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A MULHER E A NAÇÃO

Sylvia Walby

INTRODUÇÃO

A literatura sobre as nações e o nacionalismo raramente aborda a questào


sexo, a despeito do interesse geral na participação diferencialdos vários grupos
sociais nos projetos nacionalistas. Um ponto-chave na análise da naçào tem
sido as condições em que um grupo étnico é capazde reivindicare, posivel-
mente, obter o status de nação e, mais tarde, o de Estado nacional.lOs movi-
mentos nacionalistas recorrem de maneiras desiguaisà sua clientelarelevante.
Tem havido muitas análises das diferentes composições de classedessesmovi-
mentos, de seus níveis de instrução e de muitas outrasvariáveissocioeconó-
micas e culturais. Entretanto, esse corpusbibliográfico pouco se tem
pela integração diferencial de mulheres e homens no projeto nacional.Amaio-
ria dos textos sobre o nacionalismo não leva em conta o sexo como uma qus--
tão de peso. 2 Raras e, portanto, importantes exceçóes a essa ausência éo
Jayawardena e Yuval-Davis e Anthias.3
Ressurgiu o interesse no conceito correlato de cidadania,que, historicamen-
te, estabeleceu um vínculo entre "nação" e "Estado".A "cidadania"6i intro-
(luzida no contexto de comparações macrossociais, para facilitaras
sobre as condições sociais em que se atingiram diferentes formas de
cia.4Ela tem interesse aqui por seu vínculo com a "nação" e pela posibüidade
de que o conceito ofereça algum auxílio para lidarmos com grausde integração
no projeto nacional. Apesar desse potencial, a bibliografia existente não versa
sobre o sexo nem tampouco, o que talvez seja ainda mais surpreendente, sobre
a etnia e a "raça .
sexocom
11acinco posturas principais quanto à questio da intersecçãodo
que o sexo,
a cidadania, a etnia, a nação e a "raça". Primeiro, existe a tese de
e
cidadania, etnia, nação
etnbora exista, não afeta a natureza das relações entre
de que existe ou não
raça". s Ás vezes isso se expressa através de uma sugestio
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UM MAPA DA QUESTÃO NACIONAL SYLVIA WALBY
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havendo poucas tentativas de usar ou participantes das lutas nacionais,económicas,


existeum patriarcado, construir os nacionais;(e) como políticas e
a uma afirmação mais sofisticada.6 segundo,
ceitos necessários 12
cidadania, etnia, nação e "raça" não existe 0 militares.
mento simétrico de que afetam signifi Os artigos dessa
coletanea são uma excelente ilustração
desses temas. Forne-
entre os sexos.7 A desigualdade
cativamentea natureza das relações provas de que as mulheres e as relações entre os sexos são efetivamente
sexualteria
característicascomuns em todas as sociedades e todos os períodos usadas das maneiras como sugerem os organizadores. Eles mostram que o sexo
uma opressão comum, apesar de históricos,
as mulherescompartilhariam suas compro
e
é innportante
para as práticas étnicas/nacionais e que estas são importantes
para
vadas diferenças de etnia, nacionalidade e "raça". Essa postura _ entre os sexos.
não as relações
confundidacom a idéia de que a etnia é irrelevante para a análise dasdeve 0 livro mostra a importância de fatores demográficos,como a taxa de na-
sociais.Em terceiro lugar, existe a tese de que esses sistemas de relações relações
talidade, para alguns projetos étnicos/nacionais, do que decorre a pressão exer-
devemser reunidos, de modo a falarmos, por exemplo, do duplo sociais cida sobre as mulheres, em momentos historicamente específicos,para que te-
fardocar-
regadopelas mulheres negras, em decorrência do racismo e do nham ou não tenham filhos para o bem da naçãoou da "raça".Klugilustra de
sexismo.
também sugere que o racismo é uma camada extra de opressão que maneira convincente essas duas pressões em seu estudo sobre a Grã-Bretanha,"
mulheres têm de suportar, e que produz diferenças e desigualdades algumas como faz Lepervanche em seu estudo sobre a Austrália,onde as brancas foram
mulheres.Quarto, existe o argumento de que as diferenças étnicas, entreas incentivadas a gerar mais filhos e as negras, a não gerá-los;i4e Yuval-Davis
nacionais
e "raciais"significam que as instituições que são centrais para a mostra questões similares nos projetos dos nacionalistasisraelensese pales-
opressão das
mulheresbrancas não o são para as mulheres de outras etnias.8 tinos. A flexibilidade do discurso sobre a maternidade, em vez de sua fixidez
Por exemplo
pode-se considerar que a família tem uma importância diferente biológica, é o tema da comparação de Gaitskelle Unterhalter sobre as mudan-
para as re-
laçõesentre os sexos em diferentes grupos étnicos. Isso quer dizer ça,socorridas na idéia de maternidade no nacionalismo sul-africano e no Con-
que não há
uma forma comum de diferenciação e desigualdade sexuais nos gresso Nacional Africano ao longo do século XX.15
diferentesgru-
pos étnicos. Em quinto lugar, existe a tese de que as relações entre Anthias sugere que as mulheres foram usadas como símbolos de identidade
os sexose
as relações étnicas, nacionais e "raciais" afetam-se mutuamente, levando a nacional no caso do nacionalismo greco-cipriota.Esse tema é levado adiante
lisesdinâmicas das formas cambiantes do sexo e das relações aná-
étnicas; nacionais por Kandyoti, escrevendo sobre o caso da Turquia, embora essa autora também
e raciais.9Isso acarreta uma análise das interligações causais levante o problema de saber se as mulheres sempre serão símbolos passivos, em
entre o sexoe a
diferenciação e desigualdade étnicas/nacionais/"raciais". vez de se engajarem ativamente na "questão da mulher".t6Nesse ponto, ela in-
Superpondo-se
a essas
cinco posturas há uma outra variável, sobre a importância daga em que medida uma certa idéia do sexo é usada pelo nacionalismo e até
diferenciadada
classe e das relações capitalistas
em cada uma dessas análises. Isso onde a questão da mulher tem uma dinâmica que molda a própriahistória. No
varia inde-
pendentemente das cinco perspectivas. artigo de Obbo sobre Uganda, as mulheres parecem ter interesse como mulhe-
res atacadas, e não apenas como peões em um projeto nacionalista.17Isso. por
SEXO, NAÇÃO E NACIONALISMO sua vez, sugere que não basta pensar no nacionalismo como algo que afeta o
sexo numa relação unidirecional. Por fim, no artigo de Afshar, as mulheres dei-
Embora muitos textos sobre a nação tenham ignorado
o sexo, diversas contri- xam o mundo dos símbolos e aparecem lutando por seus interesses sexua-
buiçóesimportantíssimas abordaram essa questão,
