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A ABORDAGEM HUMANISTA EXISTENCIAL (1)

Esta abordagem dá ênfase às questões filosóficas relativas ao que significa se tornar


um ser humano total.

Vários psicólogos de orientação existencialista lançaram argumentos contrários à


restrição do estudo do comportamento humano aos métodos usados nas ciências
físicas.

Por exemplo, Bugental (l1965 ), Rogers (1961 )May ( 1953/58 1961/67/69 )Jourard
(1968 1970 ) e Arbucle (1975 ) falaram da necessidade de que a psicologia desenvolva
uma perspectiva mais ampla, englobando a vivência subjetiva do cliente acerca de seu
mundo particular.

Uma das metas básica de muitas abordagens terapêuticas é capacitar o individuo a


agir, aceitando a formidável liberdade e responsabilidade por sua ação.

A terapia existencial, em particular, funda-se na premissa de que os seres humanos


não podem fugir à liberdade e de que liberdade e responsabilidade caminham lado a
lado.

Proporciona uma filosofia para os indivíduos, em seu relacionamento humano, para


ajudar o individuo a enfrentar as questões centrais da experiência humana.

CONCEITOS-CHAVE

Visão da natureza humana – Sequem-se alguns aspectos relevantes da


abordagem existencial, os quais constituem os alicerces da prática
terapêutica:

AUTOCONSCIENCIA: Seres humanos são capazes de autoconsciência,


capacidade que lhes permite pensar e decidir. Quanto maior a
consciência, maiores as possibilidades de liberdade. O poder de decidir
livremente – dentro de um contexto de limitações – é aspecto essencial ao
ser humano. O existencialismo insiste no fato de as pessoas serem

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responsáveis por sua existência e seu destino; não são marionetes nas
mãos das forças deterministas do condicionamento.

LIBERDADER, RESPONSABILIDADE E ANSIEDADE: a consciência da


liberdade e da responsabilidade faz surgir a ANSIEDADE (ou angústia
existencial), um atributo humano básico. Saber que é preciso escolher,
mesmo não havendo a certeza do resultado, tem como consequência a
ansiedade. A ansiedade também decorre da sensação da consciência de
finitude e de se estar em confronto com a perspectiva inevitável da morte
(NÃO-SER). Esta consciência da morte dá significado ao momento
presente. A culpa existencial também é a decorrência do fracasso em
realizar plenamente aquilo que se é capaz de vir a ser.

A BUSCA DO SENTIDO: A singularidade do homem reside em sua luta por


descobrir um propósito para a vida e CRIAR valores que tornem a vida
consistente. Ser humano implica, ainda, o confronto com a solidão última:
uma pessoa vem ao mundo sozinho e o deixa sozinho. Embora o individuo
seja essencialmente só, ele é um ser de relação. O fracasso na criação de
relacionamentos significativos tem, como resultado, condições tais com, o
isolamento, despersonalização, alienação, estranheza e solidão. O ser
humano luta pela atualização de si mesmo. O individuo torna-se “doente”,
na medida em que não consegue estas atualizações. A PATOLOGIA é vista
em termos de um fracasso no emprego da liberdade para a atualização do
potencial individual.

O PROCESSO TERAPEUTICO

OBJETIVOS TERAPEUTICOS: visa levar os clientes a experimentar uma


existência autêntica, tornando-se consciente de sua existência e potencial
próprios, assim como do modo pelo qual podem abrir para si mesmo este
potencial e atuar sobre ele.

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São três as características da existência autêntica: (1) estar plenamente
consciente do momento presente; (2) escolher a maneira de viver o
presente; e (3) assumir a responsabilidade pela escolha.

O cliente neurótico é alguém que perdeu o sentido da existência,


objetivando-se, assim ajuda-lo a recuperar ou descobrir sua humanidade
perdida.

As terapia existenciais visam ajudar os clientes a enfrentarem a ansiedade


de escolherem por si mesmos (precisam optar entre agarrar-se ao que é
conhecido e familiar ou arriscar-se a se abrir para uma vida menos
garantida e mais desafiadora) e aceitarem a realidade de que são mais do
que simples vitimas de forças deterministas, fora deles mesmo.

FUNÇÃO E PAPEL DO TERAPEUTA: A principal tarefa do terapeuta é tentar


compreender o cliente enquanto ser e enquanto ser-no-mundo. A técnica
segue a compreensão, mais do que a precede e, por isso, o terapeuta
mostra uma abertura quanto aos métodos que utiliza, podendo variar
seus procedimentos não só de cliente para cliente, mas ainda com o
mesmo cliente em diferentes fases da terapia.

Para May (1961), a tarefa do terapeuta é ajudar o cliente a perceber e


tomar consciência de seu ser-no-mundo. “Este é o momento em que o
cliente percebe ser ele mesmo o ameaçado, ele mesmo aquele que está
neste mundo ameaçador, ele mesmo o sujeito que POSSUI um mundo”.

