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Curso: Direito

Aluno: Jonas Borges da Silva

Disciplina: Direitos Humanos

Professor: Ma. Juliana Rocha

Atividade avaliativa para complemento da 2º unidade

Resumo e análise crítica do filme “ Tempos Modernos”

“Tempos Modernos”, uma das mais aclamadas obras cinematográficas protagonizadas por
Charlie Chaplin, em meio a suas cenas cômicas e clássicas do cinema mudo, traz uma forte
crítica social ao estilo de vida da revolução industrial no período fordista do séc. XX. O filme
conta a história de um humilde trabalhador fabril (Carlitos) que busca uma vida melhor,
porém só é um simples rosqueador de parafusos em uma fábrica, com um trabalho estressante,
repetitivo e cansativo. Lá, o protagonista sofre uma enorme pressão dos seus superiores por
melhores resultados e para não parar a produção, submetendo Carlitos a testes com máquinas
de alimentação que buscavam melhorar seu desempenho e garantir uma maior exploração da
sua força de trabalho, mas que acabaram falhando no processo de testagem. Com todo
estresse e pressão contínua, Carlitos tem uma crise nervosa e é demitido do seu emprego,
sendo largado nas ruas; nessa passagem, ele acaba se envolvendo em um protesto de
trabalhadores que buscavam melhores condições de vida e é preso por rebeldia. Ao sair da
prisão, passar por outros empregos até conhecer Ellen, uma jovem orfã que roubava comida
para garantir sua sobrevivência nas ruas e, depois de passar mais uma vez pela prisão e ter
outros empregos, Carlitos e sua amada vão embora para longe em busca de uma melhoria de
vida, após Ellen ser acusada de furto e os dois serem despedidos do bar/restaurante em que
viviam e trabalhavam.
Em primeira análise, é preciso entender a época em que o filme é retratado. Produzido em
1936, o longa-metragem procura mostrar os principais aspectos sociais e o cotidiano laboral
das fábricas, pilares de uma sociedade capitalista que estava enfrentando um recesso
econômico com a crise de 29 e um crescente avanço tecnológico nos meios de produção, além
de outras tensões como a fome e desemprego. Com o objetivo de acumular mais capital e
explorar a força braçal em comunhão com as novas máquinas, os proprietários burgueses
adotaram modelos de produção que garantiram um melhor desempenho dos trabalhadores e
um serviço mais rápido, sendo o taylorismo e o fordismo os principais modelos adotados. O
último tem por característica uma linha de produção com montagem semiautomática, com o
foco em uma produção em massa e uma alta especialização do funcionário por etapas de
fabricação, o que torna o trabalho repetitivo e por consequência, estressante e moroso, com os
produtos oferecendo um baixo custo de produção mas com uma baixa qualidade. O Fordismo
é o principal modelo criticado no filme de Chaplin, onde se é mostrado todas as etapas do
trabalho e a dura jornada de trabalho dos operários em um ambiente insalubre e em condições
desumanas que ofereciam um salário que não supria as mínimas necessidades para a
subsistência. Nesse contexto, mesmo após a proclamação da OIT( Organização Internacional
do Trabalho), tratado que procurava assegurar condições minimamente dignas para um
trabalhador executar sua profissão com respeito e valorização do seu trabalho, a repercussão
dos ambientes insalubres e as péssimas condições laborais presentes na Revolução Industrial
trouxe novas preocupações e um olhar mais atento as consequências de como a degradante
situação da classe trabalhadora afetava a qualidade de vida de um país em um todo, afetando
as áreas de saúde, economia e educação de maneira internacional, com o exemplo da
ampliação e consequente favelização das cidades provocadas pelo êxodo rural, que acarretou
na marginalização de muitas pessoas pela falta de oportunidades, contribuindo para o aumento
da violência urbana e aumento da fome populacional.

