade, como os cabelereiros paulistas
Vasco Pedro da Gama Filho, de 35 anos, e Júnior de carvalho, de 43, que são pais de Theodora, de 5 anos.
Eles conseguiram adotar a garota há pouco mais de um ano. Foi o primeiro caso de adoção por um casal gay
no Brasil e, como diz Gama Filho, o que lhes ajudou foi a mudança na mentalidade das pessoas que, de um
modo geral, diminuíram o seu preconceito contra a homossexualidade, o que lhes permite, inclusive, que na
certidão de nascimento de Theodora, todos os dois figurem como "pais"
Neste contexto o vizinho Uruguai se tornou recentemente no primeiro país da América Latina a
legalizar a adoção de crianças por casais homossexuais, após a aprovação definitiva do projeto pelo Senado, em
meio a fortes críticas da Igreja e de parte da oposição. "O projeto de lei foi aprovado com os votos da Frente
Ampla (FA, coalizão de esquerda no governo, que conta com maioria parlamentar) e do Partido Colorado
(oposição)", comemorava a Senadora Uruguaia Margarita Percovich em 2009.
EXEMPLO:
“Luiz e Thomás vivem em Concubinato e adotaram (todos nomes fictícios) Carlos de 2 meses, Lucas de 1 ano e
5 meses e Júlia de 2 anos, todos irmãos biológicos que perderam os pais em um acidente de avião, e formam
uma nova modalidade de família moderna.
Paula e Thaís adotaram Ana de 5 meses e formaram uma célula social. São os casais homo afetivos e suas
proles, todos economicamente resolvidos, com idade superior à 45 anos, com contratos de convivência e de
união de dependência, incluindo as partilhas de bens e direitos; contratos estes bem formulados, levando o
caráter humano, social e econômico à frieza da análise técnico jurídica que reserva os interesse de todos os
agentes.”
Mas ainda assim o código brasileiro e seu legislador não se mostraram sensíveis a nova roupagem
familiar, deixando tais questões para os operadores do direito, e para nossa jurisprudência, uma vez que “o
intérprete não atua por capricho ou tendência, mas com o rigor científico jurídico”. Mais liberais e
tendenciosos a aceitar e resolver de vez estão nossos fraternos Argentinos, que não importando-se muito com as
consequências, já adotam uma séries de avanços neste sentido.
Dois pontos legais devem ser destacados quando o assunto é adoção, mesmo por casais homo
afetivos: o primeiro deles é princípio do “melhor interesse da criança”, indicado no artigo 3.º da Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989). Dessa forma, fica assegurado que o bem-estar da
criança deve vir primeiro do que qualquer interesse dos pais. O segundo ponto é a regulamentação do artigo
227 da Constituição através da Lei nº 8.069/90, o famoso Estatuto da Criança e do Adolescente, que
materializou o direito da criança e do adolescente de terem asseguradas a convivência familiar e comunitária.
Logo, o que se percebe na adoção por casais homo afetivos é o atendimento deste binômio: o
melhor interesse da criança e a segurança da vida familiar e comunitária com saúde, educação, lazer e
alimentos, que nestes casos, em destaque aos prospectos do IBGE, são estes casais que mais se preocupam com
estas razões e do poder de família no momento da adoção.
Seriam tais direitos Constitucionais lastreados como advindo da Dignidade Humana, respeitados?
Importante apontarmos a reflexão de Maria Berenice Dias em artigo publicado na Revista Jurídica Areópago da
Faculdade Unifaimi, senão vejamos:
“(...) de nada adianta assegurar respeito à dignidade humana e à liberdade. Pouco vale afirmar a
igualdade de todos perante a lei, (...), que não são admitidos preconceitos ou qualquer forma de discriminação.
Enquanto houver segmentos alvos da exclusão social, tratamento desigualitário entre homens e mulheres,
enquanto a homossexualidade for vista como crime, castigo ou pecado, não se está vivendo em um Estado
Democrático de Direito” (DIAS, p.30, 2008)

O novo modelo
Paulo e Beth são filhos comuns de Pedro e Maria, que têm outros filhos de casamentos distintos,
mas que todos os 5 outros são irmãos unilaterais e moram juntos, sendo portanto uma família tipicamente
moderna e os filhos de todos serão primos, e todos os tios e tias terão direitos sucessórios distintos.
