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2.

4 ESCOLHER E ESCOLHER-SE

Pode-se dizer que um dos pilares centrais que sustenta o existencialismo


é o ato da escolha. Se não há uma essência que é anterior a existência, a
consequência é que, a priori, não acha-se a possibilidade de ser qualquer coisa, ou
seja, não se é nada. A principal mensagem do existencialismo é bem clara e
objetiva: cada indivíduo é responsável pelo o que faz de si mesmo. Na perspectiva
existencialista, não existe determinismo; não há algum deus supremo ou uma força
transcendental que dite o que cada humano será. Até mesmo a natureza não exerce
nenhuma força determinante em relação ao modus operandi de qualquer sujeito,
embora a natureza tenha criado os corpos e o ambiente em que exercemos nossa
consciência, o ente é exclusivamente responsável pela maneira que interage com o
contexto em qual foi inserido.

Entende-se o existencialismo (SARTRE, 1945, p. 01) “como uma doutrina


que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e
toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana”. Nesta passagem, Sartre
afirma que para o movimento existencialista, especificamente sua vertente ateísta, o
homem não é nada além daquilo que ele faz de si mesmo. O indivíduo projeta-se
num futuro onde ele é possuidor de si mesmo e consciente de seu próprio
desenvolvimento. O ponto inicial do itinerário existencialista é colocar o homem
numa posição de responsabilidade em relação à toda sua existência, escolhendo-se
a si mesmo e tornando-se senhor de suas escolhas.

Ao escolher-se e tomar para si a incumbência de suas atitudes, o ser


escolhe não só por si mesmo mas escolhe também por toda humanidade; é
responsável não somente por sua individualidade, mas sim pela de toda
humanidade em sua coletividade e historicidade. Quando algum homem age, este
sujeito evoca um reflexo que permeia todo um conjunto de entes, pois esta
determinada ação atribui valor à algum objeto de escolha, pois no juízo do sujeito
aquilo que se concretizou foi o mais correto e sensato a ser feito, . Um exemplo
enfático disso são as religiões; quando alguém é virtuado a seguir uma determinada
doutrina religiosa e se submete à uma existência submissa ao poder de uma
divindade, ela também, em sua subjetividade, conclui que a humanidade em seu
conjunto mais universal também é vassala para com essa entidade
suprema e tão grandiloquente. Dessa forma, vivemos responsáveis por aquilo que
somos e por aquilo que os outros são, criando uma daquilo que o homem é.
Escolhendo-se, escolhemos o homem.

2.5 ANGÚSTIA SEGUNDO SARTRE

Quando o ser humano se engaja no pedestal de legislador daquilo que ele


é e daquilo que todos serão, percebe-se que é impossível escapar do fardo desta
responsabilidade; existe um desamparo e um desespero constante, que de forma
lamuriosa adentra na realidade existencialista.

O existencialista declara de maneira recorrente que o homem é angústia.


Tal afirmação significa que o homem não consegue realizar nenhuma ação sem fugir
do peso da coletividade e das consequências de seus atos, o sujeito tende a
perguntar: o que aconteceria se todas as pessoas agissem da mesma maneira que
eu? Esta ansiedade que ocorre em cada ato de escolha é a angústia de Sartre.

O sujeito está desamparado no mundo, o existencialista é condenado a


inventar-se e inventar o homem o tempo inteiro. Não existe uma moral perfeita e
divina, o homem está sozinho com si mesmo e condenado em sua em sua eterna
liberdade. A angústia persiste pois o homem não acha em si mesmo e nem fora de si
algo para agarrar-se e mantê-lo firme, não existem desculpas ou alternativas;
existem as possibilidades de escolhas. A irremediável necessidade do agir provoca a
ansiedade, o desespero de ser limitado à nossas vontades e a totalidade das
possibilidades.

A angústia existencialista não se trata de uma melancolia profunda e


paralisante, mas sim de um pressuposto para o existir, pois é angustia de não ser
nada que viabiliza a constante necessidade de inventar-se e ser.
2.6 MÁ FÉ: A TENTATIVA DE ABDICAÇÃO DA ESCOLHA

O existencialismo se propôs a realizar uma análise precisa em relação às


tentativas de escape da responsabilidade de escolher-se e escolher o mundo. Os
participantes da humanidade muitas vezes tentam justificar suas ações em objetos
externos que não partem deles próprios, Sartre classifica o ato de anular a
responsabilidade pelas escolhas como má-fé.

A má-fé seria nada mais do que uma mentira para si, uma tentativa de
disfarçar a angústia recorrente que permeia a existência desamparada dos entes.
Não existe qualquer possibilidade de reprimir a responsabilidade das escolhas, é
impossível permanecer na inação; frequentemente atribuindo influência externas à
subjetividade. A má-fé é a tentativa fracassada de dizer: e se ninguém fizer ou se
importar com meus atos? Uma ingênua ideia de escape a realidade como ela é. É
necessário entender a afirmação ‘Deus não existe’ em sua forma mais extrema e
radical, de uma maneira que se aceite que não existe uma força reguladora e
universal, no qual poderia justificar ações e criar infinitas desculpas. O ser humano é
condenado a viver sua liberdade no seu sentido mais amplo e absoluto.

Os indivíduos devem questionar: teria eu capacidade para decidir o que


os outros são? Tal questionamento é a aceitação do desamparo e da angústia; é a
abdicação de qualquer má-fé. O existencialismo é um estudo profundo acerca do
agir e do desenvolvimento humano, uma doutrina emancipadora que livra a
existência de desculpas e insere o homem no papel mais fundamental de sua vida, e
a má-fé explicita a dificuldade para o entendimento desse estado.

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