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MÓDULO 5

CONTABILIDADE
GERENCIAL
PROFESSOR MARCOS PIELLUSCH

1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................. 3
PORQUE ESTUDAR CONTABILIDADE ...................................................... 3
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ........................................................... 4
FORMATO E CONTEÚDO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS .............. 7
PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ............................................ 8
ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL ............................................... 11
CONTAS DO ATIVO CIRCULANTE:......................................................... 12
CONTAS DO ATIVO NÃO CIRCULANTE.................................................. 13
CONTAS DO PASSIVO CIRCULANTE ...................................................... 15
CONTAS DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE .............................................. 16
CONTAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO:.................................................... 16
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO.................................. 17
REGIME DE COMPETÊNCIA.................................................................. 22
LÓGICA DOS LANÇAMENTOS CONTÁBEIS ............................................... 25
DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO ............................................................. 35
EBITDA ............................................................................................... 39
PERDAS .................................................................................................... 40
PARTICIPAÇÃO EM EMPRESAS ................................................................ 44
IRFS 16 - ARRENDAMENTO ...................................................................... 50
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA ............................................... 54
EXEMPLO PRÁTICO ............................................................................. 58
DRA E DVA ............................................................................................... 61
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO ABRANGENTE ................................. 61
DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO. ......................................... 63
CONCLUSÃO............................................................................................. 66

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INTRODUÇÃO
O objetivo da disciplina de Contabilidade Gerencial é mostrar para o aluno
a estrutura, o funcionamento e as finalidades das demonstrações
financeiras. A estrutura do curso será a seguinte:

1. Introdução e contexto das demonstrações financeiras.


2. Estrutura do Balanço Patrimonial.
3. Estrutura da Demonstração dos Resultados.
4. A lógica dos lançamentos contábeis.
5. Depreciação e amortização.
6. Lançamentos de perdas.
7. Participação em empresas.
8. Arrendamentos.
9. Demonstração dos Fluxos de Caixa.
10.Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração do Valor
Adicionado.

PORQUE ESTUDAR CONTABILIDADE

A contabilidade é a linguagem dos negócios. É extremamente importante


conhecer as demonstrações contábeis, que mostram o desempenho de
um negócio e permitem analisar o resultado de uma empresa. A
padronização da contabilidade dá suporte a diversos tipos de análise e a
projeções de resultados futuros, que proporcionam ao investidor uma
avaliação da empresa pelo método do fluxo de caixa descontado. Tudo
isso decorre da estruturação das informações da empresa em
demonstrações financeiras compostas pela contabilidade.

Resumindo, devemos estudar contabilidade:

• Porque é a linguagem dos negócios.

• Reflete a situação financeira das empresas por meio das


demonstrações.

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• Permite a comparação do desempenho de diferentes empresas.

• Permite a criação de indicadores que relacionam o valor de


mercado com indicadores contábeis.

• Permite a análise e projeção de resultados futuros.

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

São finalidades das demonstrações financeiras:


• Registrar os eventos econômicos que ocorrem na empresa,
quantificando seus impactos financeiros no resultado, no caixa ou
no patrimônio da empresa.

• Registrar a evolução patrimonial da empresa e dos acionistas.

• Avaliar o desempenho da empresa a cada período, acompanhando


a variação dos resultados, vendas, custos e despesas ao longo do
tempo.

• Registrar obrigações presentes da empresa, permitindo analisar o


endividamento.

• Registrar bens e direitos de propriedade ou controle da empresa.

• Avaliar o fluxo de recursos financeiros (a entrada e saída de


recursos) a cada período.

Os investidores são importantes usuários das demonstrações financeiras,


mas não os únicos – vão utilizá-las também os gestores para tomar
decisões de negócios; os auditores para averiguar se refletem a realidade;
o governo para verificar se empresa arrecada corretamente os impostos;
os funcionários, cuja remuneração muitas vezes está atrelada aos
resultados; os bancos para avaliar a capacidade pagamento e conceder
crédito; e outras partes interessadas.

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Usuários das Demonstrações Financeiras

Vejamos agora quais são as principais demonstrações financeiras, seu


conteúdo e a finalidade de cada uma delas. As três primeiras, em azul, são
as principais – mas as outras três, em cinza, também são importantes e
trazem informações mais específicas:

As demonstrações financeiras obedecem a um padrão que resulta de uma


evolução dos negócios ao longo do tempo. Para se ter uma ideia, até
1808, só se podia exercer uma atividade empresarial no Brasil quem
tivesse uma empresa aberta em Portugal, na metrópole. De 1860 a 1890,
era necessário pedir autorização do poder executivo para funcionar, além
de apresentar as demonstrações periodicamente ao governo – só depois
disso foi possível estabelecer companhias ou sociedades anônimas já sem
autorização do governo.

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Antes da abolição da escravatura, em 1888, os títulos de propriedade de
escravos eram as principais garantias de empréstimos bancários – ainda
não havia a regulamentação da propriedade de terras.

Somente em 1940 surge a primeira lei de sociedades anônimas no Brasil,


com o Decreto 2.627, em boa parte influenciado pela escola italiana no
que diz respeito às abordagens da contabilidade.

Um grande avanço aconteceu em 1976, com a Lei 6.404, introduzindo a


DRE, Balanço Patrimonial, Demonstração de Origens e Aplicações e Notas
explicativas, sob forte influência dos padrões americanos.

Em 2007, emergiu um grande movimento de padronização internacional,


o que ocorreu por aqui com a Lei 11.638, modificando a organização das
contas e introduzindo a Demonstração dos Fluxos de Caixa. Mais
recentemente, em 2019, veio a Lei 13.818, que orienta sobre divulgação
das demonstrações financeiras (CVM).

Vão continuar surgindo novas regras para melhorar a qualidade das


informações e a adequá-las aos padrões internacionais de contabilidade,
de modo a refletir melhor a situação da empresa para os investidores e
demais grupos interessados.

Atualmente, o padrão da contabilidade é determinado por um órgão


internacional chamado Fasb (Financial Accounting Standards Board). É o
órgão responsável por divulgar as IFRS, que são as normas internacionais
de relatórios contábeis, traduzidas e adaptadas para o Brasil pelo Comitê
de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Ou seja: as demonstrações
financeiras divulgadas no Brasil seguem um padrão internacional. Assim,
investidores e pessoas interessadas de outras partes do mundo podem ter
acesso a essas informações e conseguir compreendê-las.

As demonstrações contábeis das empresas abertas brasileiras estão


disponíveis em diversos canais:

• CVM (Comissão de Valores mobiliários) – autarquia do governo


responsável por controlar a emissão de títulos e valores mobiliários
(como ações e debentures).

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• B3 – Na bolsa de valores, é possível encontrar as demonstrações das
empresas listadas.

• Sites de Relações com Investidores (RI) mantidos pelas empresas de


capital aberto.

Além desses canais, há uma série de sites abertos que organizam as


informações das demonstrações financeiras das empresas de capital
aberto e calculam alguns indicadores. Veja quatro exemplos:

• Fundamentus - http://www.fundamentus.com.br/

• Yahoo finance - https://finance.yahoo.com/

• Status Invest - https://statusinvest.com.br/

• Suno Analítica - https://www.sunoresearch.com.br/acoes/

Adicionalmente, veja uma lista com alguns sites pagos (com valor acessível
ou nos quais é possível se inscrever para um período gratuito de testes):

• Com Dinheiro – https://www.comdinheiro.com.br/

• Trademap - https://trademap.com.br/

• Tradingview - https://br.tradingview.com/

FORMATO E CONTEÚDO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Os diferentes tipos de demonstrações financeiras tratam cada um de um


conteúdo próprio e são publicadas em períodos diferentes:

• DFPs – trazem as Demonstrações Financeiras Padronizadas e são


publicadas anualmente, geralmente no final do ano fiscal da
empresa (31 de dezembro na maioria dos casos, embora algumas
companhias possam ter um ano fiscal diferente, de acordo com a
sua própria atividade).

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• ITRs – trazem as informações financeiras trimestrais (como o
próprio nome diz, são publicadas em cada trimestre).

• Relatório da Administração – traz comentários da gestão sobre o


desempenho. Publicação anual.

• Relatório do Auditor Independente – apresenta o parecer dos


auditores independentes, que avaliam se as demonstrações
financeiras parecem refletir a realidade da empresa de forma fiel e
de acordo com os padrões contábeis.

• Notas explicativas – detalham as informações que estão contidas


nas demonstrações financeiras.

• Formulário de Referência – um relatório amplo, que detalha


diversos aspectos do desempenho e está em evolução, sendo cada
vez mais utilizado pelas empresas.

É importante saber que as demonstrações podem se referir apenas à


empresa controladora ou ao consolidado de empresas (controladora e
controladas).

PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Mais adiante, vamos detalhar as principais demonstrações contábeis.


Neste momento, porém, veremos um resumo do conteúdo e das
diferenças entre as três principais – o balanço patrimonial, a
demonstração de resultados e a demonstração dos fluxos de caixa.

Balanço patrimonial – De maneira simplificada, o balanço patrimonial


apresenta no lado esquerdo os ativos de uma empresa, compostos pelos
bens e direitos. O ativo mostra ONDE os recursos de uma companhia
estão investidos.

Do lado direito, são apresentados os passivos – as obrigações presentes –


que mostram DE ONDE vem os recursos da empresa (as origens podem

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ser, por exemplo, obrigações junto a terceiros ou aos sócios, ou o próprio
resultado da empresa).

O balanço sempre mostra os saldos das contas numa determinada data,


como 31 de dezembro, no caso do balanço anual. O balanço pode ser
comparado a uma foto que mostra a situação da empresa num
determinado momento. Comparando os números entre uma data e outra,
o investidor pode acompanhar a evolução da empresa.

Demonstração do resultado - Relata o resultado contábil da atividade em


um dado período e o que aconteceu ao longo de um ano ou um trimestre
em relação a eventos que geraram receitas de vendas ou de prestação de
serviços, custos ou despesas e o resultado. Costuma ser comparada a um
filme, contando uma história ao longo de um certo intervalo de tempo.

