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REVOLUÇÃO RUSSA: 1917 E O GOVERNO LÊNIN

1. Monarquia Constitucional (1905-1917)

• Contexto russo: fome, crise econômica, derrotas militares (Guerra Russo-Japonesa


de 1904) → Culmina no episódio conhecido como “Domingo Sangrento”, o que mo-
tivou as rebeliões que ocasionaram o “Ensaio Geral” (greves, motins, protestos);

• Para amenizar a situação, o Czar prometeu a criação de um parlamento (Duma), e a


convocação de eleições. Porém as condições para o voto (censitário e desigual) frus-
traram a população, que seguiu mobilizada. →

◦ A sociedade foi dividida em cúrias para organizar a votação, de modo que os vo-
tos dos proprietários tivesse maior peso;

◦ Além disso, o Czar manteve o direito de intervir na Duma, dissolvendo-a quando


quisesse, e criando um Conselho de Estado para avaliar as leis propostas. O dese-
jo de que o parlamento servisse para limitar os poderes do czar, portanto, não foi
atendido;

◦ Com eleições sempre postergadas e limitadas por regras que pretendiam manter
o poder do czar, os trabalhadores passam a se auto organizar em conselhos co-
nhecidos como SOVIETES;

◦ Apesar disso, alguma reformas foram realizadas (conhecidas como Stolypin, pre-
sidente do Conselho), entre as quais uma pequena reforma agrária, que distri-
buiu terras a alguns agricultores (Kulaks), que se tornaram proprietários, contra-
tantes de outros camponeses;

Os kulaks serão posteriormente


expropriados pelas reformas do governo de
Vladimir Lênin, como forma de ampliar a
reforma agrária e aprofundar a
coletivização da terra.
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1.1 Rússia na Primeira Guerra Mundial:

No dia 1 de Agosto de 1914, a Alemanha declarou guerra à Rússia. Inicialmente, o


sentimento nacionalista motivou os russos a resistirem aos alemães. No entanto, o impasse
das guerras de trincheiras, os custos materiais e em vidas humanas, e a desfasagem militar
logo tornaram a guerra mais um elemento de desgaste e tensão para a Rússia.

O alistamento obrigatório produziu escassez de mão de obra no campo, o que em


pouco tempo gerou escassez de alimentos e maior inflação. Internamente, greves voltaram
a ocorrer e mobilizações exigindo a saída da guerra.

2. 1917: o ano da revolução

2.1 A Revolução de Fevereiro (Branca)

✔ Em fevereiro de 1917 ocorrem grandes mobilizações (tais como a passeata “Pão e


Paz”, organizada pelas trabalhadoras russas). Essas mobilizações provocaram a inva-
são do Palácio de Inverno e fez com que o czar Nicolau II e sua família se refugias-
sem no quartel geral do comando do exército;

✔ Isolado, o czar decidiu renunciar em março. Formou-se, em seguida, um governo


provisório liderado por Georgy Lvov (Kadete) e Alexander Kerensky (Socialista Revo-
lucionário);

✔ O Governo Provisório era uma coalizão de burgueses liberais e socialistas modera-


dos, e não conseguiu atender as demandas das massas mobilizadas. Dessa maneira,
multiplicaram-se os Sovietes. Ocorre, então, o que chamamos de “dualidade do po-
der”, quando as decisões e rumos políticos ficaram divididos entre o Governo Provi-
sório e os trabalhadores organizados nos Sovietes;
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✔ Governo Provisório e Sovietes atendiam a interesses distintos: o primeiro estava li-


gado aos interesses da burguesia e dos proprietários, procurava fazer reformas mo-
deradas, e preferia manter a Russia na guerra em virtude dos acordos militares e
dívidas contraídos pelo país. Já os sovietes defendiam os interesses dos trabalhado-
res pobres, pensava em mudanças estruturais profundas para o país e defendia a sa-
ída imediata da guerra;

