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Roteiro para análise do filme “Tempos Modernos”

1) Contextualização. Qual o contexto social e econômico relatado no


filme? Quais aspectos significativos mudaram e quais permanecem na
estrutura econômica e social?

2) Crise econômica. O filme mostra a vida urbana dos Estados Unidos


após a grande depressão econômica de 1929. Quais as consequências
sociais provocadas por tal crise?

3) Impactos da Revolução Industrial. Quais impactos provocados pela


Revolução Industrial são possíveis de serem observados no filme?

4) A Tecnologia. Quais questões aparecem na cena da máquina de


refeições?

5) Movimentos sociais. Por que houve uma prisão injusta de Chaplin por
estar apenas segurando a bandeira do manifesto? Como estes movimentos
sociais são vistos pela sociedade contemporânea?

6) Situação social. Por que Chaplin insiste em voltar para cadeia?

7) Prosperidade. Depois que encontra a jovem órfã, a vida do personagem


ganha novo sentido. Qual a ideia de prosperidade que ele manifesta?

8) Diferenças sociais. O emprego de Chaplin na loja de departamentos


mostra claramente as diferenças sociais. Como isso é mostrado e que
outras situações do filme também são abordas a mesma temática?

9) Consumismo. De que forma o consumismo aparece no filme?

10) Organização do trabalho. Quem decide como o trabalho deve ser


organizado?
11) Condições de trabalho. Como é retratado pelo filme as condições de
trabalho na fábrica?

12). Quais as condições de trabalho retratadas no filme?


Karl Marx e o filme “Tempos Modernos”
Publicado por Mariana Segatti
A sociologia se faz presente e destaca-se nos mais diversos âmbitos,
inclusive através de letras musicais, ou mesmo em produções
cinematográficas. É o caso da produção cinematográfica clássica de Charles
Chaplin: o filme “Modern Times” (Tempos Modernos), que revela a relação do
trabalhador (classe proletária) e seu dominador (elite burguesa), fazendo
críticas referentes ao tratamento à classe trabalhadora.
Seu conhecido personagem, “o vagabundo, Carlitos”, em plena época
de revolução industrial, busca sua subsistência em meio ao mundo moderno e
industrializado, porém tem um colapso por exercer seu trabalho de forma
repetitiva e escrava na fábrica, é levado para um hospício e quando retoma à
normalidade, se depara com a fábrica já fechada. Carlitos vai em busca de
outro destino, mas termina por se envolver em uma confusão ao ser tomado
como líder de uma greve que estava a acontecer, sendo assim, preso.
Nessa obra cinematográfica, Chaplin, atrelado ao seu humor
característico, evidencia sua inspiração de fundo socialista, colocando em
eminência sua posição ao modelo industrial capitalista, o qual se relaciona
perfeitamente com alguns conceitos marxistas (como por exemplo, a luta de
classes, a ideologia e a alienação) e, em alguns pontos, ambos apresentam
com clareza e com bons modelos de argumentos as realidades pessoais da
primeira metade do século XIX até o início do século XX.
O filme se passa em um período de anomia, isto é, de falta de
objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações
decorrentes do mundo social moderno. Isso porque, à partir da Revolução
Industrial e da Revolução Francesa, havia um abundante exército de mão de
obra resultante da Lei dos Cercamentos de Terras que buscava um ofício nas
cidades. Em meio a essa anomia, não existiam leis trabalhistas.

Com o desenvolvimento tecnológico e a industrialização, é claro que a


sociedade também progrediu, no entanto, os detentores dos meios de
produção passaram a exercer um controle em relação ao restante da mesma
e o sistema que favorecia o capital ganhou força. A elite, caracterizada no
filme pelos donos das fábricas, visava explorar o máximo possível os
empregados, representantes da classe do proletariado, a qual se insere
Carlitos. Estes não tinham muitos direitos e, por consequência, trabalhavam
inúmeras horas seguidas, sendo explorados, sob condições subumanas, em
ambientes imundos e manuseando máquinas perigosas. Sendo assim, é
evidente a presença de uma estratificação social. Os trabalhadores eram
exigidos que exercessem seu serviço incessantemente, como máquinas, que
não paravam um instante.