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Demonstração do fluxo de caixa: Apresenta o que aconteceu com
entradas e saídas de caixa ao longo de um período.

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ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMONIAL
Vamos ver mais detalhes sobre a estrutura do balanço patrimonial, como
apresentada na figura a seguir:

Os Ativos são os bens e direitos de uma empresa. Representam os


recursos controlados pela entidade como resultado de eventos passados e
dos quais se espera que resultem futuros benefícios econômicos.

Os bens e direitos se dividem em ativo circulante (disponível para se


transformar em dinheiro ou em outros ativos num prazo de até doze
meses) e em ativo não circulante (disponíveis para se transformar em
dinheiro ou em outros ativos num período maior do que doze meses).
Essa separação existe sobretudo para compreender a liquidez da empresa,
além de apresentar os ativos de modo mais organizado.

Os Passivos são as “fonte dos recursos”, ou dinheiro de terceiros que não


são nem a empresa nem os sócios, como fornecedores, bancos,
funcionários, o governo, clientes ou outras entidades. São obrigações
presentes derivadas de eventos já ocorridos, cuja liquidação resulta em

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saída de recursos. De modo semelhante ao ativo, existe o passivo
circulante (exigível em até 12 meses) e o passivo não circulante (exigível
num prazo maior do que 12 meses). No caso de um empréstimo com
prazo de pagamento em cinco anos, por exemplo, as parcelas que vão
vencer nos próximos doze meses terão seus saldos registrados no passivo
circulante – as demais parcelas vão compor o passivo não circulante.

O Patrimônio Líquido é o valor residual dos ativos da entidade depois de


deduzidos todos os passivos. É o dinheiro que pertence aos sócios, seja
proveniente do investimento direto deles ou dos resultados obtidos pela
empresa (lembre-se que os resultados pertencem aos sócios). O
Patrimônio Líquido não tem prazo de pagamento, uma vez que os sócios
de uma empresa não têm data específica para retirar o dinheiro. O que
pode acontecer, naturalmente, é a empresa estabelecer um valor de
dividendos a pagar aos sócios. Nesse caso, esse valor permanecerá no
passivo circulante ou no passivo não circulante, dependendo do prazo
para o pagamento.

As principais contas do Ativo, do Passivo e do Patrimônio Líquido são as


seguintes:

CONTAS DO ATIVO CIRCULANTE:

Caixa e aplicações financeiras. Nessa primeira conta incluem-se valores


em dinheiro vivo, contas bancárias, aplicações financeiras de curto prazo
(resgatáveis em até um ano). As empresas muitas vezes mantêm valores
no caixa ou em aplicações de curto prazo para se prevenir de riscos e lidar
com oscilações nas movimentações de caixa. É preciso, por exemplo, ter
uma reserva para cumprir uma obrigação caso parte dos clientes deixem
de pagar o que era esperado num determinado momento. Noutras
situações, pode ser mantido um saldo grande no caixa para fazer
aquisições de outras empresas. São muitas as razões, portanto, pelas
quais uma empresa pode ser levada a manter um saldo significativo no
caixa

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Estoques. Podem ser valores referentes a produtos que a empresa
fabricou ou adquiriu, matérias-primas que serão utilizadas para a
fabricação de produtos, ou materiais diversos usados em prestação de
serviços ou na própria atividade. Esses estoques sempre são registrados
ao preço de custo – jamais a preço de venda.

Contas a receber. São geralmente valores que a empresa tem a receber


dos clientes por vendas já realizadas. Não entram nessa conta valores
planejados, que a empresa espera obter por vendas planejadas para o
futuro. Pelo fato de estar no ativo circulante, trata-se de um valor a
receber em até doze meses.

Adiantamento de despesas. São valores que a empresa pagou


antecipadamente aos fornecedores por um produto ainda não recebido
ou por um serviço ainda não executado.

Ativos biológicos. É outra conta do ativo circulante, muito comum em


empresas de agropecuária ou do agronegócio – são plantas e animais,
como gado de corte ou leite e peixes. Os ativos biológicos têm um
tratamento diferente e não são registrados simplesmente pelo valor de
custo.

CONTAS DO ATIVO NÃO CIRCULANTE

Ativos realizáveis a longo prazo. Nessa conta podem ser incluídos os


mesmos itens do ativo circulante, mas cujo prazo de realização seja
superior a um ano. Pense, por exemplo, numa vinícola que colha uvas,
produza vinhos e os envelheça por três anos em barris – haverá aí um
estoque, mas que só se realizará no longo prazo. O mesmo pode ser dito
de uma venda a um cliente que terá 36 meses para pagar. Nesse caso, o
que a empresa terá para receber num prazo superior a doze meses será
registrado no realizável a longo prazo. De forma semelhante, podem ser
incluídos nessa conta itens como despesas, tributos a recuperar e outros
itens.

Investimentos. Incluem-se nessa conta os investimentos que não se


referem à atividade principal ou predominante da empresa:

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• Participação em outras empresas. O valor pago pela aquisição de
ações ou pela participação em outras companhias é registrado na
conta de investimentos

• Ativos não usados na operação, mas adquiridos com a finalidade de


obter um ganho pela valorização. Dois exemplos: obras de arte,
incluindo as digitais, como os NFTs (a não ser no caso de uma
galeria de arte, que tem na compra e venda desse tipo de ativo a
sua atividade principal) e os imóveis adquiridos para valorização.

Imobilizado. É uma das contas mais importantes do ativo. Nela incluem-se


todos os bens usados na operação com duração de mais de um ano.
Exemplos: veículos usados para entregas ou para o transporte de pessoas
entre unidades de negócio da empresa; imóveis que abrigam a sede da
empresa ou fábricas; máquinas e equipamentos (computadores,
impressoras, instalações de iluminação, ar-condicionado, estrutura de TI e
assim por diante). São itens geralmente importantes para a realização das
atividades. O imobilizado tem uma característica muito importante: a
depreciação com o tempo, que é a forma usada para medir o desgaste
que esses ativos sofrem com o uso.

Intangível. A característica predominante do ativo intangível é, como o


próprio nome diz, a de não ser tangível. Seu valor não vem da substância
física (que pode nem existir, embora algum de seus componentes possa
ter substância física). Exemplo de ativos intangíveis:

• Softwares. Programas de computador podem ser armazenados num


hard drive, num flash disk, um CD ou algo assim, mas seu valor
decorre do seu código.

• Contratos de direito, como o de uso de uma marca licenciada ou


direito de exploração comercial de um bem público, como ocorre
com as concessões públicas.

• Ágio na compra de empresas, chamado também de goodwill. Para


explicar essa situação, imagine que uma empresa para 15 milhões
de reais por uma outra companhia, cuja avaliação é de 10 milhões
de reais. A diferença de 5 milhões será registrada como ágio no

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ativo intangível – trata-se de um valor adicional justificado pela
expectativa da empresa compradora de obter uma rentabilidade
futura.

• Marca adquirida. O valor que uma empresa paga à outra para


adquirir uma marca também é um ativo intangível. Atenção: a
marca só é lançada como ativo intangível se tiver sido adquirida e a
empresa compradora tiver de fato aplicado um valor nessa
aquisição. Uma marca desenvolvida ao longo do tempo pela
empresa não é considerada intangível. Por esse motivo, as marcas
não são necessariamente incluídas no balanço patrimonial, a não
ser que tenham sido adquiridas de outra empresa.

Para finalizar: softwares e contratos de direito sofrem amortização, o que


não acontece com o ágio e com as marcas. A amortização, assim como a
depreciação, reflete o uso de um ativo ao longo do tempo. Um contrato
tem um prazo determinado e um software tem uma vida útil que vai
sendo consumidos longo do tempo.

CONTAS DO PASSIVO CIRCULANTE

Fornecedores. Representa o valor que a empresa ter a pagar por compras


de produtos já recebidos e pela contratação de serviços já executados.

Empréstimos e financiamentos. Refere-se a operações de empréstimos e


financiamentos (como capital de giro, financiamento de veículos ou
máquinas, emissão de títulos de dívida como debêntures e bonds) cujo
prazo de pagamento seja de até um ano.

Obrigações sociais e trabalhistas. Nessa conta incluem-se salários,


encargos, férias, décimo terceiro e outras obrigações ainda não pagas aos
funcionários pelo período que eles já trabalharam (a empresa não vai
colocar no passivo um valor referente a um período pelo qual o
trabalhador ainda não tem direito a receber).

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Obrigações fiscais. Representam impostos, taxas, contribuições e tributos
que precisam ser pagos, com valores referentes a uma competência
concretizada, como vendas já realizadas e lucros já obtidos

Adiantamentos de clientes. São valores pagos antecipadamente pelos


clientes por produtos que a empresa ainda tem de entregar ou por
serviços que ainda serão prestados.

CONTAS DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE

Podem constar do passivo não circulante as mesmas contas do Passivo


Circulante, como fornecedores a pagar, tributos a pagar, parcelamentos
de tributos com prazo de pagamento superior a um ano e assim por
diante (na medida que o tempo passa, a obrigação que em dado momento
tinha vencimento superior a 12 meses vai se transferindo para o passivo
circulante).

CONTAS DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO:

O Patrimônio Líquido é o patrimônio dos sócios, composto principalmente


por duas contas:

Capital social. É o capital mais permanente, investido pelos sócios, além


da parte dos lucros incorporada permanentemente ao capital da empresa.

Reservas de lucros. Lucros obtidos que não foram distribuídos e se


destinam a alguma finalidade, como um investimento futuro, além de
reservas para contingências ou legalmente requeridas em função das
normas societárias ou por definição da administração da empresa.

Importante: o total do Ativo sempre será igual à soma dos Passivos com o
Patrimônio Líquido. Ou seja: a soma dos bens e direitos tem de coincidir
com a soma das obrigações. Se esses valores não estão batendo, há algo
errado no balanço.

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DEMONSTRAÇÃO DO
RESULTADO DO EXERCÍCIO
O quadro a seguir apresenta a estrutura da Demonstração do Resultado
do Exercício, ou DRE.