Em uma abordagem crítica, a expressão “trabalho” obteve um novo significado nas eras da
Revolução Industrial. O que antes era uma condição imposta pelo castigo divino como um
eterno fardo para a humanidade se transformou em uma condição indispensável para a
salvação da alma humana, algo que dignifica o individuo entre os seus semelhantes, um
estado de respeito e autorrealização para o paraíso, uma ideia forjada na ideologia capitalista
que se aproveitou para usar a fé e a necessidade das pessoas para obter a prosperidade no seu
sistema monopolizador e acumulativo, onde a bom fruto do trabalho árduo e suado seria uma
falácia para legitimar a exploração degradante para o acúmulo de bens financeiros na forma
de capital burguês. Assim, na relação de venda da força laboral em troca de um salário, a
vontade do trabalhador é subjugada pelo patrão, que o enxerga como a própria mercadoria ao
invés da sua força de trabalho, “ adquirindo” o individuo como um todo e subordinando todas
as faces da sua vida ao trabalho que seria seu principal foco a partir do momento da
contratação. Essa relação abusiva vai contra todos os direitos sociais e humanos que são
inerentes a todos os indivíduos desde o seu nascimento, já que os lesa e afeta a sua plena
realização. Um trabalhador que não dispõe de um condições mínimas para executar seu
trabalho com um salário degradante é afetado em todos os campos da sua vida, com seu
plano econômico não sendo suficiente para garantir sua subsistência, suas relações sociais e
familiares sendo prejudicadas pela falta de tempo para o lazer e convivência, como também
sua saúde mental e física serem profundamente lesadas pela alta carga horária e a rotina
estressante das fábricas. Todos esses fatores são impedimentos para o pleno desenvolvimento
de ser um ser humano, principal objetivo de tratados e convenções internacionais que entram
em consenso que a garantia do respeito e a preservação da dignidade individual de cada
pessoa é o ponto mais importante para o crescimento de uma nação. Em uma abordagem mais
ampla, a questão seria de até que ponto o trabalho desumaniza o individuo quando não
oferece condições necessárias para a preservação e manutenção da sua dignidade frente à
sociedade, e até que ponto o trabalhador aceitaria toda a humilhação e insalubridade impostas
nas fábricas na tentativa de garantir sua sobrevivência em um sistema que tem por forte
característica a desigualdade financeira e humana, que atribuiu a contratação de mulheres e
crianças para a produção fabril na tentativa de aumentar seus lucros, o que pode ser
representado como uma “ilusão” da ampliação dos direitos das mulheres conquistarem seu
espaço de trabalho, pois também não apresentou as exigências necessárias para esse processo
ser justo e digno de caracterizar uma emancipação da figura feminina no mercado de trabalho.

Diante da situação precária, foi possível observar a criação de vários sindicatos e movimentos
sociais que muitas vezes se apoiaram em ideologias para reivindicar novas condições
trabalhistas e uma reformulação de modelo da sociedade. Entretanto, ao lutarem por essas
melhorias, os trabalhadores também estavam lutando pela proteção dos seus direitos
fundamentais e sociais, uma vez que o sistema capitalista da Revolução Industrial os
ameaçava e os colocava em risco já que a vida laboral estava em primeiro lugar na vida dos
operários, com sua vida familiar e comunitária em segundo plano ou sendo muitas vezes
inexistente na sua rotina cotidiana, com o paralelo do servidor laboral se tornando uma
máquina que se juntava com as que ele trabalhava, fazendo parte de um mesmo mecanismo de
produção, aspecto retratado na cena do filme em que Carlitos entra dentro das máquinas e fica
entre elas, possibilitando uma visão mecanizada da vida humana, em que os patrões
começaram a enxergar apenas o lado “tecnológico” dos seus funcionários, os tratando como
se fossem máquinas que não precisavam se alimentar, fazer necessidades, ter família, amigos
ou filhos e terem lazer, sempre com a necessidade de estarem prontas para o serviço que iam
prestar e apresentando novos métodos para não perderem tempo com esses detalhes externos
do trabalho, o que caracteriza um estado de “coisificação” do operário, o privando de certas
liberdades e direitos básicos.

Em suma, Charlie Chaplin traz de uma forma genial uma sátira da realidade vivida por
milhares de trabalhadores laborais e a exploração por eles sofridas não só dentro dos seus
locais de trabalho mas como fora deles, com a exposição da dificuldade de operários em
protestar por conta da repressão imposta pela polícia e da pobreza vivenciada na pele de cada
um, com o empecilho de arrumar um emprego melhor por sua escassa formação educacional e
a desigualdade em comparação aos seus patrões, porém sempre com a esperança de lutar por
uma melhor condição de vida apesar de todos os entraves, mensagem abordada no final filme
em que Carlitos e Ellen saem ao desconhecido em busca de uma vida digna. Nesse sentido, a
obra cinematográfica “ Tempos Modernos” poder ser considerada uma peça atemporal da
sociedade por demonstrar uma realidade vivenciada até os dias atuais pela classe trabalhadora
e assegurar a importância de sempre lutar contra as desigualdades impostas afim de garantir o
seu estado de dignidade humana e seus direitos sociais com a perspectiva de melhores
condições de trabalho e consequentemente, de vida.
Referências

COLLYER, Francisco Renato Silva. Muito além da revolução. Jus.com.br, 2015. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/31268/muito-alem-da-revolucao. Acesso em 13 de agosto de
2023.

IGNÁCIO, Júlia. O que são direitos sociais?. Politizie, 2017. Disponível em:
https://www.politize.com.br/direitos-sociais-o-que-sao/#:~:text=Os%20direitos%20sociais
%20surgiram%20em,e%20com%20uso%20das%20m%C3%A1quinas. Acesso em: 13 de
setembro de 2023.

Tempos Modernos. Direção: Charlie Chaplin. Produção de Charlie Chaplin Film Corporation.
Estados Unidos: United Artists, 1936. YouTube.

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