como Yuval-Davis e Anthias, lizados, no contexto do ressurgimento do islamismo no Irá.1S
Jayawardena e Enloe. 10 Portanto, os cinco papéis principais que Yuval-Davise Anthias atribuem às
Na introdução de seu livro, ll Yuval-Davis
e Anthias sugerem que há cinco mulheres nos processos étnicos/nacionaisencontram apoio empírico nos arn-
grandes maneiras de as mulheres se gos do livro. Contudo, há que saber se esses cinco papéis abarcam todxs pnn-
envolverem nos processos étnicos e na-
cionais:(a) como reprodutoras biológicas
dos membros de coletividadesét- cipais maneiras pelas quais o sexo e as relaçõesétnicas/nacionaisse entrecru-
nicas;(b) como reprodutoras das
fronteiras dos grupos étnicos ou nacionais; zann. Embora eles sejam importantes, é preciso fazeralguns acréscimos
cultural cm trés d.xs
(c) como tendo uma participação
central na reprodução ideológica da cole- Primeiro, esse esquema privilegiao nível ideológicoou
a "luta nacional
tividade e como transmissoras
de sua cultura; (d) como significantes de di- Cinco praticas; das outras duas, uma é biológica e a outra é
trabalho encontra-se
ferençasétnicas/nacionais,um
foco e um símbolo dos discursos ideológicos nómica, política e militar". Curiosamente,a divisio do
incluida biologia ou na cul-
usados na construção,
reprodução e transformação das categorias étnicas/ ausente da lista, a menos que seja considerada
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especificidadeda divisão sexual do trabalho nos
tura. será que a diferentes houve importantes componentes feministasnos movimentos
só é considerada importante para as divisões n1ostra que na-
grupos étnicos/nacionais países do Terceiro Mundo nesse período.
no nível simbólico? Ou será que a categoria de étnicas/
"reprodutoras cional,stas dos Discute também da-
nacionais entre o feminismo e o nacionalismo
fazer uma análise da mão-de-obra feminina? bios dos das interligações no Egito, Irá, Afe-
lógicas"destina-se a da função
Isso é India, Sri Lanka, Indonésia, Filipinas, China, Vietnam, Coréia e Japão.
apenas uma parte feminina, mesmo
já que dar à luz é que seja uma
Todos esses países tinham estado submetidos ao imperialismo,e o feminismo
parte significativa.
que é subenfatizado nesse ela constata está ligado aos movimentos nacionalistas e antiimperialistas
Há um segundo ponto correlato resumo: Jayawardena discute as sugestões de autores do Terceiro Mundo de que o
das fronteiras — entre os grupos
Oito— e a manutenção étnicos/nacionais
formas de hierarquias sociais, é fem,nismo é apenas ocidental, decadente e estrangeiro, adequado à burguesia.
também um conflito entre diferentes não apenas
Mesmo o grupo étnico/nacional e de que constitui um desvio da luta pela libertação nacional e pelo socialismo.
entre culturas diferentes. mais coeso
quase Ela examina também a visão ocidental de que o feminismoé um produto da
sempreconvivecom um sistema de desigualdade social, no qual o(s) grupo(s)
exerce(m) um controle hegemónico sobre Europa e da América do Norte, sendo encontrado em outros lugares apenas
dominante(s) tipicamente a «cul
"coletividade". É uma como imitação. Contrariando essas duas colocações,Jayawardenaargumenta
tura" e o projeto político da ortodoxia sociológica
que, tipicamente, as sociedades têm um sistema de desigualdade
cons- que o feminismo tem raízes endógenas nos países do Terceiro Mundo e náo
tatar sociale o
exercer um controle hegemónico sobre as é imposto pelo Ocidente. Entretanto, ela não pretende negar que o impacto do
grupo dominante tenta idéias vi- Ocidente foi importante para criar mudançassociaisque levaramindireta-
gentes nelas. Assim, pode-se esperar que os conflitos étnicos/nacionais benefi-
ciem diferencialmenteos interesses dos membros desse grupo. Os diferentes mente ao feminismo:
sexos (e classes),por conseguinte, podem ter um entusiasmo diferenciado O feminismo não foi imposto ao Terceiro Mundo pelo Ocidente, mas, antes,
em circunstâncias históricas produziram importantes mudanças rnateriais e
relaçãoa "o" projeto étnico/nacional declarado, dependendo do grau em
que ideológicas que afetam as mulheres, embora admitamos que o impcto do im-
concordem com as prioridades dos "líderes" políticos desse projeto. Pode
ser perialismo e do pensamento ocidental esteve entre os elementos significativos
que haja unanimidade quanto a "o" projeto étnico/nacional entre os membros
dessas circunstâncias históricas. Realizaram-se debates sobre os direitos e a
de ambos os sexos e de todas as classes sociais, mas isso é improvável e, no educação das mulheres na China do século XVIII,e houvemovirnentasem
mínimo, é uma questão a ser investigada. prol da emancipação social da mulher na India no inicio do século XIX;
O próprio livro contém indicações do compromisso variável das mulheres tudos sobre outros países mostram que as lutas feministas originaram-se entre
e, a rigor, de diferentes grupos de mulheres, distinguidos por classe, educação, sessenta e oitenta anos atrás em muitos países da Ásia.20
residênciaurbana/ruraletc., com o projeto étnico/nacional de "seus" líderes
Jayawardena pretende argumentar que o feminismo não deve ser reduzido à
comunitários.Alguns dos artigos mais fortes discorrem sobre essa tensão en-
ocidentalização, embora isso não signifiqueque a ocidentalizaçàonio tenha
tre os grupos sexuais (altamente diferenciados) e o projeto étnico/nacional,
sido relevante. Ela declara ainda que os movimentosde emancipçào das mu-
como no caso de Ashfar escrevendo sobre o Irã. Por vezes, o discurso sexualse
lheres foram conduzidos no contexto de lutas nacionalistas. Eles foram
modifica à medida que os movimentos nacionalistas mudam de terreno (como
no caso da análise de Gaitskell e Unterhalter sobre as mudanças no naciona- postos em prática tendo por pano de fundo lutas alrrxpvam
lismo sul-africanoe no Congresso Nacional Africano). conquistar a independência política, afirmar uma identidade nacional e mo-
Enquanto Yuval-Davise Anthias enfatizam a participação das mulheres no dernizar a sociedade. 21
projeto étnico/nacional, embora de maneiras diferentes, sugeri enfatizar a ques- (...) as lutas pela emancipaçãodas mulheresóram uma e in-
tao do envolvimentofeminino diferenciado. O projeto nacional pode afetar tegrante dos movimentos de resistência nacionais.--
diversamente mulheres e homens (bem como subgrupos deles) e, desse modo, esteve
A orgamzaçào das mulheres em torno de suas própriasdemandas
raramente
umamente relacionada com os movimentos nacionalistasElas
gerar diferentes graus de entusiasmo.