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Vejamos passo a passo cada um dos itens que compõem a DRE.

A primeira linha traz a Receita de bens e prestação de serviços. Na


demonstração padronizada, é a receita bruta obtida pela venda de bens e
serviços, subtraídos o valor de impostos como ICMS, IPI, PIS, COFINS e ISS
e os descontos comerciais concedidos.

Exemplo: a empresa vendeu um vestido de 200 reais, sobre o qual incidem


18 reais de impostos. Foi concedido ao cliente um desconto de 20 reais
para fechar o negócio.

Em seguida, deve ser subtraído o Custo dos bens e serviços vendidos. No


exemplo, suponha que o custo do vestido tenha sido de 100 reais.

A receita menos o custo nos dá o Resultado Bruto (no exemplo, igual a 62


reais).

Depois do custo, são deduzidas as Despesas e receitas operacionais. O


primeiro item a subtrair são as Despesas de vendas, nas quais se incluem
salários e comissões dos vendedores, além de gastos com a estrutura
comercial, de comunicação e de marketing e o custo para entregar os
produtos. Em seguida, vêm as Despesas administrativas, que incluem
todos os gastos que a empresa tem com suas áreas funcionais, como a
administração geral, a área financeira e o setor de recursos humanos, por

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exemplo. Por fim, vêm a linha de Outras receitas e despesas, que
comportam outros itens, como perdas e ganhos na venda de ativos
imobilizados, perdas com crédito e estoques, receitas com aluguéis de
espaços dentro da empresa para instalar uma lanchonete, por exemplo.

Deduzindo essas despesas do Resultado bruto, chegamos ao Ebit, que é o


resultado antes do resultado financeiro e dos tributos. Ebit é a sigla em
inglês para Earnings Befores Interest and Taxes, ou Lucros Antes dos Juros
e Impostos – em português existe a sigla LAJIR, mais usada na academia
do que no dia a dia das empresas).

Depois do Ebit, temos o Resultado financeiro. Atenção: nessa linha estão


os resultados das operações financeiras – as receitas financeiras obtidas
pela aplicação de recursos (um resultado positivo) ou as despesas
financeiras decorrentes de empréstimos, financiamentos e títulos
emitidos (um resultado negativo).

Existe outra situação que pode gerar uma receita ou despesa financeira.
Suponha que a empresa fez uma compra a prazo e, depois, negocia a
antecipação do pagamento com um desconto. Nesse caso, o valor do
desconto será uma receita financeira. Do mesmo modo, se a empresa
pagar essa compra com atraso, os juros pelo atraso serão despesas
financeiras.

Agora vamos mudar a situação. A empresa fornecedora que concedeu o


desconto pelo pagamento antecipado de uma fatura a prazo terá uma
despesa financeira (descontos concedidos por recebimento antecipado) –
e terá uma receita financeira ao receber juros pelo atraso de uma conta.

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Vamos adiante. Suponha que a empresa do nosso exemplo tenha tido um
Ebit de 1.000 reais. Além disso, ela obteve receitas financeiras de 20 reais
e incorreu em despesas financeiras de 70 reais, que dariam um resultado
financeiro de -50 reais. Subtraindo esses 50 reais do Ebit, chegamos ao
Resultado antes dos tributos sobre o lucro.

Geralmente esse lucro antes dos tributos é o princípio da base de cálculo


do Imposto de Renda. Na prática, porém, essa base de cálculo vai levar em
consideração adições e deduções. Vamos supor, no nosso exemplo, que o
IR seja de 120 reais. Subtraindo esse valor do Resultado antes dos tributos
sobre o lucro, chegamos a um Resultado líquido de 830 reais – que é o
resultado atribuído aos acionistas.

Depois de ver essa estrutura da DRE, você pode se perguntar qual é a


diferença entre custo e as despesas. São dois conceitos distintos:

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• Custos: São gastos relativos à produção, aquisição de produtos ou
prestação de serviços. Exemplos: matérias-primas, mão de obra na
produção ou prestação de um serviço, utilização das máquinas
(depreciação), energia elétrica para movimentar as máquinas, etc.

• Despesas: São gastos relativos aos esforços para vender, entregar os


produtos e administrar a empresa. Exemplos: Salários
administrativos e de vendas, gastos para entrega de produtos,
material de escritório, energia elétrica do escritório, etc.

É importante mencionar que na composição dos custos entram vários


itens, como mão de obra, matéria-prima e depreciação das máquinas, que
são incorporados aos produtos que ficarão no estoque. No momento que
o estoque for vendido, esses valores vão se tornar Custos dos produtos
vendidos e serão lançados na DRE.

É importante compreender o que entra e o que não entra na DRE, cujo


propósito é capturar tudo aquilo que gerou ganho ou gasto para a
empresa. Entram na demonstração de resultado a venda de mercadorias,
a prestação de serviços, a saída dos estoques, as despesas no momento
que elas ocorrem, as perdas e a apuração dos juros de empréstimo.

Preste atenção, agora, naquilo que não é lançado na DRE:

Recebimento de clientes. Esse valor já é lançado na DRE no momento da


venda – e haveria uma duplicação se o lançamento ocorresse também no
recebimento.

Compra de matéria-prima. As matérias-primas só serão lançadas na DRE


como Custo dos produtos vendidos após a venda dos produtos nos quais
forem usadas.

Compra de outros ativos. O valor de um veículo adquirido pela empresa


só aparecerá na DRE por meio da sua depreciação, e não pelo valor de
aquisição.

Empréstimos obtidos. O dinheiro obtido por empréstimo entra no Caixa,


mas não se trata de uma receita, pois terá de ser pago em algum

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momento futuro (os juros pagos pelo empréstimo é que vão aparecer na
DRE como despesa).

Pagamento a fornecedores. Da mesma maneira que o recebimento de


clientes, o pagamento a fornecedores não aparece na DRE, pois o custo da
matéria-prima, como vimos, só aparecerá no resultado como Custo dos
produtos vendidos no momento da venda.

REGIME DE COMPETÊNCIA

Uma regra importante da DRE é chamada de regime de competência, que


determina que os eventos que acontecem com a empresa são registrados
conforme o seu fato gerador, e não de acordo com a movimentação de
caixa.

Suponha que um varejista de eletrodomésticos venda uma geladeira no


dia 5 de janeiro para receber em quatro parcelas mensais de 600 reais
cada uma, a primeira delas vencendo em fevereiro. A geladeira foi
entregue ao cliente no dia 20 de janeiro. Quando será que foram
registrados esses eventos? Vamos ver o fluxo de caixa:

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As parcelas de 600 reais cada uma serão recebidas pela empresa em
fevereiro, março, abril e maio. A receita, porém, vai ser contabilizada
integralmente em janeiro, na entrega do produto. Guarde isso: a receita é
realizada quando a empresa transfere os riscos e os benefícios dos
produtos e serviços.

Vamos a outro exemplo. Suponha que uma empresa emita uma nota fiscal
no valor de 5 mil reais no dia 30 de agosto. A mercadoria vendida foi
despachada para o cliente na modalidade CIF, o que significa que a
empresa fornecedora é responsável pelo pagamento do frete e do seguro
(CIF é a sigla de Cost of Insurance and Freight, ou Custo do Seguro e Frete).

Essa empresa, portanto, é responsável por fazer o produto chegar até o


cliente – e enquanto isso não acontecer, a venda não pode ser
contabilizada como receita, pois ainda não terá ocorrido a transferência
dos riscos e dos benefícios do produto. Imagine que a mercadoria chegou
ao destino em 5 de setembro – é nesse momento que a receita será
reconhecida, mesmo que o cliente só faça o pagamento em 5 de outubro,
por exemplo. Vamos ver o fluxo de caixa.

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Vejamos agora um terceiro exemplo. Suponha que uma empresa
promotora de eventos vai realizar um show em outubro. Um cliente
compra o ingresso em maio por 300 reais. Como essa empresa
contabilizará a receita. Em maio, houve uma entrada de 300 reais no
caixa, mas a receita ainda não pode ser contabilizada – o que só
acontecerá em outubro quando o show for realizado. Isso é muito
importante quando se analisa as demonstrações de empresas como
promotora de shows, agências de viagens, companhias aéreas e outros
negócios que costumam receber antecipadamente.

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Se o dinheiro entra no caixa da empresa, mas ainda não pode ser
contabilizado como receita, o que acontece? Nesse caso, como o do
Exemplo 3, o dinheiro é contabilizado como adiantamentos de clientes,
que é uma conta do Passivo. Quando o serviço for prestado, a empresa
“dá baixa” nos valores antecipados e os contabiliza como receita.

E quando a empresa realiza a venda e ainda não recebeu, como esse valor
a receber é contabilizado? Nos exemplos 1 e 2, ao vender a mercadoria e
não ter recebido ainda, a empresa lança os valores ainda não recebidos
como contas a receber. Quando os clientes pagam, a empresa não
contabiliza novamente a receita, mas “dá baixa” nos valores recebidos,
que entram no caixa.

LÓGICA DOS LANÇAMENTOS CONTÁBEIS


A dinâmica dos lançamentos contábeis é a parte do nosso curso que talvez
tenha mais proximidade com a contabilidade ensinada na graduação, com
os lançamentos de crédito e débito. Vamos mostrar como eles funcionam
para quem nunca viu esses conceitos.

Para começar: na medida que ocorrem eventos econômicos na empresa,


fazemos esses dois lançamentos. A origem dos recursos é sempre um
lançamento a crédito e o destino é sempre um lançamento a débito.
(Lembrete: “D”, de destino, é débito.)

É importante saber que o balanço patrimonial sempre tem de equilibrar os


lançamentos de origem e de destino, de modo que ao final do período o
valor total do ativo tem de ser igual ao valor total do passivo somado ao
patrimônio líquido.

Eis um exemplo para compreender melhor. Suponha uma empresa com as


seguintes informações:

1. Constituição da sociedade com investimento de R$ 300.000 em


dinheiro e 100.000 reais com um imóvel de propriedade dos sócios.

