No conto Herege, Johnny era o funcionário que toda fábrica gostaria de ter, sempre foi elogiado, pois, seu serviço era exercido de forma exemplar, trabalhava todas as horas como se fosse uma máquina. Todavia não se esperava menos, pois nascera dentro de uma fábrica na qual a sua mãe trabalhava. Mesmo recebendo elogios Johnny não se importava, pois seu trabalho havia se tornado monótono e alienado, e por isso não era mais de seu agrado. Sua infância foi roubada, visto que precisava trabalhar para ajudar no sustento de sua família. Durante toda a sua vida teve diversos empregos diferentes que o exploravam. A expressão da questão social é dada pelo conflito entre capital e trabalho, assim, o que se observa no conto é a manifestação da expressão no cotidiano da vida social, através da pobreza, desemprego, discriminação, dificuldade a acesso a saúde, à educação e nesse caso principalmente a violação dos direitos das crianças. A relação que se entende é de que o modo de produção capitalista requer a valorização do capital, por meio do trabalho, para que isso aconteça, é necessário que a massa se visualize como concorrente e esteja apta a vender sua força de trabalho como única forma de subsistência. Por meio da exploração da classe trabalhadora os capitalistas aumentam seus lucros, as custas: da liberdade dos trabalhadores, se apropriando do seu tempo para além da necessidade de subsistência, para satisfazer as necessidades do capital; dos recursos naturais em decorrência de sua alta produção destrutiva; e das condições de vida da classe trabalhadora que diante dos níveis de desemprego se sujeitam a péssimas condições de trabalho (FONTES, 2017). A alienação para Marx é uma situação típica que acontece no capitalismo, em que as pessoas são apartadas dos bens que elas mesmas produzem, quanto mais o trabalhador produz as riquezas, mais pobre ele irá ficar, pois o trabalhador torna-se uma mercadoria barata, valorizando os objetos e na mesma proporção consequentemente desvalorizando o trabalho do homem, sua vida passa a medir-se pelo que ele possui de objeto, e não pelo que ele é. Já o documentário propõe uma reflexão a partir do poder que o dinheiro tem na vida das pessoas, a ponto de tirar a sua liberdade. Esta é uma situação na qual as sociedades e os governos não sabem lidar. Assim como o lixo é excluído, essas pessoas também são. O trabalho produz riquezas para os ricos, e pobreza e miséria para os trabalhadores, Marx mostra que:
É evidente que o trabalho produz maravilhas para
os ricos, mas produz miséria e escassez para o trabalhador. Produz palácios, mas choupanas para o trabalhador. Produz beleza, mas invalidez e deformidade para o trabalhador. Substitui o trabalho por máquinas, mas obriga uma parte dos trabalhadores a um trabalho cruel e transforma os outros em máquinas. Produz inteligência, mas também produz estupidez e cretinice para os trabalhadores. (Marx, 1993, p. 93).
A criação da propriedade privada é uma forma visceral de alienação,
pois estão ligadas e se expressam como um fenômeno geral em que a liberdade do indivíduo é totalmente ilusória, eles não reconhecem os mecanismos que controlam suas próprias relações. Considera-se então, que a relação entre o capital avançado, trabalho e a alienação, promove a coisificação do mundo, a reprodução do fetichismo da mercadoria que é uma das características do capitalismo, e passa a dominar todas as esferas da vida social, sempre gerando cada vez mais mazelas, pobrezas e vulnerabilidades.
Em conclusão, o conto "Herege" e as reflexões baseadas nas teorias de
Karl Marx proporcionam uma profunda análise sobre as repercussões do mundo do trabalho. A narrativa de Johnny, exemplar trabalhador nascido em meio a uma realidade alienante, ressoa com as preocupações de Marx sobre a alienação no contexto capitalista. A exploração e a desumanização do trabalhador, evidenciadas no conto, refletem a lógica do capital, onde a busca incessante por lucro frequentemente resulta na perda de significado e propósito no trabalho.
A expressão da questão social no conto transcende o ambiente fabril e
abrange aspectos amplos da vida social, destacando a pobreza, o desemprego, a discriminação e a violação dos direitos fundamentais. A citação de Marx sublinha a dicotomia entre a produção de riqueza para os privilegiados e a criação de miséria para a classe trabalhadora, uma realidade que persiste nas estruturas econômicas contemporâneas.
A propriedade privada, como apontado por Marx, contribui para a
alienação ao limitar a liberdade do indivíduo, transformando as relações sociais em mecanismos de controle. O documentário, ao abordar o poder do dinheiro na vida das pessoas, amplifica a narrativa, destacando como a alienação se estende para além do local de trabalho, afetando a liberdade e a inclusão social.
Assim, a coisificação do mundo e a reprodução do fetichismo da
mercadoria, características do capitalismo avançado, geram não apenas desigualdades econômicas, mas também perpetuam mazelas, pobreza e vulnerabilidades em diversas esferas da sociedade. Diante disso, as reflexões apresentadas apontam para a necessidade contínua de repensar as estruturas sociais e econômicas, visando uma abordagem mais equitativa e humana para o mundo do trabalho. Referências: FONTES, Virginia. Capitalismo, crises e conjuntura. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 130, p. 409-425, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/a/D6NmRJcx4Z98gmSSp4cCwLy/? format=pdf&lang=pt