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CAPÍTULO 5 - PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE

FONTE: PADOVEZE, Luís, C. (2016). Manual de Contabilidade Básica -


Contabilidade Introdutória e Intermediária, 10ª edição.

Conforme vimos nos capítulos introdutórios, à medida que as necessidades de


controle foram surgindo, a Contabilidade foi criando instrumentos para o registro de todos
os fatos que afetam o patrimônio de uma entidade. Em alguns momentos da história da
Contabilidade, surgiram dúvidas quanto ao melhor critério de registro de determinadas
transações. Diante disso, os primeiros contadores tiveram de fazer algumas opções, que
acabaram sendo adotadas pelos demais colegas, ficando como regras, que passaram a ser
seguidas e aceitas por todos. Essas regras básicas que foram adotadas denominamos
Princípios Contábeis e hoje formam o arcabouço teórico que sustenta toda a
Contabilidade.
Princípios de Contabilidade significam, então, as regras em que se assenta toda a
estrutura teórica para a escrituração e análise contábil.
Tendo em vista a complexidade do tema, não é escopo dessa obra o
aprofundamento no estudo de cada princípio. Faremos uma abordagem sucinta,
procurando evidenciar de forma prática como os princípios devem ser utilizados pelo
contador.
Podemos classificar os princípios fundamentais em três categorias. Esta estrutura
teórica pode ser assim ilustrada:

Figura 5.1 – O edifício contábil.

5.1 Postulados

Postulados significam os elementos vitais, elementos básicos, em que se


estruturou toda a Contabilidade atual. São as condições sine qua non para o
desenvolvimento da Contabilidade.
São dois postulados:

5.1.1 Entidade

Este postulado diz que a Contabilidade de uma entidade (empresa, pessoa,


entidade filantrópica) não pode ser confundida com a Contabilidade dos membros que a
possuem. Em outras palavras, a escrituração de uma empresa tem de ser completamente
dissociada da escrituração de seus proprietários.

5.1.2 Continuidade

Este postulado diz que a empresa deve ser avaliada e, por conseguinte, ser
escriturada, na suposição de que a entidade nunca será extinta. Os ativos dessa empresa
serão avaliados partindo desse pressuposto. Deste modo, se uma empresa estiver sendo
encerrada, se estiver terminando suas atividades empresariais, os critérios de avaliação de
seus ativos serão diferentes. Este postulado existe para possibilitar também a apuração de
resultados periódicos.

5.2 Princípios

A Contabilidade é uma ciência de caráter essencialmente prático. Ao longo dos


anos, diversos critérios foram desenvolvidos, diversas opções foram efetuadas, numa
tentativa de normalizar e de se chegar a uma melhor forma de controlar o patrimônio de
uma entidade. Assim, os princípios são a exteriorização de critérios aceitos pela maioria
dos contadores.

5.2.1 Denominador Comum Monetário

Este princípio diz que a Contabilidade deve ser feita numa única moeda e que
todos os itens devem ser avaliados por essa moeda. Assim, uma dívida contraída
originariamente em dólares será controlada em dólares, mas na escrituração comercial
será expressa em reais. Se a empresa tem uma obra de arte no seu ativo, recebida em
doação, por exemplo, para figurar na sua Contabilidade ela deverá avaliar essa obra em
reais.

5.2.2 Competência de Exercícios

Este princípio é aplicado na contabilização das receitas e despesas. Ele é, na


realidade, a expressão conjunta dos dois princípios que normalizam o resultado, que são:

a) Princípio da Realização da Receita;


b) Princípio do Confronto das Despesas com as Receitas.

Tendo em vista que a necessidade de sua compreensão é vital para o perfeito


entendimento das peças contábeis, faremos uma explicação mais detalhada, incorporando
exemplos de conteúdo prático.
Podemos dizer que para uma despesa ou receita existem dois momentos em que
se poderia processar a contabilização dos fatos envolvendo tais elementos patrimoniais,
a saber:

I. o momento econômico (de sua ocorrência ou geração);


II. o momento financeiro (de sua efetivação financeira, através do pagamento
ou recebimento).

Exemplificando, vamos imaginar despesa de salário de dezembro/x1, paga em


janeiro/x2.