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2. Aquisição de instalações no valor de 100.000 reais, pagos à vista.

3. Aquisição de mobiliário no valor de 150.000 reais, sendo metade à


vista e metade a pagar no próximo mês.

4. Aquisição de um veículo no valor de 80.000 reais, financiado em 8


anos.

5. Pagamento antecipadamente parte das despesas administrativas,


no valor de 5.000 reais.

6. Aquisição de estoques no valor de 80.000 reais, dos quais metade


paga à vista e o restante a pagar no próximo mês.

7. Veja como fica a estrutura do balanço patrimonial após cada um


desses lançamentos.

1 – Os sócios constituíram a empresa com 300.000 reais, que será


debitado no caixa da empresa, e um imóvel de 100.000 reais, lançado a
débito no ativo imobilizado. Ambos são um lançamento a crédito no
capital social. Assim, o ativo total e o passivo total são de 400.000 reais.

ATIVO PASSIVO
Caixa ................................. 300.000

Imobilizado ....................... 100.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 400.000 Passivo total: 400.000

2 – No segundo lançamento, a empresa comprou instalações de 100.000


reais, com pagamento a vista. Ou seja: saem 100.000 reais do caixa (o
lançamento que diminui o ativo é um crédito), e as instalações adquiridas

26
são incorporadas ao ativo imobilizado. O ativo total e o passivo total
permanecem iguais.

ATIVO PASSIVO
Caixa ................................. 200.000

Imobilizado ....................... 200.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 400.000 Passivo total: 400.000

3 – A empresa adquiriu móveis para uso em suas atividades no valor de


150.000 reais, pagos metade à vista e o restante com vencimento no mês
seguinte. Nesse caso, o ativo imobilizado é aumentado em 150.000 reais.
O caixa diminui em metade desse valor (75.000 reais). Outros 75.000 reais
são lançados na conta fornecedores do passivo. O ativo total e o passivo
total passam a ser de 475.000 reais.

ATIVO PASSIVO
Caixa ................................. 125.000 Fornecedores ...................... 75.000

Imobilizado ....................... 350.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 475.000 Passivo total: 475.000

4 – A empresa adquiriu um veículo de 80.000 reais financiado em oito


anos, aumentando o ativo imobilizado nesse valor. No passivo, vamos
lançar 10.000 reais no Passivo Circulante (que é o valor do financiamento
do veículo que terá de ser pago em até 12 meses) e 70.000 reais no

27
Passivo Não Circulante, que é o montante a ser pago num prazo superior
a 12 meses.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 125.000 Fornecedores ...................... 75.000
Empréstimos e Financ. ....... 10.000

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante


Empréstimos e Financ. ....... 70.000
Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 555.000 Passivo total: 555.000

5 – A empresa pagou antecipadamente parte das despesas administrativas


no valor de 5.000 reais: saem 5.000 reais do caixa e são lançados 5.000
reais na conta despesas antecipadas, que é outra conta do ativo (esse
lançamento não altera o Ativo e o Passivo Total).

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 120.000 Fornecedores ...................... 75.000
Empréstimos e Financ. ....... 10.000
Despesas antecipadas ......... 5.000
Passivo Não Circulante
Empréstimos e Financ. ....... 70.000
Ativo Não Circulante
Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 555.000 Passivo total: 555.000

28
6 – A empresa comprou 80.000 reais em estoques, pagando metade à
vista e deixando o restante para vencimento no mês seguinte. São
lançados 80.000 reais na conta estoques, do Ativo, saem 40.000 reais do
caixa (a metade paga à vista), e são lançados outros 40.000 reais na conta
fornecedores do Passivo.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa .................................. 80.000 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 80.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.000

Despesas antecipadas ......... 5.000 Passivo Não Circulante


Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

Ativo total: 595.000 Passivo total: 595.000

Nenhum dos lançamentos vistos até agora envolveu contas de resultado.


Vejamos agora lançamentos que vão aparecer na DRE:

1. Venda de 70% do estoque por R$ 90.000, sendo 60% recebidos à


vista e o restante a receber nos próximos 2 meses.

2. Apuração de despesas diversas no valor de R$ 15.000, pagando o


restante (além dos R$ 5.000 já pagos ao longo do mês).

3. Apropriação dos juros do financiamento do veículo no valor de R$


400.

4. Apuração de impostos sobre o lucro de 30%, calculados sobre o


resultado antes do imposto, a pagar no fim do trimestre.

5. Distribuição de 40% do lucro aos acionistas como dividendos. O


restante permaneceu na empresa.

29
Veja como ficariam os lançamentos na Demonstração dos Resultados.

1 - A empresa vendeu 70% do estoque por 90.000 – desse valor, 60%


foram recebidos à vista e o restante será recebido nos próximos meses.

Então, temos o seguinte:


Vendas: 90.000 reais.
Recebimento à vista: 90.000 x 60% = 54.000 reais.
Recebimento a prazo: 90.000 x 40% = 36.000 reais.

DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS


Receita de vendas ..................................................... 90.000

- Custo dos bens vendidos ........................................ -56.000


Resultado Bruto .................................................... 34.000

E como ficam esses lançamentos no Balanço Patrimonial? Deve-se


aumentar o caixa em 54.000 reais, que é o valor das vendas recebidas à
vista. Outros 36.000 reais são lançados nas contas a receber do ativo. O
estoque deve ser reduzido em 56.000 reais.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 134.000 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 24.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.000
Contas a receber ............... 36.000
Passivo Não Circulante
Despesas antecipadas ......... 5.000 Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

30
2 – A empresa teve despesas diversas (operacionais) de 15.000 reais, das
quais 5.000 reais já haviam sido pagas antecipadamente.

DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS


Receita de vendas ..................................................... 90.000

- Custo dos bens vendidos ........................................ -56.000


Resultado Bruto.................................................... 34.000
- Despesas operacionais ......................................... - 15.000
Resultado antes do Res. Financ. e dos Tributos.... 19.000

No Balanço Patrimonial, saem 10.000 reais do caixa e 5.000 reais da conta


despesas antecipadas.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 124.000 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 24.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.000
Contas a receber ............... 36.000
Passivo Não Circulante
Despesas antecipadas ................ 0 Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

3 – Apropriação de 400 reais em juros do financiamento do veículo. Na


demonstração de resultado, esse valor é uma despesa financeira.

31
DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS
Receita de vendas ..................................................... 90.000
- Custo dos bens vendidos ........................................ -56.000
Resultado Bruto..................................................... 34.000
- Despesas operacionais ........................................... - 15.000
Resultado antes do Res. Financ. e dos Tributos.... 19.000
- Resultado financeiro
-Despesa financeira ....................................... -400
Resultado antes do IR ........................................... 18.600

No Balanço Patrimonial, os juros são incorporados ao valor dos


empréstimos e financiamentos, no Passivo.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 124.000 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 24.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.400
Contas a receber ............... 36.000
Passivo Não Circulante
Despesas antecipadas ................ 0 Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

4 – A empresa paga o Imposto de Renda, que corresponde no nosso


exemplo a 30% do resultado antes do IR, a pagar no fim do trimestre (30%
x 18.600 reais = 5.580 reais), chegando a um resultado líquido de 13.020
reais.

32
DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS
Receita de vendas ..................................................... 90.000

- Custo dos bens vendidos ........................................ -56.000


Resultado Bruto..................................................... 34.000
- Despesas operacionais ........................................... - 15.000
Resultado antes do Res. Financ. e dos Tributos.... 19.000
- Resultado financeiro
-Despesa financeira ....................................... -400
Resultado antes do IR ........................................... 18.600

- Imposto de renda ................................................... 5.580

Resultado líquido .................................................. 13.020

No Balanço Patrimonial, lançamos o valor do imposto a pagar numa conta


do Passivo.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 124.000 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 24.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.400
Contas a receber ............... 36.000 IR a pagar .............................. 5.580

Despesas antecipadas ................ 0 Passivo Não Circulante


Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000

5 – Do resultado líquido obtido, 40% são distribuídos aos acionistas na


forma de dividendos: 40% x 13.020 reais = 5.208 reais. Ficam na empresa
7.812 reais.

33
No Balanço Patrimonial, é preciso retirar do caixa o valor dos dividendos
pagos aos acionistas. O lucro restante é lançado em reservas de lucros ou
em lucros acumulados, que são contas do Patrimônio Líquido.

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Caixa ................................. 118.792 Fornecedores .................... 115.000
Estoques ............................ 24.000 Empréstimos e Financ. ....... 10.400
Contas a receber ............... 36.000 IR a pagar .............................. 5.580

Despesas antecipadas ................ 0 Passivo Não Circulante


Empréstimos e Financ. ....... 70.000

Ativo Não Circulante


Imobilizado ....................... 430.000 Capital social ..................... 400.000
Reservas de lucro ................. 7.812
Ativo total: 608.792 Passivo total: 608.792

Perceba que, somando as colunas, o Ativo Total bate com o Passivo total
em 608.792 reais.

O que nós vimos até aqui foi como os eventos contábeis acarretaram
lançamentos na Demonstração dos Resultados e no Balanço Patrimonial.
Evidentemente, nas grandes empresas tudo isso é feito pelos sistemas
automatizados, mas esse exemplo ajuda a entender a lógicas dos
lançamentos e da construção do Balanço.

Ponto importante: não dá para conciliar diretamente os 118.792 reais do


caixa com as vendas ou com o resultado líquido. Na cadeia de eventos que
levaram à composição do valor em caixa há, por exemplo, receitas que
ainda não foram recebidas e despesas ainda não pagas. Para fazer essa
conciliação, existe a Demonstração do Fluxo de Caixa, que veremos mais
adiante.

34
DEPRECIAÇÃO E AMORTIZAÇÃO
Dissemos anteriormente que os itens do ativo imobilizado não
representavam custo ou despesa no momento de sua aquisição, mas que
sofriam depreciação ao longo do tempo em que são utilizados. Foi dito
também que os ativos imobilizados sofrem depreciação, enquanto os
ativos intangíveis sofrem amortização a partir do momento que tenham
uma vida útil definida (o ágio e o valor da marca, que não tem uma vida
útil definida, são exceções, portanto).

