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Fichamento/resenha do filme "Que horas ela volta?

"
Texto bibliográfico "Outsiders, a sociologia do desvio" de Howard S. Becker

Universidade Federal Fluminense


Ana Clara Dias Barreto Lopes

15/06/2034

O Filme que horas ela volta, conta a história da Val interpretada pela Regina
Casé, uma empregada doméstica nordestina que se muda para São Paulo e trabalha
para uma família de classe alta e tem como sua principal tarefa cuidar do Fabinho,
filho dos seus patrões Bárbara e Carlos. A história se desenvolve no momento em que
a filha da Val, a Jéssica, se decide ir ficar com sua mãe em São Paulo para prestar
vestibular e lá se depara com o estilo de vida que sua mãe leva como empregada
doméstica. A Val mora na casa dos patrões e apesar dos seu chefes se referir a Val
como um membro da família e receber inicialmente bem a sua filha, a Jéssica ao
chegar naquela realidade onde sua mãe vive, ela começa a questionar e confrontar a
realidade que está sendo imposta naquele ambiente, com isso ocorre vários conflitos
entre a Val, sua filha e os seus patrões em que em cada momento é possível ver a
divisão social como pilar desses conflitos.

O primeiro conflito acontece no momento em que a Jéssica chega na casa dos


patrões da sua mãe e é suposto que ela ficaria no mesmo quarto que sua mãe no
entanto ao chegar no quarto que sua mãe habita ela questiona o porquê da sua mãe
que é funcionária há vários anos daquela família e é considerada como é dito várias
vezes pela sua patroa Bárbara uma “integrante da família” o porquê dela morar num
quartinho apertado nos fundos da casa sendo que existe vários quartos de hóspedes
grandes e desocupados. O Carlos Ao escutar isso oferece um quarto de hóspedes
para a filha da Jéssica ficar e a Bárbara por sua vez, não gosta muito dessa decisão
pois é fora do convencional que a filha da empregada está no mesmo ambiente que os
patrões, vemos aí o estabelecimento de um regra não dita, da relação entre
empregados e chefes.
O filme aborda várias camadas da desigualdade social, ele mostra os muros
que existem nessas relações entre empregados e patrões, pobres e ricos, homens e
mulheres, maternidade e educação. É possível ver como existe preceitos estruturados
na nossa sociedade a partir do momento em que a Jéssica chega na casa dos patrões
da Val. O filme nos faz refletir sobre como muitas das expressões dessas divisões
sociais foram normalizadas, como é a relação de maternidade, quando se está em
uma posição privilegiada como a Bárbara de estar com o filho enquanto muitas mães
pobres tem que deixá-los para trabalhar e conseguir se sustentar e sustentar sua
casa, assim como a Val teve que fazer. E como a sociedade naturalizou isso,
naturalizou o fato de que um homem se sente em um lugar tão majoritário que acha
que pode ter uma mulher a força, assim como aconteceu em uma das cenas em que o
Carlos depois de ter levado a Jennifer em um passeio, assedia sexualmente ela como
se isso de alguma forma fosse um “direito” dele

Uma das cenas mais emblemáticas do filme, é a cena em que a Val entra na
piscina da casa dos seus patrões, após sua filha passar no vestibular é como se isso
simbolicamente significasse de que pode haver um mais, além daqueles estabelecidos
pela sociedade. Logo depois disso a Val pede demissão e decide viver realmente a
sua vida em função dela mesma e de sua família. Cuidar da sua filha, e não mais a o
filho de seus patrões, finalmente usufruir de todos os utensílios e móveis que comprou
mas que ficaram presos assim como ela durante todo tempo em que trabalhou para
aquela família. E a filha da empregada em um desfecho emocionante não segue pelos
mesmo caminhos que a mãe havia se deparado.

O livro "Outsiders" de Howard S. Becker se relaciona muito bem com a história


do filme, os Outsiders são aqueles que são rotulados como "desviantes" pessoas que
estão fora dos limites e padrões socialmente estabelecidos por um grupo social de
maior influência e poder. A personagem Jessica pode ser considerada uma desviante,
podemos ver no filme que sempre houve um pré julgamento estabelecido sobre o
lugar onde ela deveria pertencer, um censo comum entre o chefes da Val de que
aquela garota, filha de uma empregada também deveria seguir pelos mesmos
caminhos passos da Val.

Uma das cenas onde a gente pode ver isso é quando a Jéssica diz que vai
prestar vestibular para uma faculdade bastante concorrida e os chefes da Val não
acreditam nisso ou não esperam que ela passe porque eles têm um pré julgamento
estabelecido de que uma mulher nordestina, não branca, filha de empregada
doméstica não pertence à aquele lugar não pertence aquele tipo de ensino, que só
quem pertence são pessoas como Fabinho, pessoas de classe mais alta, da elite,
porque existe esse senso comum entre eles de que essa deveria ser a linha a ser
seguida.

No entanto quando a Jéssica entra nesse cenário do qual se é esperado que


ela não pertença ela quebra esse paradigma se tornando uma “desviante”, sendo até
chamada pela mãe de metida porque a Val tem uma consciência de que aquele ali
também não é o lugar dela, de que pessoas como ela não ocupam os mesmos
espaços que os patrões dela ocupam. tem ali uma subconsciência de que ela não
pode se sentar na mesma mesa dos patrões de que ela deve morar no quartinho dos
fundos de que ela não deve usufruir da mesma piscina dos seus “superiores”.

Também é possível ver esse mesmo padrão estabelecido para a Val


novamente em outros momentos. O que se é esperado, o que é determinado por esse
grupo social de maior poder no caso os chefes da Val é de que uma empregada tem
que estar ali para servir a todo momento tanto é que a Val mora junto com os patrões
o que coloca ela numa situação de subordinada em um trabalho integral quase
análogo a escravidão, tanto é que, a partir do momento em que a Val pede demissão a
sua patroa Bárbara ainda tenta fazer ela ficar porque tem um pensamento
estabelecido socialmente de que o lugar da Val ainda é para servir a sua família, ainda
é um lugar de inferiorizarão.

Para concluir, a cena do começo do filme a gente vê a Bárbara dando uma


bronca na Val por ter tirado um jogo de xícaras do seu devido lugar, esse jogo de
xícaras era composto por xícaras brancas e pretas e a Bárbara instrui a Val a fazer o
“certo” colocar as peças brancas nas brancas e as pretas nas pretas. no final do filme
a Val pega esse jogo de xícaras e coloca as peças brancas no lugar das pretas e as
pretas no lugar das brancas em que podemos fazer uma alusão perfeita a justamente
o que o livro fala sobre o desvio e essas quebras de paradigmas de que “o branco
pertence ao lugar branco e o preto ao lugar preto”.

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