Quando devemos contabilizar a despesa de salário como despesa (como redutora


do Patrimônio Líquido)?

a) no momento de sua geração, no momento econômico, ou seja, no mês de


dezembro/x1; ou
b) no momento de seu pagamento, no momento financeiro, ou seja, no mês
de janeiro/x2.

Quando da necessidade de opção por um dos dois momentos, os contadores


decidiram que as despesas (e as receitas) devem ser contabilizadas quando ocorrerem, ou
seja, no momento econômico de sua geração, e não quando pagas (ou recebidas no caso
das receitas). Essa decisão tornou-se o Princípio da Competência de Exercícios, que diz:

“As despesas e receitas devem ser contabilizadas como tais, no momento de sua
ocorrência, independentemente de seu pagamento ou recebimento.’’

5.2.2.1 Conceito de exercício contábil

Entendemos na Contabilidade que um Exercício Contábil é o período de um ano,


em que se faz a apuração do resultado. Não necessariamente o exercício contábil de um
ano tem de coincidir com o ano civil, mas o exercício contábil tem de ter 12 meses. O
início e o fim do exercício contábil serão determinados pela empresa.
É importante ressaltar que a legislação comercial e fiscal exige no mínimo um
Balanço Patrimonial no encerramento de cada exercício contábil, acompanhado da
Demonstração dos Resultados do último exercício.
Assim, as despesas e as receitas devem ser contabilizadas no ano em que forem
geradas, mesmo que pagas ou recebidas em ano ou anos posteriores, ou até anteriores, se
for o caso.

5.2.2.2 Extensão do conceito de exercício – Regime de competência mensal

Apesar de obrigatoriamente termos de elaborar Demonstrativos Contábeis


apenas no fim de cada ano (de cada exercício contábil), a necessidade de informação
contábil para fins de controle patrimonial faz com que as boas empresas elaborem tais
demonstrações pelo menos a períodos mensais. Assim, faz-se todo o mês a Demonstração
de Resultados do último mês, e o acumulado até esse mês, e o Balanço Patrimonial ao
final de cada mês.
Dessa forma, o conceito de competência de exercício é subdividido em 12
períodos, e faz-se o uso do conceito de ocorrência aplicando-se para cada mês. É claro
que, se para uma empresa não há essa necessidade de resultados mensais, e ela entende
suficientes resultados trimestrais, isso também poderá ser efetuado. Mas cremos que hoje
o período de apuração mensal é o mínimo ideal a ser observado.
Tomemos outro exemplo, agora de receita, e de aplicação do conceito de
competência em nível mensal.
Temos vendas efetuadas em março/x1 a serem recebidas em junho/x1. A receita
de vendas deverá ser contabilizada no mês da emissão da nota e respectiva saída da
mercadoria, que é no mês de março/x1, mesmo que o recebimento da duplicata se
concretize alguns meses depois, no caso, em junho/x1.
A adoção do regime de competência foi imposta pela necessidade de a
Contabilidade controlar os direitos e obrigações. Assim, os valores a receber no Ativo
significam vendas de bens ou serviços a prazo. Os valores a pagar no Passivo representam
as compras de bens ou serviços ou despesas a prazo.

5.2.2.3 Regime de competência e controle de contas a receber e a pagar

Caso a Ciência Contábil tivesse adotado o regime de caixa para contabilização


das receitas e despesas, não haveria a possibilidade de controle dos créditos e obrigações
gerados pelos eventos econômicos que têm prazo para realização financeira, o que, na
prática, impediria a efetiva condição de controle patrimonial dos bens, direitos e
obrigações.

5.2.3 Realização da Receita

Este princípio diz quando devemos considerar a receita como realizada, ou


efetuada. Muitos teóricos admitiam que deveríamos considerar a receita de um produto
no momento em que tivéssemos terminado de produzi-lo. Mas o consenso dos contadores
não aceita essa teoria. Devemos considerar a receita de venda de um produto apenas no
momento em que este produto tiver sido entregue ao cliente, já com um preço acordado.
O momento de realização da receita poderá ser determinado verificando-se algumas
condições básicas:

• avaliação de mercado objetiva para o preço do produto;


• realização de todos os esforços de produção;
• condições de avaliar as despesas relativas ao produto que está sendo
vendido.

