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Hamilton Cesar Moura

Contabilidade financeira
Sumário
CAPÍTULO 4 – Análise das Demonstrações Contábeis.........................................................05

Introdução.....................................................................................................................05

4.1 Métodos de análise e seus usuários.............................................................................06

4.1.1 Análise vertical.................................................................................................07

4.1.2 Análise horizontal.............................................................................................09

4.2 Quocientes de liquidez..............................................................................................12

4.2.1 Liquidez corrente..............................................................................................12

4.2.2 Liquidez seca...................................................................................................13

4.2.3 Prazo de conversão de contas a receber e estoques..............................................14

4.3 Quocientes de endividamento....................................................................................15

4.3.1 Quociente dívida/patrimônio.............................................................................17

4.3.2 Quociente de cobertura de juros .......................................................................17

4.4 Quocientes de rentabilidade.......................................................................................18

4.4.1 Margem de lucro bruto.....................................................................................19

4.4.2 Margem de lucro líquido...................................................................................19

4.4.3 Retorno sobre patrimônio líquido.......................................................................20

4.4.4 Retorno sobre o ativo........................................................................................22

4.4.5 Problemas com a análise das demonstrações financeiras......................................22

Síntese...........................................................................................................................24

Referências Bibliográficas.................................................................................................25

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Capítulo 4 Análise das
Demonstrações Contábeis

Introdução
Como você pode saber se uma empresa merece crédito? Como verificar as tendências de uma
empresa em termos de sua evolução patrimonial?

Fazer a contabilidade da empresa seguindo a legislação, os princípios e as normas contábeis não


é uma tarefa muito fácil, pois depende do domínio das técnicas contábeis e da interpretação da
legislação. Para realizar a análise das demonstrações contábeis, é preciso ter o conhecimento
técnico para saber como se chegou àqueles números, o que eles significam para a empresa e
abstraí-los, levando em consideração uma série de outros fatores envolvidos, tais como: o am-
biente econômico, o mercado no qual a empresa está inserida, seus concorrentes, etc.

A análise das demonstrações contábeis é a arte de transformar os dados obtidos das demonstra-
ções em informações úteis para a tomada de decisões. Além de conhecer as técnicas contábeis,
é preciso entender sobre o negócio da empresa, seu ramo de atividade, o ambiente econômico
em que está inserida e qual é o objetivo da análise que está sendo feita.

Se o objetivo da análise for a concessão de crédito, o analista deve focar na liquidez e no endi-
vidamento da empresa, mas não desprezando também sua rentabilidade, pois uma empresa que
não consegue aplicar seus recursos eficientemente talvez não seja merecedora de crédito.

Mediante a análise das demonstrações contábeis, é possível fazer comparações de seus números
ao longo do tempo, utilizando as demonstrações anteriores e traçando algumas tendências bas-
tante objetivas sobre seu desempenho futuro.

Qual é a credibilidade das demonstrações contábeis para um analista externo?

Um primeiro cuidado que o analista deve ter é verificar se as demonstrações contábeis estão as-
sinadas por um profissional de contabilidade, se foram auditadas por uma empresa de auditoria
independente, fazendo uma leitura de seu parecer. No parecer, deve constar que as demonstra-
ções contábeis refletem a situação econômica e financeira da empresa na data de encerramento
e que sua elaboração seguiu os princípios contábeis.

Você começará estudando a técnica de análise vertical e horizontal, em que os números de cada
item serão transformados em percentuais, realçando, assim, sua importância relativa dentro da
estrutura patrimonial. Na análise horizontal, esses percentuais indicarão a evolução de cada item
ao longo do tempo.

A seção seguinte tratará dos quocientes de liquidez, que significa a capacidade da empresa de
transformar seus ativos em dinheiro e pagar suas dívidas.

Em seguida, você estudará os quocientes de endividamento, uma métrica do endividamento da


empresa em relação ao seu investimento, ao patrimônio dos sócios e o perfil da dívida da empresa.

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Contabilidade financeira

A seção final será dedicada aos quocientes de rentabilidade, por meio dos quais se podem ex-
trair informações sobre a viabilidade do negócio, que são úteis para vários tipos de usuários da
contabilidade.

Esta introdução foi apresentada à análise das demonstrações contábeis em temas separados,
para efeitos didáticos; no entanto, qualquer boa análise deve ser feita de forma holística, ou seja,
utilizando-se de todas as técnicas juntamente com o contexto econômico e empresarial.

4.1 Métodos de análise e seus usuários


Como veremos na sequência, a análise de demonstrações contábeis envolve a identificação dos
itens de uma empresa ao longo de uma série de períodos das demonstrações.

• Tendências – Criar linhas de tendência para os itens-chave nas demonstrações contábeis


ao longo de vários períodos de tempo, para ver como a empresa está operando. As linhas
de tendência são utilizadas para as receitas, a margem bruta, lucro líquido, contas a
receber e endividamento.

• Análise de percentuais – É construída uma matriz de percentuais para verificar a


dimensão de várias contas nas demonstrações contábeis. Por exemplo, você pode calcular
o quociente de liquidez de uma empresa para estimar a sua capacidade de pagar suas
obrigações imediatas, ou a sua dívida em relação ao patrimônio líquido para verificar se
tem tomado empréstimos em demasia. Essas análises são elaboradas entre as contas da
demonstração do resultado e as contas do balanço patrimonial.

A análise de demonstrações contábeis é uma ferramenta extremamente poderosa para vários


usuários da contabilidade, mesmo com objetivos diferentes sobre as circunstâncias financeiras
da entidade.

Há determinados usuários para análise de demonstrações contábeis, veja a seguir.

• Credores – Qualquer pessoa que tenha emprestado recursos para uma empresa está
interessada em receber o pagamento da dívida e, assim, vai se concentrar em várias
análises do fluxo de caixa.