O empregado não podia parar de executar sua função, visto que os


movimentos eram interligados com o dos demais trabalhadores; tudo na
fábrica era contado, visando uma regência que aumentasse a produção e, por
conseguinte, lucrasse mais.

A ida ao banheiro era vigiada e o almoço cronometrado. Observa-se


nessa passagem que o industrialismo se tornara fonte de riqueza e
prosperidade, que poderia, em teoria, gerar progresso à todos socialmente,
no entanto a ordem não pôde ser mantida devido à reinvindicações de
direitos, por melhores salários e condições de trabalho pelos trabalhadores
devido à enorme exploração, condições precárias e falta de proteção aos
mesmos.

Carlitos, o operário, era submetido ao modelo fordista de produção,


que consistia nos trabalhadores da fábrica possuir funções específicas,
decorrente da divisão de trabalho, assim realizando-a continuamente e
repetidamente, isto porque, segundo a visão do período, a maior quantidade
de vezes que se realizava uma tarefa, mais hábil você se tornava a esta.

É o que acontece no filme: enquanto um cuidava de apertar o


parafuso, por sua vez, o outro martelava e assim por diante. Tratava-se de
uma produção em série com base no sistema de linha de montagem, a qual
especializava sua mão de obra e alienava seu trabalhador, todavia, esse
sistema de produção acabava por desencadear colapsos em seus
empregados. Foi o caso da personagem principal, que desenvolveu um
problema psicológico por causa disso.

A desigualdade social e o desemprego são aparentes durante todo o


filme e são combatidas pela luta entre classes, diante de tal exploração,
através de greve. Reflete a frase do filósofo Rousseau: “o homem é bom, mas
a sociedade o corrompe”, baseado no mito do bom selvagem.

A confirmação disso é Carlitos, que tendo a necessidade de ter uma


moradia e alimentação, tinha propensão pela prisão às ruas, destacando-se a
estratificação social que lhe era imposta, bem como a falta de dignidade da
pessoa humana. Como o personagem principal também não tinha muitas
aptidões para trabalhar decorrente de sua submissão à especialização do
trabalho, que não o permitiu desenvolver outras, teve grande dificuldade em
conseguir emprego.

Dessa forma, a classe operária busca sair da condição de alienação


através de manifestações, as quais eram reprimidas e interrompidas pelas
autoridades, visto que eram consideradas como atos de vagabundagem;
demonstrando, assim, que a fiscalização policial tinha propensão a um
pensamento tradicionalista e de proteção aos donos de fábricas, a elite
burguesa, ou seja, trabalhava em função dos mesmos, incentivando a
desigualdade social. Tais greves tinham como intuito, além de reinvindicação
por direitos de proteção ao proletário, mostrar que o homem não se compara
com uma máquina e muito menos pode ser substituído pela mesma.
O esforço físico contínuo e repetitivo, sem descanso, pode invalidar o
trabalhador que deve ser tratado como ser humano, antes mesmo de
empregado gerador de capital. O fechamento das fábricas desencadeia uma
alta taxa de desempregados, como também problemas relativos à fome e
depressão.

É o que, realmente, é transmitido no filme na cena em que uma


menina penando de fome rouba bananas para consumo próprio, o que se
torna muito comum em virtude da situação que se apresenta. Dessa forma,
mais manifestações eclodem em combate à fome e ao desemprego e,
consequentemente, de novo, uma contenção policial aos movimentos
populares.

