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Hamilton Cesar Moura

Contabilidade financeira
Sumário
CAPÍTULO 2 – Escrituração Contábil.................................................................................05

Introdução.....................................................................................................................05

2.1 Registros e operações................................................................................................05

2.1.1 Método de partidas simples...............................................................................05

2.1.2 Método de partidas dobradas............................................................................06

2.1.3 O plano de contas: contas patrimoniais e de resultado.........................................06

2.1.4 Débitos e créditos.............................................................................................07

2.1.5 Exemplos de transações....................................................................................07

2.2 Operações com mercadorias......................................................................................12

2.2.1 Custo dos produtos vendidos.............................................................................13

2.2.2 Métodos de avaliação de estoques.....................................................................14

2.2.3 Contabilização de operações com mercadorias...................................................17

2.3 Princípios contábeis...................................................................................................21

2.3.1 Postulados.......................................................................................................21

2.3.2 Princípios.........................................................................................................21

2.3.3 Normas para realização da receita.....................................................................22

2.4 Regimes de contabilidade..........................................................................................24

2.4.1 Regime de caixa...............................................................................................24

2.4.2 Regime de competência....................................................................................24

2.4.3 Diferença entre os dois métodos........................................................................25

2.4.4 Regime de contabilidade recomendado..............................................................25

Síntese...........................................................................................................................27

Referências Bibliográficas.................................................................................................28

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Capítulo 2 Escrituração Contábil

Introdução
O que você conhece sobre escrituração contábil? E qual a sua finalidade? Pois saiba que, para
administrar um negócio, devem-se manter registros precisos e atualizados sobre as atividades
financeiras, ou seja, sobre a contabilidade da sua empresa. A escrituração, portanto, é o registro
do movimento financeiro em um determinado período de tempo. Neste estudo, você verá que
essas informações permitem que o administrador tome decisões corretivas, por exemplo.

Você já imaginou como uma empresa faz para controlar seus estoques? Algumas empresas vare-
jistas, grandes redes de supermercados, possuem milhares de itens no estoque. Qual método é
utilizado para controlar cada item do estoque e saber quando ocorre algum desvio fraudulento
de seus produtos?

Os sistemas informatizados facilitaram muito esse controle; entretanto, não basta ter um sistema
informatizado: é necessário ter um método que atenda às necessidades da empresa, tanto na
área fiscal como na gerencial. Ao longo do capítulo, você estudará também os aspectos relacio-
nados às operações, aos métodos e às transações financeiras.

Bom estudo!

2.1 Registros e operações


Uma empresa precisa selecionar um exercício fiscal anual. As duas opções principais são um ano
calendário ou um ano fiscal. Um ano calendário é de 12 meses consecutivos com início em 1º
de janeiro e término em 31 de dezembro. Um ano fiscal é de 12 meses consecutivos que termina
no último dia de qualquer mês, exceto 31 de dezembro. O ano calendário é usado pela maioria
das empresas.

A razão pela qual uma empresa pode escolher um ano fiscal é a possibilidade de selecionar um
mês de término para o ano em que possui um volume de negócios menor, o que torna o processo
de fechamento dos livros um pouco mais fácil. Além disso, se uma empresa tem estoques, teria
um volume menor de itens para fazer seu inventário.

De acordo com o artigo 175 da Lei nº 6.404/1976 para as sociedades por ações e artigo 1.078
do Código Civil para as sociedades limitadas, as empresas podem escolher um ano fiscal dife-
rente do ano civil. Normalmente, a escolha de um ano civil é uma escolha segura.

2.1.1 Método de partidas simples


O método de partidas simples é um sistema de contabilidade “informal”, em que o usuário faz
apenas uma entrada para inserir uma transação financeira do negócio. Geralmente inclui um resu-
mo diário de recebimentos e pagamentos e um registro mensal de receitas e despesas (planilhas).

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Contabilidade financeira

Um talão de cheques, por exemplo, é um método de partidas simples, em que uma entrada é
feita para cada depósito ou cheque emitido. Os recibos são inseridos como um depósito e uma
fonte de receita. Os cheques e saques são contabilizados como despesas. Existem software de
contabilidade e planilhas para fazer isso por você. A ênfase desse sistema é colocada sobre a
determinação do lucro ou perda de um negócio.

Possui esse nome porque cada transação é registrada apenas uma vez como uma receita ou
como uma despesa. Sendo assim, os débitos e créditos não são usados para registrar uma tran-
sação financeira.

2.1.2 Método de partidas dobradas


A contabilidade, tanto nos sistemas manuais mais antigos como nos software atuais, é baseada
no procedimento contábil de 500 anos de idade, conhecido como método das partidas dobra-
das. O conceito de partidas dobradas é simples, mas poderoso: cada uma das transações da
empresa deverá ter seu valor registrado em pelo menos duas das contas no sistema de contabi-
lidade.

O método das partidas dobradas é o sistema padrão usado por empresas e outras organizações
para registrar as transações financeiras. Considerando que todas as transações comerciais con-
sistem em uma troca de uma coisa por outra, o método das partidas dobradas, usando débitos
e créditos, é usado para mostrar esse duplo efeito.

O método das partidas dobradas também tem um contrapeso embutido. Com o uso de débitos
e créditos, o método possui um autoequilíbrio. O total dos valores registrados a débito deve ser
igual ao total de valores registrados a crédito.

Esse método, quando empregado junto com o regime de competência, é um sistema de conta-
bilidade completo e centra-se na demonstração de resultados e balanço patrimonial. É utilizado
pelas empresas do mundo todo para o registro de suas transações financeiras.

2.1.3 O plano de contas: contas patrimoniais e de resultado


O plano de contas compreende os itens descritos a seguir, entre os quais as contas de receitas e
as contas de despesas. As contas de receitas são aquelas que representam geração de recursos
para a empresa, e as contas de despesas são aquelas que representam consumo de recursos
para a empresa. Quando a empresa vende seus produtos, está gerando novos recursos (à vista
ou a prazo), e quando incorre em despesas, está consumindo seus próprios recursos (mesmo que
não haja pagamento nesse momento).

• Contas de ativos: são o conjunto de bens e direitos. Exemplos: dinheiro, contas a receber,
suprimentos, equipamentos.

• Contas de passivos: são as obrigações para com terceiros. Exemplos: notas a pagar,
contas a pagar, salários a pagar.