O valor dos ativos imobilizados vai sendo reduzido pela depreciação ao


longo de sua utilização. O valor da depreciação é lançado como custo do
produto que vai para o estoque ou como despesa na Demonstração do
Resultado.

Eis um exemplo de como isso funciona. Suponha que no Imobilizado de


uma empresa exista uma máquina de 100.000 reais com cinco anos de
vida útil.

Depreciação = Valor da máquina


Vida útil

Depreciação = 100.000 reais


5 anos

Depreciação = 20.000 reais / ano

A primeira observação a fazer é que os ativos imobilizados podem ter uma


vida útil mínima determinada pela Receita Federal – a depreciação tem
um impacto total nos custos e despesas e, consequentemente, no
resultado da empresa e na base de cálculo dos impostos.

A segunda observação é que neste exemplo estamos considerando que


não existe um valor residual – ou seja, que ao final de cinco anos o
equipamento tem um valor zero e precisa ser descartado como sucata (ou

35
ser vendido por um valor tão baixo que não poderia ser feita uma
estimativa razoável).

Vamos adiante para mostrar o que aconteceria com esse ativo imobilizado
e com o custo da depreciação. Considerando que a máquina seja utilizada
na produção, o valor anual da depreciação será considerado um custo dos
produtos. Após um ano de utilização da máquina, portanto, haverá uma
depreciação acumulada de 20.000 reais, e o valor líquido do imobilizado
será de 80.000 reais. No ano seguinte, a depreciação acumulada será de
40.000 reais, e o valor líquido do imobilizado chegará a 60.000 reais – e
assim sucessivamente até que no 5º ano o valor líquido da máquina seja
zero.

1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO 5º ANO


Imobilizado 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000
- Deprec.acumulada -20.000 -40.000 -60.000 -80.000 -100.000
Imobilizado líquido 80.000 60.000 40.000 20.000 0
Custo Depreciação -20.000 -20.000 -20.000 -20.000 -20.000

Veja que, no exemplo, a cada ano o custo da depreciação será de 20.000


reais. Esse valor será utilizado para calcular o custo do produto. Considere
que no 1º ano os custos de produção sejam os seguintes:

1º ANO
Máquina (Depreciação) .......... 20.000
Matéria-prima ........................ 50.000
Mão de obra ........................... 40.000
Outros custos (energia, etc) ... 10.000
Custo de produção ............... 120.000

36
Vamos imaginar, então, que nesse primeiro ano foram produzidas 10.000
unidades de um produto (sapatos, por exemplo) e calcular o custo unitário
de produção:

Custo unitário = Custo de produção_____


Número de unidades produzidas

Custo unitário = 120.000


10.000

Custo unitário = 12 reais/unidade

Agora considere que dessas 10.000 unidades produzidas, 8.000 tenham


sido vendidas por 160.000 reais. Vejamos a Demonstração dos resultados:

Receita .................................. 160.000 (8.000 unidades vendidas)


- Custo dos bens vendidos..... -96.000 (8.000 x 12 reais por unidade)
Resultado bruto .................. 64.000

Perceba que parte da depreciação apareceu na Demonstração dos


resultados inserida no custo dos produtos vendidos – mas parte
permanece acumulada no estoque. No entanto, se o equipamento for
usado na administração central da empresa, a depreciação apareceria
integralmente como despesa, independentemente da quantidade
vendida.

Preste atenção: se ao final da sua vida útil o equipamento continuar sendo


utilizado, ele não será mais depreciado e continuará com valor zero. E se o
equipamento for reformado, ganhando nova vida útil? Então o valor da
reforma recompõe o valor do equipamento no Ativo imobilizado e passa a
haver novamente a sua depreciação.

37
E se o equipamento for vendido? Existem algumas hipóteses:

1ª hipótese: Equipamento é vendido por 10.000 reais no 5º ano.


• É feita a baixa no ativo imobilizado (onde o valor líquido do
equipamento já era zero.
• A entrada de 10.000 reais é lançada no caixa (Débito).
• O valor é lançado a crédito em outras receitas operacionais.

2ª hipótese: O equipamento é furtado após o 3º ano de uso, quando o


valor líquido do imobilizado era de 40.000 reais:
• Ocorre a baixa no ativo imobilizado de 40.000 reais (crédito)
• O valor é lançado em outras despesas operacionais (débito).

Essa segunda hipótese é válida para outros eventos que inutilizem o


equipamento (como um incêndio).

A amortização dos ativos intangíveis funciona de maneira semelhante à


depreciação:

Valor da amortização anual = Valor do ativo intangível


Vida útil

A amortização também tem dois efeitos: é lançada anualmente na


amortização acumulada e também como despesa (no caso de ser um
sistema administrativo, por exemplo) ou como custo, caso o ativo seja
usado na produção de algum bem, como seria o caso de uma reserva
mineral).

O comportamento desse ativo intangível com a amortização é muito


semelhante ao dos ativos imobilizados em relação à amortização.
Anualmente, o valor do Ativo intangível é reduzido pela Amortização
acumulada para se chegar ao Intangível líquido.

Tanto o processo de depreciação de um Imobilizado quanto a amortização


de um intangível acabam levando a um custo ou a uma despesa que não
representam uma saída de caixa no momento de seu lançamento.
Lembrando do que foi visto no cálculo do custo de produção: as matérias-

38
primas, a mão de obra e outros custos como energia foram pagos, mas o
custo da depreciação não saiu do caixa.

EBITDA

O EBTIDA é um dos indicadores mais procurados pelos investidores (mas


não é bem aceito pela contabilidade por não se tratar de fato de um valor
contábil). O EBTIDA mostra o lucro antes dos juros, impostos, depreciação
e amortização.

Como vimos ao estudar a Demonstração de resultado, podemos ter uma


série de Resultados parciais. Se quisermos, por exemplo, saber o lucro
antes dos impostos, basta pegar o lucro líquido e somar os impostos. Se
quisermos saber o lucro antes dos juros e dos impostos, basta somar o
lucro líquido e somar os impostos e as despesas financeiras (chegamos
assim ao Ebit, Earn Before Interest and taxes).

Se quisermos saber o Ebitda, então, basta somar o lucro líquido aos juros,
impostos, depreciação e amortização. Só que, como acabamos de ver, a
depreciação e a amortização podem aparecer nos custos ou nas despesas.
Então, é preciso primeiro localizar onde a depreciação foi lançada – e
depois somá-la de volta.

O Ebita é uma medida extracontábil. Veja um exemplo que demonstra o


que esse indicador representa. Suponha que um motorista de aplicativo
(como Uber, por exemplo) queira analisar quanto está ganhando ou
perdendo com a atividade. Para isso, ele averigua qual sua receita com as
corridas e seus gastos com combustível, impostos, multas, seguros,
manutenção e depreciação do veículo.

Vamos considerar que as receitas desse motorista sejam de 90.000 reais e


que seus custos, cheguem a 59.600 reais. Só que desse valor, a saída de
caixa efetiva foi de 51.600 reais, pois os 8.000 reais depreciação não
foram “pagos”. Há duas maneiras de calcular o fluxo de caixa desse
motorista. A primeira, direta, é pegar o valor das entradas (90.000) e
subtrair as saídas (51.600) – o que resultará em 38.400 reais. O outro

39
método, chamado de indireto, é somar o lucro operacional à depreciação
(30.400 + 8.000, cujo resultado será os mesmos 38.400 reais).

Nesse caso, o Ebitda corresponde ao fluxo de caixa. Nem sempre isso vai
acontecer. Em empresas um pouco mais complexas, nem todos as receitas
e despesas são à vista, como costuma acontecer com um motorista de
aplicativo. Mesmo assim, o Ebtida mostra um potencial de geração de
caixa – e essa é a sua importância.

PERDAS
Vamos combinar: perda não é uma coisa legal – e fica pior ainda quando
se é pego desprevenido. Por isso as empresas devem ter previsões sobre
suas perdas. Suponha que historicamente 2% dos clientes deixem de
pagar as contas por qualquer motivo que seja – cancelamento do cartão
de crédito, esquecimento do boleto, porque a pessoa perdeu o empregou.
Sabendo desse percentual, a empresa já vai considerar que não serão
pagos 2% das vendas a prazo num determinado período, já prevendo essa
inadimplência. A vantagem disso é não ser pego de surpresa. Vejamos de
forma simples como são feitos esses lançamentos e como eles afetam o
resultado.

40
A perda mais comum é a Perda com crédito, popularmente chamada de
PDD (Perda com Devedores Duvidosos). Essa expressão já não é mais
usada na teoria, mas continua sendo usado na prática – o termo correto é
Perdas com Crédito de Liquidação Duvidosa.

Veja abaixo um exemplo de uma empresa real (a Natura) sobre como essa
provisão aparece no balanço:

Ao prever uma perda, os seguintes efeitos são percebidos:

• Redução do valor de contas a receber, por meio da conta redutora


de ativo chamada Provisão para créditos de liquidação duvidosa” –
então o valor que aparece em contas a receber já estará deduzido
das perdas esperadas.

• Redução do resultado, por meio do lançamento de Despesas com


crédito de liquidação duvidosa em outras despesas.

Vamos ver um exemplo de como isso funciona na prática. Imagine que


uma empresa tenha vendido 150.000 reais, dos quais 50.000 a prazo, com
os seguintes dados:

Receita: 150.000 reais


Vendas a prazo: 50.000 reais
Inadimplência histórica: 4%
Custos dos bens vendidos: 80.000 reais.

Calculemos, então, a Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa


(PCLD):

41
PCLD = Inadimplência histórica x Vendas a prazo
PCLD = 4% x 50.000
PCLD = 2.000 reais.

Vamos montar a DRE:

Receita de vendas .................................. 150.000


- Custo dos bens vendidos ..................... -80.000
Resultado Bruto .................................. 70.000
- Despesas operacionais ........................ -40.000
- Outras despesas (PCLD) ...................... -2.000
Resultado antes das Rec. Fin. e Trib. ... 28.0000

Agora, o impacto da PCLD no ativo:

ATIVO
Contas a receber ............... 50.000
-PCLD ................................ -2.000
Contas a receber líq. ....... 48.000

Perceba que nesse caso, o valor líquido a receber já está deduzido da


expectativa de perdas com crédito.

