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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CURSO EM GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA, CAMPUS DE MIRACEMA

Disciplina: Psicologia do Trabalho II


Docente: Prof. Dr. Eduardo Breno Nascimento Bezerra
Discentes: Sarah Roberta Guimarães Sales, Mirian Carneiro Brito e
Sophia Calixta Cardoso Vieira

Análise do filme: “Que horas ela volta?”


O filme “Que horas ela volta?” retrata a história de Val, uma empregada doméstica
que vive em função do seu trabalho, como a mesma diz “eu moro no meu serviço” e exerce
tarefas que vão muito além de sua responsabilidade, tendo que abdicar da sua família e dos
prazeres de se viver para dar melhores condições para a sua filha, a qual ela não via há mais
de 10 anos. A obra cinematográfica demonstra fielmente como ocorre esse processo da
normalização da inferioridade da empregada doméstica em relação aos seus patrões e como
esse trabalho ainda é muito pouco valorizado nesse país.
No que diz respeito ao processo de avaliação de desempenho, em qualquer área de
trabalho é comprovado que esses dados de desempenho podem beneficiar tanto os
funcionários quanto as organizações. Nesse viés, para que os funcionários se aprimorem e
mantenham o desempenho e habilidades no trabalho, eles precisam receber feedback de seus
supervisores. Sendo um dos principais papéis dos supervisores, fornecer informações aos
subordinados sobre o que se espera deles e em que extensão eles estão satisfazendo essas
expectativas. Os funcionários precisam saber quando estão obtendo um bom desempenho,
para continuarem assim. No caso da personagem Val, ela recebia mais ações negativas, ou
seja, seus patrões davam maior importância quando a mesma cometia erros, como acordar
tarde ou quebrar a bandeja da bisavó de sua patroa. Tais repreensões e a falta de feedbacks
positivos pelo seu trabalho, faziam com que a mesma se culpasse e abaixasse a cabeça
colocando a sua patroa em um papel materno que poderia lhe repreender e punir quando
achasse necessário.
Por conseguinte, o que pode-se observar a partir da repreensão da patroa e da Val, era
uma espécie de treinamento para a forma como Jéssica devia se comportar dentro da casa,
repassando as informações do que não comer, de não entrar na piscina e etc. A disciplina é a
característica mais importante no treinamento, uma meta. De acordo com o texto de
Chiavenato, ela apresentava vários indicadores de treinamento a posteriori, que era esperado
que ela por ser filha de Val também trabalhasse na casa. Entretanto, ela não estava em posição
de trabalhadora e sim de hóspede, o que justifica todas as suas ações e o que mais tarde Val
pôde reconhecer.
Nesse filme, pode-se observar um desempenho contextual por parte da personagem
Val, que é quando o funcionário faz muito mais que o necessário. Consistindo assim, em
ações voluntárias adicionais que os funcionários realizam para beneficiar colegas e
organizações, como se encarregar de tarefas adicionais. No caso da empregada doméstica Val
seu trabalho ia muito além de cuidar da casa dos seus patrões, a mesma criou o filho único da
família em questão, abrindo mão de criar a sua própria filha, ela também exercia diversas
tarefas de servidão, onde os patrões dependiam dela para tudo. No entanto, mesmo com tanto
desempenho ela ainda era pouco reconhecida e vivia em condições de inferioridade na casa
em que residia com seus patrões, um bom exemplo disso é a sobremesa que todos comiam
após a refeição, havia o sorvete comum da empregada e o sorvete mais caro dos donos da
casa. Ademais, Val dormia em um quartinho bem simples na lavanderia mesmo tendo outros
quartos bem mais confortáveis desocupados na casa, não se sentava à mesa com eles e
mesmo em anos de trabalho nunca havia posto seus pés na piscina da casa.
Porém, ainda com todas essas diferenças, sempre que os patrões percebiam que ela
estava cansada, e precisando de um incentivo eles usavam o "você é da família”, entretanto
assim como a Teoria Bifatorial de Herzberg E cols: o que motiva é a qualidade de vida no