• Contas do patrimônio líquido: representam os recursos próprios. Exemplos: capital


social, reserva de lucros, lucro do exercício.

• Contas de receitas: receitas de serviços, receitas financeiras.


• Contas de despesas: despesas de salários, despesas de aluguel, despesas de depreciação,
despesas de seguro.

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2.1.4 Débitos e créditos
Será que o primeiro exemplo de transação segue o sistema de partidas dobradas e afeta duas
ou mais contas? O personagem Paulo olha para o balanço de novo e responde que sim, caixa e
capital social foram afetadas pela operação.

Priscila apresentou um conceito básico de contabilidade: o sistema de partidas dobradas requer


que o mesmo valor em reais da transação seja inserido no lado esquerdo de uma conta, e no
lado direito da outra conta. Em vez da palavra esquerda, os contadores usam a palavra débito; e
em vez da palavra direita, os contadores usam a palavra crédito (débito e crédito são derivados
de termos latinos usados há 500 anos).

• Débito significa lado esquerdo.


• Crédito significa lado direito.
Paulo pergunta a Priscila como ele vai saber quando deve debitar – digitar os valores no lado
esquerdo de uma conta – e quais as contas que deve creditar – digitar os valores no lado direito
da outra conta. Priscila aponta de volta para a equação básica da contabilidade e diz a Paulo
que, se ele memorizou essa equação simples, vai ser mais fácil de entender os débitos e créditos.

Memorizar a equação contábil simples irá ajudá-lo a aprender as regras de débito e crédito para
informar os valores nos registros contábeis.

Observe, novamente, a equação contábil:

Ativo = Passivo + Patrimônio líquido

Para diminuir um passivo ou patrimônio líquido, você debita a conta, ou seja, entra com o valor
no lado esquerdo.

Tal como acontece com todas as regras, há exceções, mas a referência de Priscila com a equação
de contabilidade pode ajudá-lo a saber se uma conta deve ser debitada ou creditada.

Considerando que muitas transações envolvem dinheiro, Priscila sugere que Paulo memorize como
a conta de caixa é afetada quando a transação envolve dinheiro: se a Lavanderia Lava Bem rece-
be dinheiro, a conta caixa é debitada; quando a Lavanderia Lava Bem paga em dinheiro, a conta
caixa é creditada. Em suma, quando uma empresa recebe dinheiro, a conta caixa é debitada.

2.1.5 Exemplos de transações


• Exemplo 1
Priscila refere-se ao exemplo de 1º de dezembro. Com a integralização do capital de R$ 20.000
em dinheiro de Paulo, uma das contas para essa transação é caixa. Como o dinheiro foi recebi-
do, a conta caixa será debitada.

De acordo com o método das partidas dobradas, duas (ou mais) contas precisam estar envolvi-
das. Se a primeira conta (caixa) foi debitada, a segunda conta precisa ser creditada. Tudo que
Paulo precisa fazer é encontrar a conta a ser creditada. Nesse caso, a segunda conta é capital
social, que faz parte do patrimônio líquido e está no lado direito da equação contábil. Para au-
mentar o saldo, deverá ser creditada.

Os contadores indicam as contas e os montantes usando o seguinte formato:

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Nome da conta Débito Crédito

Caixa R$ 20.000
Capital social R$ 20.000

Quadro 1 – Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

A primeira conta sempre será a conta a ser debitada. Na linha seguinte, a conta a ser creditada
fica um pouco recuada, e o valor a ser creditado sempre à direita do valor debitado. Este é o
formato de uma partida ou de um lançamento diário.

Com a redução de preços dos computadores e software de contabilidade, dificilmente uma em-
presa de pequeno porte ainda utiliza um sistema manual. O software de contabilidade tornou o
processo das operações de registo muito mais simples. Na verdade, as entradas são muitas vezes
geradas automaticamente quando um cheque ou uma nota fiscal de venda são emitidos.

• Exemplo 2
Priscila ilustra a Paulo uma segunda transação. Em 2 de dezembro, a Lavanderia Lava Bem com-
pra à vista um veículo de entrega usado por R$ 14.000. As duas contas envolvidas são caixa e
veículos (ou veículos de entrega). Quando o cheque é preenchido, o software de contabilidade
fará automaticamente o lançamento em duas contas.

Priscila explica a Paulo o que está acontecendo dentro do software. Com o pagamento de R$
14.000, a conta caixa é creditada. Então, sabe-se que a conta caixa será creditada em R$
14.000 e que a outra conta terá de ser debitada em R$ 14.000. É preciso apenas identificar a
melhor conta de débito. Nesse caso, escolhe-se a conta veículos, e o lançamento é:

Nome da conta Débito Crédito

Veículos R$ 14.000
Caixa R$ 14.000

Quadro 2 – Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

A demonstração do patrimônio (chamada de balanço patrimonial) será parecida com esta, repre-
sentada no Quadro 3, após o registro da transação de compra do veículo:

Lavanderia Lava Bem


Balanço patrimonial
02/12/2014

Ativos Passivos

Caixa R$ 6.000 Patrimônio líquido


Veículos R$ 14.000 Capital social R$ 20.000
Total R$ 20.000 Total R$ 20.000

Quadro 3 – Balanço patrimonial.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

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O balanço e a equação contábil devem permanecer em equilíbrio:

Ativo = Passivo + Patrimônio líquido

R$ 20.000 = R$ 0 + R$ 20.000

Como você pode ver no balanço, o ativo caixa diminuiu em R$ 14.000, e o ativo veículos aumen-
tou em R$ 14.000. Passivo e patrimônio líquido não estavam envolvidos e não foram alterados.

• Exemplo 3
O terceiro exemplo de operação também ocorre em 2 de dezembro, quando Paulo adquire, por
meio de um corretor de seguros, uma cobertura de seguro para o veículo de entrega que acaba
de adquirir. O agente informa que a cobertura para os próximos 12 meses custará R$ 2.400.
Paulo preenche um cheque de R$ 2.400 para pagar a cobertura do seguro

Usando o método das partidas dobradas, sabe-se que deve haver um mínimo de duas contas
envolvidas e uma (ou mais) das contas deve ser debitada, e uma (ou mais) deve ser creditada.

Sendo o pagamento da cobertura de seguro feito à vista, uma das contas envolvidas é caixa.
Como houve um pagamento, a conta caixa será creditada. Embora ainda não tenha sido identi-
ficada a segunda conta, o que se sabe com certeza é que esta deverá ser debitada.