Existem algumas variações no conceito tradicional de realização da receita, mas


que acabam por se incluir na regra geral. É o caso da contabilização de resultados de
contratos de longo prazo, em que o valor da receita é contabilizado à medida que o
produto vai sendo fabricado, isto é, conforme o estágio de produção. Um exemplo desse
tipo de contabilização é a fabricação de navios. O fato de a empresa fabricadora ter um
contrato formal, iniciando a fabricação somente com a assinatura desse contrato faz com
que tenhamos um preço objetivo para essa produção. Também os esforços de cada fase
de produção estão sendo despendidos e nada será perdido, podendo a construção até ser
concluída por outro estaleiro. Igualmente, o custo de cada fase de produção é conhecido.
Outro exemplo de variação na contabilização da receita é o caso de pecuária de
maturação longa, como a criação de bovinos. À medida que vai havendo a engorda do
rebanho, poderemos contabilizar a receita proporcional. Normalmente, a receita é
calculada em função dos anos de vida do rebanho. A cada ano que passa vai-se lançando
a receita incremental do ano que passou, que é engorda do ano, pelo seu valor estimado
de mercado (valor justo).

5.2.4 Confronto das Despesas com as Receitas

Este princípio diz que as receitas realizadas no período devem ser confrontadas,
no mesmo período, com as despesas que as geraram. Isto é, para a apuração do resultado
de um período deverão ser consideradas as receitas realizadas, diminuídas das despesas
que foram sacrificadas para a sua obtenção.

5.2.5 Custo como Base de Valor

Este princípio diz que as aquisições de ativos deverão ser contabilizadas pelo seu
valor histórico, pelo seu valor de compra ou aquisição. Este princípio tem uma restrição:
quando, numa aquisição, o valor de custo for superior ao valor de venda ou mercado,
então deveremos avaliar este ativo pelo mercado. Assim, na prática, fala-se desse
princípio como “custo ou mercado, o menor’’.

5.2.5.1 Exemplo: Mercadorias em Estoque

Esse conceito é bastante importante para entendermos a conta de Mercadorias


em Estoque. Entendemos Mercadorias em Estoque os bens que a empresa adquire com a
finalidade básica de posterior revenda e obtenção de lucro com essa revenda. É a
transação que dá substância a uma empresa comercial.
O princípio de Custo como Base de Valor diz que os bens adquiridos devem ser
registrados pelo preço de compra (preço de aquisição), que significa PREÇO DE CUSTO.
Assim, quando compramos uma mercadoria por $ 100, para posterior revenda, devemos
lançá-la na Contabilidade por esse valor de aquisição, mesmo sabendo que se DEVA
vendê-la, DEPOIS, por, digamos, aproximadamente $ 250.
Isso significa que, apesar de se ter uma ideia de que o valor de venda é de $ 250,
enquanto não vendida temos de manter o seu valor na conta Mercadorias a PREÇO DE
CUSTO.
Quando ocorrer a venda, e a mercadoria não estiver mais em estoque, a baixa da
conta Mercadorias em Estoque será também dada pelo preço de custo, lançando a
contrapartida como Despesa. O valor de venda será lançado numa conta de Receita. A
diferença entre os valores da Receita de Vendas, menos a Despesa de Custo da
Mercadoria saída do estoque (Custo da Mercadoria Vendida), significa o Lucro Bruto na
Venda de Mercadorias.

5.2.5.2 Custo de aquisição

O custo de aquisição, no sentido contábil mais amplo, compreende o custo da


compra, mais as despesas para disponibilizar o bem ou serviço na empresa, mais os
impostos não recuperáveis, deduzido dos impostos recuperáveis, se houver. Ver exemplo
na seção 6.4.12.

5.2.5.3 Exceções ao princípio do Custo como Base de Valor


Fundamentalmente, as exceções na aplicação do princípio do Custo como Base
de Valor estão nos procedimentos posteriores de remensuração dos ativos e passivos,
quando, segundo os pronunciamentos contábeis, aplica-se o valor justo para mais,
inclusive, em determinados elementos patrimoniais, conforme apresentado no item 5.4.3.

5.2.6 Essência sobre a Forma

Este princípio é bastante relacionado com os aspectos legais e fiscais, que levam
a determinadas interpretações sobre alguns eventos. Para a Contabilidade, deve
prevalecer a natureza econômica do evento a ser registrado (seu impacto patrimonial) e
não a forma em que está legalmente apresentado. Um dos exemplos mais marcantes é o
leasing financeiro, cuja forma é despesa de aluguel, mas na essência é uma compra de
ativo permanente com financiamento de longo prazo.