• Investidores – Os investidores atuais e potenciais examinam demonstrações contábeis


para saber a capacidade da empresa em continuar pagando dividendos, gerar fluxo de
caixa ou para continuar a crescer à sua taxa histórica.

• Gestão – O controlador de empresa prepara uma análise contínua dos resultados


financeiros da organização, particularmente em relação a uma série de métricas
operacionais que não são vistas por entidades externas (tais como o custo por entrega, o
custo por canal de distribuição, o lucro por produto, entre outros).

• Autoridades reguladoras – Tratando de uma empresa de capital aberto, as suas


demonstrações contábeis são examinados pela Comissão de Valores Mobiliários para
ver se estão em conformidade com as suas regras e as diversas normas de contabilidade.

Existem dois métodos principais para a análise de demonstrações contábeis. O primeiro méto-
do é o uso de análise horizontal e vertical. Análise horizontal é a comparação de informações
contábeis da empresa em vários períodos, enquanto a análise vertical é a análise percentual de
um demonstrativo, em que cada item de linha em uma demonstração contábil é listado como
uma porcentagem de outro item. Normalmente, isso significa que, para cada linha em uma de-
monstração do resultado, é calculada uma percentagem das vendas brutas, enquanto que, para

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cada linha em um balanço, é calculada uma percentagem do total de ativos. Assim, a análise
horizontal é a evolução de cada item em vários períodos de tempo, enquanto a análise vertical é
a avaliação da importância relativa das contas entre si dentro de um único período.

Figura 1 – Planilha Excel com análise vertical – horizontal e gráficos.


Fonte: Shutterstock, 2015.

4.1.1 Análise vertical


Análise vertical é a análise percentual de uma demonstração contábil, em que cada linha em
uma demonstração é listada como uma porcentagem de outro item. A análise vertical, dentro do
balanço patrimonial para um único período de tempo, mostra os percentuais relativos dos saldos
de contas. Analisa também a evolução da empresa ao longo do tempo, mostrando as alterações
na importância relativa das contas, como em uma base comparativa ao longo de um período de
alguns anos. Por exemplo, se o custo dos produtos vendidos, nos últimos quatro anos, é de 40%
das vendas e, em seguida, aparece um novo percentual de 50%, essa mudança seria um motivo
para uma investigação mais detalhada.

• Análise vertical da demonstração do resultado


A análise vertical da demonstração do resultado mostra as várias contas de despesas como uma
percentagem das vendas líquidas, mas também pode ser usada para mostrar a porcentagem de
diferentes receitas que compõem vendas totais. Um exemplo de análise vertical para uma de-
monstração do resultado é mostrado na coluna à direita da seguinte demonstração condensada:

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Contabilidade financeira

Valores em R$ Percentual

Vendas líquidas 1.000.000 100%


Custo dos produtos vendidos 400.000 40%
A margem bruta 600.000 60%

Salários 250.000 25%


Aluguel 50.000 5%
Suprimentos 10.000 1%
Serviços públicos 20.000 2%
Outras despesas 90.000 9%
Despesas totais 420.000 42%
Lucro líquido 180.000 18%

Tabela 1 – Análise vertical da demonstração do resultado.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

As informações fornecidas por esse formato de demonstração do resultado são úteis não só para
detectar picos de despesas, mas também para determinar quais despesas são tão pequenas que
não necessitam de muita atenção da administração.

• Análise vertical do balanço patrimonial


A questão central da análise vertical do balanço patrimonial é o que usar como denominador
no cálculo percentual. O denominador comum é o total de ativos, mas também se pode utilizar
o total de todas as obrigações ao calcular as percentagens das obrigações, e o total de todas
as contas do patrimônio líquido no cálculo de todas as percentagens do patrimônio líquido. O
balanço patrimonial condensado a seguir mostra um exemplo de análise vertical em sua coluna
à direita:

$ Totais Por cento

Caixa $ 100.000 10%


Contas a receber 350.000 35%
Estoques 150.000 15%
Total do ativo circulante 600.000 60%

Ativo imobilizado 400.000 40%


Total de ativos 1.000.000 100%

Contas a pagar 180.000 18%


Provisões 70.000 7%
Total do passivo circulante 250.000 25%

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Notas promissórias a pagar 300.000 30%
Total do passive 550.000 55%

Capital social 200.000 20%


Lucros acumulados 250.000 25%
Total do patrimônio líquido 450.000 45%
Total do passivo e patrimônio líquido 1.000.000 100%

Tabela 2 – Análise vertical do balanço patrimonial.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

As informações fornecidas nesse formato de balanço são úteis para notar mudanças no investi-
mento de uma empresa no capital de giro e ativo imobilizado ao longo do tempo, o que pode
indicar um modelo de negócios alterado que requer uma quantidade diferente de financiamento.

NÃO DEIXE DE VER...


O vídeo Administração / Módulo 3 – O controle financeiro – Programa 5 apresenta
alguns conceitos de análise das demonstrações contábeis de forma bastante prática
e divertida, aproveite! Disponível em: <http://globotv.globo.com/fundacao-roberto-
-marinho/telecurso-tec/v/administracao-modulo-3-o-controle-financeiro-progra-
ma-5/1248252/>.

4.1.2 Análise horizontal


A análise horizontal é a comparação de informações contábeis históricas para uma série de pe-
ríodos. A intenção é ver se os números são muito altos ou muito baixos comparando-os com in-
formações de períodos anteriores, o que pode, então, desencadear uma investigação detalhada
do motivo da diferença. A análise é simples: os números do ano-base são listados como 100%
e os números dos anos seguintes são comparados com os números do ano-base em percentual.

Um problema comum com a análise horizontal é que as demonstrações contábeis podem ter
mudado ao longo do tempo, devido a mudanças no plano de contas, de modo que as receitas,
as despesas, os ativos ou os passivos podem alternar entre contas diferentes e, portanto, causam
variações quando se comparam os saldos das contas de um período para o outro.