Nesse momento, tem-se um lançamento de diário, tudo que está faltando é o nome da conta a
ser debitada:

Conta R$ 2.400
Caixa R$ 2.400

Quadro 4 – Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Você sabe que a transação envolve seguro, e uma rápida olhada por meio do plano de contas
revela duas possibilidades.

• Os ativos incluem os custos que ainda não expiraram (ainda não foram consumidos),
enquanto as despesas são custos que já expiraram (foram consumidos). Como o pagamento
de R$ 2.400 é um gasto que não irá expirar em sua totalidade dentro do mês em curso,
seria lógico debitar a conta de seguros pré-pagos (no final de cada mês, quando expirar
os R$ 200 que cabem a cada mês, os R$ 200 serão transferidos de seguros pré-pagos
para despesa de seguros).

• Seguros pré-pagos (uma conta de ativo relatada no balanço) e despesas de seguros (uma
conta de despesas relatada na demonstração de resultados).

O lançamento no formato de diário é:

Seguros pré-pagos R$ 2.400


Caixa R$ 2.400

Quadro 5 – Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

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Após o registro das três primeiras operações, o balanço patrimonial será parecido com este:

Lavanderia Lava Bem


Balanço patrimonial
02/12/2014

Ativos Passivos

Caixa R$ 3.600 Patrimônio líquido


Seguros pré-pagos R$ 2.400 Capital social R$ 20.000
Veículos R$ 14.000
Total R$ 20.000 Total R$ 20.000

Quadro 6 – Balanço patrimonial.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Mais uma vez, o balanço e a equação de contabilidade estão em equilíbrio, e todas as mudanças
ocorreram no lado esquerdo (lado do ativo, lado do débito da equação contábil). O passivo e o
patrimônio líquido não foram afetados pela operação de seguro.

• Exemplo 4
Aqui, a operação ocorre em 3 de dezembro, quando um cliente dá um cheque de R$ 100 para
a Lavanderia Lava Bem pela lavagem de suas roupas. Usando o método das partidas dobradas,
sabe-se que deve haver um mínimo de duas contas envolvidas – uma das contas deve ser debi-
tada, e a outra deve ser creditada.

Como a Lavanderia Lava Bem recebeu R$ 100, deve debitar a conta caixa e também creditar
uma segunda conta por R$ 100. A segunda conta será receitas de serviços, uma conta de re-
sultado. A conta receitas de serviços deve ser creditada porque a Lavanderia Lava Bem precisa
registrar que prestou serviços no valor de R$ 100 (não porque recebeu R$ 100); se não tivesse
recebido pelo serviço, deveria registrar a receita da mesma forma. Não é o recebimento que
configura a receita, mas a prestação do serviço. O registro de receitas deve acontecer quando
ocorrer o fato gerador da receita, ou seja, a prestação do serviço ao cliente, seguindo uma nor-
ma de contabilidade conhecida como reconhecimento de receitas.

Contas de receitas são creditadas quando a empresa ganha uma taxa (ou vende mercadorias),
independentemente se o dinheiro é recebido no momento.

Aqui estão as duas partes da transação no formato do diário:

Caixa R$ 100
Receitas de serviços R$ 100

Quadro 7– Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

• Exemplo 5
Suponha que, em 3 de dezembro, uma empresa contrata os serviços da Lavanderia Lava Bem
para um lote de roupas ao preço de R$ 500. O cliente diz a Paulo para enviar uma fatura de R$
500, com prazo de pagamento de sete dias.

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Paulo entrega as roupas lavadas e passadas em 3 de dezembro, conforme o acordo, o que sig-
nifica que, em 3 de dezembro, a Lavanderia Lava Bem ganhou R$ 500. Então, os R$ 500 são
classificados como receita em 3 de dezembro, embora a empresa não tenha recebido nada no
mesmo dia. O esforço necessário para concluir o trabalho foi feito no dia 3 de dezembro.

Identifique as duas contas envolvidas e determine qual conta deve ser debitada e qual deve ser
creditada.

Como a Lavanderia Lava Bem ganhou os serviços, uma das contas será receitas de serviços (se
você observar a natureza das contas de resultado, verá que as contas de receitas geralmente são
creditadas, ou seja, uma segunda conta terá de ser debitada).

No formato do diário, aqui está o que foi identificado:

Contas a receber R$ 500


Receitas de serviços R$ 500

Quadro 8 – Livro diário.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Mais uma vez, reportar receitas quando são obtidas resulta da norma de contabilidade denomi-
nada reconhecimento de receitas.

• Exemplo 6
Para simplificar, suponha que a única despesa foi incorrida pela entrega das roupas para uma
pessoa que ajudou Paulo em 3 de dezembro. A taxa de agência de empregos temporários é de
R$ 50 e deverá ser paga até 12 de dezembro.

Se a empresa não pagar em dinheiro imediatamente, você não pode creditar caixa. Se a empre-
sa deve a alguém o valor de um serviço prestado, diz-se que ela tem a obrigação de pagar. A
maioria das contas envolvidas com as obrigações tem a expressão a pagar em seu nome, e uma
das contas usadas com mais frequência é a contas a pagar. Também tenha em mente que as
despesas são quase sempre debitadas.

As contas e os montantes para a ajuda temporária são: as despesas são (quase) sempre debita-
das; as receitas e despesas aparecem na demonstração de resultados, como mostrado a seguir:

Lavanderia Lava Bem


Demonstração de resultados
1º a 3 de dezembro de 2014

Receitas de serviços R$ 500


(-) Despesas de pessoal temporário R$ 50
Lucro líquido R$ 450

Quadro 9 – Demonstração de resultados.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Após registrados os lançamentos de 3 de dezembro, o balanço será parecido com este:

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Contabilidade financeira

Lavanderia Lava Bem


Balanço patrimonial
03/12/2014

Ativos Passivos

Caixa R$ 3.600 Contas a pagar R$ 50


Contas a receber R$ 500
Seguros pré-pagos R$ 2.400 Patrimônio líquido
Veículos R$ 14.000 Capital social R$ 20.000
Lucro do período R$ 450
Total R$ 20.500 Total R$ 20.500

Quadro 10 – Balanço patrimonial.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Observe que o lucro líquido do período até a data (última linha da demonstração de resultados)
aumentou o patrimônio líquido no mesmo montante, R$ 450. Essa relação entre a demonstra-
ção de resultados e balanço patrimonial é importante. Por um lado, ela mantém o balanço e
a equação contábil em equilíbrio. Em segundo lugar, demonstra que as receitas aumentam o
patrimônio líquido e as despesas diminuem o patrimônio líquido. Após o fim do ano, quando as
demonstrações contábeis forem elaboradas, você vai ver que as contas de resultado (contas de
receita e contas de despesas) serão encerradas ou zeradas e seus saldos serão transferidos para a
conta de apuração do resultado. Isso significa que as contas de receitas e as contas de despesas
vão começar o novo ano com saldo zero – permitindo que a empresa apure o resultado para o
novo ano e não misture com o resultado do ano anterior.

