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Dona Raquel sempre foi dona de casa. Casada, um casal de filhos, só com o
curso primário e uma vida econômica bastante difícil. O marido trabalha como porteiro
em um prédio até às 14 horas e, muitas vezes, antes de ir para casa, passa no bar da
esquina. Ele, nessas ocasiões, chega bêbado em casa, para a hora do jantar.
Dona Raquel também teve uma infância complicada: um pai autoritário que
achava que “lugar de mulher era dentro de casa”. Assim, cada vez que ela ousava pedir
a ele para sair, ele a esbofeteava e a insultava. Seus irmãos, homens, podiam pedir para
sair e eram logo atendidos pelo pai.
Mesmo se ela saísse até a padaria (por ex., enquanto o pai não estivesse em
casa), ao voltar, ela logo ia se sentar no sofá, próximo da hora de sua chegada, para que
ele não brigasse com ela. Além disso, ela ficava bordando panos de pratos para serem
vendidos e isso dava grande satisfação ao pai, que a elogiava muito quando a via
fazendo isso.
Abandonou os estudos na 4ª série. No início, quando ela tinha sete anos e estava
na 1ª série pedia auxílio aos irmãos para fazer as tarefas e eles ajudavam. Já na 4ª série
se pedisse colaboração deles, eles se recusavam terminantemente, ignorando-a a maior
parte do tempo. Quando seu pai a via pedir ajuda, ele ainda berrava frases do tipo: “Eu
tenho razão: mulher não é para estudar, elas são mesmo umas burras, devem ficar em
casa”, etc.
Sua história não continuou muito feliz: executava sempre todos os afazes
domésticos de modo adequado durante o dia e quando seu marido chegava bêbado em
casa, lhe batia. Com o tempo, ela foi deixando de fazer seus afazeres domésticos tão
caprichosamente como antes. Ela também tentava dialogar com o marido nessas
ocasiões, mas ele a surrava ainda mais. Ela já desistiu de falar qualquer coisa nessas
horas.
Um outro problema está ocorrendo com Dona Raquel: assim que o marido e/ou
os filhos chegam em casa, ela começa a se queixar de dores de cabeça, nas pernas, diz
que vai desmaiar, etc. De certo modo, todos acabam lhe dando uma certa atenção e a
filha, se está próximo da hora do jantar, pede que ela se deite no sofá e serve o jantar
para a família.
Ela afirma que gostaria de se separar do marido. Não o faz e acaba cumprindo
todas as suas determinações, dispensando-lhe um tratamento até carinhoso, para evitar
que ele lhe bata. Ela não conversa com os filhos sobre a separação, só fala de assuntos
banais diários. Isso evita que a critiquem por continuar “com essa vida”.
Além disso, ela acaba fazendo coisas para o marido, que aparentemente
criticaríamos: ele chega já gritando em casa e pedindo para ela lhe servir “uma pinga”.
O que ela faz? Ela acaba servindo-lhe a pinga e deixando a garrafa (que ela havia
escondido) sobre a mesa. Com isso, ele para de gritar e de ameaçá-la de surra.
Ao mesmo tempo, nessas ocasiões, frente aos gritos e ameaças do marido
bêbado, Dona Raquel sente seu coração disparar, começa a tremer e a suar. Ela relata
que tem a sensação de que vai morrer.
SRC
S:o próprio pai
R: o pedido da saída de casa
C: insultos e bofetadas na pequena Raquel
e) Além disso, para esse mesmo comportamento (pedir ajuda para os deveres
de casa), quais as consequências oferecidas pelo pai? Qual o efeito delas
sobre a frequência dessa resposta? Qual o procedimento que controlava
essa resposta?
Momento 2.
O que você fez em relação ao caso acima foi uma ANÁLISE FUNCIONAL, ou seja,
você identificou as variáveis das quais os comportamentos são função. Ao fazer assim,
identifica-se a contingência de três termos (a Tríplice Contingência = S antecedente, a
Resposta e o S consequente) e torna-se mais viável uma intervenção a fim de se
produzir mudanças necessárias nesses comportamentos.