Para a presidente da Comissão de Infância e Juventude do Instituto Brasileiro de Direito de Família
(IBDFAM), Tânia da Silva Pereira, tradicionalmente a Constituição reconhece como entidade familiar a união
estável entre homem e mulher, mas tem reconhecido também outras formas de convivência, como uma pessoa
sozinha com filhos.
Tânia, que também é professora de Direito de Família e Direito da Criança e do Adolescente da
PUC-RJ, explica que as “entidades familiares” identificadas no nosso sistema jurídico não foram suficientes
para atender às necessidades de proteção. Outras formas de família estão reconhecidas nesta mesma categoria
constitucional para obterem a proteção do Estado. “Os tribunais têm reconhecido outras entidades familiares,
como dois irmãos morando na mesma casa. Dessa forma, a casa passa a ser um bem de família e não pode ser
penhorado. A Justiça começa a trabalhar com outras composições”, explica.
Segundo ela, é importante lembrar que, apesar de não haver uma lei que diga expressamente que é
possível a adoção por casais homo afetivos, esse direito pode ser concedido baseado em princípios
constitucionais. “Não existe uma base legal, mas o direito brasileiro se constrói com a jurisprudência”, avalia a
advogada.
O entendimento sobre família vem sendo modificado no espaço e no tempo. Na antiguidade as
famílias eram mais numerosas, posto que precisavam de mãos para a lavoura e o trabalho e, dependendo das
leis, costumes e religiões de cada povo, haviam a até ordem para aumentar ou reduzir o número de
componentes destas famílias. Hoje cada vez mais a família vem sendo diminuída na sua composição, face a
nossa realidade social. Na verdade, família é uma consideração jurídica sobre grupo de pessoas ligadas por
consanguinidade e/ou por afinidade, como já percebemos anteriormente, pois nos dias atuais temos:
Pais / Casais: Pai, mãe, (avós paternos e maternos que de maneira geral servem de sustentáculo para
as famílias, uma vez que seus rendimentos de aposentadoria servem para as mantenças de todos os membros da
célula social) - casais separados, divorciados, unidos estavelmente ou simplesmente conviventes - Há que se
observar para a família monoparental, constituída de apenas um dos pais, geralmente a mulher, que representa
75% desta modalidade segundo o IBGE; Filhos (bilaterais e monolaterais), maiores ou menores de idade, com
grande incidência daqueles que mesmo após os 30 anos, ainda estão sob a tutela materna ou paterna;
Classificando ainda como capazes e incapazes (fator de extrema relevância no direito brasileiro, posto que se
maiores, favorecem por demais a aplicabilidade da desjudicialização no direito de família) - FILHOS
ADOTADOS por casais convencionais ou por homo afetivos; Casais Homo afetivos (constituído por pessoas
do mesmo sexo, os considerados ilegais, mas socialmente aprovados); Já é sabido que devemos encarar a homo
afetividade sem discriminação, mesmo porque a homossexualidade sempre existiu na história da humanidade.
Em algumas épocas históricas foi amplamente exaltado, a exemplo da Grécia antiga, e noutras foi
rigorosamente reprimido. A homo afetividade “não é doença nem uma opção livre” (DIAS, p. 43, 2006) e
também não é “um mal contagioso” (DIAS, p.174, 2006).
Os ascendentes (avós, bisavós e tataravós), que muitas vezes são aqueles quem sustentam
financeiramente as novas famílias, com seus benefícios previdenciários ou de seguros, e que podem ser
portadores do chamado mal de Alzheimer, passando a figurar como incapazes, sendo muitas vezes interditados,
em processos judiciais (lentos e morosos).
Juridicamente esclarecendo, os incapazes: são aquelas pessoas que não tem capacidade legal, ou
aquele a quem a lei priva de direitos ou exclui de certas funções - que neste caso destacamos os menores de
idade e aqueles cujo discernimento está comprometido por enfermidade, nos casos os débeis, os possuidores de
mal de Parkinson, e outros incapazes temporariamente.
Portanto, Diante das modificações que a sociedade tem sofrido, com sensíveis repercussões sobre as
relações familiares, Roberto Senise Lisboa observa que atualmente a noção de família é outra:
Família é o gênero, do qual a entidade familiar é a espécie.
Família é a união de pessoas:
a) constituída formalmente pelo casamento civil;
b) constituída informalmente, pela união estável; e
c) constituída pela relação monoparental.
Em sentido estrito, a doutrina vem se utilizando da expressão "entidade familiar" para designar a união
estável e a relação entre o ascendente e o descendente. Cumpre observar, no entanto, que essa figura designa
qualquer relação familiar, podendo ser contemplada outras situações jurídicas de parentesco (2006, p.44).