Ao realizar uma análise horizontal, é prudente conduzir uma análise de todas as demonstrações
contábeis ao mesmo tempo, para que você possa ver o impacto completo dos resultados opera-
cionais, da condição financeira da empresa ao longo do período em análise. Nos dois exemplos
apresentados nos itens seguintes, a análise dos resultados mostra uma sociedade com um ex-
celente segundo ano, mas a análise do balanço patrimonial relacionado mostra que está tendo
problemas com o crescimento do endividamento.

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Contabilidade financeira

• Análise horizontal da demonstração do resultado


Análise horizontal da demonstração do resultado é apresentada para, no mínimo, dois anos, tal
como mostrado na sequência, com uma coluna para a variação percentual entre os dois anos
para cada item. Um formato alternativo é simplesmente adicionar alguns períodos, sem mostrar
uma variação, de modo que se possam ver mudanças gerais ao longo de vários anos. Um ter-
ceiro formato é incluir uma coluna com a análise vertical de cada ano no relatório, para que a
cada ano mostre despesas como percentual da receita total.

2011 2012 Variação %

Vendas 1.000.000 1.500.000 +50%


Custo dos produtos vendidos 400.000 600.000 +50%
Lucro bruto 600.000 900.000 +50%

Salários 250.000 375.000 +50%


Aluguel 50.000 80.000 +60%
Suprimentos 10.000 20.000 +100%
Serviços públicos 20.000 30.000 +50%
Outras despesas 90.000 110.000 22%
Despesas totais 420.000 615.000 46%
Lucro líquido 180.000 $ 285.000 +58%

Tabela 3 – Análise horizontal da demonstração do resultado.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

• Análise horizontal do balanço patrimonial


Geralmente, a análise horizontal do balanço também é apresentada em um formato de, no
mínimo, dois anos, tal como mostramos mais adiante, com uma coluna de variação percentual
que mostra a diferença entre os dois anos para cada item. Um formato alternativo é adicionar
vários períodos, sem mostrar uma variação a cada ano, de modo que você possa ver mudanças
gerais ao longo de vários anos. Um terceiro formato é incluir uma coluna para análise vertical
de cada ano no relatório, para que a cada ano mostre cada item como uma percentagem do
total dos ativos.

2011 2012 %

Caixa $ 100.000 80.000 -20%


Contas a receber 350.000 525000 +50%
Estoque 150.000 275.000 +83%
Total do ativo circulante 600.000 880.000 +47%

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Ativo imobilizado 400.000 800.000 +100%
Total dos ativos 1.000.000 1680.000 +68%

Contas a pagar 180.000 $ 300.000 +67%


Provisões 70.000 120.000 +71%
Total do passivo circulante 250.000 420.000 +68%

Notas promissórias a pagar 300.000 525.000 +75%


Total do passivo 550.000 945.000 +72%

Capital social 200.000 200.000 0


Lucros acumulados 250.000 535.000 +114%
Total do patrimônio líquido 450.000 735.000 +63%

Total do passivo e patrimônio líquido 1.000.000 1680.000 +68%

Tabela 4 – Análise horizontal do balanço patrimonial.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

A análise horizontal pode ser mal utilizada relatando resultados enviesados, o que pode aconte-
cer quando o analista modifica o número de períodos usados para comparação com o objetivo
de fazer os resultados aparecerem extraordinariamente bons ou ruins. Por exemplo, os lucros do
período corrente podem parecer excelentes quando apenas comparados aos do mês anterior,
mas são realmente muito pobres quando comparados aos resultados para o mesmo mês no ano
anterior. O uso consistente de períodos de comparação pode atenuar esse problema.

Esta pequena introdução à análise das demonstrações contábeis pretende dar uma ideia a você,
estudante de contabilidade, da utilidade prática das informações que são produzidas pela con-
tabilidade a seus usuários.

NÃO DEIXE DE VER...


No vídeo Contador faz análise de balanço divulgado pela Petrobras do 3º trimestre de
2014, o contador Antônio Carlos Lopes explica sobre a necessidade do parecer de
auditoria para que o balanço seja analisado. Disponível em: <http://videos.r7.com/
contador-faz-analise-de-balanco-divulgado-pela-petrobras-do-3-trimestre-de-2014/
idmedia/54c982c80cf26089403bc704.html>.

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Contabilidade financeira

4.2 Quocientes de liquidez


O segundo método para a análise das demonstrações contábeis é a utilização de vários tipos
de relações entre contas, dividindo o valor de uma pelo valor de outra para calcular o tamanho
relativo de um número em relação a outro. O quociente de liquidez mede a capacidade da
empresa para pagar suas dívidas a curto ou a longo prazo. Depois de calcular essa proporção,
você pode, em seguida, compará-la com a mesma proporção calculada para o período anterior,
ou basear-se na média do setor, para ver se a empresa está operando conforme as expectativas.
Em uma análise de demonstração contábil, a maioria dos índices deverá estar dentro das expec-
tativas, enquanto um pequeno número sinalizará problemas potenciais que atrairão a atenção
do analista.

Existem várias categorias de índices, cada uma projetada para examinar um aspecto diferente
do desempenho de uma empresa. Esta seção abordará os quocientes de liquidez corrente, que
medem a capacidade de uma empresa permanecer no negócio. A seguir, veja quais são os gru-
pos de quocientes.

• Liquidez – Mede a quantidade de tempo necessário para converter ativos em dinheiro.


• Quociente de liquidez corrente – Mede a quantidade de liquidez disponível para pagar
o passivo circulante.

• Quociente de liquidez imediata – Mostra a quantidade de dinheiro disponível para


pagar dívidas de curto prazo.

• Quociente de liquidez seca – A mesma que a relação da liquidez corrente, mas excluindo
os estoques.

NÃO DEIXE DE LER...


Para complementar seus estudos, leia o capítulo 4 do livro Contabilidade Empresarial
(MARION, 2011): “Aspectos sobre situação financeira versus situação econômica”.