NÓS QUEREMOS SABER!


Por que a conta caixa deve ser debitada quando a empresa recebe dinheiro? Por con-
venção, o ativo fica do lado esquerdo do balanço patrimonial e todas as transações
que aumentam o ativo são lançadas no lado esquerdo que, também por convenção,
chama-se débito.

2.2 Operações com mercadorias


O que são operações com mercadorias? Você deve imaginar que uma empresa comercial ou
industrial faz compras, vendas e controla seus estoques. Eventualmente faz também devolução de
algumas compras que não estão de acordo com seus padrões de qualidade, assim como recebe
em devolução produtos que não satisfazem as exigências de qualidade de seus clientes.

E após um determinado período, qual é o custo das mercadorias vendidas? Como apurar esse
custo?

Neste tópico, você vai estudar a contabilização dessas operações e verificar como apurar o custo
das mercadorias vendidas no final do período ou durante o período, dependendo do método
utilizado.

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2.2.1 Custo dos produtos vendidos
Em uma empresa industrial, o custo dos produtos vendidos (CPV) é o total acumulado de todos
os custos utilizados para criar um produto ou serviço que foi vendido. Esse custo é composto
por mão de obra direta, materiais e outros gastos. Em uma empresa de serviços, no custo dos
serviços vendidos (CSV), são considerados os salários e encargos sociais das pessoas que geram
horas trabalhadas. Em uma empresa comercial (varejista ou atacadista), o custo da mercadoria
vendida (CMV) é o gasto com a mercadoria que foi comprada de um fabricante e revendida.

Na apresentação do resultado, o custo dos produtos vendidos é subtraído de receitas para che-
gar à margem bruta de um negócio.

• Inventário periódico
No sistema de inventário periódico, o custo das mercadorias vendidas é calculado como estoque
inicial + compras – estoque final. A suposição é de que o resultado, que representa os custos não
localizados no estoque, deve estar relacionado com bens que foram vendidos. Na verdade, esse
cálculo de custo também inclui estoque que ficou obsoleto e foi removido ou inventário que foi
roubado. Assim, o cálculo tende a atribuir outras perdas a bens que foram vendidos e que eram,
na verdade, perdas que se relacionam mais com o exercício atual.

Por exemplo, uma empresa tem R$ 10.000 de estoque disponível no início do mês, gasta R$
25.000 em compras de vários itens de estoque, e tem R$ 8.000 de estoque disponível no final
do mês. Qual foi o seu custo dos produtos vendidos durante o mês? A resposta você confere no
Quadro 11:

Estoque inicial R$ 10,000


+ Compras 25.000
- Estoque final 8000
= Custo dos produtos vendidos R$ 27.000

Quadro 11 – Custo dos produtos vendidos no mês.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Atenção: o custo dos produtos vendidos pode ser alterado de forma fraudulenta por alguns
meios, alterando o lucro relatado, tais como:

• modificação da lista de materiais e/ou registros de roteamento de trabalho em um sistema


de custeio padrão;

• contagem incorreta da quantidade de estoque disponível;


• execução de um corte de final de período incorreto;
• alocação de mais sobrecarga do que realmente existe para inventário.

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Contabilidade financeira

Figura 1 – Contagem de estoques no final do período.

Fonte: Shutterstock, 2015.

• Inventário permanente
No sistema de inventário permanente, o custo das mercadorias vendidas é calculado ao mesmo
tempo em que as mercadorias são vendidas aos clientes. Se a contagem de ciclo é usada para
manter altos níveis de precisão de registro, essa abordagem tende a produzir um maior grau de
precisão do que um custo de mercadorias vendidas calculado pelo sistema de inventário periódico.

2.2.2 Métodos de avaliação de estoques


O custo dos produtos vendidos também pode ser afetado pela metodologia de custeio utilizada
para obter o custo de estoque final. Considere o impacto dos três métodos de inventário de cus-
teio seguintes:

• Método Peps – Primeiro a entrar, primeiro a sair


De acordo com este método, a primeira unidade adicionada ao estoque é assumida como sendo
a primeira a ser utilizada. Assim, em um ambiente inflacionário, em que os preços estão aumen-
tando, tende a resultar em produtos de custo menor para o custo dos produtos vendidos.

Exemplo

No dia 3 de dezembro, uma empresa comercial X compra 100 unidades de um produto ao preço
de R$ 10 por unidade, considerando que não tinha nenhum estoque no início de dezembro.

No dia 10 de dezembro, essa empresa compra mais 100 unidades a R$ 11 por unidade.

No dia 15 de dezembro, a empresa faz uma venda de 90 unidades desse produto.

Pelo método Peps, a ficha de controle de estoques fica conforme você vê no Quadro 12:

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ENTRADA SAÍDA SALDO
DATA
Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.unit. Vr.total

03/12 100 10 1.000 100 10 1.000

10/12 100 11 1.100 100 10 1.000


100 11 1.100

15/12 90 100 900 10 10 100


100 11 1.100

110 1.200

Quadro 12 – Ficha de controle de estoque da empresa comercial X pelo método Peps.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Veja que, quando a empresa fez a venda de 90 unidades, foi dada baixa no estoque ao custo
de R$ 10, que foram as primeiras unidades a entrar no estoque, resultando em custo de vendas
menor e maior valor de estoque.

• Método Ueps – último a entrar, primeiro a sair


De acordo com este método, a última unidade adicionada ao estoque é assumida como sendo a
primeira a ser usada. Assim, em um ambiente inflacionário, em que os preços estão aumentando,
tende a resultar em produtos de alto custo, aumentando o custo dos produtos vendidos.

