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Talvez uma das mais importantes realizações da filosofia existencialista tenha sido a
valorização da liberdade de escolha que apelidos de teoria das escolhas. Jean-Paul
Sartre e Viktor Frankl, dois expoentes dessa corrente filosófica, desenvolveram
importantes reflexões acerca dessa temática. Neste artigo, exploraremos as visões de
ambos e como eles entendem o ato de escolher, e as implicações dessas escolhas em
nossas vidas.

SARTRE E A LIBERDADE ABSOLUTA


Jean-Paul Sartre, filósofo francês e figura emblemática do existencialismo, oferece uma
perspectiva única sobre a noção de liberdade. Para ele, cada um de nós é dotado de uma
liberdade absoluta, uma liberdade que transcende todas as circunstâncias e limitações.
Em sua obra “O Ser e o Nada”, Sartre argumenta que somos “condenados a ser livres”.
Essa afirmação pode parecer paradoxal à primeira vista, mas expressa a ideia de que,
mesmo que não peçamos para nascer, somos lançados à existência e, portanto, somos
livres. Esse pensamento sartreano enfatiza que a liberdade é inescapável, pois até a
escolha de não escolher é, por si só, uma escolha.
Ao contrário de uma visão que poderia ser considerada positiva ou empoderadora, para
Sartre, a liberdade é um fardo. Cada escolha que fazemos nos define, e por não existirem
valores ou regras universais pré-definidos, somos nós que damos sentido à nossa vida e
à nossa existência através de nossas escolhas.
Portanto, Sartre coloca a responsabilidade inteiramente sobre nossos ombros. Com cada
decisão, não estamos apenas decidindo por nós mesmos, mas também definindo o que
acreditamos que um humano deve ser. Como ele famosamente disse:
“Ao escolher por mim, escolho pela humanidade”.
Além disso, em relação à noção de “má-fé”, Sartre argumenta que nós, frequentemente,
tentamos fugir dessa liberdade e responsabilidade, mentindo para nós mesmos ou

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atribuindo nossas decisões a circunstâncias externas. Mas para Sartre, essas são apenas
tentativas vãs de escapar do fardo da liberdade.
Desta forma, a liberdade para Sartre é uma condição do ser humano que está
intrinsecamente ligada à responsabilidade e à angústia. É um chamado a enfrentar a
realidade de nossa autonomia e abraçar o peso das nossas escolhas.

VIKTOR FRANKL E A LIBERDADE DE ESCOLHA FRENTE AO


SOFRIMENTO
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e sobrevivente dos campos de concentração nazistas,
desenvolveu uma compreensão profunda da liberdade de escolha. Enquanto Sartre foca
na liberdade absoluta, Frankl direciona seu olhar para a liberdade que temos em escolher
nossa atitude frente ao sofrimento e adversidades da vida.

Na base da Logoterapia, a forma de psicoterapia desenvolvida por Frankl, está a ideia de


que o sentido da vida pode ser encontrado mesmo nas situações mais dolorosas e

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desesperadoras. Frankl argumentava que, mesmo quando todas as outras liberdades são
tiradas de nós, ainda nos resta a liberdade de escolher nossa atitude frente à situação
que enfrentamos.
Frankl exemplificou esta ideia por meio de sua própria experiência. Durante o tempo em
que esteve nos campos de concentração, ele buscou um sentido para o seu sofrimento.
Por mais terrível que fosse a sua situação, ele entendia que ainda possuía a liberdade de
decidir como responderia a ela.
A famosa frase de Frankl, “Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Nesse espaço
está nosso poder de escolher nossa resposta. Em nossa resposta estão nosso
crescimento e nossa liberdade”, sintetiza sua abordagem.
Frankl acreditava que essa liberdade de escolher a resposta é o que nos dá dignidade e
propósito, mesmo em meio ao sofrimento. A escolha consciente e deliberada de encontrar
sentido, mesmo no sofrimento, nos permite manter nossa humanidade e nos dá a
capacidade de continuar a viver e a crescer.

A partir destes dois planos, somos capazes de compreender porque uma pessoa pode se
sentir desesperada, mesmo que tenha alcançado muito sucesso.
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Eles também explicam como alguém considerado um fracasso em termos tradicionais
pode se sentir realizado.
A visão de Frankl traz uma perspectiva de esperança e resiliência. Ela sugere que, por
mais desafiadora que seja a situação, ainda possuímos a capacidade de escolher nossa
atitude, de encontrar sentido e, dessa forma, moldar nosso próprio destino.
3 maneiras de como a logoterapia pode melhorar suas Soft Skills
A logoterapia, a forma de psicoterapia desenvolvida por Viktor Frankl, não apenas pode
nos ajudar a lidar melhor com as adversidades da vida, mas também pode ter um impacto
significativo no desenvolvimento de nossas soft skills. Aqui estão três maneiras pelas
quais a logoterapia pode ajudar a melhorar essas habilidades:

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Desenvolvimento da Empatia
A logoterapia enfatiza a importância de encontrar sentido em situações difíceis. Esta
perspectiva pode ajudar a desenvolver a empatia, pois nos incentiva a considerar a
situação de outros de uma maneira mais profunda. Ao buscar entender o que outra
pessoa pode estar passando e como ela pode estar encontrando sentido em sua
situação, podemos nos tornar mais empáticos e compreensivos. Esta habilidade é
fundamental em muitas áreas da vida, incluindo o trabalho em equipe, liderança e
resolução de conflitos.
1. Melhoria da Resiliência
Frankl acreditava que temos a liberdade de escolher nossa atitude em qualquer
circunstância. Esta ideia pode nos ajudar a desenvolver resiliência. Ao entender que
temos o poder de escolher como responder aos desafios, podemos aprender a lidar
melhor com as adversidades e a nos recuperar mais rapidamente dos contratempos. Esta
habilidade de resiliência é valiosa em muitos contextos, pois nos permite enfrentar
desafios e pressões com maior equilíbrio emocional.
2. Reforço da Autenticidade
A logoterapia nos incentiva a sermos autênticos, a viver de acordo com nossos valores e
a buscar um propósito que dê sentido à nossa vida. Esta abordagem pode nos ajudar a
desenvolver a autenticidade, uma soft skill cada vez mais valorizada. Ser autêntico
significa ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros, o que pode levar a relações
mais honestas e significativas. Além disso, a autenticidade pode nos ajudar a tomar
decisões mais alinhadas com nossos valores e a agir com maior integridade.

EXISTENCIALISMO OU LOGOTERAPIA: QUAL O MELHOR CAMINHO PARA


ESCOLHAS?
Ao nos depararmos com as filosofias do existencialismo de Sartre e da logoterapia de
Frankl, podemos nos perguntar: qual dessas abordagens oferece o melhor caminho para
fazer escolhas na vida?
A resposta a essa pergunta depende, em grande medida, de nossas próprias
perspectivas e necessidades individuais. Ambos os enfoques oferecem visões valiosas,
mas com ênfases diferentes.
O existencialismo de Sartre destaca a liberdade absoluta e a responsabilidade inerente
que temos em nossas escolhas. Sartre enfatiza que somos inteiramente livres e que todas
as escolhas que fazemos são significantes e determinam quem somos. Se você se sente
atraído pela ideia de liberdade absoluta e pelo desafio de assumir total responsabilidade
por suas ações, então o existencialismo pode ser mais atraente para você.

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Por outro lado, a logoterapia de Frankl enfoca a busca por sentido, mesmo em situações
de grande adversidade. Frankl propõe que, mesmo em circunstâncias terríveis, temos a
liberdade de escolher nossa atitude e buscar um propósito. Se você se encontra
enfrentando desafios difíceis e busca uma maneira de encontrar sentido nesses desafios,
então a logoterapia pode ser mais adequada para você.
Vale ressaltar, entretanto, que essas duas abordagens não são mutuamente exclusivas.
Ambas apontam para a importância da liberdade e da responsabilidade pessoal. A
diferença reside mais na ênfase que cada uma dá: enquanto Sartre se foca na liberdade
absoluta, na angústia e autorresponsabilidade que ela pode trazer, Frankl se concentra na
capacidade de encontrar sentido de vida, mesmo no sofrimento.
O melhor caminho para fazer escolhas, portanto, pode ser um equilíbrio entre os dois:
reconhecendo e abraçando a liberdade e a responsabilidade que temos (como Sartre nos
convida a fazer), enquanto também buscamos encontrar sentido e propósito em nossas
vidas (como Frankl nos encoraja a fazer).
Assim, ao invés de ver essas duas filosofias como opostas, pode ser mais útil vê-las como
complementares, oferecendo diferentes perspectivas que podem nos ajudar a navegar
pelas complexidades e desafios da vida.

#datafabri
 Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) foi um filósofo francês que foi um dos principais
expoentes do existencialismo (Fonte: Enciclopédia Britannica).
 Viktor Frankl (1905 – 1997) foi um psiquiatra austríaco e sobrevivente do Holocausto,
fundador da logoterapia (Fonte: Enciclopédia Britannica).
 Segundo o existencialismo, o ser humano é livre e responsável por suas escolhas
(Fonte: Stanford Encyclopedia of Philosophy).
 A logoterapia de Frankl foca em encontrar um sentido na vida, mesmo frente ao
sofrimento (Fonte: Viktor Frankl Institute).
 Frankl acredita que, entre o estímulo e a resposta, há um espaço para escolha
(Fonte: “Em Busca de Sentido”, Viktor Frankl).

Curiosidade: Viktor Frankl


Viktor Frankl sobreviveu ao Holocausto e transformou sua experiência em uma teoria que
continua a ajudar pessoas ao redor do mundo. Apesar de ter perdido quase toda sua
família e ter passado por sofrimentos inimagináveis, Frankl escolheu não se entregar ao
desespero. Em vez disso, procurou um sentido em sua experiência e se focou em como
poderia contribuir para o mundo, se sobrevivesse. Essa escolha de atitude é um
testemunho do poder da liberdade de escolha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

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Conclusão
Jean-Paul Sartre e Viktor Frankl, cada um a sua maneira, nos mostram que somos, em
grande medida, os autores de nossas vidas. A liberdade de escolha, com todo o peso e o
poder que carrega, é uma das mais importantes lições que o existencialismo tem a
oferecer. Em um mundo repleto de estímulos externos e pressões sociais, lembrar que
temos a capacidade de escolher pode ser uma fonte de fortaleza e liberdade. Como
Sartre e Frankl nos mostraram, escolher é não apenas um ato, mas uma arte e uma
responsabilidade. E, você? Que escolhas está fazendo hoje?

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