4.2.1 Liquidez corrente


O quociente de liquidez corrente mede a capacidade da empresa de pagar as suas contas de
curto prazo. É usado pelos analistas para determinar se devem investir ou emprestar dinheiro a
uma empresa.

Para calcular o quociente, ou índice de liquidez corrente, divida o total de bens e direitos de curto
prazo pelo total de todas as obrigações de curto prazo. A fórmula é:

Ativos circulantes

Passivos circulantes

Por exemplo, um fornecedor quer saber sobre a condição financeira da Lavanderia Lava Bem. O
fornecedor calcula o quociente de liquidez corrente para os últimos três anos, conforme Tabela 5:

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Ano 1 Ano 2 Ano 3

Ativos correntes 8.000.000 16.400.000 23.400.000


Passivo circulante 4.000.000 9.650.000 18.000.000
Relação atual 2: 1 1,7: 1 1,3: 1

Tabela 5 – Dados da liquidez corrente da Lavanderia Lava Bem.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

O aumento repentino no ativo circulante ao longo dos últimos dois anos indica que a Lavanderia
Lava Bem sofreu uma rápida expansão de suas operações, seus ativos circulantes quase tripli-
caram, mas, por outro lado, seus passivos circulantes mais do que quadruplicaram em relação
ao ano 1, o que pode indicar uma capacidade rápida de deterioração de sua capacidade de
pagamento, pois a expansão de suas dívidas foi bem superior à expansão de suas operações.
Com base nessa informação, o fornecedor pode optar por restringir a concessão de crédito para
a Lavanderia Lava Bem.

Como o quociente é ativo circulante dividido pelo passivo circulante, a relação implica que o
ativo circulante é mais que suficiente para liquidar todo o passivo circulante. A relação do ano 1
de R$ 2 de ativo circulante para R$ 1 de dívida é preferível à proporção mais baixa, indicando
uma redução da capacidade para pagar em tempo hábil.

Entretanto, quando se trata de componentes de estoque, esse quociente pode produzir resultados
enganosos, ou seja, quando o ativo circulante possui uma grande proporção de estoques, pode-
-se ter um problema, se for considerado que a empresa pode ter dificuldade para vender esses
estoques. A situação fica ainda pior se a gestão utilizar técnicas contábeis agressivas para aplicar
uma quantidade grande de despesas gerais para o estoque.

4.2.2 Liquidez seca


Este quociente é usado para avaliar se uma empresa tem ativos suficientes que podem ser conver-
tidos em dinheiro para pagar suas contas. Os principais elementos do ativo circulante são: caixa
e equivalentes de caixa e contas a receber. Os estoques não são incluídos porque podem ser
bastante difíceis de serem vendidos no curto prazo, com valorização incerta. Devido à exclusão
dos estoques, o quociente de liquidez seca é um indicador melhor do que o quociente de liquidez
corrente da capacidade de uma empresa de pagar suas obrigações imediatas.

Para calcular o quociente de liquidez seca, caixa e equivalentes de caixa são somados às contas
a receber e divididos pelo passivo circulante. Não devem ser incluídos no numerador quaisquer
recebíveis que sejam de recebimento duvidoso. A fórmula é:

Ativo circulante – Estoques

Passivo circulante

Apesar da ausência do estoque no cálculo, o quociente de liquidez seca ainda não pode render
uma boa visão da liquidez se os passivos circulantes tiverem prazos muito mais curtos que as
contas a receber.

Esse quociente é mais útil na indústria, no varejo e nos canais de distribuição onde os estoques
podem compreender uma grande parte do ativo circulante. É particularmente útil para um po-
tencial credor que quer analisar se o requerente de crédito será capaz de pagar em tempo hábil.

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Contabilidade financeira

Por exemplo, uma empresa de produtos químicos parece ter um bom quociente de liquidez cor-
rente de 4:1. Veja na Tabela 6:

Conta Quantidade
Caixa R$ 100,000
Títulos e valores mobiliários R$ 50.000
Contas a receber R$ 420.000
Estoques R$ 3.430.000
Passivo circulante R$ 1.000.000
Quociente de liquides corrente 4000/1000 = 4:1
Quociente de liquidez seca 570/1000 = 0,57: 1

Tabela 6 – Componentes para o índice de liquidez corrente 4:1.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

Esses componentes revelam que quase todo o valor dos ativos circulantes da empresa está nos
estoques, o que torna questionável a liquidez de curto prazo. Esse problema só é mais visível
quando o quociente de liquidez corrente é substituído pelo de liquidez seca.

Pelo quociente de liquidez corrente, a empresa teria quatro reais para cada real de dívida (R$ 4
: R$ 1), porém, subtraindo os estoques do ativo circulante, chega-se a um quociente de liquidez
seca de apenas cinquenta e sete centavos de real para cada real de dívida (R$ 0,57 : R$ 1).

4.2.3 Prazo de conversão de contas a receber e estoques


Para melhorar a análise da liquidez da empresa, é possível calcular também quantos dias a
empresa leva para converter contas a receber e estoques em dinheiro. O índice é usado para
estimar a capacidade de uma empresa para gerar o dinheiro necessário para fazer frente às suas
obrigações correntes.

Use as seguintes etapas para calcular o prazo de conversão:

• multiplique o saldo final de contas a receber pelo prazo médio de recebimento;


• multiplique o estoque final pelo prazo médio de liquidação de estoque. Isso inclui a média
de dias para vender o estoque e para cobrar os valores a receber da venda do estoque;

• some os dois primeiros itens e divida pela somatória do contas a receber e estoques.
A fórmula é:

(Contas a receber x prazo de cobrança) + (Estoque x prazo de liquidação) 


Recebíveis + Estoques

A informação do prazo de liquidação na fórmula é baseada em médias históricas, que podem


não traduzir bem a realidade atual. Os fluxos de caixa reais podem variar substancialmente em
torno das médias indicadas pela fórmula.