“O preceito essencial de todo contexto social é o da família reunida sob o casamento como célula
basilar da sociedade. Recebe proteção do Estado, porque é dela que se produz vida e experiência às pessoas que
a compõe, preparando-as para o cumprimento das respectivas funções, fornecendo os recursos educacionais e
científicos, tanto quanto forem necessários. É no ambiente familiar que se forma a personalidade da pessoa, em
meio a uma esfera de moralidade, de respeito recíproco, de afeição e de confiança, permitindo a cada membro,
o desenvolvimento normal de suas habilidades” (BITTAR, 1993, p. 51).
Sílvio de Salvo Venosa, considera a família:
(...)em um conceito amplo, como parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de
natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem,
incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se denominam parentes por afinidade
ou afins. Nessa compreensão, inclui-se o cônjuge, que não é considerado parente. Em conceito restrito, família
compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sobre o pátrio poder (2005, p.18).
Sob esse aspecto, a Constituição Federal estendeu sua proteção, incluindo a entidade familiar
formada por apenas um dos pais e seus descendentes, a chamada família monoparental, que se encontra
disposto no §4º do art.226: "Entende-se, também, como entidade familiar à comunidade formada por qualquer
dos pais e seus descendentes" (VENOSA, 2005, p.18).
Para o mesmo autor, a família deve ser vista:
(...)como uma entidade orgânica, deve ser examinada primordialmente, sob o ponto de vista exclusivamente
sociológico, antes de o ser como fenômeno jurídico. No curso das primeiras civilizações de importância, tais
como a assíria, hindu, egípcia, grega e romana, o conceito de família foi de uma entidade ampla e
hierarquizada, retraindo-se hoje, fundamentalmente, para o âmbito quase exclusivo de pais e filhos menores,
que vivem no mesmo lar" (2005, p.19).
Silvio Rodrigues entende que o vocábulo "família" é empregado em vários sentidos:
“Num conceito mais amplo poder-se-ia definir a família como formada por todas aquelas pessoas ligadas por
vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum: o que corresponde
a incluir dentro da órbita da família todos os parentes consanguíneos. Numa acepção um pouco mais limitada,
poder-se-ia compreender a família como abrangendo os consanguíneos em linha reta e os colaterais sucessíveis,
isto é, os colaterais até quarto grau. Num sentido ainda mais restrito, constitui a família o conjunto de pessoas
compreendido pelos pais e sua prole” (2002, p.4).

Considerações finais
Rompem-se os paradigmas sedimentados lastreados em conceitos arcaicos, ainda que enraizados na
concepção latino-americana em que a família era identificada pelo casamento oficial, com as devidas anuências
da Igreja, de preferência a católica, e que pouco a pouco abrem-se margens para as chamadas uniões estáveis ou
concubinárias, ou mesmo as homo afetivas. A evolução dos costumes, principalmente nas grandes metrópoles,
como Buenos Aires, Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu, Cidade do México e outras, e com a emancipação
da mulher, o surgimento dos métodos contraceptivos, a própria globalização dos costumes com o advento da
internet, onde a notícia chega as mais longínquas cidadelas, levaram à reformulação da estrutura da família.
De um reduto da conjugalidade, ou de relações multifacetárias, as famílias se transformaram em um
espaço da afetividades múltiplas, desprovida do preconceito afetivo, que alberga todas as modalidades
vivenciais de uniões, gerando sequelas que devem ser inseridas no âmbito do Direito de Família. Assim, tanto
as uniões homo afetivas (expressão e Maria Berenice Dias preconizando o reconhecimento das relações
homossexuais), quanto nos relacionamentos em que há comprometimento mútuo, e que por conseguinte
merecem ser chamados de família, independentemente do número ou do sexo de seus integrantes, ou de suas
formas de relação intrínsecas ou extrínsecas.
Assim só podemos aguardar, apreensivos, pelas modificações e seus desdobramentos judiciais
destes novos modelos de família que vem de maneira retroativamente modificar nossa maneira de pensar e de
realizar o direito, pois a simples modificação da lei não acalentará os reclames e tampouco freará as
metamorfoses familiares e sociais que urgem de um preparo da tutela jurisdicional com a formação de grupos
de profissionais de áreas distintas, afinal a grande missão dos operadores do direito é resolver os problemas dos
reclames sociais.

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