Jayawardena ou
discutea importância das demandas feministas na moldagem organizaram em carater autónomo, tendo sido, mais
das demandasnacionalistas.19Ela afirma hometxes
que as feministas tiveram um papel correntes subsidiárias de grupos nacionalistas dominados
at.ivona pressáopela emancipação das afirma que a expansào do
mulheres nos movimentos nacionalis- modo similar, layawardena
tas do TerceiroMundo no fim do nuteruis levaram ao
século XIXe início do século XX.A autora um fator Importante para criar as circunstâncias
UM MAPA n A QUESTÃO NACIONAL
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na esfera pública e ao feminismo, mas que
vimcnto das mulheres Antes, ela criou as condições
essa
C) "orientalismo" europeu alimentou um fascínio apreciativo por essas cui-
a causa do feminismo. em
não foi que as de. toras, enquanto justificava a dominação européia em nome da -civilização-
tornaram possíveis.
mandas feministas se A imagem da muçulmana, tentadoramente envolta em véus, foi uma pedra an-
implicaram a libertação das mulheres de dessa ideologia orientalista e da estrutura imperial que ela sustentavx 26
As reformas básicas que vários tipos
pré-capitalistas, dando-lhes a liberdade de ir e
de restriçõessociais vir, retiran- Enloe argumenta que o apoio a um tipo particular de relações entre os sexos foi
seu trabalho fora de casa, foram
do-as do isolamento e facilitando
capitalistas de produção económica e compatíveis usado como justificativa para a dominação colonial.A noção de "civilização"
com as estratégias das formas com a ideo-
logia capitalista. Em muitos países, os períodos de reforma
coincidiram com estava saturada de idéias sobre as relações corretas entre os sexos e as formas de
tentativasde desenvolver o capitalismo e de aproveitar a oferta de mão-de-obra relaçóes sexuais.
feminina barata na produção fabril e no setor de serviços da economia.24
0 comportamento feminino senhoril foi um esteio da civilização imperialista.
Jayawardena deixa claro que houve variações significativas de classe na Tal como o saneamento e o cristianismo, a respeitabilidade feminina almepva
maneira convencer os colonizadores e os povos colonizados de que a conquista es-
como essas mudanças económicas e sociais afetaram as mulheres. As
pequena burguesia beneficiaram-se mulheres trangeira era correta e necessária?
da burguesia e da mais do desenvolvimento
do ensino e do acesso que lhes foi dado às profissões liberais. Além da feminilidade, também a masculinidadeera uma questão imperial
Portanto, Jayawardenaafirma não só que os movimentos feministas Enloe sugere que os líderes britânicos preocupavam-seem assegurar formas
e na-
cionalistasestiveramintimamente interligados, mas que não podem ser apropriadas de masculinidade para sustentar o império. Em particular, ela
tendidos fora de uma compreensão do imperialismo e do capitalismo sugere que as guerras da Criméia e dos bóeres geraram iniciativas destinadas a
locale
internacional. 'melhorar" as formas de masculinidade. A fundação do escotismo por Robert
É interessante notar, embora Jayawardena não frise esse aspecto, que Baden-Powell, em 1908, serviu para sustar a disseminaçãodas doenças ve-
muitos
países do Terceiro Mundo, por ocasião da independência nacional, néreas, conter o casamento inter-racial e deter as taxas de natalidade decres-
concede-
ram o direito de voto às mulheres ao mesmo tempo que aos homens. centes, que se alegava estarem levando ao declínio do império britànico.:s
Portanto,
as histórias das práticas democráticas do Terceiro Mundo são muito ' Baden- Powell e outros imperialistas britânicos consideravam o esporte. com-
diferentes
das do Primeiro Mundo, onde, tipicamente, o sufrágio masculino e o binado com o respeito pela mulher respeitável,o esteio do sucesso imperial
feminino
foram separados por várias décadas. A cidadania, o nacionalismo " 29
e o sexo estão britânico.
estreitamente ligados. Enloe mostra que, muitas vezes, os movimentos nacionalistasbrotaram
Enquanto Jayawardenae Yuval-Davis e Anthias concentram-se na mais das experiências dos homens que das experiênciasfemininas: "Tipica-
relação
das mulheres com a nação, Enloe aborda a importância do sexo para as relações mente, o nacionalismo nasceu da memória masculinizada,da humilhaçào
entre as nações. Ela examina a ordem internacional e as entidades masculinizada e da esperança masculinizada."" Ela sugere que os naciona-
transna-
cionaise demonstra que elas não podem ser plenamente entendidas lismos seriam diferentes se as experiências das mulheres fossem colocadas em
forade
uma análise das relações entre os sexos. Enloe desenvolve sua tese primeiro plano na construção dessas culturas e projetos. Sugere ainda se
examinando
a naturezasexualizadadas instituições que compõem a ordem isso acontecesse, a natureza das relaçóesentre os Estadose a própria ordem
internacional.
Ela examina o sexo e o comércio turístico internacional, internacional poderiam ser diferentes: "Se mais Estados nacionais brotassem
argumentando que
as formas de desenvolvimento do turismo não
podem ser entendidas sem as vá- de Idéias e experiências nacionalistasfeministas,as identidadescomunitárús
rias interpretaçõesdo sexo e da sexualidade, no sistema político internacional poderiamser temperadas
que afetam práticas que vão desde
pacotesde viagem para "a mulher respeitável" transnacionais.
até o turismo sexual masculino?