Exemplo

Considerando o mesmo exemplo utilizado para o método Peps, a ficha de controle de estoque
da empresa comercial X ficaria conforme o Quadro 13:

ENTRADA SAIDA SALDO


DATA
Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.unit. Vr.total

03/12 100 10 1.000 100 10 1.000

10/12 100 11 1.100 100 10 1.000


100 11 1.100

15/12 90 11 990 100 10 1.000


10 11 110

110 1.110

Quadro 13 – Ficha de controle de estoque da empresa comercial X pelo método Ueps.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

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Contabilidade financeira

Como houve um aumento de preços durante esse curto período, pelo método Ueps, o valor do
estoque será menor e o custo das vendas será maior.

Atenção: esse método não é aceito pela legislação fiscal brasileira, pois a Receita Federal enten-
de que, utilizando-o em uma economia com preços crescentes, as empresas teriam o Imposto de
Renda reduzido, levando para o custo do produto vendido as últimas unidades com valor maior.

• Média ponderada móvel


De acordo com este método, as saídas do estoque são feitas pelo custo médio imediatamente an-
terior à venda, diminuindo, assim, as distorções causadas pela variação de preços dos produtos.

Exemplo

Continuando com o mesmo exemplo, para efeito de comparação, utilizando o método da média
ponderada móvel, a ficha de controle de estoque da empresa ficaria conforme o Quadro 14:

ENTRADA SAIDA SALDO


DATA Custo
Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.unit. Vr.total Qtde. Vr.total
médio

03/12 100 10 1.000 100 10 1.000

10/12 100 11 1.100 200 10,50 2.100

15/12 90 10,50 945 110 10,50 1.155

110 1.155

Quadro 14 – Ficha de controle de estoque da empresa comercial X pelo método média ponderada.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

NÃO DEIXE DE LER...


Para complementar seus estudos, consulte Operações com mercadorias, capítulo 5 do
livro Contabilidade Introdutória, elaborado pela equipe de professores da FEA/USP.

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Figura 2 – Organização e movimentação do estoque.

Fonte: Shutterstock, 2015.

2.2.3 Contabilização de operações com mercadorias


Para as empresas comerciais, as despesas consistem no custo dos produtos (ou mercadorias)
vendidos e no custo das despesas operacionais. Para entender melhor, veja os itens a seguir.

• Custo dos produtos vendidos: o custo dos produtos vendidos durante o período fiscal.
Custo dos produtos vendidos (ou abreviação CPV) ou o custo das mercadorias vendidas
(CMV) está diretamente relacionado com as receitas obtidas com a venda de produtos ou
mercadorias.

O lucro bruto é a diferença entre receitas e custo dos produtos vendidos, também chamado de
resultado com mercadorias:

RCM = Vendas – CPV (ou CMV)

Lucro líquido (ou perda) é igual à diferença entre lucro bruto e despesas operacionais.

Receita das vendas

Menos: custo dos produtos vendidos

(=) Lucro bruto

Menos: despesas operacionais

(=) Lucro (ou Prejuízo)

• Sistema de inventário permanente: são efetuadas partidas de diário para cada compra
de estoque ou venda de bens. A quantidade e o custo das compras, dos produtos vendidos
e do estoque são atualizados continuamente.

• Lançamentos relacionados às compras: uso da conta de estoque para registro das


operações de compras; devoluções e abatimentos de compras; transporte e desconto de
compras. Veja as representações de como devem ser esses registros nos quadros a seguir:

17
Contabilidade financeira

Compras

Débito: Estoque Valor debitado


Crédito: Contas a Pagar ou Caixa Valor creditado

Quadro 15 – Registro de operações de compras.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Devoluções e abatimentos de Compra Débito Crédito

Débito: Fornecedores ou Caixa Valor debitado


Crédito: Estoque Valor creditado

Quadro 16 – Registro de devoluções e abatimentos de compras.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Transporte Débito Crédito

Débito: Estoque Valor debitado


Crédito: Contas a Pagar ou Caixa Valor creditado

Quadro 17 – Registro de transporte de compras.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Pagamento com desconto Débito Crédito

Débito: Fornecedores Valor debitado


Crédito: Estoque Valor creditado

Quadro 18 – Registro de compras com desconto no pagamento.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

• Sistema de inventário periódico: neste sistema, não há lançamentos que afetam os


estoques quando os bens são vendidos. O estoque é contado para determinar a quantidade
existente e o custo de estoque. O custo dos produtos vendidos é calculado no final do
período por diferença.

NÃO DEIXE DE VER...


Estoque (Parte 2), da série Negócios e Soluções, produzido pelo Sebrae-SP, é um vídeo
de 10 minutos que aborda questões do dia a dia e do mundo dos negócios, tratando de
casos práticos de estoques. Disponível em: <http://tv.sebrae.com.br/media/XZuDZ/>.

18 Laureate- International Universities


Com base no que estudou até aqui, você saberia como determinar o custo dos produtos vendidos
no sistema periódico? Veja nas equações descritas a seguir.

• Custo dos produtos disponíveis para venda = estoques iniciais + compras – devoluções.
• Custo dos produtos vendidos = custo dos produtos disponíveis para venda – estoque final.
Em seguida, você verá a utilização de contas separadas para registrar compras, devoluções e
abatimentos de compras, transporte e desconto de compras.

Compras Débito Crédito

Débito: Compras Valor debitado


Crédito: Fornecedores ou Caixa Valor creditado

Quadro 19 – Registro de compras.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Devoluções e abatimentos de Compras Débito Crédito

Débito: Contas a Pagar ou Caixa Valor debitado


Crédito: Devoluções e Abatimentos
Valor creditado
de Compras

Quadro 20 – Registro de devoluções e abatimentos de compras.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Gastos com Transporte Débito Crédito

Débito: Transporte Valor debitado


Crédito: Contas a Pagar ou Caixa Valor creditado

Quadro 21 – Registro de gastos com transporte.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

Desconto de Compras Débito Crédito

Débito: Contas a Pagar ou Caixa Valor debitado


Crédito: Compras Valor creditado

Quadro 22 – Registro de descontos.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

19
Contabilidade financeira

• Sistema de inventário periódico e permanente


A seguir, observe o Quadro 23, que representa o lançamento para registro das vendas pelo sis-
tema de inventário periódico e permanente:

Vendas Débito Crédito

Débito: contas a receber ou caixa Valor debitado


Crédito: receita de vendas Valor creditado

Quadro 23 – Registro das vendas.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

No inventário permanente, a baixa do estoque é feita concomitantemente à venda, pois o valor


do produto vendido já é conhecido.