trabalho, bons salários, reconhecimento e etc, coisas essas que eram ausentes Val cuidava da
casa até tarde, acordava cedo para fazer o café da manhã, praticamente criou o filho de seus
patrões a ainda assim dormia em um quarto sem ventilação, tinha a qualidade da alimentação
diferente dos demais e ainda sofreu mais ainda quando sua filha, Jéssica, teve que passar uma
temporada com ela em São Paulo.
Fato é que no que se refere a clima organizacional ao pesar os fatores da sua relação
com o trabalho, no fim do filme e depois das situações que ela passou com a sua filha, Val
por mais que goste do trabalho e da sua relação com os outros funcionários se demite e
decide trilhar outros caminhos, por mais que sua patroa diga que vá aumentar seu salário,
pergunte-se onde errou e peça pra ela ficar Val decide por motivos pessoais que
consequentemente interferem no âmbito do trabalho sair. Isso tudo via a cultura
organizacional que é o conjunto de ideologias de forte carga emocional e vivências subjetivas
que fazem o trabalhador se movimentar dentro da empresa, no caso da Val, dentro da casa em
que ela trabalha.
Nesse sentido, é importante se salientar dos fatores subjetivos que podem ter levado
Val a tomar essa decisão: Val sempre cuidou do filho dos seus patrões, enquanto isso sua filha
da mesma idade que Fabinho estava sendo cuidada por terceiros no nordeste do Brasil, Val
veio para trabalhar e assim sustentar sua filha de longe e desde de então ela nunca mais
voltou para sua cidade. A mãe de Fabinho estava sempre ausente e ele sempre fazia a mesma
pergunta que Jéssica, sua filha, fazia: “que horas ela volta?” Val mais para o fim do enredo
descobre que Jessica tem um filho e estava espelhando a mesma história que ela teve com a
sua mãe: deixar o filho para trás para estudar. Val assim vai se sentindo na responsabilidade
de cuidar da sua filha depois de tanto tempo e assim sair do trabalho que a desgasta a tanto
tempo.
A partir do texto de Robbins, onde trata-se do comportamento organizacional, é
possível relacionar com o filme acerca da jornada de trabalho de Val que era de 24 horas, por
ela dormir na casa dos patrões, no texto fala que quando não há divisão entre período de
trabalho e a vida pessoal geram-se conflitos pessoais e estresse, principalmente na situação de
Val que era mãe solteira e deixou a filha no Nordeste para prover financeiramente à filha.
Esta situação leva a tamanha insatisfação com relação ao trabalho, o que logo após ter a filha
por perto fez Val enxergar o que havia abdicado e decidiu se demitir para viver.
Contudo, as ações de Val após a presença de Jéssica, enquadram-se nas variáveis
dependentes do comportamento organizacional como: ter acordado tarde, ter entrado na
piscina mesmo que esvaziada, estão também relacionadas a insatisfação dela com o trabalho,
levando a demissão. O que poderia ser feito, segundo Robbins seria primeiramente uma
mudança a partir da patroa, onde esta deveria criar um clima eticamente saudável, ajustando a
jornada de trabalho de Val, um aumento no salário para que ela pudesse arcar com uma
moradia, delimitar as suas funções ao que cabe uma empregada doméstica.

REFERÊNCIAS:

Chiavenato, Idalberto Gestão de pessoas : o novo papel dos recursos humanos nas
organizações / Idalberto Chiavenato. -- 4. ed. -- Barueri, SP : Manole, 2014
MARTINS, M. C. F. Clima organizacional: o estado da arte. Revista da Sociedade de
Psicologia do Triângulo Mineiro, n.3, p.12-18,jan/jun, 2000.
Psicologia, organizações e trabalho no Brasil [recurso eletrônico] / Organizadores, José
Carlos Zanelli, Jairo Eduardo Borges-Andrade, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. – 2. ed. –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
Robbins, Stephen P., 1943- . Comportamento organizacional / Stephen P. Robbins, Timothy
A. Judge, Filipe Sobral ; [tradução Rita de Cássia Gomes]. -- 14. ed. -- São Paulo : Pearson
Prentice Hall, 2010.
Spector, Paul E. Psicologia nas Organizações; tradução Cristina Yamagami – 4.ed. São Paulo
: Saraiva, 2012

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