Enjoeinvestiga a maneira como as relaçOes Enloe discute a divisào internacionaldo trabalho, na qual a m.ào-de-obra
hierárquicas entre as naçóesea
construçào de formas culturais sexualizadas feniinina do Terceiro Mundo é considerada barata. Ela examina
afetam-se mutuamente. Por exem-
PIO,a imagemdas mulheres dos
países colonizados foi comumente construí- cas patriarcais que tornam "barata" essa rnào-de-obra, tais como
da e fornecidade um modo
que ao mesmo tempo as erotizava e tornava exóti- de relasoes "familiares" e a supressio de sindicatos kmininos. A
cas, enquantojustificavaa dos usos que
dominação imperialista em nome da "civilização". Internacional disso é demonstrada por um exame
As mulheres"orientais" frontaras
"precisavam" da "proteçào" européia masculina. multinacionais fazem dessa mao-de-obra. As
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importantes para o capital multinacional e, por conseguinte lugar, discutirei as razões por
nando menos Ern segundo que homens e mulheres
trabalhadoras. , para têm
as mulheres como a significação do identificações diferentes com os projetos nacionais
e podem ter compromissos
Enloe sobre sexo para as
A argumentação de questões da diferentes com diferentes tipos de grupos no nível rnacrossocial.
sistema internacional é freqüentemente conduzida através Isso será abor-
çâo e do de uma anás três etapas. Primeiro, através de uma discussão da
É o que acontece quando ela discute a indústria dado em medida e con-
lise da sexualidade. em que os projetos nacionais são, simultaneamento projetos sexuais.
holl»eoodiano, o papel das mulheres nas
do turismo,o cinema basesmilita segundo, através de uma discussão sobre as interlipçóes e distinções
prostitutas, e as mulheres que são esposas de _
res, trabalhando como nacionalismo, militarismo e sexo. Terceiro,atravésde uma discussão
entre
como mostra sua discussão sobre diplomatas
Porém, nem sempre é esse o caso, as operárias
pra
terminar se as relações entre os sexos partilhamda mesrnaordenaçãoespcal
sobre as empregadas domésticas.
das fábricas mundiais da Ásia e Sua conclusão
é das relações étnicas e de classe, e se as mulheres e homens têrn
de que o dado pessoal não é apenas político, mas também internacional. O
parte, inclusive na pes- com fenómenos sociais de diferentes escalasespaciais.Discutireieste último
soale o sexualestão em toda ordem internacional.
aspecto com a ajuda de dois exemplos: sexo, naçãoe Comunida& Ecooôrmca
A afirmação de Enloe, de que o sexo é pertinente às nações e à ordem
inter- Européia; feminismo, nacionalismo e ocidentalização.
nacional, é convincente no nível teórico e no empírico. Ela conseguemostrar
como os tijolos que constroem a ordem internacional são sexualizadose como
internacionais. CONCEITOS PARA ANALISAR DIFERENTESFORMAS
isso afeta as relações
DE RELAÇÕES ENTRE OS SEXOS
Implícitas em sua análise estão teorias sobre a ordem internacional e sobre
o
sexo. Em sua exposição, Enloe parece privilegiar os planos sexual e cultural,
precisamos poder conceituar e teorizar diferentesformasde
dando um nível de importância mais baixo à divisão sexual do trabalho.
Na sexos. No momento, a maioria dos autores defende uma de tres
medida em que ela inclui todo o trabalho remunerado, o trabalho doméstico,
a primeiro, que há apenas uma forma principalde relações e
sexualidade,a cultura, a violência e o Estado em sua análise das mulheres
e da as diferenças são banais;32 segundo, que é tão grande a de
ordem internacional, estou de acordo com sua posição. Hesito, porém,
diante rentes que cada exemplo é único, de modo que não podem» o
do aparente privilégio aos planos sexual e cultural, em vez do económico.Uma
(posição pós-moderna); terceiro, que existe (ou não exi.ste)um
exposiçãomais completa também teria discutido a estruturação sexualizadadas
A primeira é empiricamente incorreta; a segundaé derrotÑa e por
próprias instituições internacionais. Estas ficaram curiosamente ausentes,afora
completo o projeto da ciência social; a terceiraé pouco sofistica&e
uma ou outra referência ocasional ao FMI.
Adoto uma posição intermediária, a de que a elaboraçàode
cance médio é parte importante da iniciativasociológicaAfirm astem
ATÉ QUE PONTO AS MULHERES COMPARTILHAM diferenças nas formas de relação entre os sexos,e que e•
OS MESMOSPROJETOS NACIONAIS QUE OS HOMENS? ser agrupadas em dois tipos principais.
Um dos grandes problemas de muitas teoriasdo ptrurcdo e
Na segunda metade deste ensaio, discutirei em que medida as mulheres com- ega
gerem haver uma única base para as relaçõespatriarcaise
partilham a mesma identidade grupal dos homens e, em especial, o mesmo outros aspectos do sexo. A base em si varia entre os diferentes o
projetonacional. Por projeto nacional refiro-me a um conjunto de estratégias modelo base-superestrutura é comum. Isso torna estáticaa
coletivas,voltadas para as necessidades percebidas de uma nação, que incluem entre os sexos e dificulta analisar as mudanças a
o nacionalismo,mas podem incluir outras.
Argumentarei que, muitas vezes,há reteréncta.
diferençasentre homens e mulheres quanto a essas A soluçáo desse problema consiste em teorizar entre
questões, e pretendo sugerir
algumas razões para isso. con10 cotupostas de estruturas analiticamente
Em primeiro lugar, farei algumas e culturx Ex.
sugestões de desenvolvimento conceitual, produs¿io doméstica, emprego, Estado, violêncü,
para facilitara comparação das
relações entre os sexos em diferentes naçóese estruturas podem articular-se de maneirasvaria&s e
gruposétnicos. Os debates nessa o
área têm sido retardados pela falta de ma- de patriarcado. Podem-se distinguir duas Ormas
croconceitossimples,que apreendam o publico. O patriarcado privado peu
dróes de relaçóesentre
as distinçóes significativas entre os pa- e
é
os sexos no plano societário. dentro de casa.O patriarcado
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patriarcado privado, 0 modo de expropriação da mulher diferente, mas com intensidade igual, nesse projeto:ora
0 Estado.No ou seu pai. No patriarcado público, ele é é indi_ n eira voluntariamente,
Vidual,por seu marido coletivo, atra. ora ansiosamente
envolvidas na luta (papel no 5, ver
a discussão
agindo em comum. No patriarcado privado, de Yuval-Davis
vésdc muitos homens caracterizada como excludente,
a estraté_ Anthias, supra),
ora coagidas, como às vezes
acontece quando elas são
pode ser já que as consi-
gia predominante mulheres deradas as
geradoras da "raça" (papel no l), quase
sempre de maneira cotidiana,
excluídasdas atividades no domínio público e, com isso, da cultura através da socialização
são a restringidasao como reprodutoras dos filhos (números 2-3),
público, estratégia dominante
doméstico.No patriarcado é como símbolos passivos (no 4). Yuval-Davis
que as mulheres entrem em todas as esferas, massegregacionista ora, enfim, e Anthias parecem afir-
permitindo segregando-as mar que as mulheres comprometem-se tanto com o projeto
35 nacional/étnico
e subordinando-as ali. quanto os homens, mas às vezes o fazem de maneiras diferentes.
distinta do grau de desigualdade sexual.