Produtos vendidos Débito Crédito

Débito: custo dos produtos vendidos Valor debitado


Crédito: estoque Valor creditado

Quadro 24 – Registro da baixa de estoque


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

No inventário periódico, o CPV ou CMV são apurados no final do período, como já foi visto:

CMV = estoque inicial + compras – devoluções – estoque final.

Devoluções e abatimentos de vendas Débito Crédito

Débito: devoluções e abatimento de vendas Valor debitado


Crédito: contas a receber ou caixa Valor creditado

Quadro 25 – Registro de devoluções e abatimentos de vendas.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

NÓS QUEREMOS SABER!


O que é custo dos produtos vendidos e como calculá-lo? O custo dos produtos vendi-
dos representa quanto custou para a empresa aquele produto que está sendo entregue
ao cliente. Em empresas comerciais que utilizam o sistema de inventário periódico,
pode ser calculado pela fórmula EI + C – Devoluções – EF. Para as empresas comer-
ciais que utilizam o sistema de inventário permanente, pode ser conhecido a cada
venda realizada pela empresa.

20 Laureate- International Universities


2.3 Princípios contábeis
Se uma empresa quisesse pedir um empréstimo, poderia superestimar o valor de seus ativos e
o valor do seu negócio. Para diminuir seus impostos (que não gostaria de pagar), as despesas
poderiam ser aumentadas, diminuindo lucro tributável. Como você poderia medir o desempenho
(rentabilidade) da empresa e compará-las com empresas do mesmo setor? Você não teria ideia
do quanto e a quem estaria prejudicando ou beneficiando. Você não poderia nem mesmo com-
parar o seu próprio negócio de ano para ano. Em suma, você não poderia chegar a um valor
razoável do seu negócio para saber se valeu a pena o esforço e o seu investimento; ficaríamos
somente em palpites, sem uma fundamentação sólida.

No Brasil, as regras são emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC e regula-
mentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC. Falaremos muito sobre essas normas
ao longo da disciplina. As regras contábeis são continuamente revisadas, estudadas, modificadas
e adicionadas para que se tenham demonstrações contábeis mais consistentes, comparáveis,
significativas e confiáveis.

2.3.1 Postulados
Segundo Araújo e Assaf Neto (2010) e Iudícibus, Martins e Gelbcke (2003), os postulados con-
tábeis são dogmas que não precisam ser demonstrados ou comprovados, pois são verdades ab-
solutas, que definem o ambiente econômico, social e político no qual a contabilidade deve atuar.

Já de acordo com Araújo e Assaf Neto (2010) e Coelho e Lins (2010), a entidade continuará em
operação no futuro previsível. Dessa forma, presume-se que a entidade não tem a intenção nem
a necessidade de interromper os negócios, entrar em liquidação ou reduzir monetariamente a
escala de suas operações.

Os postulados que dão sustentação à contabilidade, portanto, são os princípios da entidade e


da continuidade, que você verá no item a seguir.

2.3.2 Princípios
Princípios são as premissas básicas para caracterização dos eventos contáveis. São as regras
básicas necessárias para jogar em contabilidade, dando toda orientação para o funcionamento
do sistema contábil.

• Princípio da entidade
Este conceito exige que as transações de cada negócio sejam contabilizadas separadamente,
inclusive as do proprietário. Transações pessoais e empresariais são mantidas separadas umas
das outras. Isso quer dizer que as operações pessoais dos proprietários e outras pessoas (físicas
ou jurídicas) não são misturadas com as operações da atividade econômica do negócio. Uma
das primeiras recomendações dos contadores para os empresários é que devem ter uma conta
para seus negócios pessoais e não misturar com as contas da empresa, evitando, assim, que se
confunda o patrimônio da sociedade com o patrimônio dos sócios.

• Princípio da continuidade
Este princípio supõe que uma empresa vai continuar a funcionar indefinidamente, sem prazo para
fechar ou ser vendida. Supõe ainda que uma empresa estará em operação por um longo perío-
do de tempo. Partindo desse pressuposto, são utilizados os custos reais para a apresentação de
informações financeiras, em vez de valores de liquidação. Essa suposição deve ser abandonada
quando uma empresa está realmente saindo do negócio.

21
Contabilidade financeira

A seguir, veremos algumas das regras utilizadas para o jogo da contabilidade.

• Princípio da oportunidade
Este princípio refere-se ao processo de mensuração e apresentação das demonstrações contá-
beis, produzindo informações íntegras e tempestivas. Exemplo: o atraso na divulgação do balan-
ço da Petrobras fere o princípio da oportunidade, pois os dados não ficaram à disposição dos
usuários em tempo oportuno para tomar suas decisões.

• Princípio do registro pelo valor original


Este princípio exige que a maioria dos ativos seja registrado pelo custo de aquisição original, po-
dendo sofrer variações decorrentes do custo corrente, valor realizável, valor presente, valor justo
ou atualização monetária. Exemplo: um ativo pode ter um preço de mercado maior que o valor
da nota fiscal, mas deve ser contabilizado pelo valor de aquisição e não pelo valor de mercado.

• Princípio da competência de exercícios


Apoia a ideia de que as receitas e despesas devem ser reconhecidas e registradas no momento
em que ocorrem e não no momento do recebimento ou pagamento. Exemplo: uma despesa que
foi consumida em determinado período deve ser contabilizada como despesa daquele período,
independentemente do pagamento.

• Princípio da prudência
Indica que os contadores devem ser prudentes em relação à adoção de valores dos itens patri-
moniais e suas variações, devem adotar o menor valor para os itens do ativo e receitas e o maior
valor para os itens do passivo e despesas, de forma a não superestimar os ativos e receitas e não
subestimar os passivos e despesas. Exemplo: dívida trabalhista na qual a empresa prevê pagar
uma ação entre R$ 3.000 e R$ 6.000, deve registrar na contabilidade o valor maior mesmo que
exista um pouco mais de chance de pagar um valor menor.

