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Aluna: Nicole Ronchi Conradi.

Precário equilíbrio

“O capital não tem a menor consideração pela saúde ou duração da vida do trabalhador, a não
ser quando a sociedade o força a respeitá-lo.” - Karl Marx. O capitalismo é um sistema de
privilegiados, e a classe trabalhadora tende a sempre ser explorada, com o passar dos anos isso foi
ficando cada vez mais nítido aos olhos do proletariado, e agora em tempos caóticos de pandemia e
crise, o precário equilíbrio que o capitalismo vinha arrastando quebrou.

O capitalismo é o sistema econômico onde os capitalistas acumulam capital, em que há a


predominância da propriedade privada, onde há a exploração do homem pelo homem. Nele prevalece
a busca incessante pelo lucro através do ajuntamento de bens (imóveis, empresas) e de dinheiro. O
Capitalismo apareceu no período de transição entre as idades Média e Moderna, no século XV.
Naquele tempo o feudalismo entrou em decadência, pois a população cresceu demais para caber nos
feudos. Apareceu em contrapartida uma nova classe social, que negociava seus produtos nos pequenos
núcleos populacionais chamados burgo (burguesia).

O sistema capitalista é dividido em duas classes sociais antagônicas: a que detém os meios de
produção, a burguesia; e o proletariado, que não possui os meio de produção e, por isso, é obrigado a
vender sua força de trabalho para sobreviver, gerando, assim, riqueza para que o explora (burguesia).
O Capitalismo foi reinventado várias vezes, para “atender” a necessidade financeira da população e
também a ganância da burguesia, os três períodos do capitalismo mais conhecidos foram: o
Comercial, também chamado de pré-capitalismo, que foi o tempo de transição entre o Feudalismo e o
Capitalismo, com o aparecimento da Burguesia como classe social mais desenvolvida e, de certo
modo, independente das classes superiores da época; o Industrial, que apareceu com a Revolução
Industrial da Inglaterra no século XVIII, onde os produtos, antes produzidos artesanalmente, mudaram
para larga escala com a invenção da máquina a vapor; e o Financeiro, ou Monopolista, que começou
no século XX, e ainda está em vigor. Neste último prevalece o domínio dos bancos, das bolsas de
valores, das casas de câmbio, assim como de grandes monopólios. As empresas passaram a ter um
domínio do mercado através de trustes, holdings e cartéis.

A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico, que teve início
na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII, e que se espalhou pelo mundo causando
grandes transformações. A Revolução Industrial garantiu o surgimento da indústria e consolidou o
processo de formação do capitalismo. Foi o período em que se viu exploração excessiva dos recursos
naturais, e também exploração do trabalhador, que trabalhava de quatorze a dezoito horas por dia, sem
exceção de mulheres e crianças, que eram submetidas a piores condições de trabalho sem diminuição
de carga horária. Na mesma época começou a se consolidar o que chamamos hoje de modos de
organização do processo produtivo, como por exemplo o Taylorismo que iniciou o estudo da mão de
obra na produção industrial, organizando o trabalho de modo a obter grande produtividade com menor
custo ou o Fordismo, surgido pouco tempo depois, que manteve o mecanismo de produção e
organização semelhante ao taylorismo, porém adicionou a esteira rolante, ditando um novo ritmo de
trabalho. Ford aperfeiçoou uma prática que já existia na Europa, desenvolvida por Frederick Taylor, e
a adaptou para suas indústrias automobilísticas. Com as adaptações, como a linha de montagem e a
padronização dos produtos fabricados, a produtividade era alta, e o tempo de produção, muito baixo, o
que resultou em um modelo de sucesso no início de sua implementação. O toyotismo foi o que
substituiu o Fordismo enquanto modelo industrial vigente a partir da década de 1970, esse modelo
produtivo foi desenvolvido entre 1948 e 1975 nas fábricas da montadora japonesa de automóveis
Toyota. No período pós guerra, com o país destruído, um mercado pequeno e dificuldade em importar
matéria-prima, o Japão necessitava fabricar com o menor custo possível.

Com o surgimento de novos modos de organização do processo produtivo, grande


produtividade com menor custo, produção rápida, barata etc, a exploração do trabalhador e a
precarização do trabalho se expandiu na sociedade. Hoje depois de várias greves, novas leis
trabalhistas, e mais direitos, ironicamente, em tempos de pandemia, a exploração do trabalhador está à
flor da pele. Um exemplo claro disso, durante a pandemia, são os serviços de Delivery (iFood, Rappi,
Loggi e Uber Eats), que aumentaram assustadoramente e foram mais “valorizados” pelos brasileiros.
Mas isso não significa que esse aumento na conta das empresas será direcionado para a parte mais
importante do serviço, a entrega.

Como ficam os entregadores, já que são eles que estão na parte mais importante desse serviço?
Nada bem! Eles são trabalhadores informais, ou seja, não são registrados na carteira de trabalho, por
esse motivo, perdem o direito de várias coisas que trabalhadores registrados têm, como: salário fixo
(de um ano para o outro, a renda mensal pode diminuir 50%, mesmo se trabalhando o dobro); material
de trabalho (bicicleta- R$20 a hora, bolsa térmica ~R$100, máquina de cartão~R$100, etc), horário de
trabalho estável (às vezes são obrigados a esperar um dia inteiro para realizar, apenas, uma
encomendo, que vale entre 7 a 15 reais); não podem recorrer ao INSS caso fiquem doentes ou sofram
um acidente; sem vínculo empregatício com ninguém, não tem direito ao décimo terceiro e nem a
aposentadoria. Esse resultado negativo que se apresenta ao trabalhador, de maneira nenhum pouco
tranquila em sua vida, se dá porque empresas como o iFood conseguem driblar os direitos trabalhistas
com os “melhores advogados”. Mas por que eles continuam trabalhando nesse ramo? Os entregadores
na maioria das vezes entram por referência de amigos ou porque estão desesperados e precisam
sustentar suas famílias e vêem esse tipo de trabalho como uma “luz no fim do túnel”; depois que ele
entra, nota o cenário catastrófico do país, com uma taxa de desemprego altíssima, porém ele não tem
dinheiro para um curso ou uma faculdade que o faça destacar-se entre os outros. Ele se vê sem opções.
É obrigado a “se matar” de trabalhar nas entregas e ficar exposto aos diversos perigos que essa
subprofissão lhe impõe, hoje mais que antes, pois está na linha de frente da pandemia. Além das
entregas, esse sistema de delivery também afeta muito os restaurantes. As principais queixas destes
são as promoções malucas propostas pelo aplicativo, "compre um lanche e ganhe outro", ou a oferta
sistemática de cupons de desconto de R$ 10, que acaba com as margens de lucro dos
estabelecimentos.

Esse cenário destaca a nós uma questão: como mudar essa catástrofe? Infelizmente, não é simples
mudar um sistema que se sustenta a partir da exploração do trabalhador e está impregnado na
sociedade a muito tempo, porém, como Karl Marx notou, o capitalismo não é eterno, está situado em
determinado tempo histórico. Assim, há ainda esperanças. Com a organização da classe trabalhadora,
podemos fazer mais do que apenas consumir de pequenos negócios, conseguiremos converter estas
meras mudanças de hábito numa mudança realmente efetiva, que mudará o atual estado de dominação
burguesa. São esses movimentos, greves, paralisações etc, que aos poucos mudam senso comum de
quem ainda acredita cegamente que as eleições, a nossa democracia (onde políticos trabalham para
burguesia e não para a maioria da população), garantirão os direitos mais básicos. Somente com a
organização política do proletariado que superaremos esse sistema de exploração humana.

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