Múltiplos aspectos da teoria marxistas podem ser apontados na


produção cinematográfica de Charles Chaplin, onde o autor faz uma crítica ao
moderno pensamento da sociedade industrial, através da segregação do
operariado e a substituição deles por máquinas. Subordinados à elite
burguesa, o proletariado, em razão da divisão nas etapas de produção perde
a noção de completude do produto, sendo obrigado a vender sua força de
trabalho em troca de uma remuneração que mal o sustenta, muito menos se
equivale ao esforço utilizado para a produção do artigo; observando ideias
socialistas se contrapondo ao modelo ideal capitalista.
Um dos conceitos trabalhados pelo teórico Karl Marx presente na
passagem é o da alienação, que se evidencia a partir do momento que a
mercadoria fabricada se torna alheia ao sujeito produtor, isto é, o trabalhador
não se identifica com o item criado, sem necessidade de possuir
conhecimento do funcionamento da indústria inteira, se quer com o produto
final.
Já citado por Marx: “... A produção é totalmente coletivizada,
necessitando de vários funcionários na obtenção de um produto, mas nenhum
deles dominando todo processo”, dessa forma, o trabalho alienado tem suas
raízes fixadas na própria mercadoria, as quais são confeccionadas pelos
operários explorados, e o ganho adquirido graças ao abuso no trabalho dos
empregados, se volta para uma maior produção que gera capital acima do
preço investido no trabalhador, causando um rompimento do homem com si
mesmo.
A alienação, como a obra de Chaplin já nos evidencia, o proletário se
torna parte da máquina e se aliena do produto que faz. Tal alienação
estrutura uma consciência fragmentada. O estranhamento, segundo Marx,
pode ser observado sob a perspectiva de que quanto maior for sua produção,
mais alheio este se torna em relação ao mundo estranho; de modo que
abandona suas necessidades próprias a fim de sanar as externas. A
manifestação da atividade produtiva, proveniente da essência do homem é
desamparada pela obrigação de trabalhar.
O sociólogo acredita que a livre atividade consciente do trabalho é o
que distingue o ser humano das demais espécies, contudo ao alienar-se, o
indivíduo, consequentemente, se rompe com o gênero humano, visto que seu
tratamento passa a se igualar com verdadeiros animais. O produto disto é a
alienação do homem pelo seu próprio ser.
À vista disso, a relação entre o trabalho, a alienação e o capital
promove a coisificação do homem, ou seja, torna-o objeto, onde suas regras
devem ser passivamente seguidas pelos seus componentes. A única
resolução para o empecilho seria, na verdade, a conscientização de classe
aliada à revolução. É o que acontece no filme no momento em que eclodem
as greves.
Outro conceito que se faz a partir da alienação é o fetichismo,
consistente no ato de idolatrar determinados objetos por parte da burguesia.
O dinheiro é o maior fetiche burguês, mas, acima de tudo, do sistema
capitalista que, segundo o pensamento marxista, ilude as pessoas de possuir
tudo que aspiram materialmente. O que importa não é o sentimento ou a
consciência, mas sim o que o sujeito detém.