O que acontece se a previsão de Perdas com Créditos de Liquidação


Duvidosa não se concretizar? Vamos ver:

1º caso – Perdas maiores do que o previsto.


Digamos que essas perdas sejam maiores, chegando a 4.500 reais, em vez
dos 2.000 reais previstos. Nessa situação, o que se faz é dar baixa das

42
perdas adicionais de 2.500 reais na conta contas a receber do ativo, e
lançar esse valor como outras despesas na DRE do exercício seguinte.

2º caso – Perdas menores do que o previsto.


Se a inadimplência for menor do que o esperado (1.000 reais, por
exemplo), o que se faz é lançar a diferença entre PCLD esperada e a
inadimplência efetivamente verificada no caixa (no caso, a diferença seria
de 1.000 reais). A contrapartida é o lançamento dos mesmos 1.000 reais
como outras receitas na DRE.

Além das perdas de crédito, podem existir perdas de estoques. Os


produtos e matérias-primas estocados por uma empresa podem estragar,
sair da validade ou perder a eficácia (pense nos alimentos de uma rede de
supermercados ou nos produtos químicos armazenados por uma
indústria, por exemplo). Varejistas podem sofrer furtos. Empresas de
vestuário podem se ver na necessidade de vender coleções passadas com
descontos (a famosa liquidação). Produtos eletroeletrônicos no estoque
de uma loja podem se tornar obsoletos. Todas essas perdas devem ser
previstas – e, da mesma forma que acontece com as PCLD, formar uma
provisão para perdas com base no histórico. Veja como essa provisão
apareceu no Relatório Anual da Natura em 2021:

O impacto nos ativos e no resultado será semelhante: há lançamentos


como Outras despesas quando as perdas superam a provisão ou como
Outras receitas quando o valor perdido é menor do que o esperado.

43
PARTICIPAÇÃO EM EMPRESAS
É muito comum encontrar companhias que sejam donas de outras
empresas ou nelas tenham uma participação (majoritária ou não). Vamos
ver como é o tratamento contábil de uma situação como essa:

• Para a empresa controladora, o valor investido – ou seja, o valor


das ações que essa companhia possui na controlada – é lançado na
conta de Investimentos.

• No balanço da controladora, os resultados obtidos pela controlada


são proporcionalmente lançados como receita de equivalência
patrimonial (no resultado) e como investimentos em controladas
(no ativo).

• Quando a controladora receber os dividendos da controlada, há


uma redução na sua conta de investimentos (porque um
determinado valor saiu dos investimentos e foi para o caixa).

O exemplo a seguir mostra detalhadamente como funciona contabilmente


essa relação entre controlada e controladora. Vamos supor duas
empresas:

EMPRESA A EMPRESA B
ATIVO PASSIVO ATIVO PASSIVO
Caixa ............. 300 Passivos ........ 400 Caixa .......... 100 Passivos ..... 200
Estoques ....... 100 C. receber ... 200
Imobilizado ... 600 Estoque ...... 300
Patr. Líq. ....... 600 Imobiliz. .... 100 Patr. Líq. ..... 500
Total: 1.000 Total: 1.000 Total: 700 Total: 700

Suponha que a Empresa A compre 30% do patrimônio líquido da Empresa


B (o equivalente a 150 reais, de acordo com os números do nosso
balanço). A Empresa A passa assim a ser a controladora. A Empresa B será
a controlada (não é necessário possuir mais de 50% das ações para ser a

44
controladora de outra empresa, basta ter a maior participação). Outro
ponto importante: ao comprar as ações de uma empresa, o que está
sendo adquirido é o patrimônio líquido.

Voltando aos balanços, vamos considerar que a compra de 30% foi paga à
vista, saindo do caixa da Empresa A – a participação adquirida será
lançada na conta investimentos, no ativo:

EMPRESA A (CONTROLADORA) EMPRESA B (CONTROLADA)


ATIVO PASSIVO ATIVO PASSIVO
Caixa ............. 150 Passivos ........ 400 Caixa .......... 100 Passivos .... 200
Estoques ....... 100 C. receber ... 200
Imobilizado ... 600 Estoque ...... 300
Invest ............ 150
Patr. Líq. ....... 600 Imobiliz. .... 100 Patr. Líq. ..... 500
Total: 1.000 Total: 1.000 Total: 700 Total: 700

Os balanços acima são individuais – um para a controladora e outro para a


controlada. Podemos, também, apresentar um balanço consolidado.
Ficaria assim:

BALANÇO CONSOLIDADO
ATIVO PASSIVO
Caixa ................................................. 250 Passivo ......................................... 600
Contas a receber ................................ 200
Estoques ............................................. 400
Imobilizado ........................................ 700
Patrimônio líquido:
Controladora................................ 600
Part. de outros acionistas na
controlada ....................................350
Ativo total: 1.550 Passivo total: 1.550

45
Alguns comentários:
• Para compor o balanço consolidado, somamos as contas do ativo e
do passivo da controlada e da controladora (menos a conta
investimento com a participação da controlada possuída pela
controladora).

• A participação da controladora no patrimônio líquido da controlada


também já está contemplada no seu capital social – o que deve ser
acrescentado no PL do balanço consolidado é a participação dos
acionistas não controladores na empresa controlada.

Vamos supor agora que a empresa controlada tenha tido um lucro de 400
reais. O que acontece com o balanço individual da controladora?

Resposta: Como a participação é de 30%, 120 reais será o total da Receita


de equivalência patrimonial atribuídos à controladora. Esse valor será
somado à conta de investimentos, com uma contrapartida no patrimônio
líquido, que também aumenta. Vejam que há crescimento tanto no ativo
quanto no passivo:

Lucro da Empresa B (controlada): 400 reais

Receita de equivalência patrimonial da Empresa A (Controladora): 30% x


400 = 120 reais.

ATIVO PASSIVO
Caixa ............. 150 Passivos ........ 400
Estoques ........
100
O investimento Imobilizado ... 600
aumenta
em 120 reais Invest ............ 270
O PL aumenta
Patr. Líq. ....... 720
em 120 reais
Total: 1.120 Total: 1.120

46
E se parte do lucro da controlada tiver sido distribuída entre os acionistas?
Nesse caso, ocorrem algumas diferenças: a parcela dos lucros distribuída é
lançada no caixa da controladora – somente a parcela não distribuída é
que aumentará os investimentos. Veja, por exemplo, o que acontece se
50% dos lucros da Empresa B forem distribuídos aos acionistas:

Lucro da Empresa B (controlada): 400 reais

Parcela de lucros distribuída à Empresa A (controladora): (50% x 400) x


30% = 60 reais.

Receita de equivalência patrimonial da Empresa A (controladora): (50% x


400) x 30% = 60 reais.

ATIVO PASSIVO
O caixa aumenta Caixa ............. 210 Passivos ........ 400
em 60 reais (lucro
Estoques ........
distribuído)
100
Imobilizado ... 600
O investimento Invest ............ 210
aumenta em 60 O PL aumenta
reais (Receita de Patr. Líq. ....... 720 em 120 reais
Equival. Patrim. Total: 1.120 Total: 1.120

As demonstrações financeiras padronizadas da Natura trazem bons


exemplos de como esses assuntos dos quais estamos falando aparecem na
prática no balanço de uma empresa. A grande participação da
controladora em outras empresas (como Avon e The Body Shop) aparece
na conta Investimentos. Note que no balanço consolidado não aparecem
esses valores, mas outros itens (Intangível, Imobilizado e Direitos de uso).

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O próximo exemplo mostra como a participação dos acionistas não
controladores aparece no balanço consolidado.

48
A imagem a seguir mostra como o Resultado da equivalência patrimonial
aparece na demonstração de resultado. Veja que o resultado das
empresas controladas pela Natura foi negativo em 2020 e positivo em
2021. Outro aspecto interessante: a controladora Natura não é
operacional – é o que chamamos de holding não operacional, cuja função
é controlar outras empresas, tanto que o único item da sua demonstração
são as despesas administrativas (não há nenhuma outra receita ou
despesa, que só vão aparecer na demonstração consolidada).

A próxima imagem mostra a evolução da conta de investimentos, com a


participação percentual da controladora no patrimônio líquido das
controladas, o lucro líquido do período e outros eventos. Dá para ver que
uma parte do lucro que poderia ser incorporado ao valor do investimento
acabou sendo distribuído, em alguns casos, como dividendo.

49
IRFS 16 - ARRENDAMENTO
Quem fez faculdade de administração, contabilidade ou economia há
algum tempo deve ter visto que um imóvel alugado não faz parte do ativo
de uma empresa. Continua sendo assim, mas uma coisa mudou: agora o
valor total do contrato de aluguel é lançado como ativo como Direito de
uso, com a contrapartida de um lançamento no Passivo também como
direito de uso. No decorrer do contrato, as prestações são deduzidas tanto
do valor do ativo quanto do passivo.

Trata-se de uma mudança recente, de 2019, quando entrou em vigor o


IFRS 16, adequado no Brasil pelo CPC 06, que diz respeito aos

50
arrendamentos. A mudança veio para contemplar as obrigações
decorrentes dos contratos de aluguel e arrendamentos, que não são
temporárias ou eventuais, mas de longo prazo (a manutenção das
atividades da empresa depende da manutenção desses contratos).

Vejamos como funciona. Considere que uma empresa tenha um contrato


de aluguel de um ponto comercial de 100.000 reais por mês, com vigência
de 60 meses (vamos simplificar o exemplo, sem taxas, ajuste a valor
presente e outros detalhes que ocorrem na prática):

Contrato de aluguel: 100.000 reais.

Vigência: 60 meses.

Total do contrato: 6.000.000 de reais.

