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Teorias fenomenológica existenciais I

Prof; Sérgio Murilo

Princípios humanistas existenciais


1- Consciência: A autoconciência é uma capacidade humana. Quanto mais consciente o sujeito é a
respeito de si e do mundo que o cerca, maior liberdade de escolha ele tem. A terapia que se baseia nos
preceitos humanistas existenciais prima pela expansão da autoconsciência do cliente, pois isto lhe
confere maior liberdade e aumenta suas possibilidades de escolha na vida.
O processo de consciência revela:

- Somos finitos e o tempo para nossa auto-realização é limitado.

- Temos o potencial para nos desenvolver ou escolher não fazê-lo.

- Podemos ver as possibilidades que temos e assim criar nossa vida.

- Reconhecemo-nos como seres distintos dos demais. Estamos basicamente sozinhos, mas precisamos
de relações significativas com outros.

- O sentido da vida é uma criação individual.

- A ansiedade é inerente a vida, pois com o aumento de nossas possibilidades de escolha, aumentam
também nossas responsabilidades. Além disso, a ansiedade vem em decorrência da incerteza de nosso
futuro.

- A consciência também pode nos fazer sentir mais intensamente solidão, ausência de sentido,
esvaziamento, culpa e isolamento.

2- Liberdade: O homem é essencialmente livre para fazer as escolhas que quiser na vida. Contudo,
com a liberdade de escolha, vem a responsabilidade pelo caminho tomado. “O homem é
autodeterminado porque tem a liberdade de escolher entre alternativas. (…) A abordagem existencial
coloca, no centro da existência humana, a liberdade, a autodeterminação, a vontade e a decisão.”
(Corey, 1986, p.61)
“Não importando a grandeza das forças que fazem dos seres humanos suas vítimas, o homem tem a
capacidade de conhecer sua condição de vítima e, assim, de exercer alguma influência sobre o modo
pelo qual se relacionará com sua sorte.” (Rollo May, 1961 apud Corey, 1986).

3- Responsabilidade: O existencialismo preconiza que o homem é responsável por sua existência e


destino. O sujeito é essencialmente livre e não determinado. Por isso, quando tem determinada atitude
não é porque Deus ou o Destino o quis, mas porque ele próprio fez uma escolha e deve arcar com as
consequências disto; é sua responsabilidade, não de outrem.
É comum que em terapia os clientes perguntem aos terapeutas o que devem fazer diante de
determinadas situações, não é função do terapeuta responder a tais questões; se assim o fizesse, estaria
tirando a oportunidade do cliente de fazer suas próprias escolhas e praticar a inevitável
responsabilidade por sua vida.

A maior conscientização traz maior liberdade; e a liberdade pressupõe responsabilidades.

4- Autenticidade: Viver autenticamente é estar plenamente consciente do momento presente, escolher


a maneira de viver o momento e assumir a responsabilidade da escolha feita. É escolher baseado em si
mesmo e não em referenciais externos.
“Nós nos traímos, tornando-nos o que os outros esperam de nós, em vez de confiarmosem nós mesmos,
em nossa busca interior, em obter nossas próprias respostas para os conflitos que vivemos. Nosso ser
cria raízes no ser dos outros e chegamos a ser estranhos para nós mesmos.” (Corey, 1986, p.63)

5- Fazer escolhas conscientes: A grande dificuldade da escolha é que ela necessariamente implicará
numa perda. Quando se opta por X, ao mesmo tempo abre-se mão de R, Y, Z, etc.
Mas aceitar a responsabilidade por nossas escolhas é tomar a rédea da nossa vida nas mãos. Segundo
Sartre: “Nós somos nossas escolhas.”

6- Crença no potencial humano: O homem está em constante busca da realização de seu potencial
pleno, está o tempo todo se modificando, se atualizando. Para a abordagem humanista existencial, a
patologia acontece quando a pessoa fracassa no uso de sua liberdade para atualização de seu potencial
individual.
7- Morte como algo positivo: Para os existencialistas, é a consciência da morte que dá sentido à vida.
“Se nos fosse dada a eternidade para atualizar nossas potencialidades, não haveria urgência.”
Para os existencialistas o medo da morte e o medo da vida tem total relação. Ou seja, alguém que diz
temer a morte na verdade teme a vida, pois pensa: “Não quero morrer, pois não vivi tudo o que poderia
ter vivido de forma plena.”