A forma do patriarcado é Esse é um Questionei isso. Talvez isso aconteça às vezes, mas outras vezes
tecer
ponto importante, pois nos permite comparações sobre a
forma das re- Algumas vezes, as mulheres podem apoiar um projeto nacional
é assim.
laçõesentre os sexos, sem presumir automaticamente que a diferença diferente do
Essa é outra questão importante.
se rela- projeto dos homens, Há uma luta para definir o que constitui o projeto ru-
cione com a desigualdade. O ingresso na
esfe_ cional e, quase sempre, as mulheres são menos ouvidas do que homens a
ra pública pode acarretar maior liberdade para as mulheres, como a liberdade esse respeito. Assim, as relações entre os sexos são importantespara deter-
de ganhar uma remuneração independente e desfazer um casamento infeliz; minar o que é o projeto nacional. Quando este inclui interessesfemininos as
entretanto, alternativamente, ele pode significar apenas um trabalho a mais,
mulheres tendem mais a apoiá-lo. O trabalho de Jayawardenasobre o femi-
além do trabalho doméstico, e a possibilidade de abandono segundo os nismo e o nacionalismo no Terceiro Mundo, no início do século mostra
ca-
prichos do marido.
quão integrados podem ser esses projetos, ainda que apenascomo rsuhado
A Grã-Bretanhaoitocentista baseou-se largamente no modelo privado,
en- das lutas femininas.
quanto a da década de 1990 deslocou-se para a forma pública. Mas existem
Haverá um impacto recíproco entre o sexo e a etnia/naçáorraça"?Embora
divisõesentre os grupos étnicos na Grã-Bretanha. Os afro-caribenhos têm
a Yuval-Davis e Anthias tenham mostrado com clareza o impacto da nação sobre
forma mais pública, os asiáticos, a mais privada, e os brancos ficam num
meio- o sexo, creio haver uma influência mútua (ver a discussão do militarismo e
termo. Pode-seconsiderar que o Irá passou temporariamente de uma
forma nacionalismo, mais adiante). Além disso, o compromissodiferencudods mu-
privadapara uma forma pública, no governo do xá, e está de volta à forma
pri- lheres com o projeto étnico/nacional afeta o projeto em si, bem como re-
vada, regida pelo fundamentalismo islâmico.
laçOescom outros grupos étnicos/nacionais.
Existemsubtipos dessas formas de patriarcado, dependendo da relação
das A questão "projeto nacional de quem"já foi discutidaa prop&ito do tra-
outras estruturas com a estrutura dominante. O patriarcado público
podeser balho de Enloe. No exemplo que se segue, defendo que se reformulea marxira
divididonuma forma orientada pelo mercado e numa forma orientadapelo
de teorizar a "formação da nação", a fim de levarem conta esse
Estado.Os Estados Unidos são uma forma de patriarcado público orientado
pelo mercado, enquanto a ex-Uniào Soviética era uma forma de patriarcado
orientadopelo Estado, ficando a Europa Ocidental entre os dois. PERíODO CRíTICO DE FORMAÇÃODO ESTADO
Com esses conceitos, podemos empreender uma análise comparativa. OU RODADAS DE REESTRUTURAÇÃO?
As
análisesque se seguem baseiam-se neles.
Um dos pressupostos por trás dos trabalhos de Mann» e de Turner•cCa
téncia de um período crítico de formação da naçào (ou formaçàodo Est•»
varu.k•s
O NACIONALISMO E AS MULHERES nacional). Esse é um ponto central da discussão de Mann sobre as
societarias no desenvolvimento do que ele considera serem pnncip.us
Estáoas mulheres tao comprometidas
com os projetos nacionalistas/étnicos/ titutçóes politicas que constituem a democracia.E tambem um pressuposto
"raciais"quanto os homens? formas»
São seus projetos idênticos aos deles? Será que os fundatnental na discussão de Turner sobre os momentos
projetosnacionalistas/étnicos/"raciais"e outros projetos sociais das mulheres ferentes fotanas de cidadania.
tém fronteirasiguais, dc
mais globais ou mais localizadas que os dos homens? O que argumento é que, muitasvezes,nio há um
Yuval-Davis chegou num so rnomento
e Anthias interessam-se pelo
modo como as mulheres partici- da naçào. Em muitos países, a cidadaniaaio
pam do projeto nacional, diferentes deu
e sobretudo pelo modo como se empenham de ma- Para todas as pessoas; diferentes grupos conquistaram
QUESTÃO NACIONAL
UM MAPA DA SYLVIA VAI,gr
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diferentesperíodos. Os países variam quanto a haverem Osbrancos É importante


saber se a "cidadanização" da sociedade
cm
homens emulheres de grupos étnicos minoritários tempo, ou apenas uma parcela implica todos os adul-
brancasc os obtido ou tos ao mesmo delesde cada vez.