5.3 Convenções

As convenções são tidas como restrições aos princípios contábeis. São também
consideradas normas de caráter prático que devem ser observadas, como guias,
facilitando o trabalho do contador. Não são consideradas geradoras de definições de
critérios contábeis.

5.3.1 Objetividade

O contador deve ser objetivo. Quando efetua uma escrituração de um fato, ele
precisa alicerçar-se de elementos objetivos, visando tirar o máximo possível de
subjetividade no lançamento contábil. O valor deve ter um documento hábil que avalize
o lançamento, o objeto deve ser passível de mensuração e o contador não deve imprimir
marca pessoal na avaliação do objeto.

5.3.2 Conservadorismo

Proveniente de uma visão bem antiga do contador, que até acabou fazendo nossa
imagem, esta convenção diz que na dúvida o contador deve optar pela forma mais
conservadora de escrituração. Uma regra prática do conservadorismo: na dúvida, lançar
todas as despesas sempre que possível. Já com a receita, caso haja dúvida, não lançar.

5.3.3 Materialidade

Esta convenção está ligada basicamente à análise do custo/benefício da


informação. O contador deve sempre buscar a exatidão numérica do lançamento, desde
que o custo dessa exatidão não seja prejudicial à empresa. Valores grandes e relevantes
devem ter análise muito mais acurada do que valores pequenos, que podem ser tratados
de forma mais simples e resumida.

5.3.4 Consistência ou Uniformidade

Esta convenção é tão importante que poderia ser considerada um princípio. Ela
diz que, depois que o contador adotou determinado critério de avaliação de um ativo ou
passivo, ele deverá adotar esse critério consistentemente ao longo dos anos. Deve aplicar
esse critério uniformemente no tempo. A possibilidade de mudança de critério adotado é
possível, desde que seja evidenciado em nota explicativa e que as mudanças efetuadas
não tenham forma nitidamente repetitiva.

5.3.5 Comentários

Os princípios fundamentais de Contabilidade fazem parte do arcabouço básico


da Teoria da Contabilidade. Esses são os princípios aceitos ainda hoje. Nada impede,
porém, de que esses princípios não venham a ser modificados ao longo do tempo. A
contabilidade é uma metodologia extremamente prática e as necessidades de informações
dos diversos usuários da informação contábil podem alterar-se com o passar do tempo.
Com isso poderão ser revistos alguns princípios, como poderão ser criados outros e
extintos alguns. A nós contadores cabe a discussão permanente sobre eles, a verificação
de que são atuais e não estão sendo hoje um entrave às modernas necessidades de
informações.

5.3.6 Evidenciação

Um dos requisitos da Contabilidade atual é o perfeito entendimento das peças


contábeis. Ao expormos o patrimônio e os ganhos do último período nas demonstrações
contábeis, é possível que um item ou outro não esteja claro só com a exposição do
número. Faz-se necessário então uma explicação adicional. Essa explicação deverá ser
dada, ainda que de outra forma.
Basicamente, o processo de evidenciação se consubstancia numa peça contábil
denominada NOTAS EXPLICATIVAS. Nessa peça, todos os itens que necessitam de
informação adicional para sua compreensão devem ser evidenciados. Uma utilização
muito comum é a de descrever os critérios de avaliação adotados para os principais ativos
e passivos, bem como as principais mudanças dos critérios adotados.
Outras informações necessárias para a compreensão dos relatórios devem fazer
parte das Notas Explicativas, seja em nível de detalhamento dos números dos relatórios,
seja para adicionar qualidade às informações numéricas.
Além das Notas Explicativas, a empresa deve valer-se de outro relatório para
promover a evidenciação. Normalmente, esse relatório é denominado RELATÓRIO DA
ADMINISTRAÇÃO. Nele devem constar todos os fatos relevantes que influíram nos
números apresentados, bem como as condições ambientais em que atuou a empresa no
último período. Caso haja fatos relevantes e concretos que decididamente influirão no
resultado do ano em curso ou nos próximos anos, estes também deverão ser evidenciados.