14 Laureate- International Universities


Por exemplo, o controller de uma organização quer entender a capacidade da empresa em
converter seus recebíveis e estoques em dinheiro. Tem-se R$ 400.000 de contas a receber, que
normalmente podem ser convertidos em dinheiro dentro de 50 dias. Tem-se também R$ 650.000
de estoques, com prazo médio de estocagem de 90 dias. Quando combinado com o prazo de
recebimento, isso significa que ele leva 140 dias para liquidar totalmente estoques e contas a
receber. Com base nessas informações, o prazo de conversão é:

(R$ 400.000 x 50 dias) + (R$ 650.000 de estoque x 140 dias) 


R$ 400.000 + R$ 650,000

= 106 dias para converter ativos em dinheiro.

Isso significa que a empresa tem longo período para converter vários ativos circulantes em di-
nheiro, o que pode afetar sua capacidade de pagar as contas no curto prazo, dependendo do
prazo de pagamento de suas dívidas.

NÓS QUEREMOS SABER!


Qual é a alteração do quociente de liquidez corrente quando uma empresa substitui
dívidas de longo prazo por dívidas de curto prazo? O quociente de liquidez representa
a capacidade de pagamento das dívidas de curto prazo da empresa, relacionando seus
bens e direitos de curto prazo com suas dívidas de curto prazo. Se a empresa substitui
dívidas de longo prazo por dívidas de curto prazo, o quociente de liquidez corrente será
reduzido, pois o ativo circulante permanece o mesmo e o passivo circulante aumenta,
pois encurtou o prazo de suas dívidas de longo prazo.

4.3 Quocientes de endividamento


Para entender o quociente de endividamento, responda: você sabe o que significa estrutura de
capital? É a combinação de dívida de longo prazo de uma empresa, a dívida a curto prazo, o
patrimônio líquido com o capital social, as ações ordinárias e preferenciais. A estrutura de capital
compreende várias fontes de recursos utilizados para financiar as operações e o crescimento da
empresa. As dívidas de longo prazo são contraídas com a emissão de títulos de longo prazo, ao
passo que o patrimônio líquido é contraído com o capital dos sócios ou com ações ordinárias,
ações preferenciais ou, ainda, com os lucros acumulados. A dívida de curto prazo, embora fi-
nancie somente parte do capital de giro da empresa, também é considerada parte da estrutura
de capital.

A proporção de curto e de longo prazo da dívida é considerada na análise da estrutura de capital


de uma organização. Quando se refere à estrutura de capital, fala-se da relação dívida/capital
próprio de uma empresa, que fornece alguma pista do risco da empresa, dependendo do seu
ramo de atividade. Geralmente, uma organização que possui uma grande proporção de capital
de terceiros apresenta riscos maiores.

Agora, reflita sobre a questão: empresa endividada é sinal de problema?

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Contabilidade financeira

Muitas das empresas mais bem-sucedidas do mundo baseiam sua estrutura de capital em uma
conta simples: o custo de capital. Se você conseguir dinheiro emprestado a 7% ao ano, por 30
anos, com inflação de 3% ao ano e reinvesti-lo em operações da empresa a 15% ao ano, seria
sensato considerar, pelo menos, 40% a 50% de capital de terceiros em sua estrutura de capital.

A dívida em relação ao patrimônio líquido mede o grau de risco da estrutura financeira de uma
empresa. A relação revela as proporções entre dívida e capital próprio que uma empresa empre-
ga em seu financiamento. Ela é acompanhada de perto pelos credores, pois pode fornecer aviso
antecipado de que uma organização está tão oprimida por uma dívida que não é capaz de cum-
prir com o pagamento de suas obrigações. Essa é também uma questão de financiamento, por
exemplo, os proprietários de uma empresa não podem querer aumentar o capital da empresa,
assim, assumem mais dívidas para resolver a falta de liquidez. Uma organização também pode
usar dívida para comprar suas ações de volta, aumentando, assim, o retorno sobre o investimen-
to para os demais acionistas.

Figura 2 – Risco financeiro é o risco de não ter como pagar as contas.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Seja qual for a razão para o uso de dívida, o resultado pode ser catastrófico se os fluxos de
caixa das empresas não forem suficientes para fazer os pagamentos da dívida em curso. Esta é
uma preocupação para os credores, cujos empréstimos podem não ser pagos. Os fornecedores
também estão preocupados com a relação, pela mesma razão. Um credor pode proteger os seus
interesses por meio da imposição de garantias ou cláusulas restritivas; fornecedores costumam
oferecer crédito com condições menos restritivas e, assim, podem sofrer mais se uma empresa
não for capaz de cumprir as suas obrigações.

A partir do que estudou até aqui, você saberia como calcular a estrutura de capital? Veja no item
a seguir.

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4.3.1 Quociente dívida/patrimônio
Para calcular o quociente de endividamento em relação ao patrimônio, basta dividir a dívida total
pelo patrimônio líquido total. Nesse cálculo, o valor da dívida deve incluir as dívidas de curto e
longo prazo. A fórmula é:

Passivo circulante + Passivo não circulante

Patrimônio líquido

Veja um exemplo no caso prático a seguir: a Cia. Universal acumulou uma quantidade significa-
tiva de dívida, adquirindo diversos concorrentes. Algumas cláusulas restritivas da Cia. Universal
estipulam que não pode ir além de uma relação de dívida com um patrimônio líquido de 2:1. O
planejamento de sua mais recente aquisição vai custar R$ 10 milhões. O nível atual de capital
próprio da Cia. Universal é de R$ 50 milhões, e seu atual nível de dívida é de R$ 91 milhões. Com
essa informação, a proposta de aquisição vai resultar nos seguintes índices de endividamento:

R$ 91 milhões da dívida existente + R$ 10 milhões da dívida proposta

R$ 50 milhões de equivalência patrimonial

= 2,02:1 índices de endividamento

A relação ultrapassa o limite existente, de modo que a Cia. Universal não pode usar essa forma
de financiamento para concluir a aquisição proposta.