2.3.3 Normas para realização da receita


O princípio do reconhecimento da receita exige que as empresas registrem as receitas quando
elas realmente são ganhas. Em outras palavras, no momento em que as mercadorias são efeti-
vamente vendidas ou os serviços são prestados (entregue aos clientes). Exemplo: uma empresa
que recebe um adiantamento de um cliente referente a entregas futuras de produtos não deve
registrar esse valor como receita, pois a receita ainda não foi realizada, não ocorreu o seu fato
gerador, que é a entrega dos produtos ao cliente.

• Confronto das receitas com as despesas


O princípio da congruência ou da harmonização anda de mãos dadas com o conceito de re-
alização das receitas. Pelo conceito da congruência, as receitas auferidas durante um período
são registradas, utilizando o princípio de realização das receitas e as despesas incorridas para
gerar essa receita. Exemplo: a empresa deve confrontar as receitas realizadas com as despesas
necessárias para a realização dessa receita. Se teve R$ 60.000 de receitas realizadas e gastou
R$ 45.000 para realizar essas receitas, esses valores devem ser confrontados para chegar ao
resultado.

• Denominador comum monetário


Por este conceito, são objetos da contabilidade as transações e os eventos que podem ser me-
didos monetariamente (declarados em uma unidade monetária, como o real), sendo registrados
e apresentados nas demonstrações financeiras. Assim, o dinheiro é o denominador comum mo-

22 Laureate- International Universities


netário utilizado para a comunicação das informações financeiras. Exemplo: se uma empresa
nacional tem uma dívida em dólares, deverá converter para reais para registrar na contabilidade.
Todas as contas devem seguir a mesma unidade monetária.

• Custo como base de valor


Este princípio exige que a maioria dos ativos seja registrada pelo custo de aquisição original e,
com exceção de poucos itens, não é feito nenhum ajuste para valor de mercado. Dito de outro
modo, o valor de um ativo é registrado pelo custo, mesmo que possa realmente possuir um valor
maior. Exemplo: se uma empresa adquire um bem por R$ 10.000 (valor da nota fiscal), deve
registrar na contabilidade por R$ 10.000.

• Consistência
Os mesmos métodos de contabilidade devem ser aplicados ao longo dos períodos e, quando
houver necessidade de alterações, estas devem ser justificadas em notas explicativas das demons-
trações contábeis. As alterações nos resultados de um período para outro devem ser o resultado
das operações, não da mudança nos métodos. Exemplo: se uma empresa adota o método Peps
para avaliação de seus estoques, deve continuar adotando em períodos futuros para que as in-
formações de estoques sejam consistentes.

• Comparabilidade
A informação deve ser medida e indicada de forma semelhante por todos os tipos de empresas, o
que permite a comparação das demonstrações financeiras de diferentes entidades (empresas) ou
comparações para a mesma entidade (de negócios) em diferentes períodos. Exemplo: a adoção
das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) torna possível a comparação de demonstra-
ções contábeis de empresas de outros países, pois todas adotam a mesma estrutura conceitual.

• Objetividade
O contador deve sempre fundamentar seus registros em documentos. Entre um valor hipotético
e um valor documentado, deve sempre optar pelo documentado. Exemplo: suponha-se que o
contador, para avaliação de certo bem, disponha de duas fontes: a nota fiscal relativa à compra
do bem e o laudo de um grande especialista em avaliação. O critério objetivo é o valor da nota
fiscal, pela qual deverá nortear seu registro.

• Materialidade
O contador não deve gastar tempo e dinheiro com eventos irrelevantes, mas focar o que é digno
de atenção. Por exemplo, gastos de pequeno valor, como material de escritório, não precisam
ser registrados à medida que ocorrem, as despesas podem ser apuradas no final do período por
diferença de estoque. Exemplo: a rigor, todo consumo de materiais de uma empresa deveria ser
medido para escriturar como despesa somente o que foi consumido em determinado período; no
entanto, determinados itens são de valores irrelevantes (como, por exemplo, material de escritó-
rio), não compensando o seu controle.

• Conservadorismo
As receitas e os ganhos são reconhecidos mais lentamente, e as despesas e perdas são reconhe-
cidas mais rapidamente. Os contadores não gostam de dourar a pílula, ou seja, mostrar resul-
tados dos quais não tenham certeza. Em outras palavras, em caso de dúvida, preferem errar ba-
seados em cautela. Os contadores não querem desinformar os usuários da informação contábil,
mas também não querem ser processados. Exemplo: estando em dúvida diante de dois valores,
igualmente válidos, de dívida da empresa com terceiros, o contador deverá sempre registrar o de
maior valor. Estando em dúvida diante de dois valores, igualmente válidos, de contas a receber,
o contador deverá sempre registrar o de menor valor.

23
Contabilidade financeira

2.4 Regimes de contabilidade


O empresário está mais interessado no resultado financeiro (dinheiro) ou no resultado econômi-
co (lucro)? Ou será que precisa dos dois resultados para melhor gerenciar seu negócio?

Esta é uma decisão importante de um novo negócio, o regime de contabilidade que vai ser usado
para controlar receitas e despesas. Um regime de contabilidade é apenas um conjunto de regras
usadas para determinar quando e como as receitas e despesas são relatadas.

Você se lembra de quando a contadora Priscila explicava a Paulo sobre os pagamentos anteci-
pados? Paulo entendeu como é formado o lucro contábil da empresa e estava disposto a investir
em um sistema de contabilidade que conseguisse demonstrar esse lucro.

2.4.1 Regime de caixa


O regime de caixa é o método de contabilização que reconhece receitas (ganhos) no período em
que o dinheiro é recebido e despesas no período em que os pagamentos em dinheiro são feitos.
Na verdade, existem dois tipos de regime de caixa:

• regime de caixa estrito;


• regime de caixa misto (às vezes denominado por CompCaixa).
O regime de caixa estrito segue exatamente o fluxo de caixa. O regime de caixa misto inclui
alguns elementos do regime de competência e fornece métodos especiais para lidar com itens
como estoque e custo dos produtos vendidos, despesas com imposto de folha de pagamento e
passivos e registro de depreciação de equipamentos.

Ao concentrar-se sobre os registros de receitas e despesas, a finalidade do regime de contabilida-


de de caixa misto está na determinação do lucro ou prejuízo líquido para um período com base
no dinheiro recebido e no dinheiro gasto.