5.4 Redução ao valor recuperável de ativos (impairment) e valor justo (fair value)

O princípio do Custo como Base de Valor é a base para o entendimento do


conceito de valor para a Contabilidade. O ajuste do custo de aquisição de um ativo para
um valor diferente é necessário quando o valor contábil supera o valor recuperável deste
ativo. Assim, o princípio contábil diz “custo ou mercado, o menor”. Contudo, dada a
extrema importância deste princípio, e que o entendimento do valor de mercado
propiciava algumas dúvidas, a Contabilidade em âmbito internacional desenvolveu e
formalizou nos últimos anos o conceito de impairment. Um conceito fundamental para
confrontar o valor contábil de um ativo para fins de contabilizar ou não o impairment é o
conceito de valor justo (fair value).
5.4.1 Impairment – Redução ao valor recuperável de ativos

Impairment significa literalmente dano, prejuízo, deterioração, depreciação. Em


termos contábeis podemos definir impairment como declínio no valor de um ativo ou
dano econômico. O CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), em seu
Pronunciamento Técnico CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos, aprovado
em 14-9-07, elaborado a partir do IAS 36 do IASB (International Accounting Standards
Board), definiu valor recuperável como “o maior valor entre o preço líquido de venda do
ativo e o seu valor em uso”.
Quando o valor contábil for superior ao valor recuperável do ativo deverá ser
feito o ajuste do impairment contabilizando a diferença (o impairment) entre o valor
recuperável do ativo e o seu valor contábil como despesa, em contrapartida ao valor
contábil do ativo, como provisão retificadora. O conceito de impairment deverá ser
aplicado a todos os ativos ou conjunto de ativos relevantes relacionados a todas as
atividades da empresa, inclusive as financeiras. Este procedimento deverá ser feito
regularmente, pelo menos no encerramento do exercício contábil.

5.4.2 Fair Value – Valor Justo – e Impairment

A mensuração do valor recuperável deve ser feita por dois critérios:

a) pelo preço líquido de venda;


b) pelo seu valor em uso.

Para fins da aplicação do impairment deve-se utilizar o maior valor entre os dois
critérios. Para Stickney e Weil, os dois critérios são considerados como “o valor justo”
de um ativo.3 Podemos definir então valor justo como o preço negociado entre um
comprador e um vendedor que agem racionalmente, defendendo seu próprio interesse
(uma transação arm’s-lenght) ou, na ausência deste valor objetivo, o valor presente do
fluxo de caixa esperado pelo ativo.
Desta maneira, o valor justo incorpora-se ao conjunto de conceitos para ajustar
o valor contábil de um ativo quando o valor de mercado é inferior a este, e liga-se ao
conceito de impairment. O CPC indica os seguintes critérios para se apurar o valor
recuperável, o valor justo:

a) preço líquido de venda do ativo a partir de um contrato de venda


formalizado;
b) preço líquido de venda a partir de negociação em um mercado ativo,
menos as despesas necessárias de venda;
c) preço líquido de venda baseado na melhor informação disponível para
alienação do ativo;
d) fluxos de caixa futuros descontados para valor presente, derivados do uso
contínuo dos ativos relacionados.

5.4.3 Valor justo – outras aplicações

O conceito de valor justo é aplicável a outras situações, sempre com o objetivo


de alinhar o valor de ativos e passivos ao valor de mercado ou ao valor em uso,
principalmente ao valor de mercado. É importante ressaltar que, fundamentalmente, a
ideia da utilização do valor justo para avaliação de elementos patrimoniais é para reduzir
o valor dos ativos, ou aumentar o valor dos passivos.
As exceções em que o valor justo é utilizado para aumentar o valor dos ativos
são basicamente as seguintes, quando o valor justo for maior que o valor contábil:

a) ajustar o valor dos instrumentos financeiros para negociação ou


disponíveis para venda;
b) ajustar o valor dos ativos biológicos (reflorestamento, criação de gado,
culturas agrícolas permanentes etc.);
c) ajustar o valor das propriedades para investimento.

Deste modo, exceto nessas situações, a utilização do valor justo segue a


convenção do conservadorismo contábil de ajuste para reduzir o valor dos ativos.