Karl Marx conceitua a ideologia a fim de analisar a desigualdade


social presente na sociedade, também se encaixando perfeitamente em
“Tempos Modernos”, considerando-a como falsa consciência, falsa percepção
do real exercida por quem detém o poder econômico, e também o ideológico,
o que é representada pela classe burguesa (no filme, pelos donos das
fábricas); tendo esta como objetivo principal apaziguar os conflitos entre as
classes sociais e preservar o exercício de poder do opressor sobre o
oprimido.
Mesmo constantemente sofrendo da exploração, o operário no filme
representado, busca de todas as formas uma vida digna. Em uma cena do
filme, é possível notar que o personagem principal, Carlitos, se depara com
uma fábrica fechada e, ao passar pela rua, observa a queda de um pano
vermelho de um caminhão. Ao empurrar o pano na tentativa de devolvê-lo ao
motorista do caminhão, atrai um grupo enorme de pessoas, as quais eram
manifestantes, que passava por ali.
Por engano, a autoridade policial o prende por considera-lo,
equivocadamente, como um líder comunista, simplesmente pelo fato do
mesmo estar agitando o pano, parecido com uma bandeira, em frente ao
protesto. Essa repressão policial ao movimento seria uma forma de manter a
força da ideologia burguesa.
Segundo Marx, a luta de classes funciona como motor na história.
Durante toda vida em sociedade, quem perdia a luta era a maioria, sempre
mais fraca e oprimida pela minoria. Maioria essa representada pela elite
(donos das fábricas) no caso da obra cinematográfica. Ou seja, escravos,
servos, operariados, trabalhadores em geral, eram oprimidos e tinham a falsa
ilusão e consciência a fim de evitar conflitos entre as classes, e assim
continuando a viver em meio a exploração aspirando uma vida íntegra.
Todavia, acontece a conscientização de classe por parte dos
oprimidos, que enxergam o seu tamanho e a possibilidade de mudança
através de alguns mecanismos, como aconteceu na greve que os operários
fizeram na película de Charles Chaplin. Nela, muitas passagens expressam o
conceito de luta de classes, podendo ser exemplificada logo na primeira cena,
a qual mostra a saída de ovelhas de um curral e a imagem se transformando
na imagem dos empregados que chegam à fábrica para iniciar o trabalho.
Por um lado, o trabalhador está fadado a uma rotina repetitiva da
linha de produção que imperava durante o fordismo, enquanto no outro o
dono da fábrica apenas monitora tudo através de uma tela em sua sala. Até o
horário de refeição pretendia ser retirado da rotina do trabalhador por meio de
uma máquina que o alimentaria sem que o serviço precisasse ser
interrompido. Para que seja caracterizada a opressão, se faz necessária a
garantia de que exista pelo menos uma classe ”escrava” tendendo a crescer
independente da situação.
É o caso dos operários da fábrica, os quais assistem a classe social a
que fazem parte terem condições cada vez mais miseráveis e exploratórias e,
ainda assim, verem crescer sua camada, até que atingissem um nível de
conscientização a ponto de passar a reivindicar por melhores condições de
trabalho, ampliação de direitos que os protegessem, dentre outros.
A luta de classes só acabaria com o fim do capitalismo e das classes
sociais. Marx via o fim do capitalismo com a instituição do socialismo, que era
o meio do caminho para se chegar ao comunismo.
O socialismo visa uma ditatura do proletariado, que por serem maior
parte da população, na realidade fariam dessa ditatura uma democracia, onde
não só uma minoria decidia as leis, como a burguesia, que é a mínima
parcela da sociedade, faz no sistema capitalista. Nesse momento aconteceria
também a extinção dos meios de produção e da propriedade privada, que tem
o papel de intermediar a relação de dominação entre o capitalista e o
operário. O Direito também seria transformado já que no capitalismo é visto
por Marx como forma de dominação, sujeito à classe dominante burguesa.
Somente através da revolução socialista que os direitos seriam consolidados
de verdade.
A infraestrutura, outro conceito desenvolvido por Marx, é a base
essencial do sistema capitalista, que é a sua economia e consequentemente
o seu modo de produção. O modo de vida de um indivíduo decorre do modo
como ele produz. Vemos claramente no filme, através da vida do
protagonista, o que acontece com a vida de um trabalhador que é explorado
no seu modo de produzir.
Uma característica importante no sistema capitalista em que vimos
retratado no filme é o conceito que Karl Marx estabelece com o nome de mais
valia, que refere à diferença entre o valor do trabalho exercido pelo operário e
a sua remuneração através do salário feita pelo dono da empresa.
Marx coloca que se o valor em trabalho (e, portanto, o valor do salário
como parcela do valor da mercadoria) correspondesse ao tempo concreto
gasto na produção de cada mercadoria individual, seriam os trabalhadores
menos habilidosos que produziriam as mercadorias mais valiosas, pois
demorariam mais tempo para produzi-las.
Explicando de outro modo, a força de trabalho de um trabalhador
(considerada também como uma mercadoria por Marx) possui o mesmo valor
que o tempo que o trabalhador precisa para produzir o suficiente para receber
o seu salário e garantir a subsistência da sua família. Apesar disso, muitas
vezes o valor desse tempo é menor que a quantidade de força de trabalho
total.
É essa diferença entre esses dois valores que é conhecida
como mais valia. Esta teoria marxista é uma clara crítica em relação ao
capitalismo, indicando a exploração capitalista dos trabalhadores, pois os
salários pagos eram uma pequena porcentagem do valor equivalente ao que
era produzido.

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