• Problemas com a estrutura de capital


Apesar de muito útil, a proporção pode ser enganosa em algumas situações, por exemplo, se
o patrimônio de uma empresa é composto por uma grande proporção de ações preferenciais,
nesse caso, os dividendos obrigatórios nos termos da lei têm características de dívida e não de
patrimônio líquido, impactando a quantidade de fluxo de caixa disponível para pagar a dívida.

Outra questão é que a dívida por si só não indica a iminência de reembolso, pode acontecer em
um futuro próximo ou em um prazo tão longo que não mereça consideração. Neste último caso,
um alto índice de endividamento pode ser uma preocupação menor.

NÃO DEIXE DE VER...


No programa Estúdio i (Globo News), a comentarista de economia Flávia Oliveira mos-
tra o crescimento do endividamento nas empresas e nas famílias brasileiras. Disponível
em: <http://globotv.globo.com/globo-news/estudio-i/v/endividamento-cresce-nas-
-empresas-e-familias-brasileiras/4157537/>.

4.3.2 Quociente de cobertura de juros


O quociente de cobertura de juros é uma medida do número de vezes que uma empresa pode
fazer os pagamentos de juros sobre sua dívida com os seus lucros antes de juros e Imposto de
Renda, também conhecido como Lajir. Quanto mais baixo for o quociente de cobertura de juros,
maior será o peso da dívida para a empresa e maior será a possibilidade de inadimplência ou
falência.

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Contabilidade financeira

A cobertura de juros é o equivalente a uma pessoa tomar a despesa de juros combinada de to-
das as suas dívidas: cartões de crédito, financiamento de automóveis e empréstimos pessoais, e
calcular o número de vezes que pode pagá-lo com sua renda antes do Imposto de Renda.

Para os credores, o quociente de cobertura de juros é um medidor de segurança, que estima


quanto os ganhos de uma empresa podem cair antes que ela comece a deixar de pagar suas
obrigações. Para os acionistas, o quociente de cobertura de juros é importante porque dá uma
imagem clara da saúde financeira de curto prazo de uma empresa.

Para calcular o índice de cobertura de juros, deve-se dividir Lajir (lucro antes de juros e Imposto
de Renda) pelo total da despesa de juros. Veja a seguir:

Quociente de cobertura de juros = Lajir

Despesa de juros

Uma situação em que o quociente de cobertura de juros pode deteriorar-se de repente é quando
as taxas de juros sobem rapidamente, e uma empresa tem dívidas vencendo com taxa pré-fixada
de baixo custo, tendo que refinanciar com taxas de juros maiores. Com as despesas adicionais
com juros, o quociente de cobertura vai diminuir, mesmo que nada mais tenha mudado no ne-
gócio.

Outra situação comum é quando uma empresa tem um alto grau de alavancagem operacional.
Isso não se refere à dívida em si, mas, sim, ao nível de despesas fixas em relação ao total de
vendas. Se uma empresa tem alta alavancagem operacional e suas vendas caem, pode ter um
efeito dramaticamente desproporcional sobre o seu lucro líquido, o que resultaria em uma súbi-
ta, e igualmente dramática, diminuição do quociente de cobertura de juros, que deve dar uma
sinalização negativa para qualquer investidor conservador.

NÃO DEIXE DE LER...


O artigo Empresas brasileiras são as mais endividadas dentre os países emergentes,
aponta FMI, de Altamiro Silva Junior, publicado pela Agência Estado em 8 de ou-
tubro de 2014, está disponível no link: <http://economia.estadao.com.br/noticias/
geral,empresas-brasileiras-sao-as-mais-endividadas-dentre-os-paises-emergentes-
-aponta-fmi,1573432>.

4.4 Quocientes de rentabilidade


É importante que os usuários analisem a lucratividade das operações da empresa, assim como a
rentabilidade do negócio como um todo. Os investidores analisam as demonstrações contábeis
e esperam que a empresa seja capaz de gerar lucros a fim de que possam obter a rentabilidade
esperada de seus investimentos.

O lucro é o valor que sobra deduzindo-se os custos, as despesas e os impostos da receita. E os


quocientes de lucratividade fornecem uma métrica comparativa desses lucros.

A rentabilidade é uma métrica associada à aplicação de recursos na empresa, sejam eles pró-
prios ou de terceiros.

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4.4.1 Margem de lucro bruto
A margem de lucro bruto, ou margem bruta, mostra a proporção dos lucros gerados pela venda
de produtos ou serviços, antes de despesas de vendas e administrativas. A margem é usada para
saber se a empresa tem produtos lucrativos em relação a seu custo. A importância da margem
de lucro bruto está no acompanhamento de uma linha de tendência, para ver se a empresa pode
continuar a fornecer produtos para o mercado em que os clientes estão dispostos a pagar um
preço razoável.

A margem bruta pode ser medida de duas maneiras: a primeira é combinando os custos de ma-
terial direto, mão de obra direta, subtraindo das vendas, e dividindo o resultado por vendas. Esta
é a abordagem mais abrangente. A fórmula é:

Lucro bruto x 100

Vendas

“Infelizmente a contabilidade não distingue entre custo fixo e custo variável quando está elabo-
rando a demonstração do resultado. Mas normalmente é seguro admitir que a maior parte das
despesas do curso das mercadorias vendidas é variável e que a maior parte dos custos operacio-
nais é fixa.” (HIGGINS, 2014, p. 41).

VOCÊ O CONHECE?
Robert Higgins é professor Emérito das Finanças Marguerite Reimers Endowed Faculty
Fellow. Especializou-se na área da educação pelas universidades de Stanford e Har-
vard. Tem expertise acadêmica em gerenciamento de riscos e, atualmente, dedica-se
à pesquisa Exposição cambial corporativa. Atua, ainda, como consultor financeiro no
Seafirst Bank, Wells Fargo Bank e Bank of America, entre outras empresas.