5.4.4 Valor justo e reavaliação

A ideia central da utilização do valor justo, como vista no tópico anterior, é


reduzir valor dos ativos ou aumentar o valor dos passivos, na linha do conservadorismo
contábil de: (a) na dúvida, não aumentar o valor dos ganhos; (b) na dúvida, aumentar o
valor das perdas, no sentido de não provocar uma avaliação otimista inadequada dos
ganhos nem do valor do Patrimônio Líquido, nem provocar uma subavaliação otimista
das obrigações.
Dentro desta linha de conceito, o valor justo não pode ser utilizado para a
reavaliação espontânea do valor dos bens imobilizados e intangíveis. A reavaliação
espontânea dos bens foi extinta pela Lei nº 11.638/07, mas não foi substituída pelo
conceito de valor justo. Em resumo, não há vínculo nenhum entre o valor justo e a
necessidade de reavaliação de bens.

5.5 CPC – Entidade responsável pela emissão de pronunciamentos contábeis

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), foi criado em 7-10-2005 pela


Resolução nº 1.055/05 do CFC (Conselho Federal de Contabilidade) para ser o único
órgão responsável pela emissão dos pronunciamentos contábeis no Brasil, em função das
necessidades de:

a) convergência internacional das normas contábeis;


b) centralização na emissão de normas contábeis;
c) representação das instituições nacionais interessadas em eventos
internacionais.

Antes da criação do CPC, as normas, procedimentos técnicos, orientações e


interpretações contábeis eram de responsabilidade basicamente:

a) do Conselho Federal de Contabilidade, para todas as empresas no território


nacional;
b) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para as companhias abertas.
Também eram agentes legalmente autorizados o IBRACON, para as auditorias
independentes, o Banco Central para as instituições financeiras, a SUSEP para as
instituições seguradoras e a Receita Federal, no âmbito tributário.

O CPC é composto por dois representantes das seguintes entidades:

1. ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas;


2. APIMEC NACIONAL – Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimentos do Mercado de Capitais;
3. BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo;
4. CFC – Conselho Federal de Contabilidade;
5. FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras;
6. IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil.

O CPC sempre convidará representantes:

• do Banco Central do Brasil;


• da Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
• da Secretaria da Receita Federal;
• da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

Enquanto o CPC não cobrir a regulamentação de todas as normas contábeis


existentes e necessárias, já existentes, emitidas pelos diversos órgãos responsáveis ou
mesmo pelo legislativo brasileiro, estas continuarão em vigor e deverão ser seguidas pelos
contadores.

5.6 Apêndice 1 – Resolução CFC nº 750/93, atualizada pela Resolução CFC no


1.282/10

DISPÕE SOBRE OS PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE (PC)

Nota: Redação dada pela Resolução CFC no 1.282/2010

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas


atribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO a necessidade de prover fundamentação apropriada para


interpretação e aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade (Redação dada pela
Resolução CFC no 1.282/10)

RESOLVE:

CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DE SUA OBSERVÂNCIA

Art. 1o Constituem PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE (PC) os enunciados


por esta Resolução.
§ 1o A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exercício
da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC).

§ 2o Na aplicação dos Princípios de Contabilidade há situações concretas e a


essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. (Redação dada pela
Resolução CFC no 1.282/10)

CAPÍTULO II
DA CONCEITUAÇÃO, DA AMPLITUDE E DA ENUMERAÇÃO

Art. 2o Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e


teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos
universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à Contabilidade no
seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades.
(Redação dada pela Resolução CFC no 1.282/10)

Art. 3o São Princípios de Contabilidade: (Redação dada pela Resolução CFC no


1.282/10)

I) o da ENTIDADE;

II) o da CONTINUIDADE;

III) o da OPORTUNIDADE;

IV) o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL;

V) o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA; (Revogado pela Resolução CFC no


1.282/10)

VI) o da COMPETÊNCIA; e

VII) o da PRUDÊNCIA.

SEÇÃO I
O PRINCÍPIO DA ENTIDADE

Art. 4o O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da


Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um
Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de
pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de
qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta
acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no
caso de sociedade ou instituição.

Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca


não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta
em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico-contábil.
SEÇÃO II
O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE

Art. 5o O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em


operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do
patrimônio levam em conta esta circunstância. (Redação dada pela Resolução CFC no
1.282/10)

SEÇÃO III
O PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE

Art. 6o O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e


apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e
tempestivas.

Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produção e na


divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é
necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação.
(Redação dada pela Resolução CFC no 1.282/10)

SEÇÃO IV
O PRINCÍPIO DO REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL

Art. 7o O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os


componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais
das transações, expressos em moeda nacional.