tempo. Mann e Turner fazem uma falsa cobre bem mais de cem anos, de Nos Estados
a cidadania ao mesmo Universalização Unidos, o hiato 1840atéo fim da
das experiênciasde cidadania dos homens brancos. Como 1960.Na Grã-Bretanha, o intervalo foi mais curto: poucas década de
a partir formação dos grupos étnicos mostrou
período muito longo de dos homens adultos do de todas as
décadasepataram
Smith, há um que entram o sufrágio em 1928.Em
de uma nação. sociedades africanas asiáticas, esses direitos foram simultaneamente muitas
e
na composição que, nos Estados Unidos, quando os homens
Turner parece sugerir brancos dos na época da
Independência, nas décadasde
1950e 1960.Talvezsep
concedi-
de voto, na década de 1840, a cidadania e a início salutar
conquistaramo direito democracia lembrar que, no da década de 1960,alguns
Estadosafricanose
Todavia, os homens negros só obtiveram asútxm
foram conquistadas. tecnicamente tinham o sufrágio universal pleno, enquanto o dos EstadosUnidm
de 1880 e, na prática, dadas as leis segregacionistas, era apenas
esse direito na década Sóo parcial. Aliás, a concessão da plena cidadaniaa todos foi um
dos
pelos direitos civis da década de
fizeramdepois do movimento
Flos
sufrágio em 1920, e as
1960.As mu. quais as colónias puderam reivindicar a nacionalidade
o negras, embora o
lheresbrancas só obtiveram obtives_ A reestruturação dos Estados em termos dos graus de
demcxracn tem av
ano, tiveram de esperar que outras
sem tecnicamenteno mesmo rodadasda guns padrões globais interessantes. A maioria dos EstadoseuroFtB
na prática, na década de 1960,junto e
luta lhes trouxessemesse direito comos americanos concedeu gradativamente a cidadaniaa diferentes
homens negros. A história dos índios norte-americanos, por sua vez, é uma pulaçáo entre o século XVIII e meados do séculoXX A maioria dos
da conquista. Assim, há cinco
história de perda de cidadania depois datassig- pós-coloniais concedeu plena cidadania de uma só vez, em meados
conquista, as décadas de 1840 e 1880, o ano de do sécu-
nificativas: o período da 1920 Io XX. Alguns países perderam a democracia Isso costuma acontecer
fim da década de 1960,cada qual associada a um período de luta social.Será vez só, como quando ocorre um golpe militarem que tous as
que temos diversos estágios na construção nacional? Continua a ser verdade, simultaneamente o direito de voto. Entretanto,desde1979,houve gave
é claro,que a estrutura institucional formal que compõe o aparelho da demo- exceçáo a essa situação, com a perda dos direitoscivise politicosapenas us
cracianos Estados Unidos foi instaurada na segunda leva da luta, mas insti- mulheres, com a ascensão do fundamentalismo islâmicoonde
tuiçõesvaziasnão constituem uma democracia. maram o poder, como no Irã.
Na maioria dos países desenvolvidos, há um período de várias décadasentre
a concessãoda cidadania política a homens e a mulheres. Isso difere da situação A MULHER, O MILITARISMOE O NACIONALISMO
de muitos países do Terceiro Mundo em que as mulheres conquistaram a liber-
dadeao mesmo tempo que os homens, por ocasião da independência nacional. As relaçóes entre o sexo e o nacionalismopodemser media&
A conquistada cidadania civil, embora concluída para a maioria dos homens diferenciadas de mulheres e homens com o militarismo.A úmasa
do PrimeiroMundo antes da obtenção da cidadania política, mal se concluiu culaçáo desses temas é de Virginia Woolf, em ThreeGuinas, onde uau
para as mulheres desses países, já que só recentemente as mulheres obtiveram ta diz: "Como mulher, não tenho pátria. Como mulher,mo quero ptr.
o controlede seu próprio corpo, a possibilidade de desfazer o casamentoe o Como mulher, minha pátria é o mundo inteiro.-a Freqüenterrxntes
direitode procurar todas as formas de emprego. Ou seja, para as mulheresdo modo algum em caráter universal, considera-seque as muheres
PrimeiroMundo, a cidadania política foi conseguida antes da cidadaniacivil, Cificas e menos militaristas que os homens.U Alguns autores afirmaram
o que é o inverso da ordem concernente aos homens. Isso está em contradição o maior pacifismo das mulheres resulta de um aspecto da
direta com a tese de Marshall. sexual.e Se essa é ou não a explicação,persisteo átoempinco de
Emvez dessa noção de um período crítico de "formação da nação", é mais diferença no grau em que homens e mulheres em em
apropriadofalar de "rodadas de reestruturação" do Estado nacional.Tomo projetos nacionalistas, defendem movimentos pela e
essetermo emprestado do livro de Massey sobre a reestruturação económica.39 favorecem a escalada militar.0 A questio aquié se uma
Eleé útil para transmitir a idéia da mudança nulitarismo mais reduzido e o apoio ao nacionalSm Saa a
construída sobre fundaçõesque
permaneceme a idéia de que pode haver ptoieto me-
uma camada após outra de mudan- snolencta da mulher surte um efeito em sua visio
ças, cada qual deixando seu
sedimento, que afeta expressivamente as práticas dicla que ela está menos disposta do que o bmema
futuras.
nahstas pela torça? E será que isso a faz
QUESTÃO NACIONAL SYLVIA WAL'V
UM MAPA
262
meio de atingir esse fim, e significa FRONTEIRAS DAS RELAÇÕES ENTRE OS
dispostaa usar determinado que ela SEXOS
menos
nacionalista?Em outras palavras, o menor militarismo das mulheres
é menos nacionalismo?Ou isso
quer dizer que as mulheres
defendem ,vidades políticas das mulheres, portanto, podem estar numa escaiaespa-
causamenor Ou que tendem a defender projetos transnacionais?um diferente das dos homens. Sugiro que aquel&atividadessio tipicamente
nacionalistnodiferente?
ligação entre a não-violência locais e menos nacionalistas que as dos hornens. A fim & discutir melhor
exemplo que sugere uma da
Uni grande é o do campo de mulheres
internacionalismo pacifistas de Cl[lestà0, examinarei a importância diferenciadade algurnasentidades pb-
lhcr c o maior
na década de 1980, que fez parte de uma coligação inter_ ticas para
mulheres e homens.
GrecnhamCommon,
pacifistas de mulheres que se opunham às armas nuclea_ É menos freqüente encontrar mulheres do que homens na politica deflorai
nacionalde campos
sistemas que fomentavam o militarismo. Nisso se vê que as formal. As mulheres tendem mais a ser encontradas agmblém eleito de
res, à guerra c aos
mulheres afetam a natureza do projeto nacional. Outro governos locais do que do governo nacional.Na Grã-BretarE
iniciativasde paz das socaram
de um grupo que liga o antimilitarismo ao inter- 6,60/0dos membros da Câmara dos Comuns depois&
exemplocontemporâneo Verdes. Esse é um grupo
1"7.» paso
dos que corresponderam a 19% dos vereadoresmunicipais&pos
nacionalismoé o movimento político que en- ek"es
parlamentar e em outras arenas políticas, 1985. Aliás, é comum a crença em que as mulheres não se filiam a Mgnaaçóes
contra expressáona arena compro-
com medidas ecologicamente sadias, e que inclui um projeto feminista nacionais. Entretanto, tais organizações femininasexistem.
metido
política. Ele tem uma orientação seriamente in- nacionais de massa, como os Institutos da Mulher, Galdas
como parte integrante de sua e
tanto no Terceiro Mundo" quantono
ternacionalista,encontrando expressão UniOes de Mães. Assim, a tese das diferentes escalasespacias
Comunidade Económica Européia, o Partido politicas de homens e mulheres não deve ser exagerada.Nio c•-
Primeiro— nas eleições para a
como partido europeu, mais vigorosamente do que qual- toma-se considerar que as mulheres são mais atuantes escú
Verdecomportou-se
quer outro grupo político. Nele, a política ecológica, o feminismo e o inter- menor que a dos homens.
nacionalismoconvergem para um projeto político unitário. Outras provas Venho usando uma diversidade de conceitos e categori&pra
do vínculoentre as mulheres e o pacifismo encontram-se nas pesquisasde diferentes padrões e grupos sociais— as idéiasde yup étnxo, e
opinião, que mostram sistematicamente, pelo menos na Grã-Bretanha e nos Ha também outros, como religião,dominaçãoe Assam.