No ato da assinatura, o registro no balanço da empresa é o seguinte:


6.000.000 de reais na conta direito de uso da empresa, que é uma conta
de ativo não circulante (mais precisamente um ativo intangível);
1.200.000 no passivo circulante (correspondente ao valor dos aluguéis a
vencer nos 12 meses seguintes), e 4.800.000 reais no passivo não
circulante (os aluguéis a vencer nos 48 meses subsequentes).

NO ATO DA ASSINATURA DO CONTRATO


ATIVO PASSIVO
Passivo Circulante
Passivo Direito de Uso ........... 1.200.000

Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante


Ativo Direito de uso ................ 6.000.000 Passivo Direito de Uso ............ 4.800.000

51
Após a assinatura do contrato, o contrato de aluguel entra em vigência. A
cada mês, o lançamento inicial é o pagamento desse valor:

Despesa vencimento de aluguel ... 100.000 reais (-) DRE


Pagto de aluguel saída de caixa .... 100.000 reais (-) Caixa

Além disso, outro lançamento deve ser feito para amortizar os Direitos de
uso:

Amortização acumulada Ativo Direitos de uso ... 100.000 reais (-) Ativo
Passivo Direito de uso ......................................... 100.000 reais (-) Passivo

O balanço da empresa fica assim:

APÓS O 1º MÊS DE VIGÊNCIA DO CONTRATO


ATIVO PASSIVO
Passivo Circulante
Passivo Direito de Uso ........... 1.100.000
Ativo Não Circulante
Ativo Direito de uso ................ 6.000.000 Passivo Não Circulante
(-) Amortização acumulada ...... -100.000 Passivo Direito de Uso ............ 4.800.000

As Demonstrações Financeiras Padronizadas da rede de varejo Renner são


um exemplo de como essas contas aparecem no balanço de uma empresa
real. Veja na figura abaixo, na coluna do consolidado, a movimentação do
Direito de uso no ativo (nesse caso, em vez de amortização, a expressão
usada é depreciação do direito de uso – no fim do período o saldo acabou
crescendo porque foram entrando outros contratos de aluguel ao longo
do ano).

52
Do lado do passivo, as contraprestações representam os pagamentos dos
aluguéis, como se pode ver abaixo:

Esse tema é novo e, para as empresas, ainda causa algumas dificuldades e


dúvidas. O importante é entender que algumas empresas, como as redes
de varejo, tendem a ter muitos ativos com essa característica, cuja
avaliação exige uma leitura mais aguçada.

53
DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA
A Demonstração dos Fluxos de Caixa passou a compor o conjunto de
demonstrações obrigatórias após a reformulação da lei das SAs em 2007,
o que foi oficializado em 2009 quando os padrões internacionais para os
relatórios contábeis entraram em vigor no Brasil.

A Demonstração dos Fluxos de Caixa tem o propósito de indicar as


atividades que geraram caixa (as origens) e as que consumiram caixa (os
destinos). Essas atividades são separadas em três grupos: operações,
investimento e financiamento.

O fluxo de caixa operacional é o caixa líquido das atividades recorrentes,


das atividades operacionais. Em seguida, temos o fluxo de caixa de
investimento, que vai mostrar as atividades referentes à aquisição de
ativos que podem ser classificados como “permanentes” (imobilizados,
ativos intangíveis e investimentos, por exemplo). É bom lembrar que
nesse caso são considerados também os fluxos decorrentes da venda
desses ativos – a entrada de recursos pela venda de um imóvel por
exemplo. O terceiro fluxo é o de financiamento, que vai demonstrar os
recursos decorrentes da entrada oriunda de credores, como um
empréstimo bancário e os recursos obtidos com a emissão de ações (da
mesma forma, esse fluxo demonstra as saídas decorrentes das despesas
com juros, amortização de dívidas, e pagamento de juros sobre o capital
aos sócios ou acionistas).

54
No final das contas a soma desses três itens será a variação do caixa num
determinado período, demonstrando as atividades que geraram ou
consumiram caixa de forma mais detalhada do que a diferença de saldos
no balanço patrimonial. É de esperar que as operações de uma empresa
gerem caixa. Uma variação positiva que só tenha ocorrido pela entrada de
recursos de um empréstimo ou da emissão de ações, por exemplo, pode
não estar necessariamente associada a um bom desempenho ou a um
crescimento saudável.

Vejamos mais detalhadamente a estrutura da DFC. O fluxo de caixa


operacional é construído com base numa lógica que pode parecer
estranha à primeira vista, por utilizar o método indireto. O método direto
é mais simples de entender e seria construído da seguinte forma:

Saldo de
Caixa Entradas Saídas
+ - = Caixa no Fim
Inicial de Caixa de Caixa
do Período

O método indireto, por sua vez, parte do lucro para chegar ao fluxo de
caixa operacional. Para isso serão somadas ou subtraídas:

• as movimentações que afetaram o resultado, mas não o caixa


operacional.

• as movimentações que não afetaram o resultado, mas afetaram o


caixa operacional.

Para construir a Demonstração do Fluxo de Caixa, cada um dos blocos de


atividades é calculado separadamente – o fluxo de caixa operacional, o
fluxo de caixa de investimentos e o fluxo de caixa de financiamentos. A
soma desses três blocos mostrará a variação do caixa.

Inicialmente, construímos o que é chamado de Fluxo de Caixa Operacional


Restrito (FCOR). O lucro é o ponto de partida. A ele, somam-se os itens

55
que afetaram o resultado, mas não o caixa. É o caso das despesas de
depreciação e de amortização, que foram deduzidas do resultado, mas
não saíram do caixa. O resultado financeiro também é somado (se tiver
sido negativo) ou subtraído (se tiver sido positivo). Perceba que o
lançamento será com o sinal oposto ao desse resultado financeiro. Outra
coisa a ser feita é o lançamento de outros itens que afetam o resultado,
mas não o caixa, como o resultado da equivalência patrimonial.

O próximo passo é fazer o ajuste referente aos itens que afetaram o caixa,
mas não o resultado – são as variações nos ativos e passivos. É o caso do
aumento de estoques pago com recursos do caixa (o que deve ser
subtraído). Outro exemplo: um aumento de fornecedores a pagar, que
representa alguma coisa que você ainda não foi pago, mas que por
enquanto pode ter um efeito positivo no caixa (então esse valor é
somado). O mesmo ajuste é feito com uma série de outros itens (passivos
e ativos de curto e longo prazo)

+ depreciação/ - Aumento de estoques


amortização + Aumento de
+/- resultado financeiro fornecedores
+/- outros +/- outros
↑ ↑
Fluxo de
Itens que afetaram o Afetaram o caixa, mas não
Lucro caixa
resultado, mas não o caixa o resultado
operacional
FCOR FCO

O item seguinte é o fluxo de caixa de investimentos. As aquisições de


ativos representam um consumo de caixa, portanto são lançadas com
sinal negativo. As vendas e alienações de ativos ou investimentos (como o
resgate de um investimento representam entradas de caixa e são
consideradas com sinal positivo.

56
O terceiro bloco é o fluxo de caixa de financiamento ou fluxo de caixa
financeiro. Nele, são lançados com sinal positivo a captação de novos
empréstimos e o aumento de capital social. Os pagamentos que
representam saídas de caixa – como pagamento de dividendos, juros
sobre capital próprio, empréstimos e a recompra de ações – são lançados
com sinal negativo.

Existe ainda um quarto item: o fluxo de caixa decorrente da variação


cambial. Não há exatamente uma entrada ou saída de caixa, mas uma
variação do saldo de caixa em função da variação cambial. Suponha que
uma empresa tenha uma subsidiária nos Estados Unidos. Imagine que em
dado momento essa subsidiária tivesse 1 milhão de dólares na conta
corrente. Ao final de um ano, a variação cambial alterou o valor em reais
desse 1 milhão de dólares. Essa mudança positiva ou negativa que foi
provocada pela oscilação da taxa de câmbio precisa ser registrada em
moeda local nas demonstrações da empresa.

A soma dos resultados de A (fluxo de caixa operacional), B (fluxo de caixa


de investimentos), C (fluxo de caixa de financiamento) e D (fluxo de caixa
da variação cambial) vai representar o aumento ou a redução do fluxo de
caixa.

57
EXEMPLO PRÁTICO

Vamos ver um exemplo para ajudar a compreender melhor como a


Demonstração do Fluxo de Caixa. Para isso, usaremos uma planilha
bastante simplificada – evidentemente, para uma empresa grande, todo
esse processo seria bem mais difícil. Temos abaixo o Balanço Patrimonial
de uma empresa, a Demonstração do Resultados do Exercício e, partir
dessa informação, montaremos a Demonstração do Fluxo de Caixa.

Vamos ver passo a passo a montagem da DFC:

(1) Preenchemos a primeira linha com o Resultado líquido do exercício:


195 mil reais.

(2) O resultado líquido foi influenciado pela Depreciação, que o reduziu


em 100 mil reais. Como essa depreciação não consumiu caixa, vamos

58
somar o valor de volta, preenchendo a segunda linha com o sinal trocado,
o que é igual a 100 mil reais positivos.

(3) Na DRE, as Despesas financeiras também foram subtraídas para


chegar ao Resultado líquido. São despesas que não competem à operação.
Então vamos lançá-las na sua linha da DFC também com sinal trocado, o
que é igual a 90 mil reais positivos.

(4) O resultado na DRE também foi afetado pelo Resultado com


equivalência patrimonial, que foi positivo. À primeira vista, não sabemos
se esse dinheiro entrou no Caixa. No entanto, que como o nosso exemplo
é bem simplificado, percebemos que a conta Investimentos do balanço
patrimonial aumentou justamente em 40 mil reais de um ano para o
outro. Deduzimos então que esses recursos não entraram no caixa. Por
isso, lançamos com sinal trocado na DFC: -40 mil reais.

(5) Ajustando o Resultado líquido com esses três itens (Depreciação,


Despesas Financeiras e Resultado da equivalência patrimonial) nos dá o
Fluxo de Caixa Operacional Restrito: 345 mil reais.