8- Ansiedade (ou angústia) existencial: O ser humano tem que conviver com uma espécie de
ansiedade existencial que o afeta em decorrência de sua consciência de liberdade e responsabilidade
na vida e também é fruto do saber-se finito, ou seja, da consciência da própria morte.
A ansiedade nem sempre é patológica, pelo contrário, é até muito positiva quando nos ajuda a
vislumbrar o futuro e nos impulsiona para a ação.

Além disso, a ansiedade é consequência certa em todas as mudanças. Logo, é inevitável que a pessoa
sinta ansiedade quando em processo de terapia. Na terapia, é preciso suportar a ansiedade e não tentar
erradicá-la como se fosse algo nocivo, os que assim procedem tem seus benefícios.

Como não existem certezas na vida, a ansiedade estará sempre presente.

9- Culpa existencial: Aparece em decorrência do fracasso do homem em realizar plenamente aquilo


que poderia ter sido. Se consideramos que o homem é fruto de suas escolhas, se este não é tudo aquilo
que poderia ser, então é o único responsável por isto, daí advém o sentimento de culpa. E, “na medida
em que alguém limita seu vir a ser, torna-se doente.” (Corey, 1986, p.66) Para os existencialistas, a
doença ocorreria por conta de uma frustação por um potencial não desenvolvido.
10- Busca de sentido: É inerente a condição humana a busca por um sentido na vida e por valores que
tornem-na consistente. O sentido da vida deve ser uma criação particular a cada sujeito e não baseado
em crenças aprendidas por meio de outros. Todo ser humano busca um sentido na vida e a falta de
sentido gera o que os existencialistas denominam de “vazio existencial.” Para os existencialistas a
neurose é a perda do sentido do ser.
11- Auto-realização: Para os existencialista, o homem luta pela auto-realização, que é vir a ser tudo o
que é capaz. Toda pessoa tem o desejo de tornar-se tudo o que é em potencial, mas para tanto é preciso
coragem, determinação, consciência e responsabilidade.
12- Solidão: O homem é essencialmente só (nasce e morre só), mas precisa dos outros, pois é também
um ser de relação. Para o existencialismo, a solidão faz parte da condição humana e, para vivenciar
com o outro uma relação saudável, só é possível se formos capazes de ficar, antes de mais nada, bem
conosco mesmos. Uma relação saudável é aquela que une duas pessoas autônomas numa relação de
troca e não de dependência ou simbiose.
13- A relação do tipo humanista: Os psicólogos humanistas aceitam a importância da abordagem
“pessoa-a-pessoa”, participando ativamente das sessões como pessoas implicadas na relação.
Estes se vêem como modelos aos clientes, através de seu estilo de vida e imagem humanista, podem
incentivá-los a buscarem toda a expressão de seu próprio potencial.

Nesse tipo de relação o cliente tem voz, podendo expressar livremente suas opiniões e criar seus
próprios valores e objetivos.

O trabalho de psicoterapia deve ser dirigido para uma maior liberdade e autonomia do cliente, que não
deve ser dependente do terapeuta.

Numa relação humanista, o terapeuta pode atuar da seguinte forma:

- Comunicar ao cliente como este o afeta com sua fala.

- Revelar uma história pessoal sua que tenha a ver com o tema do cliente a fim de ajudá-lo.

- Pedir ao cliente que expresse suas angústias.

- Desafiar o cliente a que perceba como evita a tomada de decisão.

- Pedir para que ele avalie sua evolução na terapia. Por ex: “Se pudesse voltar no tempo e lembrar de
si mesmo antes da terapia, o que você fazia antes que faz diferente agora?

É preciso considerar que nessa relação terapeuta-cliente não é apenas o cliente quem muda, mas
também o terapeuta!

O diagnóstico não é importante:

“O cliente é um companheiro existencial, não um objeto a ser diagnosticado e analisado.”

Numa relação humanista existencial não cabe diagnosticar o cliente, pois não existe a pretensão de
ajustar o sujeito à sociedade, muito pelo contrário, o que se quer é que este viva sua autenticidade
plenamente.

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