EstadosUnidos, que as mulheres são menos propensas a apoiar as atitudes gicamente, a pergunta referente ao sexo é: os conceitos
militaristas.45 entre os homens são idênticos aos conceitosque &mtam
Outra possibilidadeé que o elo entre o nacionalismo e o militarismofun- diferenças entre as mulheres? Homens e mulheres de
cioneno sentido inverso. Nesse caso, poder-se-ia supor que o maior compro- Iguaisou diferentes? São as mulherestio a
missodas mulherescom a paz e sua oposição ao militarismo estãoligados outros e tao defensoras deles quanto (S homens?
e
a um menor compromissocom "sua" nação. Será que as mulheres conside- Há várias respostas possíveis.Primeiro,afirrm-se
ram com menos frequência que a guerra por razões nacionalistas vale a pena, têm Interesses idênticos e, sendo assim, haveriapouca e
pelo fato de terem menos interesses reais no desfecho "vitorioso", já queele raçáo. Trata-se, no entanto, de uma idéialargmeme
e.
fariamenosdiferençapara seu lugar na sociedade do que para o dos homens? mulheres de fato ocupam posições sociaisdiferentes
Enquantoalguns homens podem passar de governantes a subalternos, é pro- ditérentes. Mas, será que essas respndem
vávelque isso não se aplique a quase nenhuma mulher. Inversamente, seráa da et n ta/ Segundo, se as m&res •frem e
diferençaentre o militarismo das mulheres e o dos homens menos acentuada ou se beneficiam da dominància étnica na
nassociedadesem que elas tém mais coisas em jogo, em função de uma menor posstvel que elas tenham interesses
desigualdade sexual? cetro, as diferentes tem
a
Há váriasmaneiras pelas quais o sexo e o nacionalismo são mediados pelo entre os sexos, alguns dos quais podemser
menorapoio feminino ao militarismo. Vemos aqui o maior compromissodas Isso tende a dar origem a diferentes
mulherescom a paz e a cooperação internacionais do que com o nacionalismo de cleternunado projeto étnico/nacionw•raoar.
militansta. O lema verde "pense globalmente,
aja localmente" é muito próximo das fronteiras de etnia./naçW"rasu•
da prática feminista e difere•
feminina típica. pode acarretar uma avaliaç&o
UM MAPA QUESTÃO NACIONAL SYLVIA WALSY
264
265
de homens e mulheres (ou, mais provavelmente, horário integral. Portanto, as medidas políticasdo Dvernodo
"raciais"por parte de alguns
mulheres). Quarto, dado que a etnia, nação, sexo têm afetado o funcionamento ReinoUm-
homens e algumas de fronteiras entre os grupos "raça" , reli- do quanto ao CEE obstante,
significantes medidas a
giào, língua e outros mas não costumam ser sociaisfr scram-se muitas
esse governo relutante.
Uma ús
impu-
qúentemente se superpõem, coincidentes, do "valor igual" na legislaçãosobrea
existe
dessas fronteiras tenham maior significado a pos_ foi a emenda remuneraçb
sibilidadede que algumas paraas Ela ampliou os modos pelos quais a mulher pode
reivindicar
os homens. Um exemplo disso
mulheres, e algumas, maior para é que um igual. As mulheres deixaram de ter que encontrar
remuneração
pode ser mais importante para as mulheres sig_ fizessemam
nificante religioso do que um
os homens; se esses dois sistemas signi_ trabalho " idêntico ou similar", o que era muito difici,prsa
"nacional", mas não para a
ficante
divergir. As questões do
entrarem em segregaÇáOocupacional. Passaram a poder reivindicar
conflito, homens e mulheres poderão militarismo e do à dos homens
cujo trabalho tivesse o mesmovalor
o
nacionalismo podem ser afetadas por esse aspecto. Quinto, os diferentes determinado por algum método de avaliação
dis- Nm
cursossexualizadospodem representar um compromisso maior ou menorcom nos locais em que essa política foi raroe'
pequenos ou grandes grupos. (Gilligan sugeriu que as mulheres têm critérios de 200/0na remuneração feminina. Dezenasde
46
diferentes de avaliação moral.) tramitando na justiça trabalhista britânica.
Vemos aí um órgão supranacional e
AS MULHERES, A NAÇÃO E A EUROPA entre os sexos dentro de um Estado nacional.Hádoi
na explicação disso. Primeiro, a representação
As relaçõesmutáveis entre um Estado, o Reino Unido, e um órgão suprana- mulheres no órgão supranacional, a CEE,compra& à
cional, a Comunidade Económica Européia (CEE), ilustram a questão dasuni- no Estado britânico. Segundo, as
dades com fronteiras diferentes que têm relações variáveis entre os sexos.Elas As relações entre os sexos na de bop
demonstram também a importância de não considerarmos que um Estadotem
mente entendidas fora de uma análisedas entreo e
apenas um período crítico de formação, como já vimos. O sexo, a etniae a
a CEE,ou seja, as questões da "nação" e do "Esado•
classetém relações diferentes com a "nação", o Estado e as instituiçõessu- cativos das mudanças nas relações os
pranacionais semelhantes a Estados. Isso se deve a que os determinantesdo • CL
Quanto maior a perda da independência
do Estuio
sexo, classe e etnia são diferentes.
maior tem sido e tende a ser o fortalecimento
Podemos ver um exemplo disso no desenvolvimento da CEE.Faz muito
igualdadede oportunidades.Nesseaspecto, m&ro
tempo que as instituições centrais da CEE apóiam a prática das "oportunidades
minuiçáo da soberania britànica.
iguais".47Elas foram formalmente incorporadas à CEE pelo Tratado de Roma,
que funciona eficazmente como uma constituição da CEE supranacional. Essas
FEM 1NISMO, NACIONALISMO E OCIDENTALIZAÇÃO
regrasformais foram postas em prática, em parte, através da ação de algunsdos
funcionáriosda CEE.Também sucede, obviamente, que não é do interessedos
Outro exemplo de uma categoriatransnxioa
paísesque institucionalizaram práticas de igualdade de oportunidades permitir A
os sexos é o da
que outros continuem a empregar uma mão-de-obra feminina subalterna,que é pa
entrefeminismoe
poderia prejudicar suas indústrias. Alguns Estados nacionais recalcitrantesforam
politica em torno de projetos
chamadosà ordem pelo uso de sentenças do Tribunal Europeu e por diretrizes
O feminismo e transnacional, ou é nacioa
Os críticos do feminismo no TerceiroMu•
de comissOesda CEE,com consequentes alterações
em sua legislação nacional.