Para Frankl (1959) o papel do terapeuta consiste em alargar o campo


visual do paciente, de modo a tornar consciente e visível, para este, todo o
espectro de sentidos e valores.

A EXPERIÊNCIA DO CLIENTE NA TERAPIA: Os clientes têm a possibilidade


de vivenciar subjetivamente suas percepções acerca de seus mundos.
Devem ter uma atitude ativa no processo terapêutico, pois precisam
decidir quais são os medos, culpas e ansiedades a serem explorados.

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Como as pessoas dispõe-se abrir a porta para o interior delas mesmas,
gradualmente, passam a perceber o que têm sido e quem são agora,
tornando-se mais capazes de decidir o tipo de futuro que desejam. Ao
longo do processo de terapia, têm a oportunidade de explorar alternativas
para tornar reais suas fantasias.

A RELAÇÃO ENTRE TERAPEUTA E CLIENTE: é de vital importância para o


terapeuta existencial. Coloca-se a ênfase no encontro entre dois seres
humano e em uma jornada a dois, mais do que em técnicas de influencia
sobre o cliente. O conteúdo da sessão de terapia é a experiência imediata
dos clientes, não o seu “problema”. O cliente é um companheiro
existencial, não um objeto a ser diagnosticado e analisado. Esta relação
com o outro, numa presença autentica, é focalizada no aqui-e-agora. O
passado e o futuro têm significação apenas na medida em que remetam
ao momento imediato.

A relação terapêutica pode mudar o terapeuta, assim como muda o


cliente. Isto significa que não deveriam ser terapeutas aqueles que
desejam deixar sem mudança o seu ser e seu desenvolvimento. O
terapeuta convida o cliente a crescer, por modelagem com o
comportamento autêntico. É capaz de ser transparente, quando isso é
adequado à relação, sendo sua própria qualidade humana um estímulo
para que o cliente traga seu potencial à luz da realidade.

O meio de que dispõe o terapeuta para ajudar o cliente a descobrir seu


verdadeiro eu e deixar de ser um estranho para si mesmo é revelar
espontaneamente sua própria experiência autêntica, no momento
apropriado da sessão. Isto não significa que os terapeutas deveriam deixar
de usar técnicas, fazer diagnóstico ou formular conclusões. Significa que
deveriam muitas vezes falar abertamente e a plena voz ou, caso contrário,
dizer ao cliente que não querem expressar seu pensamento ou
sentimento.

APLICAÇÃO: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS TERAPÊUTICOS

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Distingue-se da maioria das outras abordagens por não dispor de técnicas
bem definidas. Os procedimentos terapêuticos podem ser tomados de
empréstimo a várias outras abordagens.

Tem um lugar central, na terapia, as seguintes questões existenciais:

(1) Em que medida estou consciente de quem eu sou?


(2) Em que estou me transformando?Como posso optar por recriar
minha identidade atual?
(3) Em que medida estou aceitando a liberdade de escolher meu
próprio caminho?
(4) De que modo enfrento a ansiedade produzida pela conscientização
de minhas escolhas?
(5) Em que medida estou vivendo interiormente meu próprio centro de
referencia?
(6) O que estou fazendo para descobrir um sentido de finalidade em
minha vida?
(7) Estou vivendo a vida ou simplesmente me contento em existir?
(8) O que estou fazendo para modelar uma identidade segundo o tipo
de pessoa que talvez queira vir a ser?

A seguir, apresento proposições que estão subjacentes à prática da


terapia:

TEMAS E PROPOSIÇÕES EXISTENCIAIS DE BASE: APLICAÇÕES À


PRÁTICA TERAPÊUTICA

AUTOCONSCIÊNCIA: Os seres humanos possuem a consciência de si


mesmos. Têm a possibilidade de sair de si mesmos e refletir sobre sua
própria existência. Quanto maior a consciência, maior o si mesmo. A
responsabilidade está baseada na capacidade de tomar consciência. O
homem é o ser que pode ser consciente de sua existência e, portanto,
responsável por ela. De esse modo expandir a consciência individual é
aumentar a capacidade de experienciar plenamente a vida humana. Sendo

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o núcleo da existência humana, a consciência nos revela, a todos, o
seguinte:

(1) Somos finitos, e não temos um tempo ilimitado para atualizar


nosso potencial.
(2) Temos o potencial para desenvolver, ou não, nossas ações.
(3) Temos certa margem de escolha quanto ao que realizar em
nossa ação e, portanto, podemos em parte criar nosso próprio
destino.
(4) Estamos basicamente sozinhos e, no entanto, temos necessidade
de nos relacionarmos com outros seres; reconhecemos que
estamos separados dos outros, ainda que em relação com eles.
(5) O sentido não é algo que nos seja automaticamente entregue, e
sim o produto de nossas buscas e de nossa criação de um
propósito singular.
(6) A ansiedade existencial é parte essencial da vida, pois ao, mesmo
tempo que ampliamos a consciência de possibilidades de
escolha, também aumentamos nossa responsabilidade pela
consequência dessas escolhas.
(7) A ansiedade decorre da aceitação da incerteza de nosso futuro.
(8) Podemos aceitar condições de solidão, ausência de sentido,
esvaziamento, culpa e isolamento, porque a consciência é a
capacidade que nos permite conhecer tais condições.

