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Analise “Vida Maria”

Vida Maria é um curta-metragem de animação que se passa em uma


cidade do interior do nordeste brasileiro. No início a mãe de Maria José à
repreende por estar escrevendo seu nome em um caderno, ela manda a
menina ir procurar o que fazer ao invés de continuar com aquela atividade.
Seguindo sua difícil trajetória a menina cresce, casa, tem vários filhos, executa
sua rotina de múltiplas tarefas, envelhece e em meio a isso vai se tornando
uma pessoa mais rude. O último de seus filhos é uma menina, a quem dá o
nome de Maria de Lurdes. Ao final do filme, quando Maria José vê a filha
escrevendo no caderno, vai ao seu encontro e repete para ela o que ouvira de
sua mãe quando criança, que ela não deve perder tempo “desenhando o seu
nome” e exige que a menina a ajude nas tarefas, perpetuando a sina das
Marias da família.

A infância e a miséria nos é apresentado de forma bastante radical, a


inocência vinda e perpetuada na infância praticamente não existe naquele
lugar, desde cedo a vida é dura, não há espaço para brincadeiras, canções,
estudo, nada, quase podemos dizer que não há espaço para a vida, apenas
para a sobrevivência, e isso vai se repetindo com o passar do tempo, a mãe de
Maria José provavelmente não teve uma infância, e ela agora também não
teria, ali a única coisa que se sobressai é a miséria, ela esta em todas as
partes, tornando vidas, dificultando-as e tornando as pessoas duras e amargas,
igual o próprio sertão.

Culturalmente inserido em um meio bastante humilde e sofrido, ao


menos é o que o filme deixa transparecer através da arte e da cor, sempre
mostrando o sol predominante e a falta de vegetação e plantações, Maria José
segue os passos da mãe e guia a filha na mesma direção. O tema central da
narrativa fílmica é justamente essa transmissão, não somente de um modo de
vida, mas também de valores e hábitos, processo que se denomina herança
cultural.
O filme nos mostra o ciclo da vida naquela região, seu futuro está
impregnado naquele modo de vida mostrado, ou melhor dizendo, aquela
cultura. Maria tem uma vida condenada e sua única esperança é a leitura, mas
ela é vencida facilmente pelas tradições e o ciclo que a vida daquela região
teima em continuar. A forma com que isso é mostrado é quase que
inacreditável, sua vida se resume ao pensamento que aquela região carrega, o
sofrimento é evidente quando Maria já está velha e velando sua mãe, ela viveu
muitas coisas e agora é uma mulher dura, sem sonhos aparentes e tão poucas
esperanças.

Em sua última cena o filme nos traz uma revelação. O vento sopra e
folheia ao contrário o caderno no qual Maria de Lurdes escrevia e assim
percebe-se que as personagens usavam o mesmo caderno ao longo do tempo,
pois em cada velha folha que ressurge há outro nome escrito, Maria de Lurdes,
Maria José, Maria Aparecida, Maria de Fátima e Maria do Carmo, reforçando a
ideia de que a história foi se repetindo ao longo do tempo.

Assim o ciclo de Maria José está prestes a se completar, ela logo vai dar
lugar a sua filha e assim suscetivelmente, a dureza de sua vida vai ser passada
adiante e esse ciclo parece não ter fim. A realidade é difícil mas é aquela.
Maria não teve ajuda para mudar isso e seus filhos também não terão. Sem
escola, sem educação, tendo que trabalhar, isso é o que lhe resta, sua dura
vida de Maria.

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