O próximo passo é fazer o ajuste da variação dos ativos e passivos para


chegar ao Fluxo de Caixa da Operação. Vamos em frente:

(6) Olhando a coluna do Ativo no balanço patrimonial, vemos que o saldo


de Contas a receber passou de 400 mil para 500 mil reais de um ano para
o outro. saldo aumentou imagina que eu tivesse lá uma pilha de valores a
receber. A variação foi, portanto, de 100 mil reais. Se está em Contas a
receber, é um dinheiro que não entrou no caixa – e por isso o lançamento
na DFC será com o sinal trocado: -100 mil,

(7) A conta Estoques, também no Ativo, aumentou de 500 mil para 610
mil. O aumento de estoques representa um consumo de caixa. Logo, a
variação de um ano para o outro é lançada na DFC com sinal oposto: -110
mil.

(8) A conta Fornecedores a pagar, na coluna do Passivo do balanço


patrimonial, passou de 300 mil para 360 mil reais de um ano para o outro.

59
agora. São recursos que ainda não saíram do caixa, ou não consumiram
caixa. Por isso, são lançados com sinal positivo na DFC: +60 mil reais.

(9) A variação da conta Salários, no passivo, foi de 100 mil para 120 mil
reais. Como essa conta mostra salários que ainda não foram pagos, seu
aumento gera um efeito positivo no caixa: +20 mil reais.

(10) Ajustando os 345 mil reais que encontramos como FCOR às variações
dos ativos e passivos, chegamos ao Fluxo de Caixa Operacional (FCO): 215
mil reais.

Próximo passo: Fluxo de Caixa de Investimentos.

(11) A variação da conta Investimentos no Ativo foi de 40 mil reais. Vimos


que esse aumento se deveu ao Resultado da equivalência patrimonial e,
portanto, a empresa não adquiriu novas participações (de novo,
conseguimos fazer essa dedução por ser o nosso exemplo bastante
simplificado – em casos reais, seria preciso mais informações para montar
corretamente a DFC). A conta Imobilizados, porém, mostra um aumento
de 300 mil reais. A aquisição de ativos imobilizados consome caixa – a
variação, portanto, é lançada com sinal negativo: -300 mil reais.

(12) Esses 300 mil reais negativos compõem, no nosso exemplo, o Fluxo
de Caixa das Atividades de Investimento (FCI).

A etapa seguinte é calcular o Fluxo de Caixa das Atividades de


Financiamento.

(13) Houve de um ano para o outro uma variação total de 120 mil reais
nas contas de Empréstimos do passivo (100 mil passivo não circulante e
20 mil no passivo circulante). Essa variação positiva nos Empréstimos gera
um efeito positivo no caixa – haverá um efeito negativo mais tarde,
quando esses empréstimos forem pagos, mas por enquanto a variação
deve ser lançada com sinal positivo na DFC: 120 mil reais.

(14) A empresa pagou 90 mil reais de Juros, correspondendo às Despesas


financeiras. É um valor que saiu do caixa e, portanto, deve ser lançado
com sinal negativo: -90 mil reais.

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(15) O Capital Social aumentou de 1.300 mil para 1.500 mil reais. O
aumento gera caixa, pois representa recursos aportados pelos sócios. Por
isso, a variação é lançada com sinal positivo na DFC: 200 mil reais.

(16) Vamos lembrar que o lucro/resultado líquido dessa empresa foi de


195 mil reais, que podem ser destinados para Reserva de lucros ou para o
Pagamento de dividendos. No balanço patrimonial, vemos um aumento
de 130 mil reais na Reserva de lucros, que passou de 120 mil para 250 mil
reais. Significa que os 65 mil restantes foram distribuídos como
Dividendos (com sinal negativo, uma vez que esse valor saiu do caixa): 65
mil reais.

(17) Fazendo os ajustes de Variação dos Empréstimos, Pagamento de


juros, Aumento de Capital e Pagamento de dividendos, encontramos um
Fluxo de Caixa de Financiamentos (FCF) de 165 mil reais.

(18) Por fim, vamos encontrar a variação de caixa total, somando o FCO, o
FCI e o FCF. O resultado dá 80 mil reais. Se olharmos a variação da conta
Caixa encontraremos exatamente essa diferença, com um aumento de
100 mil para 180 mil reais de um ano para o outro.

DRA E DVA
Para concluir a disciplina de Contabilidade Gerencial, vamos tratar de duas
demonstrações pouco comentadas: a Demonstração do Resultado
Abrangente e a Demonstração do Valor Adicionado.

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO ABRANGENTE

A DRA identifica todas as mutações do patrimônio líquido. Como você


sabe, o PL reflete o patrimônio dos sócios, e essas modificações
acontecem em função de eventos relacionados aos resultados da
empresa.

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O lucro líquido é um dos eventos que pode modificar o PL, mas há outros,
como as transações entre os sócios e a emissão de ações. Alguns
exemplos de outros resultados abrangentes que modificam o patrimônio
líquido são, por exemplo, os ganhos e perdas decorrentes da valorização
ou da desvalorização de ativos avaliados ao valor justo. Suponha que a
empresa tenha um ativo biológico (uma plantação ou um rebanho de
gado). De um período para outro, esses ativos biológicos podem se
valorizar, gerando um resultado. Outra situação: a empresa pode deter
ações de outas companhias – no caso de a empresa não ser a
controladora, esses ativos serão avaliados ao valor justo. Essas variações
terão impacto no resultado abrangente. São itens que tradicionalmente
não apareceriam da DRE, mas vão ser apresentados na DRA.

Outros itens que aparecem na Demonstração de Resultado Abrangente


são receitas ou despesas que não são lançados na DRE, como ajustes de
estimativas em perdas atuariais. Pense, por exemplo, uma seguradora que
tenha uma expectativa de perdas com o pagamento de sinistros aos seus
segurados. Num determinado período, o pagamento de sinistros excede o
valor projetado. Essa diferença é lançada na DRA. Outro exemplo são as
variações de hedge. Imagine a empresa que use derivativos e outros
instrumentos financeiros para se proteger da variação cambial ou dos
preços de commodities. Quando há uma variação nessas posições de
hedge devido às mudanças das condições de risco do mercado, os ganhos
ou perdas são lançados na DRA.

Perceba que há uma grande variedade de itens que podem afetar o


resultado abrangente, mas que não aparecem na DRE. O que se faz, então,
é somar esses itens ao lucro líquido para compor o resultado abrangente.
Ou seja: o lucro líquido somado aos ganhos e perdas não realizados (que
não se transformaram em caixa) e aos outros resultados abrangentes
compõem o resultado abrangente.

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Vejamos a Demonstração do Resultado Abrangente da Natura. A empresa
teve um lucro líquido em 2021, do qual foram subtraídos alguns itens
como Conversão das demonstrações de controladas no exterior e Efeito
cambial. No ano anterior ocorreu o oposto: houve um prejuízo líquido no
período, mas esses outros itens deram resultado positivo. Assim, o
resultado abrangente de 2020 foi um pouco maior do que o lucro, e em
2021, foi bem maior do que o prejuízo. Percebemos que houve de certa
forma uma compensação do prejuízo pelos resultados abrangentes.

DEMONSTRAÇÃO DE VALOR ADICIONADO.

O propósito dessa demonstração é um pouco diferente da DRA. O que ela


demonstra é o valor gerado pela empresa. Valor, do ponto de vista
econômico, é a diferença entre o que a empresa produziu e o esforço para
produzir. Exemplo: a empresa produz um veículo de valor de venda de 200
mil reais, no qual gasta 150 mil na produção. Essa diferença de 50 mil
entre o gasto pra produzir e o valor que é obtido pela produção é o valor
adicionado. Do ponto de vista econômico, uma empresa adiciona valor no
momento em que compra os recursos ou contrata pessoas e vende os

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bens e serviços por um valor maior. A Demonstração de Valor Adicionado
apresenta esse valor e mostra como se dá sua distribuição.

Vejamos como funciona a estrutura da DVA. O Valor Adicionado Produzido


é apurado subtraindo da receita tudo o que foi gasto na produção –
perdas com crédito, custo de matéria-prima, perdas nos ativos,
depreciação e amortização. Note que ainda não está contemplada a mão
de obra, mas apenas os itens que a empresa adquiriu. A esse Valor
Adicionado, ainda é somado ou subtraído equivalência patrimonial e as
receitas financeiras para se chegar ao Valor Recebido em Transferência.

Somando o Valor Adicionado produzido pela própria empresa ao Valor


Recebido em Transferência, encontra-se o total do Valor Adicionado – cuja
distribuição será apresentada pela DVA.

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Veja que o valor adicionado é distribuído entre o pessoal (salários,
encargos e benefícios), governo (impostos, taxas e contribuições), e em
remuneração ao capital de terceiros (credores, investidores, na forma de
pagamento de juros e aluguéis, além da remuneração dos sócios).

Mais uma vez, vamos olhar a Demonstração de Valor Adicionado da


Natura. Ela traz as receitas geradas pela empresa, menos as perdas e
outras despesas operacionais. O resultado é o Valor Adicionado Bruto, do
qual são subtraídos a depreciação e amortização, resultando no Valor
Adicionado produzido pela empresa. Em seguida, como se pode ver na
figura abaixo, soma-se o Valor Recebido de Transferência (veja que em
2021 a Natura não recebeu, mas pagou Valor de Transferência, porque as
controladas tiveram prejuízo). Na sequência vêm as receitas financeiras,
inclusive com a variação cambial, e o total do valor adicionado a distribuir
entre pessoal, impostos, despesas financeiras, prejuízos acumulados num
ano e lucros retidos no outro.

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CONCLUSÃO
Sobretudo em Contabilidade, é importante se aprofundar na prática e na
teoria para fixar os conhecimentos. Consulte, por exemplo, as
demonstrações financeiras das empresas. Assim, é possível avançar na
compreensão plena e na utilização dos conhecimentos dessa disciplina na
vida real.

Apostila atualizada em 06/12/2022

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