§ 1o As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos


e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas:

I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem


pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são
entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores
dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias,
pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar
o passivo no curso normal das operações; e

II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os


componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos
seguintes fatores:

a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou


equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes
fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são
reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que
seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações
contábeis;
b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou
equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma ordenada.
Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não
descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no
curso normal das operações da Entidade;

c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do


fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso
normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente,
descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para
liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade;

d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo
liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem
favorecimentos; e

e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda


nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da
expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais.
§ 2o São resultantes da adoção da atualização monetária:

I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa


unidade constante em termos do poder aquisitivo;

II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações


originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que
permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por
consequência, o do Patrimônio Líquido; e

III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o
ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de
indexadores ou outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda
nacional em um dado período. (Redação dada pela Resolução CFC no 1.282/10)

Nota: o artigo 8o, seu § único, e os incisos I, II e III, que tratavam do Princípio
da Atualização Monetária foram revogados pela Resolução CFC no 1.282/10.

SEÇÃO VI
O PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA

Art. 9o O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e


outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do
recebimento ou pagamento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a
simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. (Redação dada pela
Resolução CFC no 1.282/10).

SEÇÃO VII
O PRINCÍPIO DA PRUDÊNCIA
Art. 10. O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para
os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem
alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que
alterem o patrimônio líquido.

Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de


precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições
de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos
e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de
mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. (Redação dada pela
Resolução CFC no 1.282/10)

Art. 11. A inobservância dos Princípios de Contabilidade constitui infração nas


alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei no 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando
aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista. (Redação dada pela Resolução
CFC no 1.282/10)

Brasília, 29 de dezembro de 1993.

Contador IVAN CARLOS GATTI

Brasília, 28 de maio de 2010.

Contador Juarez Domingues Carneiro

Presidente

5.7 Apêndice 2 – CPC 00 – Pronunciamento Conceitual Básico (R1) Estrutura


Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro

O CPC emitiu um pronunciamento contábil sem número, que tem sido adotado
como CPC 00 e é base conceitual para todos os demais CPCs. Apresentamos um resumo
dos principais aspectos que são tratados neste CPC.

5.7.1 Introdução

As demonstrações contábeis são elaboradas e apresentadas para usuários


externos em geral, tendo em vista suas finalidades distintas e necessidades diversas.
Governos, órgãos reguladores ou autoridades tributárias, por exemplo, podem determinar
especificamente exigências para atender a seus próprios interesses. Essas exigências, no
entanto, não devem afetar as demonstrações contábeis elaboradas segundo esta Estrutura
Conceitual.

Demonstrações contábeis elaboradas dentro do que prescreve esta Estrutura


Conceitual objetivam fornecer informações que sejam úteis na tomada de decisões
econômicas e avaliações por parte dos usuários em geral, não tendo o propósito de atender
finalidade ou necessidade específica de determinados grupos de usuários.

5.7.2 Alcance
A Estrutura Conceitual aborda:

a) o objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro;

b) as características qualitativas da informação contábil-financeira útil;

c) a definição, o reconhecimento e a mensuração dos elementos a partir dos


quais as demonstrações contábeis são elaboradas; e

d) os conceitos de capital e de manutenção de capital.

5.7.3 Características qualitativas da informação contábil-financeira útil

a) relevância

b) materialidade

c) representação fidedigna

d) comparabilidade

e) verificabilidade

f) tempestividade (informação entregue a tempo)

g) compreensibilidade

5.7.4 Elementos das Demonstrações Contábeis: conceitos e definições

a) posição patrimonial e financeira

b) ativos

c) passivos

d) Patrimônio Líquido

e) performance (desempenho econômico do período, resultado)

f) receitas

g) despesas
5.7.5 Reconhecimento dos elementos nas demonstrações contábeis

a) probabilidade de futuros benefícios econômicos

b) confiabilidade da mensuração

c) reconhecimento de ativos

d) reconhecimento de passivos

e) reconhecimento de receitas

f) reconhecimento de despesas

5.7.6 Mensuração dos elementos das demonstrações contábeis

a) custo histórico

b) custo corrente

c) valor realizável (valor de realização ou de liquidação)

d) valor presente.

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