Veja um exemplo do quociente de lucro bruto no caso prático a seguir: a Engrena S.A., uma
fábrica de engrenagens, apresenta um lucro bruto de R$ 451.800 e vendas de R$ 1.328.200.
A sua margem bruta será de 34%, o que significa que a empresa tem R$ 0,34 de cada real de
vendas para cobrir as despesas operacionais e aumentar o lucro líquido antes dos impostos.

A margem de lucro varia de acordo com o ramo de atividade da empresa. Geralmente, as em-
presas que agregam mais valor ao produto devem apresentar margens maiores; já as empresas
comerciais, que simplesmente compram e vendem mercadorias, apresentam margens menores.

4.4.2 Margem de lucro líquido


A porcentagem de lucro líquido é a relação entre os lucros após impostos sobre as vendas líqui-
das; revela o lucro remanescente após a dedução de todos os custos de produção, administração
e financiamento, das vendas e Imposto de Renda. É uma das melhores medidas dos resultados
de uma empresa, especialmente quando combinada com uma avaliação de como a empresa
está usando seu capital de giro. A medida é reportada em uma linha de tendência para julgar o
desempenho ao longo do tempo. É também usada para comparar os resultados de uma empresa
com seus concorrentes.

O lucro líquido não é um indicador de fluxo de caixa, pois incorpora uma série de despesas que
não importam em saída de caixa, tais como amortização e depreciação.

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Contabilidade financeira

A fórmula para a relação entre o lucro líquido é a divisão do lucro líquido pelas vendas líquidas,
multiplicada por 100. A fórmula é:

Lucro líquido x 100

Vendas líquidas

Veja um exemplo da margem de lucro líquido no caso prático a seguir: a Cia. Telha Leste tem R$
1.000.000 de vendas em seu mês mais recente, bem como devoluções de vendas de R$ 40.000,
um custo de produtos vendidos de R$ 550.000, e as despesas administrativas de R$ 360,000. A
alíquota de Imposto de Renda é de 35%. O cálculo da sua margem de lucro líquido é:

Vendas líquidas = R$ 1.000.000 – R$ 40.000 = R$ 960.000

Lucro antes dos impostos = R$ 960.000 - R$ 550,000 - $ 360.000 = R$ 50.000

Lucro depois de impostos = R$ 50.000 x (1-0,35) = 32.500

Margem de lucro líquido = R$ 32.500 x 100 = 3,4%

R$ 960.000

• Problemas com a relação da margem líquida


A proporção de lucro líquido é realmente uma medida de curto prazo, pois não revela ações de
uma empresa para manter sua lucratividade no longo prazo, como pode ser indicada pelo nível
de investimento de capital ou despesas de publicidade, treinamento ou pesquisa e desenvolvi-
mento. Além disso, uma empresa pode atrasar uma variedade de despesas, tais como manuten-
ção, para fazer a sua margem de lucro líquido parecer melhor do que realmente é. Consequente-
mente, você deve avaliar a relação margem líquida ao lado de uma variedade de outras métricas
para obter uma imagem completa da capacidade da empresa para continuar em funcionamento.

Outro problema com a margem de lucro líquido é que uma empresa pode intencionalmente
mantê-la baixa, de acordo com uma estratégia de preços baixos que visa a conquistar participa-
ção de mercado em troca de baixa rentabilidade. Nesses casos, pode ser um erro supor que uma
empresa está indo mal, quando, na verdade, ela pode possuir a maior parte do mercado devido
às suas margens baixas. Por outro lado, a estratégia inversa pode resultar em uma proporção
de resultado líquido muito elevado, mas à custa da captura de apenas um pequeno nicho de
mercado.

Outra estratégia que pode aumentar a margem de lucro líquido artificialmente é quando os pro-
prietários de uma empresa querem minimizar os impostos e, assim, acelerar o reconhecimento
do lucro tributável no período em análise. Essa abordagem é mais comum encontrar em uma
empresa de capital fechado, em que não há necessidade de impressionar os investidores externos
com os resultados das operações.

4.4.3 Retorno sobre patrimônio líquido


O quociente de retorno sobre o patrimônio líquido revela o percentual de retorno auferido sobre
o patrimônio líquido de um negócio. A métrica é usada por investidores para avaliar os investi-
mentos atuais e futuros. Esse retorno pode ser melhorado quando uma empresa compra de volta
suas próprias ações dos investidores, ou usando mais dívidas e menos capital para financiar

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suas operações, o que é conhecido como alavancagem financeira: usar capital de terceiros para
alavancar o resultado da empresa.

Para calcular o retorno sobre o patrimônio líquido, basta dividir o lucro líquido pelo valor total
do patrimônio líquido. A fórmula é:

Lucro líquido

Patrimônio líquido

O numerador pode ser modificado para incluir apenas o resultado das operações, o que produz
uma imagem melhor do valor gerado pela capacidade operacional de uma empresa, deixando
de lado os encargos de financiamento.

O uso de dívida para comprar ações da própria empresa e, assim, aumentar o retorno sobre
o patrimônio líquido, pode não gerar os resultados esperados. A nova dívida traz consigo uma
nova despesa fixa na forma de pagamentos de juros. Se as vendas caírem, esse custo adicional
de dívida pode provocar um forte declínio nos lucros que, por sua vez, pode resultar em prejuízo.
Quando uma empresa se alavanca muito com o objetivo de aumentar o retorno dos acionistas,
pode encontrar dificuldades financeiras significativas.