O ReinoUnido não aceitou passivamente essas
mudanças; tem uma longae ele e de origem ocidental e,
complexahistória,que mistura resistência e aceitação. se ele tosse nacionalmente endógencx
Por exemplo,tipica-
mente, os representantes do governo
do Reino Unido nos órgãos da CEEtêm O feminismo é um movimento
resistidoà expansãoda política da
igualdade de oportunidades, Usaramseu Os tipos de exigênciasfeitospus
direito de veto para impedir
que a CEE estendesse uma política de oportunida- clonais. Além disso, tipicamente,
des iguais às licenças de
maternidade e paternidade e aos trabalhadores que de outros países. E boa parte
QUESTÃO NACIONAL
SYLVIA WAt.•y
UM MAPA DA 267

quer dizer que o feminismo não seja gerado por das relações entre os sexos às vezes assumem mesmas unida-
Contudo, isso nào Os padrões
sustenta vigorosamente que os condi- classe e da etnia, da nação e da "raça" porém com freqúência
fato, Jayawardcna movimentos espaciais da
çocs locais.Pc Mundo foram gerados por mulheres do Terceiro fazem. pelos
dados disponíveis, pareceque as atividadespoliticas
das
feministasdo Terceiro Mun_ a ser mais globais e mais locais que as dos hornens,
seus próprios interesses, como já discutimos.49 Evans mostra [Ilheres tendem propor-
do, cm defesa de não ocorreu apenas
em países
m atividade política total. Entretanto,asa concluso deve
que a primeira onda
de feminismo europeus, nalmente á sua con-
também na Austrália e na América do Norte; luz da insuficiência de dados. As mulheres
inclusivea Rússia,e houve tinuar provisória,
internacionais. frequência que os homens no plano da nação.Va por os
ganizaçóes feministas com menos na natureza das relações entre
é se as mulheres compartilham formas similares
aspectos comuns
os sexostranscendem fron-
A questão, é claro, assim, é
de su-
especificidade étnica e
países. Se for provável que as mulheres e a "racial". Ao
bordinaçâo nos diferentes de teiras nacionais é
exigências semelhantes. Nesse caso, é lógico " pessoal" continua mais político do que nunca.
muitos países articulem que a li- da ordem
geradas num país sejam pertinentes em outros. o feminismo e o nacionalismoé crucálmente
teratura escrita e as táticas A relação entre
Ou seja, existem formas
internacionalmente válidas de feminismo. Os
dados de militarismo,já que, muitas vezes, mas nem sempre, mubers
indicam que as feministas do mundo relação diferenciada com a guerra. Isso pode
autorascomo Jayawardenae Evans in- uma
teiro tém acreditado na existência desses traços comuns. Em outras
palavras,o simultaneamente menos militaristas e menos nacionalist%, o
entre os sexos têm aspectos transnacionais como uma faceta integante&
feminismo e os padrões de relações rismo é visto, com freqüência,
significativos. O projeto nacional ou étnico tem que ser disputao por
Entretanto,a "acusação" de que o feminismo e o movimento das mulheres ferenciadas sob muitos aspectos, sobretudo pela classee pelo
A—
na esfera publica são ocidentais não deve ser subestimada. Saber se ela é verda- relaçOesentre as nações são, em parte, o produto de muitx
deira ou falsanão reduz, necessariamente, o peso dessa afirmação no contexto cificasde um lugar.
das lutas nacionais. Se as elites masculinas têm ou não a possibilidade de ca- democrático.No
A luta pela cidadania é hoje um projeto
todos
racterizara presença pública das mulheres como uma característica ocidental popular, ela implica a plena participaçãode e.
constitui,muitas vezes,uma questão da luta local. Além disso, o sentidode Elaé tambémum
temente de "raça", etnia, sexo ou credo.
"ocidental"é variável.Às vezes, esse epíteto é fundido com o de "moderno" «nação"procura*ter
a rigor, um projeto mediante o qual a
(comono caso da Turquia no governo de Ataturk e no do Irã sob o gover- olhos dos habitantes do país e da "comuni&de em &
no do xá), situação na qual ele contribui para implementar medidas políticas sentido do termo
sociais devem prestar atenção ao novo
que tendem a aumentar a presença pública das mulheres. Noutras ocasiões,o se aterem restrita noção utilizada nas
epiteto "ocidental" combina-se com o de "opressor estrangeiro e imperialista", eram exclu»dcs
as mulheres, os escravos e os
casoem que contribui para medidas políticas que tendem a inibir a presença
das mulheresna vida pública (por exemplo, no Irã de Khomeini). Assim, NOTAS

a combinaçãodo feminismo ou da presença pública das mulheres como


l. ver Anthony D. Smith, Theoria of
"ocidental"pode ajudar ou prejudicar essa mudança, dependendo de ou-
tras circunstâncias.Uma análise das condiçóes que conduzem a uma ou outra
Ernest Geliner. Nanons and
direçáoprecisa ser não apenas uma análise do sexo, mas também da etnia/ 1906;Smith, TheoriesofNaú•me
naçáo/"raça" e da ordem internacional. A.Cvnthta Entoe, Bananas, Beacha
and
Kumari lay-awardeoa,
Yuva1-Davis e
CONCLUSÕES
Mann, -Ruling
O sexonáo pode ser analisado fora das
relaçóes étnicas, nacionais e "raciais", 1986. e "Outline oi a
nem tampouco podem estes
últimos fenómenos ser analisados sem o sexo.Nio
se trata simplesmente de
adicionar esses dois conjuntos de análises, mas do fato
de que eles se afetam ( and
mutuamente numa relação dinâmica.

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