É possível conceitualizar a conscientização da seguinte maneira: imagine


andando ao longo de um corredor, com muitas portas de cada lado. Você
pode escolher abrir uma porta ou deixa-la fechada. Abrindo uma das
portas, talvez você não venha a gostar do que vê – pode ser ameaçador,
ou horrível. Por outro lado você poderia encontrar um quarto cheio de
coisas lindas. Acredito que é possível escolher entre ampliar nossa
consciência ou limitar o autoconhecimento. Tendo em vista que o
conceito de autoconsciência se constitui enquanto origem da maior parte
das outras capacidades humanas, decidir-se por sua expansão é
fundamental para o crescimento do homem.

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Segue-se uma relação de algumas formas incipientes de consciência,
experimentadas pelos indivíduos em terapia:

(1) Tornam-se conscientes de que, procurando desesperadamente ser


amados, na realidade perdem a experiência de se sentirem amados;
(2) Percebem como trocam a ansiedade advinda da tomada de
decisões autônomas pela segurança da dependência;
(3) Reconhecem como tentam negar as próprias incoerências e como
não querem aceitar, em si mesmo o que consideram inaceitáveis;
(4) Começam a entender que sua identidade está ligada à definição que
lhe é dada por outra pessoa, isto é, buscam nos outros aprovação e
confirmação de seu modo de ser, em vez de se olharem para
confirmá-lo;
(5) Aprendem que, de muitas maneiras, mantêm-se prisioneiros de
certas experiências e decisões pensadas.
(6) Descobrem uma infinidade de aspectos dentro de si mesmos e
começam a perceber que, quando reprimem um lado de seu ser,
reprimem também o outro lado. Por exemplo, reprimindo a
tragédia, excluem-se a si mesmo a alegria; se negam os seus ódios
negam sua capacidade de amar; derrubando seus demônios,
também derrubam seus anjos.
(7) Têm a oportunidade de aprender que não estão condenados a um
futuro semelhante ao passado, e que podem reformular o futuro,
compreendendo o seu passado;
(8) Podem concretizar que, estando tão ocupados com a morte e com a
possibilidade de morrer, não conseguem apreciar a vida;
(9) São capazes de aceitar suas limitações e, ainda assim, sentirem-se
merecedores de atenção, pois compreendem que não precisam ser
perfeitos para se sentirem valorizados;
(10) Podem chegar a compreender que não conseguem viver no
presente, seja por sua preocupação com o passado, seja por
planejarem o futuro, ou por tentarem fazer muitas coisas ao mesmo
tempo.

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A intensificação da autoconsciência – abrangendo a percepção de
alternativas, motivações, fatores que modelam a pessoa e objetivos
pessoais – é, em termos concretos, a meta de todo esse tipo de
psicoterapia. Claro que existem pessoas que estejam satisfeitas e nem um
pouco interessadas em uma elevação da consciência. Mas quando vêm
para a terapia, o caso então é bem diferente.

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE

O homem é autodeterminado porque tem a liberdade de escolher entre


alternativas. Por ser essencialmente livre, deve aceitar a responsabilidade
de dirigir sua vida e formar seu destino. Este tipo de terapia coloca, no
centro da existência humana, a liberdade, a autodeterminação, a vontade
e a decisão. O individuo tomando suas decisões modela seu destino, e é o
escultor de sua própria existência. Ele vem a ser o que decide ser,
precisando aceitar a responsabilidade pela trajetória de sua vida. Sartre
nos diz que “somos nossas decisões”. Nietzsche descrevia a liberdade
como “a capacidade de vir a ser o que realmente somos”. Jasper dizia que
“somos seres de decisão”.

Sem dúvida, a liberdade tem seus limites e as escolhas sofrem as


restrições de fatores extrínsecos, mas de fato temos em mão um
elemento de escolha. Talvez a questão central, na terapia, seja a da
liberdade e responsabilidade. O tema existencial nuclear é o da criação de
nós mesmos. As tarefas do psicólogo consistem em assistir os clientes na
descoberta das formas pelas quais evitam aceitar plenamente sua
liberdade, e em estimulá-lo para aprenderem a assumir o risco de confiar
nos resultados do uso de sua liberdade. Não fazer isto seria prejudicar os
clientes e torná-los neuroticamente dependentes do terapeuta.

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