Veja um exemplo de retorno sobre o patrimônio líquido no caso prático a seguir: o presidente
da Cia. Barbará estabeleceu um plano de bônus que é desencadeado por um aumento no re-
torno sobre o patrimônio líquido. A Cia. Barbará tem um patrimônio líquido de R$ 2.000.000;
o presidente planeja recomprar ações no valor de R$ 600.000 fazendo um empréstimo que tem
uma taxa de juros de 6% após os impostos. Veja, na Tabela 7, os resultados antes e depois da
recompra de ações:

Antes de recompra Depois de recompra


de ações de ações

Vendas 10.000.000,00 10.000.000,00


Despesas 9.700.000 9.700.000
Despesa de juros da dívida --- 36.000
Lucros 300.000 264.000
Patrimônio líquido 2.000.000 1.400.000
O retorno sobre o patrimônio líquido 15% 19%

Tabela 7 – Projeção de resultados da Cia. Barbará.


Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

O modelo indica que essa estratégia vai funcionar. As despesas serão aumentadas com as despe-
sas de juros, mas o patrimônio líquido terá um forte declínio, aumentando-se o retorno de 15%
para 19%. É preciso verificar se os fluxos de caixa da empresa são estáveis o suficiente para su-
portar esse nível adicional de dívida, afinal, a empresa está assumindo uma despesa fixa de juros.

O tipo de engenharia financeira descrita no exemplo para melhorar o retorno sobre o patrimô-
nio líquido deve ser periodicamente reexaminado, levando em conta quaisquer mudanças nos
fundamentos do negócio.

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Contabilidade financeira

4.4.4 Retorno sobre o ativo


O retorno sobre o ativo compara lucro líquido com os ativos para medir a capacidade de a
empresa gerar lucros com sua base de investimentos, independentemente da forma que foram
financiados. A alta proporção de lucros sobre os ativos pode ser um indicador de excelente de-
sempenho da gestão.

A fórmula ROA consiste, portanto, em dividir o lucro líquido depois dos impostos pelo investimen-
to total feito na empresa, ou seja, seu ativo.

Lucro líquido

Ativo total

Por exemplo, um fabricante de armários tem lucro líquido de R$ 2.500.000 para investimentos
em ativos R$ 5.000.000. O cálculo do retorno sobre o ativo é:

Retorno sobre o ativo = R$ 2.500.000,00 = 50%

R$ 5.000.000,00

As questões descritas a seguir que devem ser levadas em conta quando se utiliza essa relação.

• Itens incomuns – Se uma parte significativa do lucro líquido é composta de renda ou


perdas devido a itens não usuais que não têm nada a ver com a criação de receitas
operacionais, o impacto desses itens deve ser eliminado do lucro líquido para fins desse
cálculo.

• Intangíveis – Deve-se considerar a eliminação dos ativos intangíveis da base de ativos,


especialmente se eles não contribuem com a geração de receitas operacionais.

4.4.5 Problemas com a análise das demonstrações financeiras


A análise das demonstrações contábeis é uma excelente ferramenta; entretanto, há questões que
podem interferir na interpretação dos resultados da análise, conforme descritas a seguir.

• Comparabilidade entre os períodos – A preparação das demonstrações contábeis da


empresa pode ter mudado a forma de contabilizar algumas operações, fazendo com que
os resultados se alterem de um período para o outro. Por exemplo, uma despesa pode
aparecer no custo dos produtos vendidos em um período, e nas despesas administrativas
em outro período.

• Comparabilidade entre as empresas – Um analista frequentemente faz comparações


entre os quocientes financeiros de empresas diferentes. No entanto, cada empresa pode
agregar informação financeira de forma diferente, de modo que os resultados de suas
relações não são realmente comparáveis. Isso pode levar um analista a tirar conclusões
incorretas sobre os resultados de uma empresa em relação aos seus concorrentes.

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• Informações operacionais – Comentários somente de informações financeiras de uma
empresa, não de sua informação operacional, de modo que você não pode ver uma
variedade de indicadores-chave de desempenho futuro, tais como o tamanho da carteira
de pedidos ou a qualidade de seus estoques. Assim, a análise financeira apresenta apenas
parte do quadro total, é sempre importante ter acesso também a informações operacionais
da empresa, para realizar uma análise mais completa.

23
Síntese Síntese
Neste capítulo, você:

• aprendeu que a análise vertical é a análise percentual de uma demonstração contábil, em


que cada linha em uma demonstração é listada como uma porcentagem de um outro item;

• compreendeu, também, que a análise horizontal é a comparação de informações contábeis


históricas para uma série de períodos, com a finalidade de estabelecer tendências sobre
o comportamento da empresa;

• entendeu que o método dos quocientes para a análise das demonstrações contábeis é a
utilização de vários tipos de relações entre contas, dividindo o valor de uma pelo valor de
outra para calcular o tamanho relativo de um número em relação a outro. E que depois
de calcular essa proporção, você pode, em seguida, compará-lo com a mesma proporção
calculada para o período anterior ou basear-se na média do setor;

• viu que os quocientes de liquidez medem a capacidade de uma empresa para pagar as
suas contas de curto prazo, podendo ser calculado para o curto ou longo prazo, levando-
se em conta todos os ativos recebíveis ou apenas os ativos de maior liquidez;

• observou, também, que os quocientes de endividamento medem a relação entre o capital


próprio e de terceiros e dá informações sobre o risco financeiro da empresa. Além disso,
o endividamento pode ser saudável para o crescimento da empresa, mas isso depende da
regularidade de seu fluxo de caixa;

• entendeu que os quocientes de rentabilidade fazem uma avaliação da lucratividade da


empresa em relação às suas vendas, ao seu investimento ou em relação ao patrimônio
líquido;

• percebeu que os métodos de análise a serem utilizados dependem dos objetivos da análise
e os quocientes não devem ser vistos apenas individualmente.

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Referências Bibliográficas
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SILVA JUNIOR, A. Empresas brasileiras são as mais endividadas, dentre os países emergentes,
aponta FMI. Estadão, Washington, 8 out. 2014. Disponível em: <http://economia.estadao.
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