Utilizando o regime de caixa, as informações de valores faturados aos clientes de seus produtos
e/ou serviços e não recebidos e os valores faturados pelos fornecedores e não pagos normal-
mente não são registrados e mantidos em “livros”.

Muitas pequenas empresas começam utilizando o regime de caixa em vez do regime de com-
petência. Com o crescimento dos negócios, acabam migrando para o regime de competência.

2.4.2 Regime de competência


O objetivo do regime de competência é combinar adequadamente as receitas e despesas no
período correto em que ocorreu o seu fato gerador.

Pelo regime de competência, as receitas são registradas no período em que são ganhas, inde-
pendentemente do recebimento, e as despesas são registradas no período em que são incorridas
ou consumidas, independentemente do pagamento.

A fim de alcançar esse objetivo, o regime contábil considera a receita ganha quando o produto
e/ou serviço é entregue ou prestado e faturado (cobrado) para os clientes. Da mesma forma, as
despesas são consideradas como incorridas quando o produto e/ou serviço é consumido.

Os valores faturados aos clientes para os produtos e/ou serviços e não recebidos e os valores
faturados pelos fornecedores para seus produtos e/ou serviços e não pagos são registrados e

24 Laureate- International Universities


mantidos nos “livros” pelo regime de competência. Este é o método de contabilidade necessário
para estar em conformidade com os princípios contábeis na preparação das demonstrações fi-
nanceiras para usuários externos.

2.4.3 Diferença entre os dois métodos


A diferença entre os dois métodos utilizados para contabilizar as receitas e despesas está no
tempo em que são registrados. Um negócio que usa o regime de competência irá contabilizar as
receitas e despesas em seus “livros” antes de um negócio que usa o regime de caixa. Em outras
palavras, ao contrário do regime de caixa, o regime de competência não espera até o recebi-
mento do cliente ou o pagamento a um fornecedor para registrar a receita ou a despesa.

Fique atento: devido a essa diferença entre o reconhecimento da receita e da despesa e seu efeti-
vo recebimento e pagamento, fluxo de caixa e lucro são coisas diferentes. Quando uma empresa
tem caixa, não significa que teve lucro, e quando uma empresa teve lucro, também não significa
necessariamente que tem caixa.

2.4.4 Regime de contabilidade recomendado


A maioria dos contadores, quando perguntados, recomendará que uma empresa use o método
das partidas dobradas e o regime de competência.

As seguintes transações comerciais de uma empresa de paisagismo serão utilizadas para ilustrar
o regime de competência e o regime de contabilidade de caixa.

Janeiro/2014: Clientes contrataram seus serviços no valor de R$ 30.000, os serviços foram con-
cluídos em janeiro de 2014.

Janeiro/2014: A empresa recebeu dos clientes R$ 15.000, por conta dos serviços prestados e
concluídos.

Janeiro/2014: Serviços de fornecedores foram contratados e concluídos em janeiro/2014 por


R$ 12.000.

Janeiro/2014: Pagamento a fornecedores pelos serviços concluídos no valor de R$ 8.000.

Fevereiro/2014: Recebimento dos clientes pelos serviços concluídos em janeiro no valor de R$


15.000.

Fevereiro/2014: Pagamento a fornecedores pelos serviços prestados em janeiro por R$ 4.000.

Regime de caixa Regime de competência

Jan Fev Jan Feb


Total Total
2014 2014 2014 2014

Receitas R$ 15.000 R$ 15.000 R$ 30.000 R$ 30.000 0 R$ 30.000


Despesas R$ 8.000 R$ 4.000 R$ 12.000 R$ 12.000 0 R$ 12.000
Lucro R$ 7.000 R$ 11.000 R$ 18.000 R$ 18.000 0 R$ 18.000

Quadro 26 – Regimes de caixa e de competência.


Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

25
Contabilidade financeira

Conclusões possíveis a partir do método de caixa

• A empresa teve recebimentos em janeiro e fevereiro.


• A empresa tem mais lucro com o mesmo volume das receitas. Teve um faturamento de R$
15.000 nos meses de janeiro e fevereiro, mas teve um lucro maior em fevereiro.

• Em fevereiro, tiveram algumas medidas de redução de despesa ou conseguiram preços


menores nos serviços contratados.

Alguma dessas conclusões é válida? O mundo “real”, como ilustrado pelo regime de competên-
cia, mostra que o mês de janeiro obteve um grande lucro de R$ 18.000, enquanto fevereiro não
apresentou lucros. O empresário festejou o grande resultado de janeiro, mas, em fevereiro, não
teve nada, ou seja, a empresa precisa ir atrás de novos clientes de paisagismo.

26 Laureate- International Universities


Síntese Síntese
Neste capítulo você:

• aprendeu que, quando uma empresa paga alguma coisa em dinheiro, credita-se o caixa
e tem de debitar uma segunda conta;

• entendeu que, quando uma empresa recebe à vista, debita-se caixa e tem de creditar
outra conta;

• viu que as receitas são contabilizadas como receitas de serviços ou de vendas quando o
serviço ou a venda foi realizada, e não quando o dinheiro é recebido;

• viu que as despesas são combinadas com as receitas ou com o período a que se refere a
demonstração de resultados, não no período em que as despesas foram pagas;

• compreendeu que as demonstrações financeiras refletem também o princípio básico de


contabilidade conhecido como registro pelo valor original;

• aprendeu que o custo dos produtos vendidos é o total acumulado de todos os custos
utilizados para criar um produto ou serviço, que foi vendido;

• entendeu que, no sistema de inventário periódico, o custo das mercadorias vendidas é


calculado como estoque inicial + compras – estoque final;

• compreendeu que, no sistema de inventário permanente, o custo das mercadorias vendidas


é calculado ao mesmo tempo em que as mercadorias são vendidas aos clientes;

• viu que dois métodos de avaliação de estoques são admitidos pela legislação brasileira:
média ponderada móvel e Peps – primeiras unidades a entrar são as primeiras a sair;

• aprendeu que a contabilização das operações com mercadorias envolve diferenças


significativas nos sistemas de inventário periódico e permanente.

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Referências Bibliográficas
ALMEIDA, M. C. Curso de Contabilidade Introdutória em IFRS e CPC. 1. ed. São Paulo:
Atlas, 2014.

ARAÚJO, A. M. P.; ASSAF NETO, A. Aprendendo Contabilidade. Ribeirão Preto: Inside Books,
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