✔ Diante do impasse, os Bolsheviques ganham espaço e força, sobretudo após o retor-


no de Lênin do exílio, quando lançou as famosas Teses de Abril, em que propunha a
criação de uma República dos Sovietes, a nacionalização dos meios de produção (in-
dústrias e propriedades rurais) e a saída da guerra. Os lemas eram: “Pão, paz e ter-
ra” e “todos poder aos sovietes”;

✔ A decisão do governo provisório foi dobrar a aposta e preparar uma nova ofensiva
militar contra a Alemanha;

2.2 A Revolução de Outubro (Vermelha)

 A situação favoreceu o trabalho de mobilização realizado pelos sovietes, que organi-


zaram seu próprio exército a partir de Petrogrado, liderado por Trotsky: o Exército
Vermelho (que se tornaria depois o exército oficial da União Soviética);

 A falta de alimento no front, salários atrasados e equipamentos defasados fizeram


crescer as deserções e ataques de soldados a seus superiores. No dia 25 de outubro
de 1917, marinheiros amotinados, soldados da Fortaleza de Kronstadt e o Exército
Vermelho, organizados pelo Comitê Militar Revolucionário criado pelos bolchevi-
ques tomaram o Palácio de Inverno e depuseram o Governo Provisório;

 Nesse momento foi criado o Conselho dos Comissários do Povo para administrar as
dezenas de sovietes que haviam sido criados em toda a Rússia (Comitê Executivo
Central dos Sovietes). Lênin foi o primeiro a liderar o conselho;
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2.3 Governo Lênin

Assinatura do Tratado Brest-Litovski: armistício com a Alemanha e saída da guerra, o


que redundou em perda de territórios importantes, com reservas de carvão;

Institui a autodeterminação dos povos de diferentes etnias que viviam no território


russo, criando uma espécie de federação socialista. Essas etnias antes eram reprimi-
das e perseguidas pelo czar;

Promove, finalmente, a reforma agrária com fim da propriedade privada (coletiviza-


ção da posse): expropriação dos kulaks e das posses da Igreja Católica Ortodoxa;

Nacionaliza os bancos e e investimentos estrangeiros;

Nas cidades, é adotado o regime de autogestão operária da produção

A revolução e suas medidas encontraram enorme resistência e oposição política in-


terna, o que colocou a Rússia em Guerra Civil de 1918 a 1921, opondo os Brancos (oposi-
ção composta por mencheviques, kadetes e czaristas) aos Vermelhos (bolcheviques, cam-
poneses e operários).

Para assegurar a vitória da revolução contra os contrarrevolucionários, Lênin insti-


tuiu o “comunismo de guerra”, um esforço para manter os soldados vermelhos abastecidos
e alimentados durante o confronto. A medida, no entanto, levou a uma redução na produ-
ção de grãos (alimento) por parte dos camponeses, o que gerou grave escassez. Em 1921
chegou a ocorrer um levante de soldados que foi reprimido pelo Exército Vermelho. Nesse
mesmo ano, a Família Imperial foi executada no exílio. As medidas foram encaradas pelos
bolcheviques como necessárias para assegurar a vitória da revolução.

Ao fim dos três anos de conflito, para reorganizar a economia russa, Lênin criou a
Comissão Estatal de Planejamento Econômico (Gosplan). A comissão elaborou, assim, a
Nova Política Econômica (NEP), que combinava uma economia de mercado com a socialis-
ta, afim de realizar uma transição gradual. → Entre as medidas da NEP estavam a liberaliza-
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ção de comércio, empreendimentos e salários. O governo manteve apenas o que era consi-
derado estratégico e fundamental para a criação das bases do socialismo.

Por fim, o X Congresso do Partido Comunista tornou-o o único partido autorizado


em 1921 e, no ano seguinte, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em 1923 foi promulgada nova Carta Magna (constituição), e nela firmado o Soviete Supre-
mo, com representantes de todas as repúblicas soviéticas que escolheriam o Conselho Exe-
cutivo da URSS. A partir daqui os sovietes perdem em autonomia organizativa. O poder se
centraliza fortemente e inicia-se um período de forte burocratização. Lênin morre precoce-
mente em 1924, o que abre caminho para o jovem Josef Stálin.

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